🍷 Álcool e fígado: qual o papel do gene GSTM1?

A ingestão de álcool leva à entrada de etanol nos hepatócitos (células do fígado). O etanol em si já tem efeito tóxico, mas no fígado ele é metabolizado principalmente por duas enzimas e gera compostos ainda mais nocivos:

1) Álcool desidrogenase (ADH): Converte etanol em acetaldeído, que é altamente tóxico, mutagênico e cancerígeno. Ele causa dano oxidativo, liga-se a proteínas e DNA formando adutos e estimula inflamação e fibrose.

2) Aldeído desidrogenase (ALDH): converte acetaldeído em acetato, menos tóxico e que pode ser usado como fonte de energia. Se essa etapa é lenta (como em pessoas com polimorfismos de ALDH2, comuns em populações asiáticas), o acetaldeído se acumula → maior risco de câncer.

3) Sistema do citocromo P450 (CYP2E1): também metaboliza etanol, principalmente em consumo crônico. Produz espécies reativas de oxigênio (ROS), que aumentam ainda mais o estresse oxidativo no fígado.

A proteção do fígado depende da enzima #antioxidante GSTM1. Só que o álcool inibe a GSTM1. Como?

1️⃣ O etanol aumenta os níveis do microRNA miR-743a-3p.

2️⃣ Esse microRNA reduz a produção de GSTM1.

3️⃣ Com menos GSTM1, uma proteína chamada ASK1 fica ativada, disparando sinais inflamatórios (p38 e JNK).

4️⃣ Resultado: acúmulo de gordura (esteatose), dano oxidativo, inflamação e até fibrose hepática.

⚠️ E se a pessoa tiver deleção genética de GSTM1 (forma “nula” do gene, comum em parte da população), como mostrado na imagem (DEL)?

➡️ Nesse caso, a enzima nem é produzida.

➡️ Isso significa ainda menor defesa antioxidante e maior risco de progressão da doença hepática alcoólica, além de outras complicações ligadas ao álcool e toxinas ambientais.

✅ Ter GSTM1 funcional ajuda a proteger o fígado. Mas não faz mágica: modere o consumo de álcool.

❌ Ter deleção de GSTM1 deixa o fígado ainda mais vulnerável a estresse oxidativo, inflamação e fibrose. Evite álcool ao máximo!

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Saúde mental e saúde cerebral

Saúde mental e saúde cerebral estão intimamente interconectadas, mas não são a mesma coisa. Saúde mental inclui capacidades emocionais, afetivas, cognitivas, sociais; aspectos como estado psicológico, bem-estar, regulação emocional, lidar com estresse etc. Envolve o funcionamento do indivíduo em contextos psicológicos e sociais; mais ligado aos transtornos psiquiátricos, ao sofrimento, à qualidade de vida mental.

Obviamente, a saúde mental depende da saúde de um órgão: o cérebro, de sua integridade, conectividade. A estrutura e função do cérebro é influenciada pela genética, envelhecimento, fatores biológicos, neuroinflamação, reserva cerebral, etc. Aqui, o foco são as bases biológicas, disfunções neurológicas, o declínio cognitivo, os efeitos de fatores ambientais ou genéticos sobre o tecido cerebral e mecanismos cerebrais.

Saúde mental e saúde cerebral têm muito em comum:

Cérebro e mente são influenciados por genética, ambiente, estilo de vida, determinantes sociais. Por exemplo, déficits cognitivos podem estar presentes tanto em transtornos mentais quanto em condições neurológicas; disfunção emocional ou social pode colocar pressão sobre circuitos cerebrais; estresse crônico pode provocar alterações biológicas cerebrais.

Problemas de saúde mental podem afetar a saúde cerebral (ex: depressão crônica, ansiedade severa, trauma prolongado) e vice-versa (deterioração cerebral ou lesão pode provocar sintomas mentais). Alguém com perda de volume cerebral (ex: em envelhecimento ou neurodegeneração) pode ter prejuízo cognitivo ou risco para demência, mesmo sem sintomas psiquiátricos óbvios. Porém, situações misturadas ocorrem: depressão pode acelerar declínio cognitivo; envelhecimento cerebral pode aumentar risco de ansiedades ou sintomas emocionais.

O exemplo do autismo

O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) é definido como uma condição do neurodesenvolvimento, caracterizada por um conjunto de manifestações que variam em intensidade e forma (daí o termo espectro).

  • Bases neurobiológicas: alterações no desenvolvimento cerebral, conectividade funcional e estrutural, processamento sensorial, plasticidade sináptica.

  • Aspectos genéticos e epigenéticos: grande peso hereditário, interações gene-ambiente.

  • Heterogeneidade neural: diferentes trajetórias de desenvolvimento cerebral explicam a diversidade de perfis no espectro.

Ou seja, o autismo envolve diferenças na saúde cerebral, mesmo em pessoas sem comorbidades psiquiátricas. Por outro lado, sabemos que pessoas autistas têm risco elevado para transtornos mentais associados, como ansiedade, depressão, TDAH, burnout autista.

Alterações cerebrais (ex.: na conectividade de redes sociais ou emocionais) podem contribuir para dificuldades de interação, mas o sofrimento psíquico vem muitas vezes de fatores sociais (exclusão, bullying).

A saúde mental pode ser afetada por fatores externos: barreiras sociais, discriminação, sobrecarga sensorial, falta de suporte adequado. Quando as coisas vão melhor (há apoio, ambiente inclusivo, aprendizado de estratégias de autorregulação, boa nutrição, sono adequado, estimulação cognitiva), o cérebro atípico é acompanhado de boa saúde mental.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

É genético ou hereditário?

Muita gente usa os termos genético e hereditário como se fossem iguais, mas existe uma diferença importante. Nem tudo o que é genético é hereditário.

🧬 Genético
Refere-se a qualquer característica ou condição ligada aos genes, ou seja, ao DNA. Nem sempre algo genético é herdado dos pais — mutações podem surgir de forma espontânea, durante a vida, sem que ninguém da família tenha apresentado antes. Por exemplo, um câncer que aparece ao longo da vida. Outro exemplo são as neurodivergências, como autismo (TEA), TDAH, superdotação. Dependem de um conjunto de genes para se expressar, mas nem sempre os pais tinham a mesma combinação.

👨‍👩‍👧 Hereditário
Já o termo hereditário está relacionado à transmissão de características de geração em geração. Ou seja, quando um traço ou doença passa de pais para filhos por meio dos genes. A fibrose cística é um exemplo de doença hereditária, pois a mutação responsável é passada de pais para filhos.

💡 Lembre:

  • Todo o que é hereditário é genético.

  • Mas nem tudo que é genético é hereditário.

As doenças hereditárias seguem diferentes padrões de herança

A maioria das condições são multifatoriais

Padrão de herança clássica também pode ser chamada de mendeliana. Pode ser autossômica (que ocorre nos cromossomos sexuais) ou ligada ao sexo. No caso de herança autossômica, pode ser dominante, recessiva, ou codominante, afetando homens e mulheres de forma igual.

As síndromes de Ehler-Danlos são doenças hereditárias raras do tecido conjuntivo que causam alta flexibilidade de articulações, pele e tecidos. O padrão de herança varia com o subtipo, mas a maioria dos tipos é herdada em um padrão autossômico dominante. Isso significa que basta uma cópia do gene mutado, herdada de um dos pais, para a doença se manifestar.

Quando a doença ou transtorno são mais complexos, fatores genéticos, epigenéticos e ambientais podem se somar. É o caso do autismo e da superdotação/altas habilidades que tem um padrão de herança multifatorial. A genética é muito importante, mas foge ao padrão de herança clássico (mendeliano). No padrão de herança multifatorial, as características apresentadas dependem de um conjunto de fatores genéticos associados a fatores ambientais.

O autismo, por exemplo, é altamente heterogêneo, com grande variação entre indivíduos. Há muitos genes candidatos (mais de 100 genes implicados, variação de número de cópias, variantes de novo, etc).
Na imagem a seguir vemos a representação de alguns cones. Cada cone é uma pessoa. Dentro do cone estão bolas coloridas, que simbolizam faotres de risco genéticos ou ambientais que podem contribuir para o desenvolvimento de um transtorno complexo, como o autismo.

Cada fator de risco adiciona certo volume ao cone. A linha tracejada no topo do cone é o limiar (threshold) para manifestação do transtorno. Se os fatores de risco ultrapassam a linha tracejada, a pessoa manifesta os sintomas. É como se o copo entornasse. Na imagem, o pai carrega algumas variantes, a mãe outras. Seus filhos 1 e 4 herdaram mais variantes e o copo transborda, com o desenvolvimento do autismo.

As crianças 2 e 3 herdaram variantes menores e não ultrapassaram o limite para o desenvolvimento do transtorno. Assim como no TEA, outros transtornos também resultam da combinação de muitos fatores genéticos, epigenéticos e ambientais. Diferentes indivíduos na mesma família podem carregar variantes semelhantes, mas só desenvolvem transtornos se a soma dos riscos ultrapassar determinado limiar. Isso ajuda a explicar:

- Penetrância incompleta (nem todos com mutações ou polimorfismos são afetados)
- Variabilidade fenotípica (irmãos com o mesmo gene podem ter trajetórias distintas).

Aprenda mais:

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/