Glúten e autismo

A relação entre glúten e transtorno do espectro autista (TEA) tem sido objeto de considerável interesse em pesquisas. As evidências atuais sobre o tema são mistas e um tanto inconclusivas.

Diversos estudos exploraram os potenciais benefícios de uma dieta sem glúten (DIG) para indivíduos com TEA. Uma revisão sistemática e meta-análise realizada por Quan et al. constatou que uma dieta sem glúten e sem caseína (DIG) pode reduzir comportamentos estereotipados e melhorar a cognição em crianças com TEA, embora as evidências não sejam robustas e sejam necessários mais estudos de alta qualidade.[1]

Estudos epidemiológicos também investigaram a comorbidade entre TEA e doença celíaca (DC). Por exemplo, um estudo realizado por Ludvigsson et al. não encontrou associação significativa entre DC e TEA, embora indivíduos com sorologia positiva para DC, mas com mucosa normal, apresentassem maior risco de TEA.[2] Da mesma forma, Prosperi et al. não encontraram uma prevalência maior de DC em crianças com TEA em comparação com a população em geral, sugerindo que o rastreamento rotineiro de DC pode ser útil devido a apresentações atípicas.[3]

Mesmo assim, alguns estudos demonstraram que crianças com TEA frequentemente apresentam maior reatividade imunológica ao glúten, particularmente aquelas com sintomas gastrointestinais. Por exemplo, Lau et al. descobriram que crianças com TEA apresentavam níveis significativamente mais elevados de anticorpos IgG contra gliadina, especialmente naquelas com sintomas gastrointestinais, sugerindo um mecanismo potencial envolvendo anormalidades imunológicas e/ou de permeabilidade intestinal.[4]

Outro estudo realizado por Keller et al. observou que, embora uma dieta sem glúten e sem caseína não afetasse significativamente os sintomas principais do autismo, ela poderia desencadear efeitos adversos gastrointestinais, destacando a complexa relação entre dieta e sintomas gastrointestinais no TEA.[5]

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Síndrome musculoesquelética da menopausa

O termo "síndrome musculoesquelética da menopausa" foi introduzido em 2024 por Dr. Vonda Wright e colegas, em um artigo publicado na revista Climacteric, para descrever um conjunto de sintomas frequentemente negligenciados que afetam mulheres durante a transição da perimenopausa para a pós-menopausa. Esses sintomas incluem dores articulares (artralgia), perda de massa muscular (sarcopenia), diminuição da densidade óssea (osteopenia/osteoporose) e progressão da osteoartrite, todos associados à queda nos níveis de estrogênio.

Causas da síndrome musculoesquelética da menopausa

Os sintomas que afetam músculos, ossos e articulações ocorrem pela diminuição dos níveis de estrogênio, aumento da inflamação, desregulação do metabolismo ósseo e queda da massa muscular. Estima-se que mais de 70% das mulheres experimentem sintomas musculoesqueléticos durante essa transição, e cerca de 25% sejam significativamente impactadas por eles.

Por que o estrogênio é tão importante?

O estrogênio desempenha um papel crucial na manutenção da saúde musculoesquelética. Ele ajuda a regular a inflamação, promove a regeneração muscular, mantém a densidade óssea e protege as articulações. Com a queda nos níveis de estrogênio, há um aumento da inflamação, perda de massa muscular e óssea, e maior risco de doenças articulares como a osteoartrite. Quando a mulher pode fazer a reposição hormonal, esta é muito bem-vinda pois com a queda dos hormônios muitos sintomas aparecem

Sintomas comuns da SMM

  • Dores articulares e musculares: Sensações de rigidez e dor, especialmente nas articulações.

  • Perda de massa muscular: Redução na força e na massa muscular, levando à fadiga e diminuição da mobilidade.

  • Diminuição da densidade óssea: Aumento do risco de fraturas e osteoporose.

  • Inflamação nas articulações: Condições como ombro congelado e osteoartrite tornam-se mais comuns.

Estratégias de prevenção e tratamento

  • Exercícios físicos: Atividades de resistência, como musculação, e exercícios de impacto leve, como caminhada, ajudam a manter a massa muscular e a densidade óssea.

  • Terapia hormonal: A reposição de estrogênio pode aliviar sintomas e prevenir a progressão da osteoporose, mas deve ser considerada individualmente com orientação médica.

  • Nutrição adequada: Dieta rica em cálcio, vitamina D e proteínas é essencial para a saúde óssea e muscular.

  • Fisioterapia: Pode auxiliar na mobilidade, força e alívio da dor.

A síndrome musculoesquelética da menopausa é uma condição comum, mas frequentemente subdiagnosticada. Reconhecer os sintomas e buscar intervenções precoces pode melhorar significativamente a qualidade de vida das mulheres durante e após a menopausa. É essencial que profissionais de saúde e pacientes estejam cientes dessa condição para promover um envelhecimento saudável e ativo.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

O Papel do Sono nos Hormônios da Fome e do Metabolismo

Atendi esta semana uma paciente que diz que tem muita compulsão noturna. Mas na verdade, o maior problema dela é que dormia muito pouco e mal. Você já percebeu que depois de uma noite mal dormida bate aquela vontade incontrolável de comer doces ou carboidratos? Pois é — a ciência mostra que isso não é coincidência. Um estudo publicado na revista Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism revelou que a duração do sono influencia diretamente os níveis de leptina, um hormônio essencial para regular o apetite.

O Que é Leptina e Por Que Ela é Importante?

A leptina é um hormônio produzido pelas células de gordura (adipócitos) e tem como principal função enviar ao cérebro a mensagem de que estamos satisfeitos — ou seja, ajuda a controlar a fome. Quando os níveis de leptina estão baixos, o corpo entende que precisa de mais energia e aumenta o apetite.

Dormir Pouco Reduz os Níveis de Leptina

O estudo analisou voluntários que dormiram por diferentes períodos (4h, 6h, 8h, etc.) e descobriu que quanto menos eles dormiam, menores eram seus níveis de leptina. Isso significa que uma noite mal dormida pode enganar seu cérebro, fazendo-o pensar que você está com fome — mesmo que seu corpo não precise de mais calorias.

Mas Não Para por Aí: O Sono Afeta Todo o Sistema Hormonal

Além da leptina, o estudo também investigou outros marcadores hormonais e fisiológicos importantes:

  • Cortisol: Dormir menos aumenta os níveis de cortisol, o famoso "hormônio do estresse", que pode aumentar a gordura abdominal e prejudicar o sistema imunológico.

  • TSH (hormônio estimulante da tireoide): A privação de sono também altera o TSH, que regula o funcionamento da tireoide — glândula essencial para o metabolismo.

  • Regulação de carboidratos: Quem dorme pouco tende a apresentar resistência à insulina e problemas no controle da glicose, o que pode levar ao diabetes tipo 2.

  • Equilíbrio autonômico (simpático/vagal): A balança entre os sistemas nervosos simpático e parassimpático também se desequilibra, o que pode impactar desde os batimentos cardíacos até a digestão.

Conclusão: Dormir Bem é um Aliado da Saúde e do Peso Ideal

Se você está tentando perder peso, controlar o apetite ou apenas cuidar melhor do seu corpo, priorizar o sono é tão importante quanto se alimentar bem e se exercitar. Este estudo reforça que o sono regula não só o cansaço, mas uma complexa rede de hormônios que afetam diretamente o metabolismo, a fome e o bem-estar geral.

Dica do dia: tente manter uma rotina de sono de 7 a 9 horas por noite. Seu corpo (e sua mente) vão agradecer.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/