Você bebe com a desculpa de que o vinho é bom para o coração? Muitas pessoas fazem isso influenciadas por estudos da década de 1980 que discutiam o paradoxo francês. O termo diz respeito à noção de que o povo francês, apesar de grande comedor de queijos amarelos e gordurosos, possuiria menores taxas de doenças cardíacas em relação a outros povos, devido ao consumo de vinho tinto nas refeições.
A teoria ajudou as pesquisas na descoberta de compostos vegetais benéficos conhecidos como polifenóis. Dentre eles estão o resveratrol, composto antioxidante que dá a cor roxa às uvas.
No entanto, de acordo com o cientista de Harvard Dr. Kenneth Mukamal, a evidência de que beber vinho tinto ajudaria a evitar doenças cardíacas é bastante fraca. Isto porque toda a pesquisa publicada até então mostrando que as pessoas que bebem quantidades moderadas de álcool têm taxas mais baixas de doença cardíaca é observacional. Tais estudos não podem provar causa e efeito, apenas associações. Afinal, ainda hoje, os efeitos do álcool sobre a saúde não foram testados em estudos aleatorizados e de longo prazo.
Perguntas a serem respondidas
Será que pessoas que consomem vinho tinto também consomem mais frutas ou verduras ou peixes ricos em ômega-3 do que pessoas que tomam outros tipos de bebida alcoólica (como vinho, vodka ou whisky)?
Os benefícios são iguais para todas as populações ou somente para franceses?
Se saudável, que quantidade teria efeitos positivos na saúde? E o efeito, deve-se mesmo ao resveratrol?
Italianos também tomam muito vinho tinto, mas a doença cardiovascular na Itália não associa-se aos níveis de resveratrol circulante. Já estudos de pessoas que não bebem mas tomam capsulas de resveratrol não mostram os mesmos efeitos (Semba et al., 2014). Então o benefício seria o etanol (o álcool?) ou mesmo outro polifenol?
Os japoneses, por exemplo, não tem o costume de tomar vinho, mas tem taxas de doenças cardiovasculares baixas também em relação a outros países (como Estados Unidos e Brasil). Que outros fatores genéticos e ambientais estariam envolvidos?
Assim, se você gosta de vinho tinto aprecie mas não abuse. O consumo moderado - definido como uma dose (150 ml) por dia para mulheres saudáveis duas doses por dia (300 ml) para homens saudáveis ostuma ser considerado seguro. Mesmo assim, há que se considerar a individualidade e as vulnerabilidades genéticas e bioquímicas.
Além disso, idosos devem limitar o consumo de álcool a não mais que uma dose ao dia pois os processos de destoxificação tornam-se menos eficientes com o passar dos anos, aumentando o risco de problemas hepáticos, renais, neurológicos e inflamatórios.