Leite materno, nosso primeiro cronoregulador

Você sabia que o leite materno não apenas alimenta, mas também ensina o relógio biológico do bebê a funcionar corretamente? Esse conceito fascinante é explorado no artigo científico "Human Milk as Chrononutrition: Implications for Child Health and Development", que revela o papel do leite materno como nosso primeiro cronoregulador — ou seja, um regulador do ritmo biológico.

O que é crononutrição?

Antes de tudo, vale entender o que significa crononutrição. Esse termo se refere à relação entre os ritmos do nosso corpo (como o sono, a digestão e a liberação de hormônios) e os horários em que nos alimentamos. Nosso organismo segue um ritmo circadiano — um ciclo de cerca de 24 horas — e a alimentação pode reforçar ou desregular esse ritmo.

O leite materno varia ao longo do dia

Uma das descobertas mais interessantes é que a composição do leite materno muda conforme o horário do dia. De manhã, ele tende a ter mais cortisol, que ajuda o bebê a ficar mais alerta. À noite, há maior concentração de melatonina e nucleotídeos que favorecem o sono. Esses componentes ajudam o recém-nascido a formar sua percepção de dia e noite, mesmo antes de seu relógio biológico estar totalmente desenvolvido.

Além disso, nutrientes como aminoácidos, gorduras e certos hormônios também apresentam variações diurnas, funcionando como pistas temporais para o corpo do bebê. Essa é uma das razões pelas quais o leite materno é tão único — ele se adapta às necessidades do bebê não só em termos nutricionais, mas também temporais.

Por que isso é importante?

Nos primeiros meses de vida, o bebê ainda está desenvolvendo seu ritmo circadiano. Tende a trocar o dia pela noite. Expor o organismo dele a sinais temporais coerentes com o ciclo natural do dia e da noite pode ajudar a:

  • Estabelecer um padrão mais estável de sono e vigília;

  • Regular melhor o metabolismo;

  • Fortalecer o sistema imunológico;

  • Contribuir para o desenvolvimento neurológico.

O leite materno, portanto, não é só alimento: é também uma “mensagem do tempo” que ajuda a sincronizar o organismo do bebê com o mundo ao seu redor.

E o leite ordenhado?

Com o aumento do uso de leite materno ordenhado e armazenado, surge um ponto de atenção: misturar leite ordenhado de diferentes horários pode confundir o relógio biológico do bebê. Por isso, pesquisadores já sugerem que, quando possível, o leite ordenhado seja rotulado com o horário da coleta — especialmente se for usado regularmente para substituir mamadas ao vivo.

Conclusão

O leite materno é uma verdadeira joia da natureza — além de fornecer os nutrientes ideais para o crescimento, ele também ajuda a construir os primeiros alicerces do ritmo biológico da criança. Entender esse papel cronorregulador nos ajuda a valorizar ainda mais a amamentação e a pensar com carinho sobre práticas que respeitem essa sincronia natural.

Se você é mãe, profissional de saúde ou apenas curioso sobre os mistérios do corpo humano, vale a pena olhar para o leite materno com novos olhos: ele é, literalmente, a primeira ponte entre o tempo e o corpo do bebê. Aprenda mais no curso ALIMENTAÇÃO DE 0 A 2 ANOS.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Relógio Interno, Intestino e Emoções: Como Comer na Hora Certa Pode Ajudar sua Saúde Mental

Você já percebeu como uma noite mal dormida ou uma refeição pesada tarde da noite pode te deixar mais irritado ou ansioso no dia seguinte? A ciência tem uma explicação: nosso relógio biológico, o intestino e a saúde mental estão profundamente conectados.

Desajustes nos ritmos circadianos — causados por maus hábitos de sono, alimentação irregular ou estresse crônico — estão ligados a problemas como depressão, ansiedade e distúrbios do humor. As doenças mentais estão aumentando de forma alarmante e as disrupções circadianas contribuem para esta tendência.

A boa notícia? Estratégias de ressincronização dos ritmos circadianos melhoram os sintomas psiquiátricos. Estas estratégias envolvem horário de sono adequado, mudanças baseadas na alimentação e no microbioma intestinal para ajudar a reequilibrar esse sistema (Codoñer-Franch et al., 2023).

O que são Ritmos Circadianos?

São ciclos biológicos de cerca de 24 horas que controlam praticamente tudo no nosso corpo: sono, fome, temperatura, metabolismo, hormônios e até o humor. Quando esses ritmos ficam desregulados (por exemplo, com noites mal dormidas ou refeições em horários errados), isso é chamado de disrupção circadiana — e ela pode abrir caminho para diversos problemas mentais.

Como o Intestino Entra Nessa História?

Nosso intestino abriga trilhões de microrganismos — o chamado microbioma intestinal. Ele se comunica com o cérebro por meio de substâncias químicas, como serotonina e GABA, que regulam emoções, sono e estresse.

O microbioma também segue um ritmo diário. Ele “acorda”, “trabalha” e “descansa” conforme o horário das refeições e do sono. Quando esses ritmos são quebrados (comendo de madrugada, por exemplo), a diversidade e a função das bactérias boas diminuem, afetando o equilíbrio emocional. O ritmo das bactérias intestinais é amplamente governado pelo horário das refeições.

Estratégias Alimentares com Potencial Terapêutico (Cronoterapêuticas)

Podemos usar estratégias baseadas na dieta e no intestino para ajudar a restaurar a saúde mental, respeitando o relógio biológico. Algumas dessas estratégias incluem:

1. Alimentação com Restrição de Tempo (Time-Restricted Eating)

  • Comer apenas durante uma janela de 8–12 horas por dia, e jejuar no restante.

  • Alinha o metabolismo ao ritmo circadiano e melhora a saúde do intestino e do cérebro.

2. Dietas ricas em fibras e prebióticos

  • Alimentos como vegetais, frutas, aveia e leguminosas alimentam as “boas bactérias” do intestino.

  • Isso ajuda a regular a produção de neurotransmissores ligados ao humor.

3. Evitar comer tarde da noite

  • Comer em horários irregulares ou à noite atrapalha o relógio interno e piora a qualidade do sono e do humor.

4. Probióticos e psicobióticos

  • Certas cepas de bactérias (como Lactobacillus e Bifidobacterium) podem reduzir sintomas de ansiedade e depressão, atuando como reguladores do eixo intestino-cérebro. São os chamados psicobióticos.

Efeitos na Saúde Mental

Corrigir o ritmo biológico por meio da alimentação pode ter efeitos semelhantes aos de antidepressivos leves, especialmente quando combinado com outras abordagens, como terapia ou medicação.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Você dorme cada dia em um horário? Como a bagunça no relógio biológico pode afetar a sua saúde mental

Você sabia que seu corpo tem um relógio interno que regula praticamente tudo — sono, fome, temperatura e até seu humor? E que quanto mais desorganizado esse relógio estiver, maior pode ser o risco de desenvolver problemas como depressão, ansiedade e bipolaridade? Vamos entender mais sobre a desordem nos ritmos circadianos (chamada de "entropia circadiana") e a saúde mental.

O que é "Entropia Circadiana"?

“Entropia” é um termo emprestado da física que, de forma simples, significa nível de desorganização ou imprevisibilidade. No contexto do corpo humano, entropia circadiana refere-se à irregularidade nos ritmos biológicos diários, como o sono, a vigília, a temperatura corporal, a produção de hormônios e a atividade física.

Imagine um maestro regendo uma orquestra. Quando todos os instrumentos tocam no tempo certo, a música flui. Mas se cada músico tocar em ritmos diferentes, o resultado é caos — é isso que acontece com nossos sistemas biológicos quando os ritmos estão desorganizados.

O que a ciência descobriu?

Pessoas com alta entropia circadiana — ou seja, com ritmos biológicos mais instáveis e imprevisíveis — apresentam maior risco de desenvolver distúrbios mentais, como:

  • Depressão

  • Transtorno bipolar

  • Ansiedade

  • Esquizofrenia

Essa relação foi observada em análises de dados de sensores de movimento (como os de smartwatches) e exames de sono em milhares de pessoas. Além disso, quanto mais caóticos os ritmos, maior o impacto no humor, na cognição e no bem-estar emocional (Alachkar et al., 2022).

Por que isso acontece?

Nosso cérebro e corpo funcionam em ciclos de cerca de 24 horas — os chamados ritmos circadianos. Eles influenciam:

  • Sono e vigília

  • Níveis de hormônios como cortisol e melatonina

  • Temperatura corporal

  • Atenção e memória

Quando esses ritmos estão desalinhados — seja por insônia, jet lag social (como dormir tarde no fim de semana e cedo na semana) ou horários irregulares — os circuitos neurais responsáveis pelas emoções e pela saúde mental podem ser afetados.

Manter ritmos regulares pode proteger sua saúde mental. Algumas dicas práticas incluem:

✅ Dormir e acordar sempre nos mesmos horários, mesmo nos fins de semana
✅ Evitar luz artificial intensa à noite (como telas)
✅ Se expor à luz natural pela manhã
✅ Evitar refeições tarde da noite (leia aqui sobre crononutrição)
✅ Praticar atividades físicas em horários consistentes

A relação entre desorganização do ritmo biológico e transtornos mentais é real e relevante. Cuidar da sua rotina — sono, alimentação e exposição à luz — pode ser tão importante quanto terapia ou medicação na prevenção e tratamento de doenças mentais. O seu corpo tem um ritmo. E sua mente agradece quando você o respeita.

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