Ligação dos sintomas de ansiedade com circuitos neurais

A ansiedade está profundamente ligada a circuitos neurais específicos no cérebro. Esses circuitos regulam a resposta ao medo, a percepção de ameaças e o controle emocional. A seguir, explico como os principais sintomas da ansiedade se conectam com regiões e redes cerebrais:

🧠 1. Amígdala – centro da detecção de ameaça

  • Função: Detecta ameaças e inicia a resposta de luta ou fuga.

  • Ligação com sintomas:

    • Medo intenso ou sensação de perigo iminente.

    • Reações exageradas a estímulos neutros (hiperatividade da amígdala).

    • Sudorese, taquicardia, tremores – respostas autonômicas induzidas pela amígdala ao ativar o sistema nervoso simpático.

🧠 2. Hipotálamo – regulador do sistema de estresse

  • Função: Ativa o eixo HPA (hipotálamo–pituitária–adrenal), liberando cortisol.

  • Ligação com sintomas:

    • Sensação persistente de estresse e tensão muscular.

    • Problemas digestivos e imunidade reduzida por exposição prolongada ao cortisol.

🧠 3. Córtex pré-frontal (CPF) – controle racional das emoções

  • Função: Regula as emoções e inibe respostas exageradas da amígdala.

  • Ligação com sintomas:

    • Dificuldade de concentração e raciocínio comprometido.

    • Pensamentos obsessivos e ruminativos (CPF dorsal medial e CPF ventromedial têm dificuldades em suprimir a hiperatividade da amígdala).

🧠 4. Ínsula – percepção do estado corporal

  • Função: Processa sensações viscerais e interoceptivas (como batimentos cardíacos, respiração).

  • Ligação com sintomas:

    • Sensação de aperto no peito, falta de ar, nó na garganta.

    • Aumenta a consciência ansiosa do corpo (“estou me sentindo estranho, algo está errado”).

🧠 5. Hipocampo – memória emocional

  • Função: Armazena e contextualiza memórias relacionadas a emoções.

  • Ligação com sintomas:

    • Reexperiência de eventos passados traumáticos.

    • Generalização do medo – situações neutras lembram traumas passados.

Integração em Circuitos

A imagem acima traz um esquema do circuito complexo do cérebro que medeia as respostas de medo e o comportamento de ansiedade, juntamente com os mecanismos hormonais responsáveis pela hiperatividade do eixo HPA em resposta a uma ameaça.

A rede de saliência (amígdala, ínsula, cíngulo anterior) detecta e prioriza ameaças. Quando o cérebro recebe um sinal de ameaça, o hipotálamo, que é ativado pela amígdala, desencadeia a liberação de CRH. Ele canaliza o CRH para ativar a glândula pituitária, que, em última análise, controla as outras glândulas endócrinas e a resposta hormonal do corpo ao estresse. Isso ocorre por meio da ação do CRH, que estimula a síntese hipofisária de ACTH como um elemento de interconexão do eixo HPA. Por sua vez, o ACTH viaja pela corrente sanguínea e estimula as glândulas suprarrenais localizadas acima de ambos os rins a secretar mais hormônios do estresse e da ameaça, incluindo cortisol, adrenalina e noradrenalina, e liberá-los na corrente sanguínea para ajudar o corpo a lidar melhor com a ameaça ou o estresse, resultando em níveis mais elevados de cortisol no sangue.

O problema é que níveis elevados e prolongados de cortisol na corrente sanguínea exacerbam a ansiedade e interferem no mecanismo natural de autorreparação do corpo. Portanto, os efeitos sistêmicos de longo alcance do cortisol desempenham inúmeras funções no esforço do corpo para realizar seus processos e manter a homeostase. Da mesma forma, esses são os hormônios, particularmente o cortisol, envolvidos na regulação do sistema HPA, que desempenha um papel vital nos transtornos relacionados à ansiedade.

Conhecer os circuitos neurais da ansiedade é fundamental por várias razões clínicas, científicas e terapêuticas. Aqui estão os principais motivos:

🔬 1. Compreensão mais profunda do transtorno

  • Explica por que a ansiedade não é "só psicológica": mostra que há bases biológicas reais, com regiões cerebrais específicas envolvidas.

  • Ajuda a diferenciar tipos de ansiedade: transtorno de ansiedade generalizada (TAG), fobia social, pânico, TOC — cada um ativa os circuitos de forma ligeiramente diferente.

💊 2. Desenvolvimento de tratamentos mais eficazes

  • Medicamentos: ansiolíticos, antidepressivos, betabloqueadores e outras drogas atuam em neurotransmissores (como serotonina, GABA, noradrenalina) que modulam esses circuitos. Pessoas com hiperatividade da amígdala podem se beneficiar mais de medicação.

  • Terapias neuromodulatórias: A rede de modo padrão (incluindo hipocampo e CPF medial) participa da ruminação e do pensamento autorreferente, comum em transtornos de ansiedade. A rede executiva (CPF lateral, parietal) tem papel na regulação e tomada de decisão – frequentemente prejudicada na ansiedade. Técnicas como TMS (estimulação magnética transcraniana) ou DBS (estimulação cerebral profunda) têm como alvo regiões específicas como o córtex pré-frontal.

  • Nutrição adequada: ver mais aqui

🧠 3. Melhora nas intervenções psicológicas

  • TCC (terapia cognitivo-comportamental): Pessoas com déficit de controle do córtex pré-frontal podem responder melhor à psicoterapia. A terapia ensina o paciente a ativar conscientemente o córtex pré-frontal para inibir respostas automáticas da amígdala.

  • Mindfulness e meditação: ajudam a reduzir a atividade da rede de saliência e fortalecer o controle da ínsula e do CPF.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Sintomas de TDAH e correlação com circuitos neurais

O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) tem uma fisiopatologia complexa. São várias as regiões e circuitos neurais afetados. As figuras abaixo mostram algumas das regiões implicadas por estudos de neuroimagem estrutural e funcional.

As regiões do cérebro implicadas no TDAH são unidas por redes neurais ricas em noradrenalina (norepinefrina) e dopamina, dois neurotransmissores importantes para controle de funções como atenção, controle inibitório, planejamento e motivação.

Principais sintomas do TDAH:

  1. Desatenção

  2. Hiperatividade

  3. Impulsividade

Principais circuitos cerebrais envolvidos:

1. Circuito fronto-estriatal (ou fronto-basal ganglionar)

  • Áreas envolvidas:

    • Córtex pré-frontal dorsolateral: responsável por atenção e memória de trabalho.

    • Estriado (núcleo caudado e putâmen): envolvido no controle motor e na seleção de ações.

  • Disfunção observada no TDAH:

    • Déficits no controle inibitório e na regulação do comportamento.

    • Dificuldade em manter atenção e organizar tarefas.

2. Circuito cingulo-frontal

  • Áreas envolvidas:

    • Córtex cingulado anterior (CCA): monitora conflitos, regula atenção e emoções.

  • Disfunção observada:

    • Dificuldade em focar e manter a atenção seletiva.

    • Aumento da distração por estímulos irrelevantes.

3. Circuito fronto-cerebelar

  • Áreas envolvidas:

    • Córtex pré-frontal e cerebelo (especialmente o vermis cerebelar).

  • Função: Coordenação motora fina, timing e controle cognitivo.

  • Disfunção observada:

    • Hiperatividade motora.

    • Problemas com o timing e com a regulação de respostas.

4. Sistema dopaminérgico mesocorticolímbico

  • Áreas envolvidas:

    • Área tegmental ventral (VTA), núcleo accumbens, córtex pré-frontal ventromedial.

  • Função: Motivação, recompensa, tomada de decisão.

  • Disfunção observada:

    • Redução na sensibilidade à recompensa retardada.

    • Preferência por gratificação imediata (impulsividade).

Muitos medicamentos usados no TDAH (como metilfenidato e anfetaminas) aumentam a dopamina e a noradrenalina nos circuitos fronto-estriatais e mesolímbicos, melhorando a atenção e o controle inibitório.

Intervenções comportamentais também visam fortalecer o autocontrole e a gestão da atenção, muitas vezes através de estratégias que estimulam o córtex pré-frontal.

A nutrição também desempenha um papel importante no manejo do TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade), embora ela não seja um tratamento isolado ou substituto para terapias convencionais, como a medicação e a psicoterapia. No entanto, uma alimentação adequada pode ajudar a melhorar sintomas como desatenção, impulsividade e hiperatividade. Aprenda mais no curso online Nutrição no TDAH.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

30 Efeitos benéficos da Dieta Cetogênica para o cérebro

A dieta cetogênica tem sido amplamente estudada por seus efeitos no metabolismo, e nos últimos anos também vem despertando interesse pelos possíveis impactos na função cognitiva.

A dieta cetogênica é rica em gorduras e muito baixa em carboidratos. Por isso, induz o estado de cetose nutricional, no qual o corpo produz corpos cetônicos (como o β-hidroxibutirato) que servem como fonte de energia alternativa à glicose — inclusive para o cérebro. Muitos mecanismos contribuem para o efeito positivo na função cognitiva:

  1. Aumento da integridade da BHE
    A dieta cetogênica pode fortalecer as junções entre as células endoteliais, tornando a barreira hematoencefálica (BHE) mais seletiva, ou seja, mais eficiente no bloqueio de substâncias que não devem chegar ao cérebro.

  2. Redução da permeabilidade da BHE
    Diminui o vazamento de substâncias inflamatórias e tóxicas para o cérebro.

  3. Diminuição da inflamação cerebral
    Os corpos cetônicos reduzem citocinas pró-inflamatórias que danificam a BHE.

  4. Redução do estresse oxidativo
    A produção de radicais livres é menor com corpos cetônicos, protegendo a BHE.

  5. Aumento da produção de ATP
    Fornecimento mais eficiente de energia às células endoteliais da BHE.

  6. Melhoria da função mitocondrial
    Corpos cetônicos estimulam a biogênese mitocondrial, beneficiando a saúde da barreira.

  7. Redução da neuroinflamação induzida por lipopolissacarídeos (LPS)
    Dieta cetogênica pode proteger a BHE em modelos de inflamação sistêmica.

  8. Diminuição da expressão de metaloproteinases (MMPs)
    MMPs degradam componentes da BHE, e a dieta reduz sua expressão.

  9. Aumento da expressão de proteínas de junção (claudinas, ocludinas)
    Fortalecendo a barreira física entre células endoteliais.

  10. Diminuição da ativação da microglia
    Menos neuroinflamação significa menor comprometimento da BHE.

  11. Estabilização da glicemia
    Oscilações glicêmicas são prejudiciais à BHE; a dieta cetogênica ajuda a evitá-las.

  12. Redução da resistência à insulina
    Melhora o metabolismo cerebral e a função da BHE.

  13. Estimulação do fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF)
    BDNF promove a saúde vascular cerebral.

  14. Aumento da autofagia celular
    Processo de limpeza celular que protege a integridade da BHE.

  15. Redução de AGE (produtos finais de glicação avançada)
    AGE danificam a BHE, e sua produção é menor em cetose.

  16. Diminuição da ativação do NF-κB
    Um fator de transcrição associado à inflamação da BHE.

  17. Aumento dos níveis de ácido β-hidroxibutírico (BHB)
    BHB tem efeitos diretos anti-inflamatórios e protetores na BHE.

  18. Regulação positiva do PGC-1α (coativador gama 1α do receptor ativado por proliferador de peroxissoma)
    Influencia a biogênese mitocondrial e proteção da BHE.

  19. Redução da infiltração de leucócitos no cérebro
    Sinal de menor disfunção da barreira.

  20. Diminuição de citocinas como TNF-α e IL-1β
    Reduzem o dano endotelial da BHE.

  21. Proteção contra hipóxia e isquemia cerebral
    Cetose protege a BHE em condições de baixa oxigenação.

  22. Melhora da sinalização GABAérgica
    Reduz a excitotoxicidade que pode afetar a BHE.

  23. Redução da excitotoxicidade por glutamato
    Menor dano neuronal e vascular.

  24. Aumento da angiogênese cerebral saudável
    Formação de novos vasos cerebrais sem prejudicar a barreira.

  25. Melhora da função dos astrócitos
    Essenciais para suporte da BHE.

  26. Diminuição da ativação dos pericitos
    Reduz estresse mecânico e inflamatório na BHE.

  27. Efeitos anticonvulsivantes indiretos sobre a BHE
    Menor atividade convulsiva protege a integridade da barreira.

  28. Redução da expressão de ICAM-1 e VCAM-1
    Moléculas de adesão inflamatórias que promovem infiltração de leucócitos.

  29. Modulação da microbiota intestinal
    Relação entre intestino e cérebro influencia a integridade da BHE.

  30. Potencial uso em doenças neurodegenerativas
    Como Alzheimer e esclerose múltipla, onde a BHE está comprometida.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/