Magro e com resistência à insulina?

Quando pensamos em resistência insulínica, logo vem à mente a imagem de alguém acima do peso. Mas a verdade é que muitas pessoas magras também podem ter resistência à insulina — e isso nem sempre é percebido a tempo.

A resistência insulínica acontece quando as células do corpo não conseguem responder adequadamente à insulina, o hormônio responsável por colocar a glicose dentro das células para gerar energia. Como consequência, o pâncreas produz cada vez mais insulina, gerando um estado inflamatório silencioso que pode evoluir para doenças metabólicas.

Exames que indicam resistência insulínica em pessoas magras

Mesmo estando dentro do peso, alguns exames laboratoriais podem revelar alterações típicas de resistência à insulina:

  • Ácido úrico alto – sinal de sobrecarga metabólica.

    • Homens: acima de 7,0 mg/dL (ideal < 4,9)

    • Mulheres: acima de 6,0 mg/dL (ideal < 3,9)

  • Triglicerídeos elevados – frequentemente associados à má utilização da glicose.

    • Ideal: menor que 100 mg/dL

    • Normal: menor que 150 mg/dL

    • Limítrofe/Alto normal: 150–199 mg/dL

    • Alto: 200–499 mg/dL

    • Muito alto: ≥ 500 mg/dL

  • Insulina em jejum alta – o corpo precisa produzir mais insulina para manter a glicemia controlada.

    • Ideal / ótimo: até 5 µU/mL

  • HDL < 60 – o “colesterol protetor” abaixo do ideal também indica risco metabólico. Adequado por sexo:

    • H: 50 a 73 mg/dL

    • M: 60 a 93 mg/dL

  • HOMA-IR alto – calculado pela fórmula (glicose em jejum x insulina em jejum) / 405; valores acima de 2 sugerem resistência insulínica.

    • Ideal: < 1,0

  • Hemoglobina glicada (HbA1c) > 5,5% – já sugere resistência insulínica.

  • Hemoglobina glicada (HbA1c) > 5,7% – é considerada pré-diabetes.

Por que isso acontece mesmo em quem é magro?

Diversos fatores podem levar à resistência insulínica mesmo em pessoas com peso normal:

  • Alimentação rica em carboidratos simples e ultraprocessados;

  • Sedentarismo;

  • Baixa massa muscular;

  • Aumento de gordura visceral;

  • Estresse crônico;

  • Má qualidade do sono;

  • Síndrome dos Ovários Policísticos;

  • Fatores genéticos.

    • IRs-1 e IRS-2

    • PPAY-y

    • TCF7L2

Riscos da resistência insulínica

A resistência insulínica é silenciosa, mas com o tempo pode trazer várias complicações sérias. Entre os principais riscos estão:

🩸 Diabetes tipo 2:

Quando o pâncreas não consegue mais compensar a resistência com produção extra de insulina, a glicose sobe e evolui para pré-diabetes e, depois, diabetes tipo 2.

❤️ Doenças cardiovasculares

  • Aumenta o risco de infarto e AVC.

  • Está associada a colesterol ruim (LDL) oxidado, HDL baixo e triglicerídeos altos.

  • Favorece o processo inflamatório e aterosclerose.

⚖️ Síndrome metabólica

Conjunto de alterações: pressão alta, glicemia elevada, triglicerídeos altos, HDL baixo e aumento da circunferência abdominal.

🧠 Doenças neurodegenerativas

A resistência insulínica tem sido chamada de “diabetes tipo 3”, devido à sua relação com maior risco de Alzheimer e declínio cognitivo.

♀️ Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP)

Em mulheres, a resistência insulínica piora o quadro de SOP, causando irregularidade menstrual, dificuldade para engravidar e aumento de hormônios androgênicos.

🫀 Esteatose hepática (gordura no fígado)

Mesmo em pessoas magras, a resistência insulínica pode levar ao acúmulo de gordura no fígado, aumentando o risco de cirrose e câncer hepático a longo prazo.

🦵 Gota e inflamação crônica

O ácido úrico elevado, comum na resistência insulínica, favorece crises de gota, dores articulares e inflamações silenciosas no corpo.

O que fazer diante desse diagnóstico?

Se os exames já mostram alterações, é hora de agir. Alguns passos fundamentais incluem:

  • Ajustar a alimentação, priorizando proteínas, gorduras boas e carboidratos de baixo índice glicêmico;

  • Praticar exercícios físicos regularmente, especialmente musculação e atividades aeróbicas;

  • Dormir bem e reduzir o estresse;

  • Avaliar necessidade de magnésio, vitamina D, ômega-3, cromo, ácido alfa-lipoico, berberina, probióticos, inositol.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Metabolômica: a nova fronteira para transformar o cuidado no desenvolvimento físico e cognitivo infantil

Você já percebeu como as intervenções nutricionais tradicionais, apesar de necessárias, nem sempre trazem os resultados esperados no desenvolvimento cognitivo e físico das crianças?

A ciência está mostrando o porquê: nutrição e inflamação crônica não atuam isoladamente — elas interagem em múltiplas vias metabólicas que impactam diretamente o crescimento e a cognição. É aqui que a metabolômica entra como uma ferramenta disruptiva, capaz de revelar o que antes era invisível.

Por que a metabolômica é um divisor de águas?

Um estudo publicado na EBioMedicine (Moreau et al., 2019), demonstrou algo revolucionário:

  • Crescimento físico: associado a níveis mais altos de hidroxi-esfingomielinas, fosfatidilcolinas e aminoácidos essenciais.

  • Desempenho cognitivo: ligado a maiores concentrações de fosfatidilcolinas e treonina — biomarcadores que conectam saúde intestinal, imunidade e função cerebral.

  • Trajetórias de crescimento desfavoráveis: altos níveis de acilcarnitinas e ácidos biliares conjugados.

Diferentes vias metabólicas regulam dimensões distintas do desenvolvimento. Algo que a prática clínica convencional não consegue identificar apenas com exames de rotina.

Aplicações práticas da metabolômica

  • Identificação precoce de riscos: Assinaturas metabólicas podem sinalizar vulnerabilidades antes de sintomas clínicos se manifestarem.

  • Intervenções personalizadas: A metabolômica possibilita ajustar estratégias nutricionais e terapêuticas a cada criança.

  • Medicina de precisão no TEA: Revisões recentes (2010–2022) com mais de 2.000 indivíduos apontam que a metabolômica auxilia na estratificação de fenótipos, diagnóstico precoce e manejo de comorbidades no Transtorno do Espectro Autista.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Resposta ao estresse no autismo

Pessoas neurodivergentes que estão o tempo todo se policiando, mascarando seus comportamentos e emoções gastam muita energia. O que para você pode ser tranquilo, para eles podem ser altamente estressantes, contribuindo para desfechos de saúde precários e declínio cognitivo precoce.

Estudos mostram que algumas crianças com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) a exposição crônica a estressores (maior carga alostática) pode alterar a atividade do eixo estresse (HPA), ocasionando elevações/disfunções do cortisol, alterações oxidativas/nitrosativas, modificação de fatores tróficos (BDNF) e mudanças estruturais/funcionais em regiões sensíveis ao estresse (hipocampo, amígdala, córtex pré-frontal). Essas alterações podem contribuir para pior regulação emocional, comportamento e risco somático.

1) Eixo HPA e cortisol

Crianças e adolescentes com TEA frequentemente mostram alterações na dinâmica do cortisol — estudos mostram tanto respostas exageradas a estressores sociais/novos quanto alterações no ritmo diurno. Meta-análises e revisões indicam níveis periféricos de cortisol diferindo de controles e respostas ao estresse frequentemente atípicas (pico maior em alguns estudos; em outros, resposta “insensível” dependente do tipo de teste). Isso indica disfunção do sistema de estresse no TEA (Spratt et al., 2012).

O cortisol cronicamente elevado ou desregulado é um mecanismo plausível para efeitos tóxicos sobre memória, regulação emocional e para ativar vias inflamatórias/hemostáticas (Lenart-Bugla et al., 2022).

2) Hipocampo reduzido / pior capacidade de lidar com estresse

Estudos de neuroimagem mostram alterações volumétricas e de forma do hipocampo em pessoas com TEA (diferenças na assimetria, volume e trajetória ao longo do tempo), e a literatura sobre carga alostática relaciona AL a atrofia/alterações do hipocampo em humanos. Assim, é plausível que exposição crônica ao estresse (e suas mediadoras hormonais/metabólicas) afete o hipocampo em TEA.

Achados volumétricos no TEA são heterogêneos (variam por idade, amostra, método). Alguns achados mostram aumento em idades muito precoces e perda acelerada mais tarde.

3) Córtex pré-frontal: regulação de pensamento, emoção e comportamento

Carga alostática refere-se à desregulação prolongada relacionada ao estresse crônico que afeta regiões do cérebro como o hipocampo, a amígdala e o córtex pré-frontal (CPF). Níveis mais altos de carga alostática têm sido associados a desfechos de saúde precários, incluindo transtornos psiquiátricos, declínio cognitivo e condições somáticas crônicas

Uma revisão sobre carga alostática e cérebro identifica o córtex pré-frontal como alvo sensível ao estresse crônico (impacto em função executiva, controle inibitório). Em TEA há também evidência funcional/estrutural de alterações no PFC associadas a dificuldades na regulação emocional e no comportamento social. O estresse crônico pode piorar essas disfunções (Lenart-Bugla et al., 2022).

4) Amígdala: volume e respostas hiper-reativas ao estresse

Vários estudos mostram diferenças na amígdala em TEA (volume e conectividade) e correlações com ansiedade/reatividade emocional. A exposição precoce ao estresse altera o desenvolvimento da amígdala que torna-se hiper-reativa (Aylward et al., 1999).

A amígdala é um núcleo central no processamento de emoções, principalmente medo. Quando ela torna-se hiper-reativa, o cérebro interpreta os estímulos como ameaçadore, o que pode gerar ansiedade, crises emocionais (metdowns), maior irritabilidade, agressividade, respostas explosivas.

5) BDNF reduzido / alterado (fator neurotrófico)

Há literatura sobre níveis de BDNF em TEA, mas os resultados são mistos — alguns estudos relatam aumento, outros diminuição, dependendo da amostra e método (plasma vs soro, idade). BDNF é sensível ao estresse e ao ambiente (treinamento, intervenção pode alterar BDNF). A imagem sugere redução de BDNF — isso é uma hipótese biologicamente plausível (estresse crônico costuma reduzir sinalização trófica em muitos contextos), mas não é um achado universal em TEA (Kasarpalkar et al., 2014).

6) Óxido nítrico & estresse oxidativo

Existe uma ligação entre estresse oxidativo e nitrosativo no TEA, com alterações em marcadores antioxidantes, óxido nítrico (ON)e vias relacionadas foram relatadas. O ON tem papel duplo (neuroprotetor e neurotóxico em excesso) e pode modular plasticidade sináptica; exposições ambientais que elevem ON também foram associadas a risco aumentado em alguns estudos observacionais. O aumento de espécies reativas pode danificar lipídios/membranas, proteínas e modular BDNF/funcionamento sináptico — potencial mecanismo entre estresse e alterações cerebrais. (Yui et al., 2016).

7) PAI-1 / trombose

Pesquisas nas ciências cardiovasculares mostram que estresse crônico e glucocorticoides aumentam PAI-1, reduzindo atividade fibrinolítica e aumentando risco pró-trombótico. Há uma ligação entre ativação do estresse e aumento de PAI-1. Em TEA o mecanismo (estresse → ↑PAI-1) foi documentado (Okazaki et al., 2022).

O que podemos fazer?

Monitorar estresse e sono, avaliar suporte psicossocial e intervenções que melhorem regulação emocional (podem influenciar cortisol/BDNF). Intervenções psicológicas/psicoeducacionais podem modular resposta ao estresse.

A pesquisa deve também investigar longitudinalmente (ao longo do tempo) trajetórias (como hipocampo e cortisol evoluem ao longo do tempo no TEA), já que muitos estudos ainda são transversais. Aprenda mais sobre o cérebro na plataforma https://t21.video

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/