Sintomas compartilhados entre ansiedade e depressão e possíveis fitoterápicos

A ansiedade e a depressão são transtornos mentais distintos, mas que muitas vezes se sobrepõem ou coexistem. Principais diferenças entre ansiedade e depressão:

Ansiedade é como estar em constante “alerta vermelho”, esperando que algo ruim aconteça.

Depressão é como carregar um grande peso emocional, sentindo que nada vale a pena.

Os dois transtornos podem ocorrer juntos (comorbidade), o que é muito comum. Nesse caso, o tratamento deve considerar ambas as condições. Sintomas únicos e sintomas comuns entre ansiedade e depressão:

Ansiedade

  • tremores

  • batimentos cardíacos acelerados

  • palpitações

  • aumento da frequência respiratória

  • suor

  • tensão muscular

  • sensação de nervosismo

  • hipervigilância

  • agorafobia

  • pânico

  • sensação de perigo iminente

Sintomas Compartilhados (Ansiedade ↔ Depressão)

  • preocupação excessiva

  • queixas somáticas

  • dificuldade para pensar, concentrar-se ou tomar decisões

  • inquietação

  • agitação

  • distúrbios no apetite ou sono

  • isolamento social

Depressão

  • fadiga

  • irritabilidade

  • perda de interesse em atividades

  • culpa

  • baixa autoestima

  • sentimento de inutilidade

  • desamparo

  • desesperança

  • luto prolongado

  • tristeza persistente

  • pensamentos suicidas

Fitoterapia e transtornos mentais

Aviso Importante

  • Antes de usar qualquer planta medicinal, consulte um profissional de saúde.

  • Algumas dessas plantas podem interagir com medicamentos convencionais (especialmente a Erva-de-São-João).

  • Fitoterápicos não substituem acompanhamento psicológico ou psiquiátrico quando necessário.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Default mode network (DMN): como modular?

A DMN é um conjunto de regiões do cérebro que ficam ativas quando você não está focado em tarefas externas específicas — como resolver um problema ou prestar atenção a estímulos sensoriais. Ela costuma ser mais ativa quando estamos:

  • Pensando no passado ou no futuro

  • Sonhando acordado

  • Refletindo sobre nós mesmos (autorreferência)

  • Criando cenários imaginários

  • Planejando

  • Divagando (mind-wandering)

Relação com a Divagação

A divagação mental (quando sua mente "viaja", sem foco específico) é um dos principais estados associados à ativação da DMN. Em outras palavras, quando você está aparentemente "sem fazer nada" ou distraído, a DMN entra em ação — e é justamente nesse momento que ocorrem pensamentos espontâneos, associações livres, imaginação e criatividade.

A divagação mental acontece quando o foco sai do mundo externo e entra no mundo interno. Exemplos:

  • "Viajar" durante uma aula ou reunião

  • Lembrar de uma conversa antiga enquanto lava a louça

  • Imaginar o que aconteceria se você tivesse feito outra escolha na vida

Durante esses momentos, a DMN está ativa. Ela nos ajuda a:

  • Simular situações sociais

  • Rever experiências passadas

  • Antecipar o futuro

  • Criar histórias ou soluções criativas

Isso mostra como divagar não é preguiça mental — pode ser um processo útil, ligado à criatividade e à resolução de problemas de forma indireta.

Curiosidade

Interessantemente, essa rede desativa parcialmente quando você começa a focar em tarefas que exigem atenção intensa (como resolver uma equação ou dirigir em tráfego intenso), e dá lugar a outras redes mais voltadas para atenção e controle executivo.

Mapa da Default Mode Network (DMN)

A DMN envolve várias regiões cerebrais, principalmente:

  • Córtex pré-frontal medial: ligado ao pensamento sobre si mesmo, planejamento e reflexão.

  • Córtex cingulado posterior / precúneo: associado à consciência e à memória autobiográfica.

  • Córtex parietal inferior (junção temporoparietal): envolvido na construção de cenários mentais e empatia.

  • Hipocampo: memória episódica, imaginar eventos futuros e navegação espacial.

Excesso de divagação

Quando uma pessoa divaga demais e tem dificuldade constante de focar no presente, isso pode ter impactos reais no bem-estar, produtividade e saúde mental. Vamos entender o que pode estar por trás disso e o que pode ser feito.

O Que Acontece Quando a Mente Divaga Demais?

  1. Atividade excessiva na Default Mode Network (DMN)
    Quando a DMN está hiperativa, a mente fica “presa” em pensamentos internos:

    • Repetição de memórias passadas (ruminação)

    • Preocupações com o futuro (ansiedade)

    • Diálogo interno constante (ex: “Será que fiz certo?”)

  2. Dificuldade de atenção plena (mindfulness)
    A pessoa tem dificuldade de estar presente no aqui e agora, o que pode levar a:

    • Procrastinação

    • Dificuldade de escutar o outro

    • Sensação de estar “desconectado” da realidade

  3. Associação com condições específicas

    • TDAH: excesso de mind-wandering, foco difuso, impulsividade

    • Ansiedade: preocupação excessiva com o que ainda não aconteceu

    • Depressão: ruminação sobre erros e fracassos passados

    • Transtorno obsessivo-compulsivo: pensamentos intrusivos e repetitivos

Sinais de Alerta

  • Você se perde em pensamentos com frequência e nem nota o tempo passando

  • Sente-se esgotado por pensar demais (sem chegar a conclusões úteis)

  • Tem dificuldade em focar em tarefas simples ou manter uma conversa

  • Está frequentemente distraído mesmo em momentos importantes

  • Sente-se emocionalmente "desligado" do presente

O Que Pode Ajudar?

  1. Treino de atenção plena (Mindfulness)
    Meditação simples pode ajudar a "silenciar" a DMN e treinar o foco no agora. Exemplos:

    • Respiração consciente por 5 minutos

    • Caminhar prestando atenção nas sensações do corpo

    • Observar sons, cheiros e texturas no ambiente

  2. Técnicas de ancoragem ao presente

    • Nomear 3 coisas que está vendo, ouvindo e sentindo no corpo

    • Fazer pausas conscientes antes de começar uma tarefa

  3. Reduzir estímulos que alimentam a distração

    • Menos multitarefa

    • Reduzir consumo automático de redes sociais

  4. Psicoterapia (como Terapia Cognitivo-Comportamental ou ACT)
    Pode ajudar a entender os padrões de pensamento automático e aprender a lidar melhor com eles.

  5. Avaliação clínica e medicação
    Se isso interfere muito na sua vida, é útil procurar um(a) psicólogo(a) ou psiquiatra para investigar se há um transtorno como TDAH, ansiedade generalizada ou outro. Se a divagação mental excessiva está relacionada a algum transtorno clínico, como TDAH, ansiedade, depressão ou TOC, medicamentos podem ajudar bastante, mas sempre com acompanhamento médico. Aqui está uma visão geral:

Medicamentos Usados por Condição

✅ 1. TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade)

Divagação crônica, mente inquieta, dificuldade de foco:

  • Estimulantes (mais comuns):

    • Metilfenidato (Ritalina, Concerta)

    • Lisdexanfetamina (Venvanse)

  • Não estimulantes (alternativas):

    • Atomoxetina (Strattera)

    • Bupropiona (também usada para depressão)

Esses medicamentos ajudam a regular a dopamina e a noradrenalina, aumentando o foco e reduzindo a "tempestade" interna de pensamentos.

Ansiedade Generalizada / TAG

Preocupação excessiva, pensamentos acelerados, dificuldade de relaxar:

  • Ansiolíticos (uso pontual e com cautela):

    • Clonazepam, diazepam, alprazolam
      ⚠️ Risco de dependência, uso curto e com orientação clara

  • Antidepressivos usados para ansiedade (uso contínuo):

    • Sertralina, escitalopram, paroxetina, fluoxetina (ISRSs)

    • Venlafaxina, duloxetina (IRNSs)

Esses medicamentos ajudam a modular o sistema serotoninérgico, estabilizando a mente e reduzindo a ruminação.

3. Depressão com ruminação mental

Pensamentos repetitivos, culpa, memória negativa, falta de prazer:

  • Antidepressivos (ISRSs e outros):

    • Fluoxetina, sertralina, escitalopram, bupropiona, entre outros

  • Estabilizadores de humor (em casos mais graves ou bipolares):

    • Lamotrigina, lítio

4. TOC (Transtorno Obsessivo-Compulsivo)

Pensamentos intrusivos, repetitivos e angustiantes:

  • ISRSs em doses mais altas (como fluvoxamina, sertralina, fluoxetina)

  • Clomipramina (tricíclico eficaz para TOC)

Avisos Importantes

  • Nunca se automedique. Mesmo os remédios "conhecidos" têm efeitos colaterais sérios em alguns casos.

  • Os medicamentos agem melhor quando combinados com psicoterapia.

  • O ajuste da dose é personalizado — o que funciona para um, pode não funcionar para outro.

  • Leva 2 a 6 semanas para muitos desses medicamentos começarem a fazer efeito de verdade.

  • Em alguns casos, é preciso tentar mais de um medicamento até encontrar o ideal.

Nutrientes que Ajudam o Cérebro a Focar e Reduzir a Divagação

✅ 1. Ômega-3 (EPA e DHA)

  • Função: Reduz inflamação cerebral, melhora a comunicação entre neurônios, apoia o foco.

  • Fontes: Peixes gordurosos (salmão, sardinha, atum), óleo de peixe, chia, linhaça.

  • Suplemento: Pode ser indicado em alguns casos de TDAH, depressão leve e ansiedade.

✅ 2. Magnésio

  • Função: Acalma o sistema nervoso, reduz ansiedade, melhora a qualidade do sono.

  • Fontes: Abacate, banana, castanhas, espinafre, cacau.

  • Dica: O magnésio glicina ou treonato é melhor absorvido pelo cérebro.

✅ 3. Vitaminas do Complexo B (B6, B9, B12)

  • Função: Produção de serotonina, dopamina e GABA (neurotransmissores do foco e bem-estar).

  • Fontes: Fígado, ovos, vegetais verdes escuros, grãos integrais, levedura nutricional.

  • Deficiência comum em vegetarianos, veganos e pessoas sob muito estresse.

✅ 4. Proteínas e aminoácidos

  • Função: Precursores da dopamina (foco e motivação) e serotonina (estabilidade emocional).

  • Fontes: Ovos, peixe, frango, lentilhas, feijão, tofu, iogurte.

✅ 5. Zinco e Ferro

  • Função: Suporte à memória, concentração, prevenção da fadiga mental.

  • Fontes: Carnes, sementes, leguminosas, frutos do mar (zinco), fígado (ferro).

🚫 O Que Evitar (ou Reduzir)

❌ Açúcar refinado em excesso

  • Pico de energia → queda brusca → mais distração e cansaço mental

❌ Ultra processados (biscoitos, salgadinhos, refrigerantes)

  • Podem gerar inflamação de baixo grau, afetando a clareza mental

❌ Cafeína em excesso

  • Pode aumentar a ansiedade e a divagação para pessoas mais sensíveis

Aprenda mais:

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Ligação dos sintomas de ansiedade com circuitos neurais

A ansiedade está profundamente ligada a circuitos neurais específicos no cérebro. Esses circuitos regulam a resposta ao medo, a percepção de ameaças e o controle emocional. A seguir, explico como os principais sintomas da ansiedade se conectam com regiões e redes cerebrais:

🧠 1. Amígdala – centro da detecção de ameaça

  • Função: Detecta ameaças e inicia a resposta de luta ou fuga.

  • Ligação com sintomas:

    • Medo intenso ou sensação de perigo iminente.

    • Reações exageradas a estímulos neutros (hiperatividade da amígdala).

    • Sudorese, taquicardia, tremores – respostas autonômicas induzidas pela amígdala ao ativar o sistema nervoso simpático.

🧠 2. Hipotálamo – regulador do sistema de estresse

  • Função: Ativa o eixo HPA (hipotálamo–pituitária–adrenal), liberando cortisol.

  • Ligação com sintomas:

    • Sensação persistente de estresse e tensão muscular.

    • Problemas digestivos e imunidade reduzida por exposição prolongada ao cortisol.

🧠 3. Córtex pré-frontal (CPF) – controle racional das emoções

  • Função: Regula as emoções e inibe respostas exageradas da amígdala.

  • Ligação com sintomas:

    • Dificuldade de concentração e raciocínio comprometido.

    • Pensamentos obsessivos e ruminativos (CPF dorsal medial e CPF ventromedial têm dificuldades em suprimir a hiperatividade da amígdala).

🧠 4. Ínsula – percepção do estado corporal

  • Função: Processa sensações viscerais e interoceptivas (como batimentos cardíacos, respiração).

  • Ligação com sintomas:

    • Sensação de aperto no peito, falta de ar, nó na garganta.

    • Aumenta a consciência ansiosa do corpo (“estou me sentindo estranho, algo está errado”).

🧠 5. Hipocampo – memória emocional

  • Função: Armazena e contextualiza memórias relacionadas a emoções.

  • Ligação com sintomas:

    • Reexperiência de eventos passados traumáticos.

    • Generalização do medo – situações neutras lembram traumas passados.

Integração em Circuitos

A imagem acima traz um esquema do circuito complexo do cérebro que medeia as respostas de medo e o comportamento de ansiedade, juntamente com os mecanismos hormonais responsáveis pela hiperatividade do eixo HPA em resposta a uma ameaça.

A rede de saliência (amígdala, ínsula, cíngulo anterior) detecta e prioriza ameaças. Quando o cérebro recebe um sinal de ameaça, o hipotálamo, que é ativado pela amígdala, desencadeia a liberação de CRH. Ele canaliza o CRH para ativar a glândula pituitária, que, em última análise, controla as outras glândulas endócrinas e a resposta hormonal do corpo ao estresse. Isso ocorre por meio da ação do CRH, que estimula a síntese hipofisária de ACTH como um elemento de interconexão do eixo HPA. Por sua vez, o ACTH viaja pela corrente sanguínea e estimula as glândulas suprarrenais localizadas acima de ambos os rins a secretar mais hormônios do estresse e da ameaça, incluindo cortisol, adrenalina e noradrenalina, e liberá-los na corrente sanguínea para ajudar o corpo a lidar melhor com a ameaça ou o estresse, resultando em níveis mais elevados de cortisol no sangue.

O problema é que níveis elevados e prolongados de cortisol na corrente sanguínea exacerbam a ansiedade e interferem no mecanismo natural de autorreparação do corpo. Portanto, os efeitos sistêmicos de longo alcance do cortisol desempenham inúmeras funções no esforço do corpo para realizar seus processos e manter a homeostase. Da mesma forma, esses são os hormônios, particularmente o cortisol, envolvidos na regulação do sistema HPA, que desempenha um papel vital nos transtornos relacionados à ansiedade.

Conhecer os circuitos neurais da ansiedade é fundamental por várias razões clínicas, científicas e terapêuticas. Aqui estão os principais motivos:

🔬 1. Compreensão mais profunda do transtorno

  • Explica por que a ansiedade não é "só psicológica": mostra que há bases biológicas reais, com regiões cerebrais específicas envolvidas.

  • Ajuda a diferenciar tipos de ansiedade: transtorno de ansiedade generalizada (TAG), fobia social, pânico, TOC — cada um ativa os circuitos de forma ligeiramente diferente.

💊 2. Desenvolvimento de tratamentos mais eficazes

  • Medicamentos: ansiolíticos, antidepressivos, betabloqueadores e outras drogas atuam em neurotransmissores (como serotonina, GABA, noradrenalina) que modulam esses circuitos. Pessoas com hiperatividade da amígdala podem se beneficiar mais de medicação.

  • Terapias neuromodulatórias: A rede de modo padrão (incluindo hipocampo e CPF medial) participa da ruminação e do pensamento autorreferente, comum em transtornos de ansiedade. A rede executiva (CPF lateral, parietal) tem papel na regulação e tomada de decisão – frequentemente prejudicada na ansiedade. Técnicas como TMS (estimulação magnética transcraniana) ou DBS (estimulação cerebral profunda) têm como alvo regiões específicas como o córtex pré-frontal.

  • Nutrição adequada: ver mais aqui

🧠 3. Melhora nas intervenções psicológicas

  • TCC (terapia cognitivo-comportamental): Pessoas com déficit de controle do córtex pré-frontal podem responder melhor à psicoterapia. A terapia ensina o paciente a ativar conscientemente o córtex pré-frontal para inibir respostas automáticas da amígdala.

  • Mindfulness e meditação: ajudam a reduzir a atividade da rede de saliência e fortalecer o controle da ínsula e do CPF.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/