TDAH - tratamento sem medicação

Tem gente viciada em chiclete. Aliás, você está mastigando um enquanto lê este texto? Algumas pessoas usam as gomas de mascar para limpar a boca após as refeiçóes, para aumentar a produção de saliva, reduzindo o risco de gengivite.

Alguns pesquisadores sugerem que mascar chicletes aumenta o fluxo sanguíneo na região e também no cérebro. Quando surgem estudos como estes muitos pais empolgam-se. Seria o chiclete eficiente para o controle da hiperatividade no Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDHA)? Infelizmente, um estudo mostrou que a goma de mascar teve um impacto negativo na vigilância em crianças com TDAH e também não melhorou os níveis de atenção (Tucha et al., 2010).

É claro, as pessoas são muito diferentes uma das outras e individualização é tudo. Um dos importantes aspectos do tratamento do TDAH é a redução da ansiedade. E, para algumas pessoas, mascar gomas pode reduzir a ansiedade e o estresse. Isso é muito importante. Sem reduz o estresse muitas crianças, adolescentes e adultos acabam sendo medicadas desnecessariamente, por exemplo com a Ritalina. Contudo, a ritalina não trata as causas da irritabilidade, da ansiedade, da hiperatividade, do déficit de atenção - trata sintomas, como a maior parte dos medicamentos.

Aliás, veja o que está escrito na bula do medicamento: “o mecanismo de ação da ritalina ainda não foi completamente ilucidado, mas acredita-se que o seu efeito estimulante é devido a uma estimulação cortical e possivelmente uma estimulação do sistema reticular. O mecanismo pelo qual ele exerce seus efeitos psíquicos e comportamentais em crianças não etá claramente estabelecido, nem há evidência conclusiva que demonstre como esses efeitos se relacionam com a condição do sistema nervoso central”.

Para o psicólogo Leonardo Mascaro, autor do livro “Saúde mental sem medicamentos para leigos”, o uso de medicamentos em crianças tem sido feito de forma indiscriminada e irresponsável e os desdobramentos são extremamente sérios, como desenvolvimento de bipolaridade pelo uso crônico, desde cedo. A ritalina induz alterações moleculares na membrana dos neurônios. Ao bloquear em cerca de 70% a ação das moléculas que removem a dopamina da fenda sináptica, o medicamento aumenta o neurotransmissor artificialmente por horas. Ao fazê-lo o cérebro adapta-se e deixa de produzir o neurotramsissor espontanemante. Como um efeito dominó, há uma redução no número de receptores para dopamina, o que agrava o quadro, além de criar a dependência do medicamento.

Além disso, não é porque uma criança não presta atenção que tem TDAH, necessariamente. Pode ser só ansiedade mesmo. Psicoterapia, atividade física e tempo de qualidade com a família serão muito mais interessantes e eficazes. Mas, mesmo que seja o caso de TDAH, o medicamento não é a única solução. Existem outras intervenções cabíveis e validadas como o neurofeedback. Mas, relembrando: cada paciente é absolutamente único e seu tratamento também deve ser. Pode inclusive, ser necessário o uso de medicamentos, mas antes, o diagnóstico correto é essencial. Consulte um bom neuropediatra e, caso necessário, peça uma segunda opinião. Se não conseguir em sua cidade, posso indicar também psicóloga que atende online para avaliação de adolescentes e adultos.

Yoga e meditação para redução da hiperatividade

Estudos recentes mostram que o treinamento da atenção pode ajudar crianças, adolescentes e adultos com déficit de atenção e hiperatividade. Yoga e meditação (ou práticas de atenção plena) contribuem ainda para a regulação hormonal, complementando a retirada de açúcar e outros tratamentos (como uso de medicamentos ou suplementos). Ninguém com déficit de atenção e hiperatividade vai conseguir entrar em uma sala e meditar por 1 hora, mas pode começar com 1 minuto, 2, 3 e ir progredindo até pelo menos 20 minutos diários.

Muitos profissionais de saúde e professores têm indicado a prática de yoga e meditação para toda a família. Isso mesmo, é uma jornada familiar. Pais que meditam e praticam yoga em casa estimulam os próprios filhos pelo exemplo. Pais com treinamento em Yoga vêem o comportamento dos filhos melhorarem ao longo do tempo, resultando em uma melhor relação com os mesmos, o que por sua vez ajuda na melhoria dos sintomas de TDAH e também de autismo.

Livros para explicar o TDAH para crianças

Ainda não havia para mim ritalina - Gregório Duvivier

A primeira vez que tomei Ritalina eu entendi como é que as pessoas veem o mundo. Entendi que nem todo mundo vai buscar um copo d´água na cozinha e esquece o que foi fazer lá. Entendi que nem todo mundo tem dificuldade de se comunicar por telefone porque tudo o que os olhos veem chama a atenção e fica difícil prestar atenção só no ouvido quando um monte de coisa está acontecendo em frente aos olhos e a ligação termina sem que se tenha a menor ideia do que foi dito. Entendi que as pessoas normais olham pra tela de um computador e tudo o que elas veem é a tela de um computador, e não um portal pra procurar qualquer coisa no Google de dez em dez segundos. Aliás, quem inventou o segundo? Caramba, os sumérios usavam o sistema duodecimal porque contavam cada falange do dedo, excluindo o dedão. E eis que acabo de perder duas horas no fantástico mundo dos sumérios, que inventaram a escrita, as cidades e a cerveja. Benditos sejam os sumérios. Onde é que eu estava?

Confesso que nunca consegui estudar. Ao mesmo tempo sempre gostei de ler. No entanto, só consigo ler aquilo que não deveria estar lendo, como os sumérios, a pronúncia correta de Roraima (ambas são corretas, mas em Roraima se fala Roráima) e qual o analgésico que tem menos efeitos colaterais (dipirona - injustamente proibida fora do Brasil por motivos obscuros que cheiram a boicote da indústria farmacêutica, pronto: mais duas horas perdidas no vale da dipirona). Em toda a minha vida, acho que nunca estudei uma matéria da escola, nem sei ao certo como faz. Nunca consegui abrir um caderno e reler minhas anotações, e um dos motivos pra isso é que nunca fiz anotações, e nem sequer me lembro de ter tido um caderno. Passava as aulas muito ocupado: quando não estava tentando impedir o professor de dar aula, estava olhando pela janela, pensando em outra coisa.

A primeira vez que tomei Ritalina entendi o pessoal que sentava na primeira fila e grudava os olhos no quadro-negro, e assim permanecia até tocar o sino. Esse pessoal excêntrico que não ouvia o cachorro latir na casa ao lado da escola que o lembraria de um cachorro que morreu afogado uns anos antes, logo não sentia uma súbita vontade de chorar sabe-se lá por quê, e não precisaria começar a batucar pra pensar em outra coisa, esse pessoal que não era expulso de sala por estar batucando.

A última vez que tomei Ritalina foi quando percebi que já não consegui mais pensar em nada que eu não quisesse pensar. Foi quando percebi que minha cabeça tinha sido domesticada, e percebi que domar a cabeça é gostoso, mas não domar a cabeça é melhor.

Quando deixei de tomar Ritalina, voltei a pensar nos sumérios, e nos fenícios, no Fluminense, em tudo o que não importa e faz a vida valer a pena. Resumindo: em tudo o que é assunto de crônica. A Ritalina é a morte do cronista, esse diletante profissional.

Do livro Crônicas para ler em qualquer lugar. Ed. Todavia, 2019.

Suplementação mínima: associar Ômega-3 com TDAH Control all in one. Fazer modulação intestinal, sempre que necessário. Para individualização marque aqui sua consulta.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/
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