O diabetes tipo 2 é considerado hoje parte de uma crise global da saúde, uma epidemia que surgiu com a industrialização, o consumo de alimentos ultraprocessados e a inatividade física. Existem pessoas geneticamente mais predispostas, mas esta predisposição é certamente influenciada pela exposição a fatores ambientais, pessoais, pelo nível de inflamação e estresse e pelo acesso a cuidados primários de saúde (Franks et al. 2013).
Mudanças no comportamento, na alimentação, na prática de exercícios, na composição corporal, na qualidade do sono podem reduzir o risco de doenças associadas à determinadas heranças genéticas. O bom funcionamento intestinal também é necessário para que o corpo mantenha-se saudável. O hormônio intestinal GLP-1 (peptídio tipo 1 de glucagon) controla o metabolismo da glicose, modula a função das células pancreáticas. Quando o intestino não funciona bem há comprometimento na produção de GLP-1 e aumento do risco de diabetes (Chawla et al., 2017). Alterações na produção de GLP-1 influenciam outros órgãos. Por exemplo, altera o metabolismo lipídico e o estoque de gordura, acelera a inflamação, aumenta o risco de esteatose hepática, gastrite e Alzheimer. Sim, a genética conta, mas a dieta também. Dietas pobres em fibras alteram o funcionamento intestinal e trazem muitos prejuízos à saúde. Por isso, pessoas geneticamente predispostas a doenças crônicas familiares precisam cuidar ainda com mais carinho da alimentação.
Dietas ricas em alimentos ultraprocessados (refrigerantes, bolos, biscoitos, sorvetes, nuggets, etc) aumentam a produção de AGEs (advanced glycation end products - produtos finais de glicação avançada). Carboidratos, como glicose e frutose, podem reagir com aminoácidos ou lipídios gerando moléculas alteradas que ativam o sistema imune e aumentam a inflamação. Este é um dos mecanismos envolvidos no desenvolvimento de várias doenças crônicas e das complicações observadas em diabéticos.
Estudos de genômica nutricional concentram-se em entender como os nutrientes interagem com genes, influenciando o aparecimento de doenças. Nutrientes presentes na alimentação e na dieta podem afetar a expressão gênica de várias maneiras. Podem ligar-se a fatores de transcrição e alterar a produção de proteínas. Alternativamente, nutrientes ou seus intermediários podem alterar vias de sinalização celular envolvidas na expressão de genes. As modificações na expressão gênica podem afetar o músculo, fígado, células β-pancreáticas, hipotálamo e tecido adiposo, regulando a quantidade de glicose circulante.
Os efeitos dessas interações entre nutrientes e genes podem ser deletérios, como no caso dos discutidos acima, acerca dos alimentos processados, aumentando o risco de DM e a progressão da doença. Outros compostos podem ter efeitos positivos, como é o caso dos fitoquímicos de plantas. Dentre estas substâncias destacam-se o EGCG do chá verde, a naringina presente na casca de frutas cítricas (podem ser usadas em chás), as antocianinas das frutas roxas, a quercetina das maçãs e cebolas, a apigenina da salsa, aipo e camomila, a genisteína da soja. Deficiências nutricionais também podem aumentar a inflamação, comprometendo o funcionamento do pâncreas. Converse com seu nutricionista sobre seu status de vitamina D, biotina, riboflavina e nicotinamida (Berná et al., 2014).