Influência do horário das refeições na saúde

Você já ouviu falar que "comer na hora certa" pode ser tão importante quanto o que está no seu prato? A ciência da crononutrição está revolucionando a forma como entendemos a alimentação e seus efeitos sobre a saúde — conectando os relógios biológicos do nosso corpo com os hábitos alimentares.

O que é Crononutrição?

Crononutrição é o estudo da relação entre tempo da alimentação e os ritmos biológicos do corpo, conhecidos como ritmos circadianos. Esses ritmos controlam desde o sono até a liberação de hormônios e o metabolismo de nutrientes.

Nosso corpo possui um "relógio mestre" no cérebro (no núcleo supraquiasmático) e diversos "relógios periféricos" em órgãos como fígado, intestino e pâncreas. A alimentação, especialmente quando comemos, influencia diretamente esses relógios.

Relógios dentro e fora do hipotálamo, juntamente com o reforço de hormônios e nutrientes influenciam o comportamento aliimentar. O relógio dos núcleos supraquiasmáticos (NSQ), em amarelo, regula os padrões diurnos no comportamento alimentar, enquanto os outros relógios são sensíveis aos níveis de nutrientes, como ácidos graxos livres (FFA) e cetonas (BHB) e hormônios (Flanagan et al., 2021).

A Ciência por Trás do Tempo

Estudos moleculares mostram que genes do relógio controlam enzimas e hormônios relacionados ao metabolismo. Comer fora dos horários naturais (como de madrugada) pode desregular esses genes e levar a distúrbios metabólicos como obesidade, diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares.

(a) O alinhamento da ingestão de luz e energia com o dia solar resulta em um sistema circadiano bem sincronizado. (b) Sinais ambientais descompassados, incluindo luz artificial e horário de alimentação durante a noite biológica, contribuem para a dessincronia circadiana. A alimentação noturna também está associada ao consumo de alimentos com alta densidade energética (Flanagan et al., 2021).

O que a Epidemiologia Diz?

Pesquisas em humanos mostram que:

  • Comer tarde da noite está associado a ganho de peso e piora da saúde metabólica.

  • Pessoas que fazem jejum intermitente ou restringem a alimentação ao início do dia tendem a ter melhores resultados de saúde.

  • A regularidade das refeições também importa: horários inconsistentes podem afetar negativamente os ritmos internos.

Padrões Alimentares com Base no Relógio

Durante o dia, especialmente pela manhã, o corpo está mais preparado para metabolizar a glicose de forma eficiente. Isso acontece porque os hormônios e enzimas responsáveis pela digestão, produção de insulina e sensibilidade das células à insulina estão mais ativos nesse período.

Ao longo do dia, principalmente à noite, essa eficiência diminui. Ou seja, a mesma refeição rica em carboidratos pode causar um pico de glicose muito maior à noite do que pela manhã.

Algumas abordagens práticas de crononutrição incluem:

  • Restrição de tempo alimentar: Comer apenas dentro de uma janela de 8–12 horas por dia.

  • Desjejum reforçado: Fazer a maior refeição do dia pela manhã.

  • Evitar refeições noturnas: Jantar cedo ou reduzir alimentos após o pôr do sol.

A variação diurna no controle glicêmico se refere às mudanças naturais na forma como o corpo regula a glicose (açúcar no sangue) ao longo do dia, influenciadas pelos ritmos circadianos — ou seja, pelo nosso “relógio biológico interno”.

A figura acima mostra padrões alimentares temporais em humanos. (a) Cafés da manhã ricos em energia com jantares de baixa energia demonstraram resultar em respostas metabólicas favoráveis ​​em comparação com a sequência energética inversa representada em (b). Intervenções de alimentação com restrição de tempo incluem (c) uma "alimentação precoce com restrição de tempo" (eTRF), que alinha todas as refeições em uma janela de 6 a 8 horas no início do dia, em comparação com (d) um padrão de refeição mais convencional. (e) Uma distribuição diurna típica de energia em um padrão alimentar de estilo "ocidental", com início tardio da alimentação (ou café da manhã omitido) e aumento da ingestão de energia nas refeições subsequentes com pico de ingestão de energia durante a noite biológica, um padrão associado a resultados adversos para a saúde. (f) Um padrão de distribuição de energia observado em certos países mediterrâneos; o pico de ingestão de energia ocorre no meio do dia, com evidências sugerindo que o momento mais cedo desta refeição principal resulta em respostas metabólicas mais favoráveis ​​em comparação com o momento mais tarde da tarde.

Evidências científicas

Estudos mostram que:

  • Pessoas que fazem refeições maiores no café da manhã e menores no jantar têm melhor controle da glicose e menor risco de diabetes.

  • Comer tarde da noite está associado a maiores níveis de glicose em jejum e resistência à insulina.

  • Em diabéticos tipo 2, a resposta glicêmica a uma mesma refeição pode ser significativamente pior à noite do que pela manhã.

Conclusão

A crononutrição traz uma nova perspectiva para a alimentação saudável: não basta escolher o que comer, é essencial também escolher o momento certo. Sincronizar sua dieta com seu relógio biológico pode ser uma estratégia poderosa para melhorar a saúde, prevenir doenças e até otimizar o bem-estar mental. Na prática vimos, a importância de:

  1. Priorizar refeições maiores no início do dia (café da manhã e almoço).

  2. Evitar jantares pesados ou refeições noturnas.

  3. Se possível, manter uma rotina de alimentação consistente e alinhada ao ciclo dia-noite.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Ritmos Circadianos: o Relógio Interno que Regula sua Saúde Intestinal

Você sabia que seu intestino também tem um relógio biológico? Os ritmos circadianos, que controlam nosso ciclo de sono e vigília, também desempenham um papel essencial na saúde gastrointestinal (GI).

Pesquisas mostram que esse "relógio interno" ajuda a regular funções importantes do trato digestivo, como a motilidade intestinal, secreção de ácidos, absorção de nutrientes e até a resposta imunológica. Ou seja, o horário em que comemos, dormimos e até tomamos remédios pode impactar diretamente a saúde do nosso intestino.

Quando o Relógio se Desregula...

Alterações no ritmo circadiano — como as causadas por turnos noturnos, jet lag, vida social intensa ou hábitos alimentares irregulares — podem levar a diversos problemas gastrointestinais, incluindo:

  • Síndrome do intestino irritável (SII)

  • Doença inflamatória intestinal (DII)

  • Refluxo gastroesofágico

  • Alterações no microbioma intestinal

Em condições fisiológicas, há uma sincronia entre o relógio circadiano central no núcleo supraquiasmático (NSQ) e o relógio circadiano periférico (hepato-intestinal) (painel esquerdo). Embora o NSQ seja influenciado pela luz, esta última, além dos sinais do NSQ, pode responder à alimentação.

Por que o horário da alimentação é tão importante?

O trato GI possui seu próprio relógio periférico, sincronizado com o relógio mestre do cérebro (localizado no núcleo supraquiasmático). Esse relógio periférico regula funções como:

  • Secreção de enzimas digestivas

  • Liberação de hormônios como a grelina (fome) e leptina (saciedade)

  • Peristaltismo (movimento do intestino)

  • Permeabilidade intestinal

  • Regulação do microbioma

Quando a alimentação ocorre fora do ritmo esperado — como comer tarde da noite ou fazer refeições em horários inconsistentes — há uma desincronização entre os relógios centrais e periféricos, o que pode prejudicar essas funções.

Comer no horário certo ajuda a:

  • Melhorar a digestão e absorção de nutrientes

  • Reduzir inflamações intestinais

  • Proteger o microbioma (a comunidade de bactérias benéficas no intestino)

  • Evitar distúrbios metabólicos como obesidade, resistência à insulina e doenças inflamatórias intestinais

A Chave? Alinhar Rotina e Ritmo Biológico

Manter horários consistentes para dormir, se alimentar e se expor à luz natural ajuda a fortalecer esse ritmo. Estudos também sugerem que cronoterapia — ajustar o horário de refeições e medicações de acordo com o relógio biológico — pode melhorar a eficácia dos tratamentos GI. Os estudos sugerem 3 estratégias alimentares principais:

  1. Alimentação restrita ao tempo (Time-Restricted Feeding – TRF): Comer durante uma janela de 8–12 horas por dia (especialmente durante o dia) ajuda a alinhar o sistema digestivo ao ciclo circadiano natural.

  2. Evitar refeições noturnas: Comer tarde da noite, quando a atividade intestinal está reduzida, pode aumentar o risco de inflamação e desequilíbrio do microbioma.

  3. Café da manhã reforçado: Refeições matinais podem ajudar a reforçar o relógio interno, já que o intestino está mais ativo nesse período.

O corpo tem “horários ideais” para se alimentar, e respeitar esse ritmo biológico pode ser tão importante quanto a qualidade da dieta. Comer em horários regulares, principalmente durante o dia, ajuda a manter o intestino saudável, favorece o metabolismo e fortalece o equilíbrio do organismo. Nosso sistema digestivo não trabalha sozinho — ele segue uma orquestra interna regida pelos ritmos circadianos. Cuidar da rotina é também cuidar do intestino.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Proteína S funcional

A proteína S é um anticoagulante natural que ajuda a prevenir a formação de coágulos sanguíneos. Ela atua em conjunto com a proteína C, inibindo fatores de coagulação. Um valor abaixo do intervalo de referência indica deficiência funcional de proteína S.

Riscos associados:

Uma deficiência funcional de proteína S pode aumentar o risco de trombose venosa, como trombose venosa profunda (TVP) ou embolia pulmonar (EP), especialmente se houver outros fatores de risco.

Possíveis causas de deficiência de proteína S:

  1. Hereditária (genética) – forma congênita, mais comum em pessoas jovens com histórico de trombose.

  2. Adquirida, por:

    • Doenças hepáticas (fígado)

    • Uso de anticoagulantes como varfarina

    • Síndrome nefrótica

    • Gravidez

    • Uso de anticoncepcionais hormonais

    • Infecções ou inflamações agudas

    • Deficiência de vitamina K

✅ O que fazer?

  • Procurar um médico, preferencialmente um hematologista.

  • Ele pode solicitar exames adicionais, como proteína C, antitrombina III, mutações genéticas (Fator V de Leiden, mutação da protrombina), etc.

  • Em alguns casos, pode ser necessário investigar parentes de primeiro grau (hereditariedade).

  • Do ponto de vista nutricional, embora a deficiência de proteína S funcional geralmente esteja ligada a causas genéticas ou clínicas, a alimentação pode contribuir indiretamente para melhorar a saúde do sistema de coagulação e reduzir riscos associados.

Foco principal: Apoiar a saúde cardiovascular e hepática, reduzir inflamação e garantir bons níveis de vitamina K

A proteína S é vitamina K-dependente, ou seja, o corpo precisa de vitamina K para sua produção e funcionamento.

  • Fontes de vitamina K1 (filoquinona):

    • Vegetais verdes escuros: couve, espinafre, brócolis, alface, rúcula

    • Chás verdes

    • Salsinha, manjericão, coentro

    ⚠️ Se você estiver usando anticoagulantes (ex: varfarina), o consumo de vitamina K deve ser constante e monitorado, não aumentado sem orientação médica.

  • Fontes de vitamina K2 (menaquinona):

    • Natto (soja fermentada), queijos duros, ovos, carne de fígado, frango

    • Produzida por bactérias intestinais → saúde intestinal também é importante

2. Reduzir inflamação sistêmica (dieta anti-inflamatória)

A inflamação pode impactar negativamente a função de proteínas anticoagulantes.

  • Inclua:

    • Peixes ricos em ômega-3 (salmão, sardinha)

    • Oleaginosas (nozes, castanhas)

    • Azeite de oliva extravirgem

    • Frutas vermelhas e cítricas (ricos em antioxidantes)

    • Legumes e verduras variados

  • Evite ou modere:

    • Alimentos ultraprocessados

    • Açúcares simples

    • Gorduras trans (presentes em frituras e industrializados)

3. Apoiar o fígado

O fígado produz a proteína S, então sua saúde é essencial.

  • Reduza o consumo de álcool

  • Evite excesso de medicamentos sem prescrição

  • Mantenha um peso corporal saudável

  • Consuma alimentos hepatoprotetores:

    • Alcachofra, cúrcuma (açafrão-da-terra), chá de dente-de-leão (com orientação)

    • Vegetais crucíferos (brócolis, couve-flor, couve)

4. Saúde intestinal

A microbiota participa da produção de vitamina K2.

  • Alimentos fermentados: kefir, iogurte natural, chucrute, kimchi

  • Fibras prebióticas: aveia, banana verde, linhaça, alho, cebola, aspargos

5. Manter hidratação e atividade física

  • A boa circulação depende também de sangue fluido e movimento corporal.

Essas estratégias não substituem o tratamento médico, mas complementam e ajudam a melhorar o estado geral, sobretudo em deficiências adquiridas.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/