Jogos para celular e tablets fazem a festa da criançada, mas nem todos contribuem para a autoestima e para a saúde mental desses pequenos cérebros em formação. Uma nova onda de jogos focam na cirurgia plástica. Dentre eles estão: Princess Plastic Surgery (cirurgia plástica da princesa), Celebrity Plastic Surgery Hospital (hospital da cirurgia plástica de celebridades), e Beauty Clinic Plastic Surgery (clinica de beleza e cirurgia plástica).
O objetivo é transformar mulheres feias ou velhas em lindas princesas com rosto, nariz, olhos, lábios dos sonhos. Somos todos diferentes, nossos filhos são todos diferentes e dizer a eles que características únicas não são bem vindas e que podem ser concertadas com uma cirurgia é muito problemático. Quantos anos tem as crianças expostas a estes jogos?
Como se sentirão as crianças cujos narizes são maiores dos que os considerados adequados pelo jogo? Quem tem que dizer que alguma característica pode ou deveria ser modificada? Penso que os jogos deveriam estar dizendo que nossa aparência não é requisito para nos amarmos, sermos amados ou termos uma vida boa e feliz. Infelizmente jogos como estes fazem o contrário, encorajando crianças a tentarem se parecer com outras pessoas. Não é de surpreender que hoje pessoinhas de apenas 8 anos já apresentem transtornos alimentares.
O que você faria neste caso? Não deixaria o jogo ser instalado? Deixaria e brincaria junto? Deixaria o jogo ser instalado mas conversaria frequentemente com a criança? Lembre que os jogos gratuitos também veiculam propaganda, incluindo produtos de beleza, roupas, artigos de moda, maquiagem, tudo para "melhorar a aparência". Além disso estes artigos são divulgados por modelos, que além de serem diferentes de nós, tem também suas fotos manipuladas por programas como o photoshop. Não é justo com a mente infantil que deveria estar vivenciando o mundo, aprendendo, desenvolvendo habilidades, explorando a própria criatividade, ao invés de manter-se aprisionada a um padrão imposto por um jogo.
Com estes jogos as crianças também não aprendem que cirurgias podem ser perigosas e gerar complicações físicas, mentais e econômicas. O Brasil já está entre os países campeões em cirurgias plásticas. Somos constantemente bombardeados com imagens de "pessoas perfeitas", com suas "vidas perfeitas". A insatisfação gerada pela comparação que inconscientemente fazemos leva muitas pessoas aos consultórios médicos em busca de correções para problemas que muitas vezes nem existem. O Brasil já lidera o ranking mundial de cirurgias plásticas entre jovens. Cirurgia plástica não é em si boa ou ruim, mas está normal?
A infância e adolescência trazem muitos desafios. As transições geram instabilidades, aumentam a vulnerabilidade. A autoestima sofre também transformações. Os jovens tentarão encontrar referências para sentirem-se bem. Não deixe que a referência de seus filhos seja um jogo. Comunique seus valores, estabeleça regras, não resuma a autoestima dos pequenos às suas características físicas, ensine-os a criticar as normas e padrões que geram inquietude, ansiedade ou obsessão com a estética.