Testes em animais suspensos no desenvolvimento de uma vacina para o coronavírus?

As pesquisas, seus resultados e nível de evidência científica não são todos iguais. Com o objetivo de tornar a prática da medicina o mais científica possível, foi criada a Medicina Baseada em Evidências. Qualquer pedaço de informação pode se constituir em evidência para guiar uma conduta na área de saúde. No entanto, um estudo feito em camundongo não terá o mesmo peso do que um estudo feito em humanos. Assim, há uma hierarquia das evidências - das mais modestas, às mais sólidas. O quadro abaixo mostra os níveis de Evidência Científica segundo a Classificação do Oxford Centre for Evidence-Based Medicine:

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Estudos em animais de laboratório estão entre os mais básicos e representam um nível de evidência 5, raramente possibilitando extrapolação para a raça humana. Assim, após estudos em animais ou tubos de ensaio, outras pesquisas que possibilitem maior grau de recomendação devem ser feitas.

Normalmente, o desenvolvimento de uma vacina leva entre 15 a 20 anos, mas não temos este tempo a esperar. O coronavírus está deixando vítimas agora. Por outro lado, sem seguir as etapas apropriadas nas pesquisas resultados ruins podem acontecer. Estamos com um dilema nas mãos. Empresa nos EUA começou a testar em humanos a vacina para o coronavírus, sem que a mesma tenha sido testada antes em animais. As vacinas padrão usam um vírus morto ou fraco como base para o fortalecimento da imunidade. O teste de segurança é feito primeiramente em animais. O problema atual é que camundongos não pegam o coronavírus então não há como testar a vacina neles. O que os investigadores fazem normalmente é criar animais com mutações e que sejam mais suscetíveis à doença, mas não tiveram tempo para isso.

Surtos e emergências nacionais e internacionais criam muita pressão na saúde pública e muitas instituições acabam suspendendo os padrões ótimos de pesquisa clínica. Especialistas em ética biomédica estão questionando a velocidade, justamente pelo fato de os estudos em animais não terem sido realizados. Para contornar o problema a empresa de biotecnologia Moderna Therapeutics desenvolveu uma vacina diferente. A mesma não contém o vírus que desencadeia o COVID-19, como acontece nas vacinas convencionais. Em vez disso, os pesquisadores da empresa usaram uma nova técnica para produzir RNA mensageiro (mRNA), que é semelhante ao mRNA encontrado no SARS-CoV-2. Em teoria, o mRNA artificial dará nstruções que levarão as células humanas a construir uma proteína encontrada na superfície do vírus. Essa proteína, também teoricamente, desencadearia uma resposta imune protetora.

O problema é que a empresa nunca pôs essa tecnologia à prova antes. Assumindo que o método funcione, acelerar o teste em animais pode ser uma boa decisão, especialmente no contexto da pandemia atual. Mesmo assim, ainda não dá para saber quanto isso economizaria em tempo. Por outro lado, não sabemos as consequências da falta de testes iniciais. Vacinas podem desencadear efeitos colaterais como febre, calafrios, dor, vermelhidão, enxaqueca. Os efeitos graves muito raros (como alergias severas, encefalite, dano cerebral permanente, morte), justamente porque um protocolo é seguido. Muitas questões ainda encontram-se sem resposta. Por isso, o melhor que podemos fazer no momento é lavar as mãos várias vezes ao dia, evitar contatos sociais e manter a sanidade, enquanto esperamos que as empresas de vacina encontrem a melhor solução possível.

Aprenda mais sobre os níveis de evidência das informações científicas neste meu vídeo:

Existem preocupações diversas, dentre elas éticas, para o uso de animais de laboratório nas pesquisas. Por isso, em 2008 foi regulamentada no Brasil a lei que estabelece os procedimentos para o uso científico de animais de laboratório em pesquisas. Clique no link em azul caso deseje fazer a leitura do material.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/
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