Hericium erinaceus: o Cogumelo que Pode Turbinar Sua Mente

Você já ouviu falar no Hericium erinaceus? Talvez não pelo nome científico, mas provavelmente já viu fotos desse cogumelo curioso, apelidado de Juba de Leão, por sua aparência única. Mais do que exótico, esse fungo tem atraído atenção por seus potenciais efeitos na saúde cerebral e função cognitiva — e a ciência está começando a comprovar isso.

O que a ciência diz sobre Hericium erinaceus?

Um estudo clínico com japoneses de 50 a 80 anos, todos com algum grau de comprometimento cognitivo leve, mostrou resultados animadores. Durante 16 semanas, os participantes tomaram comprimidos contendo 250 mg de Hericium erinaceus (com 96% de pó seco do cogumelo), três vezes ao dia. A melhora na função cognitiva foi significativa a partir da oitava semana, com resultados mantidos até a 16ª. No entanto, após a interrupção do consumo, os escores voltaram a cair — sugerindo que o uso contínuo pode ser necessário para manter os benefícios [1].

Em outro ensaio clínico randomizado (ECR), participantes que consumiram suplementos com o corpo de frutificação do cogumelo por 12 semanas também apresentaram melhoras significativas na cognição, medidas pelo famoso Mini Exame do Estado Mental (MEEM), frequentemente usado em triagens de demência [2].

Mas os efeitos não param por aí. Um estudo com 30 mulheres revelou que o consumo de biscoitos contendo Hericium erinaceus por apenas 4 semanas foi suficiente para reduzir significativamente os níveis de depressão e ansiedade. As avaliações foram feitas com ferramentas científicas reconhecidas: a Escala CES-D para depressão e o Índice de Queixas Indefinidas (ICI), focado em sintomas vagos como irritabilidade, dores inexplicáveis e distúrbios do sono [3].

E para reforçar essa tendência, um estudo epidemiológico com idosos britânicos (coorte EPIC-Norfolk) observou que o consumo regular de cogumelos — incluindo Hericium erinaceus — estava associado a melhor desempenho cognitivo. A relação foi dose-dependente, ou seja, quanto mais cogumelo, melhor o desempenho mental [4].

Por que esse cogumelo é tão especial?

A resposta pode estar nos compostos bioativos presentes no Hericium erinaceus, especialmente hericenonas e erinacinas. Essas substâncias têm a capacidade de estimular a produção do fator de crescimento nervoso (NGF), uma proteína essencial para a sobrevivência e regeneração dos neurônios. Isso explicaria os benefícios observados tanto na cognição quanto no equilíbrio emocional [3].

E as interações medicamentosas? É seguro?

Apesar dos benefícios promissores, é fundamental considerar a possibilidade de interações medicamentosas, especialmente se você faz uso de medicamentos para depressão, ansiedade, insônia ou doenças neurodegenerativas. Alguns estudos pré-clínicos sugerem que os compostos do Hericium erinaceus podem modular neurotransmissores como a serotonina e a dopamina, podendo interagir com antidepressivos ou ansiolíticos. Além disso, como muitos cogumelos funcionais, ele pode ter efeitos imunomoduladores, o que exige cautela em pessoas com doenças autoimunes ou em tratamento imunossupressor.

Portanto, antes de incorporar o cogumelo à sua rotina, consulte um profissional de saúde, especialmente se estiver sob tratamento farmacológico.

📌 Conclusão

O Hericium erinaceus vem se consolidando como um dos cogumelos mais promissores quando o assunto é saúde mental e cognição. Com base em estudos clínicos e epidemiológicos, ele mostra potencial para melhorar a memória, reduzir sintomas de depressão e ansiedade, e até proteger o cérebro durante o envelhecimento. Mas lembre-se: natural não é sinônimo de inofensivo — por isso, o uso consciente é essencial.

Referências

1) K Mori et al. Improving effects of the mushroom Yamabushitake (Hericium erinaceus) on mild cognitive impairment: a double-blind placebo-controlled clinical trial. Phytotherapy research : PTR (2008). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/18844328/

2) Y Saitsu et al. Improvement of cognitive functions by oral intake of Hericium erinaceus. Biomedical research (Tokyo, Japan) (2019). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/31413233/

3) M Nagano et al. Reduction of depression and anxiety by 4 weeks Hericium erinaceus intake. Biomedical research (Tokyo, Japan) (2010). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/20834180/

4) S Cha et al. The Relationship between Mushroom Intake and Cognitive Performance: An Epidemiological Study in the European Investigation of Cancer-Norfolk Cohort (EPIC-Norfolk). Nutrients (2024). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/38337638/

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

A síntese de glutationa está prejudicada na neurodegeneração

A glutationa (GSH) e o cérebro

GSH é um tripeptídeo formado por glutamato, cisteína e glicina, atuando como antioxidante principal no sistema nervoso. Além da defesa antioxidante, regula sinalização celular, expressão gênica e diferenciação neuronal . No cérebro, níveis de GSH (~2–3 mM) são menores nos neurônios comparados às células gliais:

Síntese de GSH: o passo limitante

A etapa inicial é catalisada pela enzima glutamato–cisteína ligase (GCL), unindo glutamato e cisteína. A cisteína é o substrato limitante. A imagem mostra um caminho molecular que relaciona disfunções no transporte de cisteína com o estresse oxidativo e o desenvolvimento de doenças neurodegenerativas.

Disfunção do EAAC1 e consequências

  • EAAC1 (Excitatory Amino Acid Carrier 1) é um transportador de aminoácidos, especialmente importante para o transporte de cisteína nos neurônios. Sua disfunção prejudica a entrada de cisteína nas células.

A cisteína é essencial para a produção de glutationa (GSH), um antioxidante crucial no cérebro. Menos cisteína significa menos substrato para formar GSH. Com menos GSH o estresse oxidativo aumenta!

  • Esse ciclo leva ao envelhecimento neuronal acelerado e é associado a doenças neurodegenerativas como Parkinson, Alzheimer e Huntington .

Estratégias terapêuticas

  • Garantir fontes de cisteína na dieta (peito de frango, carne de porco, carne de boi, ovos, peixe, tofu, amêndoas)

  • Suplementos como N‑acetilcisteína (NAC) podem fornecer cisteína independente de EAAC1 e aumentar GSH, mostrando efeitos neuroprotetores em modelos experimentais .

  • Suplementação de glutationa lipossomal.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Nutrição na Síndrome de Down (trissomia do cromossomo 21 ou T21)

A relação entre nutrição e síndrome de Down é multifacetada, envolvendo vários desafios nutricionais e implicações para a saúde.

Desafios nutricionais na T21

Crianças e adolescentes com síndrome de Down frequentemente enfrentam desafios nutricionais específicos, incluindo dificuldades motoras orais e disfagia faríngea, que podem afetar sua capacidade de comer de forma segura e adequada. Isso requer avaliação e intervenção cuidadosas para melhorar seu estado nutricional, especialmente para aqueles que estão abaixo do peso ou têm problemas de alimentação [1].

Pesquisas indicam que indivíduos com síndrome de Down frequentemente têm consumo inadequado de frutas, vegetais, grãos integrais e laticínios, enquanto consomem quantidades excessivas de carne e doces. Isso sugere a necessidade de correções alimentares para se alinhar às recomendações nutricionais gerais, ao mesmo tempo em que considera os problemas de saúde exclusivos associados à síndrome de Down [2].

Um estudo em adolescentes com síndrome de Down encontrou metabolismo de zinco alterado, com diferenças significativas nas concentrações de zinco em vários compartimentos corporais em comparação com um grupo de controle. Isso destaca a importância de monitorar o status de micronutrientes, pois as deficiências podem afetar a saúde geral e o desenvolvimento [3].

Em crianças pequenas com síndrome de Down, a introdução de alimentos sólidos é frequentemente atrasada, o que pode afetar negativamente o desenvolvimento motor-oral. Garantir a introdução oportuna de alimentos sólidos é crucial para seu progresso nutricional e de desenvolvimento [4].

Crianças com síndrome de Down correm maior risco de obesidade e problemas de saúde relacionados. Há um apelo por intervenções direcionadas de prevenção da obesidade que considerem os desafios únicos de desenvolvimento e saúde enfrentados por essa população [5].

A nutrição também desempenha um papel significativo na influência do risco de doença de Alzheimer em indivíduos com síndrome de Down. Um estudo longitudinal encontrou uma associação significativa entre perda de peso e doença de Alzheimer em adultos mais velhos com síndrome de Down. Isso sugere que o estado nutricional, particularmente o controle de peso, pode impactar a progressão do Alzheimer nessa população [6].

Outro estudo indicou que o menor índice de massa corporal (IMC) foi associado à melhora da aptidão cardiorrespiratória em adultos com síndrome de Down, embora nenhuma associação direta tenha sido encontrada entre IMC e cognição ou atividade física. Isso implica que manter um peso saudável pode ser benéfico para a saúde geral, influenciando potencialmente os resultados cognitivos [7].

Uma revisão narrativa destacou que os fatores de risco psicossociais, incluindo nutrição, podem afetar as alterações neuroanatômicas nos cérebros de indivíduos com síndrome de Down. Essas alterações estão relacionadas ao declínio cognitivo e ao desenvolvimento da doença de Alzheimer [8].

Pesquisas sugerem que a composição genética única de indivíduos com síndrome de Down, incluindo a presença de genes adicionais relacionados à doença de Alzheimer, cria um ambiente bioquímico que pode ser influenciado pela nutrição. Isso inclui os papéis da leptina e da adiponectina, que são compostos bioativos de células de gordura que podem afetar o risco da doença [9].

Em resumo, a nutrição, particularmente em termos de controle de peso e a presença de fatores psicossociais, parece impactar significativamente o risco da doença de Alzheimer em indivíduos com síndrome de Down. Manter uma dieta balanceada e um peso saudável pode ser crucial para mitigar esse risco.

consulta de nutrição na t21

Referências

1) M Nordstrøm et al. Nutritional challenges in children and adolescents with Down syndrome. The Lancet. Child & adolescent health (2020). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32450124/

2) J Gruszka et al. General Dietary Recommendations for People with Down Syndrome. Nutrients (2024). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/39203792/

3) RC Marques et al. Zinc nutritional status in adolescents with Down syndrome. Biological trace element research (2007). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/17916950/

4) E Hopman et al. Eating habits of young children with Down syndrome in The Netherlands: adequate nutrient intakes but delayed introduction of solid food. Journal of the American Dietetic Association (1998). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/9664921/

5) MA Schenkelberg et al. A call for obesity prevention interventions for young children with intellectual and developmental disabilities. Translational behavioral medicine (2023). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/37440760/

6) VP Prasher et al. Weight loss in adults with Down syndrome and with dementia in Alzheimer's disease. Research in developmental disabilities (2004). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/14733972/

7) D Dodd et al. The association of increased body mass index on cardiorespiratory fitness, physical activity, and cognition in adults with down syndrome. Disability and health journal (2023). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/37407386/

8) O Hamadelseed et al. Psychosocial Risk Factors for Alzheimer's Disease in Patients with Down Syndrome and Their Association with Brain Changes: A Narrative Review. Neurology and therapy (2022). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/35596914/

9) DW Nixon et al. Down Syndrome, Obesity, Alzheimer's Disease, and Cancer: A Brief Review and Hypothesis. Brain sciences (2018). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/29587359/

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/