Alimentação e TDAH em adultos

O Transtorno de Déficit de Atenção / Hiperatividade, ou TDAH, afeta cerca de 4% das crianças e cerca de 2% dos adultos. É uma condição complexa que resulta em uma incapacidade de regular a atenção. As pessoas com TDAH têm problemas para direcionar a atenção para o que é mais importante e sustentar essa atenção pelo tempo que for necessário. Ou podem ter hiperfoco, concentrando-se em uma coisa e esquecendo das demais. Isso pode causar todos os tipos de problemas na escola, em casa, no trabalho e nos relacionamentos.

Carências nutricionais interagem com o componente genético e provocam mudanças no DNA (mudanças epigenéticas). Epigenética é o que vem por cima da genética, assim como a epiderme é a camada superior à da derme, na pele. Se deficiências de nutrientes ocorrem na gestação podem resultar em um atraso na maturação do cérebro, particularmente nas áreas relacionadas ao funcionamento executivo como o córtex pré-frontal e o córtex cingulado.

O TDAH adulto é cada vez mais entendido como não apenas associado aos sintomas clássicos de hiperatividade, impulsividade e desatenção, mas também problemas com motivação, reconhecimento e regulação emocional, excesso de divagações mentais e problemas para a regulação de comportamentos (Mahadevan, Kandasamy & Benegal, 2019). Além disso, é frequente o TDAH andar de mãos dadas com outros problemas ou distúrbios psiquiátricos como depressão, transtornos de humor, distúrbios de personalidade, ansiedade ou distúrbios alimentares.

Quase todo diagnóstico psiquiátrico - transtorno bipolar, esquizofrenia, estresse pós-traumático, abuso de substâncias, só para citar mais alguns, pode afetar a capacidade de concentração. Mesmo problemas comuns como estresse ou falta de sono compromentem a capacidade de focar no que é importante. Portanto, a maioria das pessoas que têm problemas de atenção não apresenta TDAH, e é por isso que uma avaliação especializada é tão importante.

Se você tem dúvidas sobre como começar a investigar, responda ao questionário ASRS-18. O mesmo foi desenvolvido por pesquisadores em colaboração com a Organização Mundial de Saúde e é um dos possíveis pontos de partida para o levantamento de sintomas associados ao TDAH (Mattos et al., 2006). A versão abaixo foi validada no Brasil. Responda avaliando-se de acordo com os critérios apresentados no lado direito da tabela. Pense em como sentiu-se nos últimos 6 meses:

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Se os itens de desatenção da parte A (1 a 9) E/OU os itens de hiperatividade-impulsividade da parte B (1 a 9) têm várias respostas marcadas como FREQUENTEMENTE ou MUITO FREQUENTEMENTE existe chances de ser portador de TDAH (pelo menos 4 em cada uma das partes).

Para o diagnóstico estes sintomas devem ter surgido antes dos 12 anos de idade, causam problemas em pelo menos 2 contextos diferentes (como escola, faculdade, amizades, relacionamentos conjugais ou familiares), existem problemas evidentes por conta dos sintomas e assim por diante. Estas características complexas exigem avaliação neuropsicológica.

Psiquiatras frequentemente dizem que o TDAH é causado por um desequilíbrio químico no cérebro e que os medicamentos podem ajudar a corrigí-lo. Existem pelo menos dois produtos químicos do cérebro (neurotransmissores) muito provavelmente envolvidos nos sintomas: a dopamina e a noradrenalina. Neurotransmissores são pequenos mensageiros que enviam sinais de uma célula cerebral para a seguinte. Se os níveis de dopamina ou norepinefrina caem ou se o sistema que processa esses neurotransmissores não funciona bem, medicamentos estimulantes (como ritalina e adderall) podem ser prescritos para forçar as células do cérebro a trabalharem melhor.

Mas o que causa o desequilíbrio químico em primeiro lugar? Por que os níveis desses produtos caem? Uma causa é o polimorfismo genético (aqui os medicamentos parecem ser mais eficazes). Outra causa é a falta de nutrientes. Dopamina e a noradrenalina são produzidas a partir de aminoácidos, presentes em proteínas (como peixe, frango, carnes, ovos, leite e derivados, feijão, ervilha, lentilha, soja, grão de bico). A tirosina é um dos aminoácidos importantes para a produção de dopamina e norepinefrina.

TIROSINA → DOPAMINA → NOREPINEFRINA

Portanto, dietas deficientes em proteínas acabam impactando negativamente a capacidade de concentração, aprendizado e regulação das emoções. O cérebro também precisa de lipídios. Cerca de 2/3 do cérebro é feito de gordura, e cerca de 20% dessa gordura deve consistir em ácidos graxos ômega-3, que deixam as membranas celulares flexíveis e saudáveis.

Sem ômega-3, presente em peixes do mar, linhaça e chia, as células cerebrais ficam rígidas e não comunicam-se adequadamente. Portanto, mesmo se houver dopamina e noradrenalina em abundância, as células cerebrais podem não ser capazes de repassar esses produtos químicos de um lado para o outro. O ômega-3 também contribui para desinflamar o cérebro, mantendo-o mais equilibrado. Já um consumo exagerado de ômega-6, presente no óleo de soja, milho, girassol, contribuem para a inflamação do corpo, especialmente se o consumo de ômega-3 é baixo.

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Alergias alimentares e disbiose intestinal também contribuem para a neuroinflamação. Investigue com a ajuda de seu nutricionista o que faz bem e o que não faz bem para você e mude sua dieta. Evite alimentos ultraprocessados e junk food, que também contribuem para a inflamação do corpo por conterem gorduras ruins, excesso de açúcar, corantes e conservantes. Discuto mais sobre o tema no curso online PsicoNutrição.

Um bom estado nutricional em termos de minerais, como ferro, zinco e selênio, também é muito importante. O ferro é o mineral mais prevalente no corpo, fundamental para a prevenção da anemia. Quando pensamos nele geralmente lembramos justamente de seu papel em nossos glóbulos vermelhos, como um elemento fundamental para o transporte de oxigênio dos pulmões para todas as nossas células. Mas o ferro também é um mineral cerebral. Para convertermos tirosina em dopamina precisamos de ferro.

O segundo mineral mais comum no corpo é o zinco. Uma de suas inúmeras atividades é ligar-se ao transportador de dopamina, permitindo que o neurotransmissor permaneça ativo na sinapse por um longo período de tempo. É essencialmente um "inibidor da recaptação de dopamina" natural. Além disso, estudos mostram que o uso de ritalina + zinco funciona melhor do que o medicamento sozinho.

A carência de magnésio também parece contribuir para os sintomas de TDAH (Ettatpanah et al., 2019). O magnésio contribui para a ligação dos neurotransmissores a seus receptores. Alimentos ricos em magnésio como vegetais verde escuros, sementes e feijões devem estar presentes na dieta, já que a deficiência nutricional aumenta o risco de déficit de atenção, agressividade e delinquência (Black et al., 2015).

Não fique sem tratamento. Nossa equipe de nutricionista e psicóloga podem lhe ajudar com muitas estratégias para que consiga navegar melhor pela vida. Agende sua consulta.

Ainda não havia para mim ritalina - Gregório Duvivier

Do livro Crônicas para ler em qualquer lugar. Ed. Todavia, 2019.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/