Metabolômica no tratamento do câncer

A metabolômica é uma abordagem analítica que estuda os metabólitos presentes em células, tecidos ou biofluidos. No contexto do câncer e da radioterapia, a metabolômica tem um papel crucial na compreensão dos efeitos da terapia, na identificação de biomarcadores e na personalização do tratamento.

A metabolômica urinária reflete não apenas as alterações metabólicas internas das células tumorais, mas também as influências do microambiente tumoral. A figura abaixo mostra como o metabolismo das células é reprogramada por uma combinação de fatores intrínsecos (alterações na glicólise, glutaminólise, ciclo de Krebs, função mitocondrial, mutações) e fatores extrínsecos (hipóxia, acidez extracelular, disponibilidade de nutrientes).

Reprogramação metabólica em células cancerígenas (Suri et al., 2023)

Essa interação bidirecional gera perfis metabólicos característicos, que podem ser detectados em biofluidos como a urina. Assim, biomarcadores urinários relacionados a purinas, aminoácidos aromáticos, carnitinas e intermediários do ciclo de Krebs não apenas refletem a biologia tumoral intrínseca, mas também o impacto do microambiente, sendo valiosos para diagnóstico, monitoramento de resposta terapêutica e detecção de toxicidade.

1. Metabolômica no Tratamento do Câncer

A metabolômica permite identificar assinaturas metabólicas específicas de diferentes tipos de câncer e estados de progressão tumoral. Isso auxilia na:

  • Detecção precoce: Biomarcadores metabólicos podem indicar a presença de câncer antes que ele seja detectável por exames convencionais.

  • Caracterização do tumor: Tumores apresentam alterações metabólicas distintas, como o efeito Warburg (aumento do metabolismo glicolítico mesmo na presença de oxigênio).

  • Personalização da terapia: A resposta ao tratamento pode ser monitorada metabolicamente, permitindo ajustes na terapia.

2. Metabolômica na Radioterapia

A radioterapia atua induzindo danos ao DNA das células cancerígenas, mas também afeta células normais. A metabolômica pode ser aplicada para:

  • Monitorar resposta ao tratamento: Mudanças nos perfis metabólicos podem indicar a eficácia da radioterapia.

  • Identificar resistência: Algumas células tumorais desenvolvem resistência à radiação, muitas vezes alterando seu metabolismo. Fenilalanina, tirosina, triptofano e histidina são possíveis biomarcadores de progressão tumoral pós-tratamento.

  • Minimizar efeitos colaterais: Biomarcadores metabólicos podem prever toxicidade, ajudando a ajustar doses e proteger tecidos saudáveis.

3. Plataformas analísticas

  • Espectrometria de Massas (LC-MS/UPLC-MS): detecção de metabólitos polares e lipídicos (alta sensibilidade).

  • Ressonância Magnética Nuclear (NMR): menos sensível, mas muito reprodutível e quantitativo.

  • Cromatografia Líquida ou Gasosa acoplada à MS (LC-MS, GC-MS): ideal para ácidos orgânicos, aminoácidos, ácidos graxos voláteis.

Métodos usados na metabolômica (Suri et al., 2023)

4. Interpretação Biológica

A interpretação é feita mapeando os metabólitos em vias metabólicas (KEGG, HMDB, MetaboAnalyst).

Exemplos práticos:

a) Radiação e estresse oxidativo

  • ↑ Hipoxantina, xantina, ácido úrico → ativação do metabolismo de purinas (turnover de DNA/RNA).

  • ↑ Carnitinas (acetilcarnitina, TML, decanoylcarnitina) → alterações em transporte mitocondrial de ácidos graxos → sinalizam dano energético.
    ➡ Interpretação: indicadores precoces de dano por radiação e biodosimetria. Há necessidade de integração com outras bases (transcriptômica, proteômica) para fundamentar escolhas terapêuticas.

b) Progressão tumoral pós-radioterapia (câncer de mama)

  • Alterações em aminoácidos aromáticos (fenilalanina, tirosina, triptofano) → associados a inflamação crônica e biossíntese de neurotransmissores.

  • ↓ Histidina → estresse oxidativo e resposta imune.
    ➡ Interpretação: podem prever resistência ou progressão da doença.

c) Diagnóstico de câncer de bexiga

  • Perfis alterados de piruvato, ácidos graxos, aminoácidos.

  • Alterações no metabolismo energético (efeito Warburg) → ↑ glicólise, ↓ ciclo de Krebs.
    ➡ Interpretação: assinatura metabólica tumoral detectável em urina com alta acurácia.

5. Integração com Clínica

  • Monitoramento: repetir coleta durante o tratamento → verificar se assinaturas metabólicas se aproximam de controles saudáveis ou de padrão de resposta.

  • Personalização: pacientes com perfis metabólicos de toxicidade (ex.: aumento de derivados de triptofano indicando inflamação intestinal) podem receber ajustes de dose/protetores.

  • Descoberta de alvos: se uma via (ex.: metabolismo de arginina/prolina) aparece alterada, pode sugerir terapias complementares (ex.: inibidores de arginase).

5. Desafios para o uso da metabolômica na oncologia

Há necessidade de maior padronização, estruturação de fluxos de pesquisa (coleta, extração de amostras, cromatografia, instrumentação, normalização, processamento e análises de dados multivariada). Boas práticas com controle de qualidade são fundamentais.

Fora isso, os custos dos testes ainda são elevados. Outro grande problema é a falta de expertise técnica para estudos na área.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Dieta cetogênica, treino e composição corporal

Descubra como a dieta cetogênica afeta peso, gordura, músculo e performance em atletas e não atletas segundo a revisão do British Journal of Nutrition.

A dieta cetogênica (também conhecida como keto ou ceto) é um dos temas mais discutidos no mundo da nutrição e do fitness. De um lado, quem garante que é a forma mais rápida de perder gordura; do outro, quem critica os riscos de perda muscular e queda de performance. Afinal, qual é a verdade?

Um estudo de revisão publicado em 2022 no British Journal of Nutrition.(Ashtary-Larky et al.) analisou dezenas de investigações para entender como a ceto afeta a composição corporal (peso, massa gorda e massa magra) em três grupos diferentes: pessoas com excesso de peso, atletas de endurance e praticantes de treino de força. Os resultados trazem respostas valiosas — e algumas surpresas.

O que é a dieta cetogênica?

A dieta keto é uma alimentação muito baixa em carboidratos, rica em gordura e com proteína ajustada às necessidades individuais. Esse padrão induz a chamada cetose nutricional, estado em que o corpo passa a usar corpos cetônicos como combustível alternativo.

Principais descobertas da revisão científica

1. Perda de peso: funciona, mas não é “mágica”

A dieta reduz peso e gordura de forma consistente. O motivo principal é o déficit calórico espontâneo, já que muitas pessoas comem menos sem perceber.

Contudo, quando calorias e proteínas são controladas, a keto não é superior a outras dietas. Ou seja, se o objetivo é emagrecer, muitas dietas funciona e a a keto é uma delas, especialmente por ajudar a controlar o apetite, mas não faz milagres.

2. Massa magra: resultados dependem do contexto

  • Em pessoas com obesidade: tende a preservar bem a massa magra.

  • Em atletas de endurance: pode até ajudar a manter mais massa magra após adaptação.

  • Em praticantes de treino de força: existe risco real de perda de massa muscular se calorias ou proteínas ficarem aquém do necessário. Assim para quem quer hipertrofia, esta dieta não é a primeira opção.

3. Performance: endurance ganha, força pode perder

Após 2–4 semanas, o corpo aumenta significativamente a capacidade de oxidar gordura. Isso beneficia provas longas, mas pode atrapalhar atividades explosivas e de alta intensidade que dependem do glicogênio. Para atletas de endurance, pode ser útil — mas precisa de tempo de adaptação.

4. Diferenças entre homens e mulheres

Alguns estudos sugerem que homens perdem mais gordura do que mulheres na dieta cetogênica. Isso pode estar ligado ao maior gasto energético basal masculino (mais massa magra). Mas os dados ainda não são conclusivos.

Como aplicar de forma inteligente

  • Para perda de peso: usar como ferramenta para controlar o apetite. Contudo, lembre de garantir proteína suficiente para não perder peso. Estudo de caso publicado na revista Foods (2023), relata os resultados da dieta cetogênica associada ao jejum. Foram observadas:

    • Redução significativa da glicose e da insulina sanguíneas.

    • Queda da resistência insulínica (HOMA-IR).

    • Melhora do perfil lipídico.

    • Aumento de testosterona e vitamina D.

    • Redução de enzimas hepáticas (ALT, AST, GGTP), sugerindo melhora na função do fígado.

    • Perda significativa de peso, gordura corporal e IMC.

    • Aumento relativo da massa magra e da massa muscular.

    • Melhora da pressão arterial e frequência cardíaca.

  • Para endurance: planejar 4+ semanas de adaptação e considerar cargas de carboidratos antes de competições intensas.

  • Para treino de força/hipertrofia: avaliar se a ceto faz sentido; se sim, garantir energia e proteína adequadas, além de monitorar massa magra.

Perguntas e respostas sobre dieta cetogênica, treino e composição corporal

1. A dieta cetogênica emagrece mais rápido que outras dietas?
Não necessariamente. O que acontece é que reduz o apetite, levando a comer menos. Em calorias iguais, o emagrecimento é semelhante.

2. A dieta keto faz perder músculo?
Depende. Em pessoas com obesidade e em endurance, a massa magra tende a ser preservada. Já em treino de força, pode haver perda se calorias e proteínas não forem bem ajustadas.

3. Quanto tempo demora a adaptação?
Geralmente entre 2 a 4 semanas para o corpo aumentar a capacidade de usar gordura como combustível.

4. Vale a pena para atletas?
Para endurance pode ser interessante; para modalidades explosivas, a falta de carboidrato disponível pode atrapalhar.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Dieta cetogênica e exercício

O exercício é uma das melhores maneiras de melhorar a saúde e bem-estar geral. Quer envelhecer bem? Construa uma reserva muscular e mental com a atividade física. O movimento estimula a síntese proteica e o fator neurotrófico derivado do cérebro, contribuindo para neurogênese e sinaptogênese.

A depressão maior (MDD) está associada a um estado inflamatório crônico de baixo grau (SLGCI). Esse quadro resulta de uma ativação imunológica persistente, muitas vezes desencadeada por fatores do estilo de vida moderno, como sedentarismo, dieta inadequada, sono insuficiente e estresse psicológico.

A prática regular de atividade física tem mostrado modular esses processos inflamatórios e melhorar os sintomas depressivos. O estudo sugere que a falta de atividade física nos dias atuais pode ser um fator importante na prevalência crescente da depressão.

No entanto, é importante destacar que o excesso de exercício também pode ser prejudicial. O overtraining pode levar a sintomas depressivos, indicando que o equilíbrio é fundamental (Carrera-Bastos et al., 2025).

Para alimentar o corpo em movimento e também facilitar a recuperação pós-treino precisamos nos alimentar. O carboidrato é a principal fonte de energia do corpo. Mas muitos conseguem treinar em jejum, com as reservas de glicogênio (carboidrato estocado) ou de gorduras (pela produção de corpos cetônicos).

Por que muitos atletas estão adotando protocolos cetogênicos?

Quando você está em cetose, seu corpo está no modo de queima de gordura principal. Isso significa que, durante o exercício, o corpo aproveitará a gordura corporal armazenada como combustível para o treino.

Pessoas que fazem dieta cetogênica podem queimar até duas vezes mais gordura durante o exercício em comparação àqueles com dietas à base de carboidratos. Assim, quando o objetivo principal é a queima de gordura, a dieta cetogênica pode ser uma grande aliada.

Pessoas que não desejam emagrecer também podem se beneficiar da dieta cetogênica. Para não perder peso, ajuste as calorias e consuma um pouco mais de proteína. Shakes de proteína adicionados de triglicerídeos de cadeia média possuem boa digestibilidade e são uma opção para muitos atletas que gostam de comer antes de treinar.

A quantidade de proteína não deve ser exagerada pois vários aminoácidos podem ser transformados em açúcares tirando o corpo da cetose. Isto não é de todo ruim pois algumas células precisam mesmo de glicose (como os glóbulos vermelhos).

Para saber o que está acontecendo teste seus níveis de cetona ao acordar, antes das refeições e após o treino. Durante a atividade física seu corpo começará a utilizar cetonas, mas se você estiver se exercitando com muita intensidade, seu corpo não terá escolha a não ser começar a tentar utilizar carboidratos como fonte de combustível. Se não tiver estoques de glicogênio e não tiver consumido carboidratos a proteína será convertida em açúcar no processo de gliconeogênese. Assim, a quantidade de cetonas pode cair no pós treino (em cerca de 0,5 milimoles). Não não desespere-se pois os níveis voltam ao normal após uma hora.

Agora, se a variação for maior que 0,5 milimoles ou os níveis não estiverem voltando ao normal o atleta terá quatro opções para manter-se em cetose: (1) reduzir a intensidade do treino ou (2) reduzir calorias ou (3) fazer jejum ou (4) aumentar a ingestão de gordura antes de um treino. Cada pessoa terá que descobrir o que funciona melhor, sem atrapalhar o rendimento no exercício.

Atletas de resistência podem precisar de mais tempo em dieta cetogênica para que o corpo adapte-se. Com o tempo, a intensidade pode voltar a aumentar, sem que o corpo saia da cetose. Mais estudos são necessários nessa área (Bailey, & Hennesy, 2020). -

DIETA CETOGÊNICA PASSO A PASSO (para leigos).

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/