Suplementos de ferro e o estresse oxidativo no cérebro

O ferro é um metal fundamental para o funcionamento do corpo. Atua no processo respiratório de transporte de oxigênio e dióxido de carbono no organismo. Faz parte das enzimas que atuam no processo de respiração celular e produção de energia. Sua falta acarreta anemia, acompanhada de sintomas como dores de cabeça, cansaço, dificuldades de aprendizagem e coordenação, redução da capacidade de defesa imune.

Ou seja, ferro não pode faltar. A anemia pode ocorrer por baixo consumo de ferro, por baixa produção de hemácias ou elevada destruição. Outra causa é a espoliação ou por exames em excesso.

Por outro lado, quando em excesso, o mineral passa a desencadear reações oxidativas (de perda elétrons), aumentando a produção de radicais livres. Um desequilíbrio entre a formação de radicais livres e as enzimas que defendem o organismo dos seus danos leva à oxidação de elementos celulares fundamentais para um funcionamento normal

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A suplementação de ferro deve, portanto, ser feita apenas quando houver anemia ou risco de anemia. Além disso, a forma de ferro suplementada deve considerar a capacidade da pessoa em se defender contra um possível estresse oxidativo. Indivíduos que já possuem uma produção aumentada de radicais livres, como por exemplo, pessoas fazendo hemodiálise (Pedruzzi et al., 2015), pessoas com síndrome de Down, pessoas com disfunção mitocondrial ou Alzheimer devem repor o ferro, se necessário, em uma forma química que não contribua para aumento do estresse oxidativo.

O ferro tem sido descrito como um elemento importante na neurodegeneração. A quantidade de ferro no cérebro aumenta com o passar da idade, principalmente a partir dos 40 anos. Se houverem alterações na permeabilidade da barreira hematoencefálica a entrada de ferro no sistema nervoso central é ainda maior. 

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Durante a respiração mitocondrial, o oxigênio molecular é reduzido em água pelas células, para a formação de energia, produzindo concomitantemente pequenas quantidades de radicais livres (ROS) como peróxido de hidrogênio (H2O2) e superóxido (O2•-). Estes radicais livres são importantes, fazendo parte dos mecanismos que levam à destruição de microorganismos invasores e células cancerígenas.

Por outro lado, podem ser extremamente tóxicos, danificando lipídios, proteínas, DNA e RNA celulares, levando a várias formas de lesão celular. Para que isto não aconteça as células possuem sistemas de defesa (proteínas quelantes de metais, enzimas de defesa, antioxidantes) prevenindo lesões causadas por ROS.

Um desequilíbrio entre a taxa de geração e a capacidade de remoção celular de radicais livres é o que causa o estresse oxidativo. Metais de transição, como ferro ou cobre, podem doar ou aceitar elétrons livres durante reações intracelulares, catalisando a formação de radicais livres, como na reação de Fenton.

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De todos os órgãos, o cérebro é o mais sensível ao estresse oxidativo devido às seguintes características:

  • alto consumo de oxigênio (20% de todo organismo);

  • altos níveis de ferro;

  • níveis relativamente baixos de agentes protetores antioxidantes;

  • tendência a acumular metais;

  • capacidade da micróglia (macrófagos do SNC) de secretar substâncias inflamatórias;

  • altas concentrações de neurotransmissores auto-oxidáveis (dopamina, noradrenalina) que reagem com O2 produzindo ROS;

  • presença de aminoácidos excitotóxicos (glutamato);

  • presença de enzimas que produzem H2O2 como produtos finais de suas atividades.

A neurodegeneração aumenta o acúmulo de β-amilóide (Aβ) nas placas senis e de proteína tau hiperfosforilada nos emaranhados neurofibrilares. Um mecanismo comum no desenvolvimento de processos neurodegenerativos é a alteração na forma de proteínas. O cérebro de pacientes com demência parece possuir duas vezes mais ferro (Fernandez et al., 2007). A pergunta que não quer calar é: como suplementar ferro em um paciente anêmico sem aumentar o estresse oxidativo? A resposta está no tipo de ferro suplementado. Sais ferrosos aumentam o estresse oxidativo enquanto o ferripolimaltose (ferro polimaltosado) não possui este efeito.

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Nenhum nutriente é bom ou mal. A decisão clinica sempre envolve algumas questões: para quem, quando, quanto, de que forma. Outra forma de suplementação adequada de ferro seria a forma quelada com glicina (ferro bisglicinato). Está disponível também na Europa a forma sucrosomial, que tem biodisponibilidade 3,5x maior que sulfato ferroso sem causar problemas gastrointestinais.

A forma de qualquer uma das formas do ferro gera aumento de hemácias, hemoglobina, VCM e RDW. Contudo, as formas de bisglicinato e sucrosomial parecem restaurar os estoques (ferritina) mais rapidamente (Name et al., 2018).

Dicas:

  • não associar na suplementação ferro com outros minerais como cálcio e zinco;

  • associar a suplementação de ferro com Lactobacillus plantarum ou piperina;

  • optar pela forma química bisglicinato ou ferro sucrosomial;

  • tomar o suplemento com estômago vazio para melhoria da biodisponibilidade. Se consumir após a refeição, opte por uma refeição com poucas fibras;

  • Tomar 1 dose ao dia em dias alternados (para reduzir a hepcidina que reduz absorção do ferro).

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/