O transtorno afetivo bipolar (TAB) é um transtorno de humor caracterizado pela alternância de episódios de depressão, mania ou hipomania. É uma doença crônica que atinge até 5% da população (dependendo do estudo) e pode gerar grande sofrimento e afetar negativamente a vida dos doentes em diversas áreas, em especial no trabalho, no lazer e nos relacionamentos interpessoais.
A síndrome maníaca é um componente fundamental para o diagnóstico do TAB. Suas principais características são: exaltação do humor, aceleração do pensamento com fuga de ideias e aumento da atividade motora. Pode ainda estar associada a aumento de energia (com diminuição da necessidade de sono), aumento da fala, irritabilidade, paranoia, hipersexualidade e impulsividade. Na hipomania, as alterações são mais moderadas e, em casos de mania, os episódios são mais intensos comprometendo profundamente a vida dos pacientes e de suas famílias.
Já os episódios depressivos do TAB são geralmente caracterizados por uma lentificação ou diminuição de quase todos os aspectos de emoção e comportamento: velocidade de pensamento e fala, energia, sexualidade e capacidade de sentir prazer. Assim como nos episódios maníacos, a gravidade pode variar consideravelmente – de uma discreta lentificação física e mental, com quase nenhuma distorção cognitiva ou perceptiva, até quadros graves, com delírios e alucinações e risco de suicídio, o que justifica tratamento com equipe multiprofissional.
A idade média de surgimento do TAB encontra-se entre 17 e 21 anos sendo comum, portanto, que afete os anos formativos da vida de um indivíduo, o que causa impacto em seu desenvolvimento cognitivo e emocional e leva a dificuldades interpessoais, educacionais e financeiras. Não sabemos o que causa o transtorno afetivo bipolar mas, como em todas as doenças, parece haver uma interação entre fatores genéticos e ambientais.
Diagnóstico e tratamento
O diagnóstico do TAB é feito por psiquiatra e baseado nos critérios do DSM-V. O tratamento envolve o uso de medicações como lítio, ácido valpróico, carbamazepina, lamotrigina, risperidona, clozapina, haloperidol, fluoxetina dentre outros. O uso da medicação exige monitoramento para ajustes da farmacoterapêutica e controle dos efeitos colaterais. Além disso, a medicação deve ser associada à psicoterapia, atividade física, higiene do sono e alimentação adequada, para que melhores resultados sejam alcançados (Chang, Su, 2020).
Estudos mostram que genes envolvidos no ciclo circadiano estão frequentemente alterados em pessoas com transtorno bipolar, incluindo TIMELESS, RORA, ARNTL1, CLOCK, NPAS2, NR1D1, PER3, RORB, BHLHB2-CSNK1"-CLOCK , GSK3B, ASM, ARNTL1, GSK3B, RORA e RORB (Etain et al., 2014). Por isso, dormir bem, descansar, fazer a higiene do sono são peças fundamentais no tratamento. Leia outros artigos sobre a temática do sono clicando aqui.
Existem também evidências da conexão entre o microbioma intestinal e o funcionamento cerebral. Um intestino colonizado por maior quantidade de bactérias patogênicas faz com que o corpo todo fique mais inflamado, inclusive o tecido nervoso (Gondalia et al., 2019; Painold et al., 2018). A melhoria da microbiota intestinal contribui para a redução na neuroinflamação, melhor funcionamento intestinal, redução das manias e do risco de ganho de peso, que é comum também com a medicação prescrita na TAB. A qualidade da microbiota é garantida com dieta antiinflamatória, com quantidade adequada de fibras (frutas, verduras, castanhas, leguminosas), boa hidratação e tratamento da disbiose intestinal.
A neuroinflamação pode ser combatida com suplementação apropriada de ômega-3, vitamina D, glutationa, SAMe, dentre outros compostos. A definição da suplementação pode ser apoiada por testes genéticos capazes de avaliar polimorfismos (variações) que interfiram no uso de suplementos. Para médicos e nutricionistas estão abertas as inscrições para o curso de Genômica Nutricional. Nele, os profissionais aprenderão a interpretar exames nutrigenéticos para maior individualização das condutas.