Pessoas com síndrome de Down apresentam desregulação imune, evidenciada pela maior prevalência de hipotireoidismo, doença celíaca, alopecia areata, diabetes tipo 1. A nível molecular, mostram sinais de inflamação mesmo na ausência de infecção detectável. No contexto do COVID-19 ainda faltam dados clínicos em relação à morbimortalidade deste grupo de indivíduos. Mesmo assim, acaba de ser publicado um artigo com evidências de que pessoas com síndrome de Down devem ser consideradas de alto risco de desenvolvimento de sintomas severos, de precisarem ser hospitalizadas por mais tempo, necessitarem de cuidados intensivos e de adquirirem infecções bacterianas secundárias.
O vírus SARS-CoV-2 gera uma resposta imune exacerbada, uma chuva de citocinas, que gera danos em muitos órgãos, especialmente pulmões. Vários genes do cromossomo 21 desempenham papel no controle imune. Quatro dos seis genes para receptores de interferon (IFN) encontram-se no cromossomo 21. Interferon não pode estar nem baixa nem alta demais. Na SD a hiperativação de IFN pode piorar a inflamação nos pulmões daqueles com COVID-19 pois amplifica a tempestade de citocinas. Um exame barato que identifica se isto está ocorrendo é a ferritina, que não deve estar aumentada. O aumento indica que a tempestade de citocinas já começou e que o risco de febres mais altas é maior.
Pessoas com síndrome de Down também estão em maior risco de contraírem infecções bacterianas secundárias, quando doentes, especialmente quando hospitalizadas. Os danos causados pelo COVID-19, associada a pneumonia bacteriana (por M. tuberculosum ou S. pneumoniae) gera dispneia (falta de ar), danos pulmonares e até cardiovasculares. Anormalidades anatômicas nas vias aéreas superiores também aumentam o risco de infecções respiratórias na síndrome de Down. A própria apneia obstrutiva do sono, comum na síndrome de Down, frequentemente causa hipoxia e acidose respiratória.
Assim, mesmo na ausência de estudos clínicos e epidemiológicos sobre o impacto do COVID-19 em pessoas com síndrome de Down, os fatores de risco apresentados justificam maiores cuidados por parte da família e por parte da equipe de saúde (Espinosa, 2020). Ficar em casa é ainda a melhor estratégia.
Outro estudo revisou os componentes nutricionais que reduzem o risco de uma tempestade de citocinas, pela regulação de um fator de transcrição (PPAR-γ). Alimentos contendo ômega-3 (peixes do mar, óleo de peixe), açafrão, tomilho, orégano, alecrim, sálvia, romã e capim limão estão entre as possíveis estratégias da área (Ciavarella et al., 2020).