Nutrição na Síndrome de Down (trissomia do cromossomo 21 ou T21)

A relação entre nutrição e síndrome de Down é multifacetada, envolvendo vários desafios nutricionais e implicações para a saúde.

Desafios nutricionais na T21

Crianças e adolescentes com síndrome de Down frequentemente enfrentam desafios nutricionais específicos, incluindo dificuldades motoras orais e disfagia faríngea, que podem afetar sua capacidade de comer de forma segura e adequada. Isso requer avaliação e intervenção cuidadosas para melhorar seu estado nutricional, especialmente para aqueles que estão abaixo do peso ou têm problemas de alimentação [1].

Pesquisas indicam que indivíduos com síndrome de Down frequentemente têm consumo inadequado de frutas, vegetais, grãos integrais e laticínios, enquanto consomem quantidades excessivas de carne e doces. Isso sugere a necessidade de correções alimentares para se alinhar às recomendações nutricionais gerais, ao mesmo tempo em que considera os problemas de saúde exclusivos associados à síndrome de Down [2].

Um estudo em adolescentes com síndrome de Down encontrou metabolismo de zinco alterado, com diferenças significativas nas concentrações de zinco em vários compartimentos corporais em comparação com um grupo de controle. Isso destaca a importância de monitorar o status de micronutrientes, pois as deficiências podem afetar a saúde geral e o desenvolvimento [3].

Em crianças pequenas com síndrome de Down, a introdução de alimentos sólidos é frequentemente atrasada, o que pode afetar negativamente o desenvolvimento motor-oral. Garantir a introdução oportuna de alimentos sólidos é crucial para seu progresso nutricional e de desenvolvimento [4].

Crianças com síndrome de Down correm maior risco de obesidade e problemas de saúde relacionados. Há um apelo por intervenções direcionadas de prevenção da obesidade que considerem os desafios únicos de desenvolvimento e saúde enfrentados por essa população [5].

A nutrição também desempenha um papel significativo na influência do risco de doença de Alzheimer em indivíduos com síndrome de Down. Um estudo longitudinal encontrou uma associação significativa entre perda de peso e doença de Alzheimer em adultos mais velhos com síndrome de Down. Isso sugere que o estado nutricional, particularmente o controle de peso, pode impactar a progressão do Alzheimer nessa população [6].

Outro estudo indicou que o menor índice de massa corporal (IMC) foi associado à melhora da aptidão cardiorrespiratória em adultos com síndrome de Down, embora nenhuma associação direta tenha sido encontrada entre IMC e cognição ou atividade física. Isso implica que manter um peso saudável pode ser benéfico para a saúde geral, influenciando potencialmente os resultados cognitivos [7].

Uma revisão narrativa destacou que os fatores de risco psicossociais, incluindo nutrição, podem afetar as alterações neuroanatômicas nos cérebros de indivíduos com síndrome de Down. Essas alterações estão relacionadas ao declínio cognitivo e ao desenvolvimento da doença de Alzheimer [8].

Pesquisas sugerem que a composição genética única de indivíduos com síndrome de Down, incluindo a presença de genes adicionais relacionados à doença de Alzheimer, cria um ambiente bioquímico que pode ser influenciado pela nutrição. Isso inclui os papéis da leptina e da adiponectina, que são compostos bioativos de células de gordura que podem afetar o risco da doença [9].

Em resumo, a nutrição, particularmente em termos de controle de peso e a presença de fatores psicossociais, parece impactar significativamente o risco da doença de Alzheimer em indivíduos com síndrome de Down. Manter uma dieta balanceada e um peso saudável pode ser crucial para mitigar esse risco.

Referências

1) M Nordstrøm et al. Nutritional challenges in children and adolescents with Down syndrome. The Lancet. Child & adolescent health (2020). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32450124/

2) J Gruszka et al. General Dietary Recommendations for People with Down Syndrome. Nutrients (2024). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/39203792/

3) RC Marques et al. Zinc nutritional status in adolescents with Down syndrome. Biological trace element research (2007). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/17916950/

4) E Hopman et al. Eating habits of young children with Down syndrome in The Netherlands: adequate nutrient intakes but delayed introduction of solid food. Journal of the American Dietetic Association (1998). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/9664921/

5) MA Schenkelberg et al. A call for obesity prevention interventions for young children with intellectual and developmental disabilities. Translational behavioral medicine (2023). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/37440760/

6) VP Prasher et al. Weight loss in adults with Down syndrome and with dementia in Alzheimer's disease. Research in developmental disabilities (2004). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/14733972/

7) D Dodd et al. The association of increased body mass index on cardiorespiratory fitness, physical activity, and cognition in adults with down syndrome. Disability and health journal (2023). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/37407386/

8) O Hamadelseed et al. Psychosocial Risk Factors for Alzheimer's Disease in Patients with Down Syndrome and Their Association with Brain Changes: A Narrative Review. Neurology and therapy (2022). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/35596914/

9) DW Nixon et al. Down Syndrome, Obesity, Alzheimer's Disease, and Cancer: A Brief Review and Hypothesis. Brain sciences (2018). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/29587359/

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/