Nutrição, epigenética e doenças autoimunes

Existem mais de 80 doenças autoimunes, que acometem as pessoas em idades variadas. As mais conhecidas são diabetes tipo 1, lúpus, artrite reumatóide, problemas na tireóide (doença de Graves e tireoidite de hashimoto), psoríase, vitiligo, doenças inflamatórias intestinais (doença de Crohn e colite ulcerativa), doença celíaca, anemia perniciosa, síndrome de Guillain-Barré, miastenia gravis e esclerose múltipla. O interessante é que em países onde a alimentação é mais industrializada e o estresse é maior (como os Estados Unidos) a incidência de casos ou maior. Isto mostra que para mantermos a saúde precisamos melhorar nosso estilo de vida, até porque a presença de uma doença autoimune contribui para o surgimento de outras.

Em resposta a um gatilho desconhecido, o sistema imunológico pode começar a produzir anticorpos que, em vez de combater infecções, atacam os próprios tecidos do corpo. O tratamento para geralmente se concentra na redução da atividade do sistema imunológico e pode envolver o uso de antiinflamatórios e medicamentos imunossupressores. Contudo, dependendo da doença também podem ser necessários outros medicamentos como aqueles voltados ao bom funcionamento da tireóide ou do pâncreas.

Fatores genéticos estão envolvidos nas doenças autoimunes (Ceccarelli et al., 2017). Contudo, é o ambiente que ativa ou desativa os genes. É como se o gene fosse a arma, mas o ambiente puxasse o gatilho. Por isso, os gatilhos (toxinas como metais pesados), dieta ruim, hormônios sexuais, radiação, excesso de peso, estresse, infecções, disbiose intestinal devem ser trabalhados (Javierre et al., 2011). Tais fatores geram desregulação epigenética (discuto mais no curso de genômica nutricional).

E tudo começa dentro da barriga da mãe. Mulheres com dieta adequada, com características antiinflamatórias e suplementada de ômega-3 e probióticos geram filhos menos alérgicos e mais protegidos contra doenças autoimunes (Garcia-Larsen et al., 2018).

Uma questão muito importante em todas as fases da vida é cuidar bem do funcionamento intestinal. O intestino humano abriga uma comunidade complexa de micróbios que afetam muitos aspectos de nossa saúde. Conhecidas como microbiota intestinal, essas bactérias ajudam no metabolismo e na manutenção de um sistema imunológico saudável.

O revestimento do intestino forma uma barreira que é crucial para conter os micróbios intestinais. Se o revestimento for rompido (por álcool, toxinas) e um micróbio ou alguma de suas partes for capaz de entrar na corrente sanguínea e órgãos próximos, ele pode causar doenças (Clark & Mach, 2016).

Vários componentes da dieta têm ação direta nas células do sistema imune e podem modificar a reatividade imunológica. O sal de cozinha (NaCl), por exemplo, quando ingerido em excesso, pode desencadear, além de problemas cardíacos, a ativação de linfócitos inflamatórios Th17, agravando doenças como a esclerose múltipla e a colite ulcerativa. 

A vitamina D é muito importante para manutenção do bom funcionamento intestinal e também para redução do risco de doenças autoimunes. Você pode tomar sol e, caso sua vitamina D esteja menor que 30 ng/ml no plasma pode suplementar também. Até para a proteção contra o coronavírus (o ideal neste caso é acima de 40 ng/ml) e para controle das doenças autoimunes, entre 50 e 60 ng/ml, para adultos.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/