Ritmos Circadianos: o Relógio Interno que Regula sua Saúde Intestinal

Você sabia que seu intestino também tem um relógio biológico? Os ritmos circadianos, que controlam nosso ciclo de sono e vigília, também desempenham um papel essencial na saúde gastrointestinal (GI).

Pesquisas mostram que esse "relógio interno" ajuda a regular funções importantes do trato digestivo, como a motilidade intestinal, secreção de ácidos, absorção de nutrientes e até a resposta imunológica. Ou seja, o horário em que comemos, dormimos e até tomamos remédios pode impactar diretamente a saúde do nosso intestino.

Quando o Relógio se Desregula...

Alterações no ritmo circadiano — como as causadas por turnos noturnos, jet lag, vida social intensa ou hábitos alimentares irregulares — podem levar a diversos problemas gastrointestinais, incluindo:

  • Síndrome do intestino irritável (SII)

  • Doença inflamatória intestinal (DII)

  • Refluxo gastroesofágico

  • Alterações no microbioma intestinal

Em condições fisiológicas, há uma sincronia entre o relógio circadiano central no núcleo supraquiasmático (NSQ) e o relógio circadiano periférico (hepato-intestinal) (painel esquerdo). Embora o NSQ seja influenciado pela luz, esta última, além dos sinais do NSQ, pode responder à alimentação.

Por que o horário da alimentação é tão importante?

O trato GI possui seu próprio relógio periférico, sincronizado com o relógio mestre do cérebro (localizado no núcleo supraquiasmático). Esse relógio periférico regula funções como:

  • Secreção de enzimas digestivas

  • Liberação de hormônios como a grelina (fome) e leptina (saciedade)

  • Peristaltismo (movimento do intestino)

  • Permeabilidade intestinal

  • Regulação do microbioma

Quando a alimentação ocorre fora do ritmo esperado — como comer tarde da noite ou fazer refeições em horários inconsistentes — há uma desincronização entre os relógios centrais e periféricos, o que pode prejudicar essas funções.

Comer no horário certo ajuda a:

  • Melhorar a digestão e absorção de nutrientes

  • Reduzir inflamações intestinais

  • Proteger o microbioma (a comunidade de bactérias benéficas no intestino)

  • Evitar distúrbios metabólicos como obesidade, resistência à insulina e doenças inflamatórias intestinais

A Chave? Alinhar Rotina e Ritmo Biológico

Manter horários consistentes para dormir, se alimentar e se expor à luz natural ajuda a fortalecer esse ritmo. Estudos também sugerem que cronoterapia — ajustar o horário de refeições e medicações de acordo com o relógio biológico — pode melhorar a eficácia dos tratamentos GI. Os estudos sugerem 3 estratégias alimentares principais:

  1. Alimentação restrita ao tempo (Time-Restricted Feeding – TRF): Comer durante uma janela de 8–12 horas por dia (especialmente durante o dia) ajuda a alinhar o sistema digestivo ao ciclo circadiano natural.

  2. Evitar refeições noturnas: Comer tarde da noite, quando a atividade intestinal está reduzida, pode aumentar o risco de inflamação e desequilíbrio do microbioma.

  3. Café da manhã reforçado: Refeições matinais podem ajudar a reforçar o relógio interno, já que o intestino está mais ativo nesse período.

O corpo tem “horários ideais” para se alimentar, e respeitar esse ritmo biológico pode ser tão importante quanto a qualidade da dieta. Comer em horários regulares, principalmente durante o dia, ajuda a manter o intestino saudável, favorece o metabolismo e fortalece o equilíbrio do organismo. Nosso sistema digestivo não trabalha sozinho — ele segue uma orquestra interna regida pelos ritmos circadianos. Cuidar da rotina é também cuidar do intestino.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Proteína S funcional

A proteína S é um anticoagulante natural que ajuda a prevenir a formação de coágulos sanguíneos. Ela atua em conjunto com a proteína C, inibindo fatores de coagulação. Um valor abaixo do intervalo de referência indica deficiência funcional de proteína S.

Riscos associados:

Uma deficiência funcional de proteína S pode aumentar o risco de trombose venosa, como trombose venosa profunda (TVP) ou embolia pulmonar (EP), especialmente se houver outros fatores de risco.

Possíveis causas de deficiência de proteína S:

  1. Hereditária (genética) – forma congênita, mais comum em pessoas jovens com histórico de trombose.

  2. Adquirida, por:

    • Doenças hepáticas (fígado)

    • Uso de anticoagulantes como varfarina

    • Síndrome nefrótica

    • Gravidez

    • Uso de anticoncepcionais hormonais

    • Infecções ou inflamações agudas

    • Deficiência de vitamina K

✅ O que fazer?

  • Procurar um médico, preferencialmente um hematologista.

  • Ele pode solicitar exames adicionais, como proteína C, antitrombina III, mutações genéticas (Fator V de Leiden, mutação da protrombina), etc.

  • Em alguns casos, pode ser necessário investigar parentes de primeiro grau (hereditariedade).

  • Do ponto de vista nutricional, embora a deficiência de proteína S funcional geralmente esteja ligada a causas genéticas ou clínicas, a alimentação pode contribuir indiretamente para melhorar a saúde do sistema de coagulação e reduzir riscos associados.

Foco principal: Apoiar a saúde cardiovascular e hepática, reduzir inflamação e garantir bons níveis de vitamina K

A proteína S é vitamina K-dependente, ou seja, o corpo precisa de vitamina K para sua produção e funcionamento.

  • Fontes de vitamina K1 (filoquinona):

    • Vegetais verdes escuros: couve, espinafre, brócolis, alface, rúcula

    • Chás verdes

    • Salsinha, manjericão, coentro

    ⚠️ Se você estiver usando anticoagulantes (ex: varfarina), o consumo de vitamina K deve ser constante e monitorado, não aumentado sem orientação médica.

  • Fontes de vitamina K2 (menaquinona):

    • Natto (soja fermentada), queijos duros, ovos, carne de fígado, frango

    • Produzida por bactérias intestinais → saúde intestinal também é importante

2. Reduzir inflamação sistêmica (dieta anti-inflamatória)

A inflamação pode impactar negativamente a função de proteínas anticoagulantes.

  • Inclua:

    • Peixes ricos em ômega-3 (salmão, sardinha)

    • Oleaginosas (nozes, castanhas)

    • Azeite de oliva extravirgem

    • Frutas vermelhas e cítricas (ricos em antioxidantes)

    • Legumes e verduras variados

  • Evite ou modere:

    • Alimentos ultraprocessados

    • Açúcares simples

    • Gorduras trans (presentes em frituras e industrializados)

3. Apoiar o fígado

O fígado produz a proteína S, então sua saúde é essencial.

  • Reduza o consumo de álcool

  • Evite excesso de medicamentos sem prescrição

  • Mantenha um peso corporal saudável

  • Consuma alimentos hepatoprotetores:

    • Alcachofra, cúrcuma (açafrão-da-terra), chá de dente-de-leão (com orientação)

    • Vegetais crucíferos (brócolis, couve-flor, couve)

4. Saúde intestinal

A microbiota participa da produção de vitamina K2.

  • Alimentos fermentados: kefir, iogurte natural, chucrute, kimchi

  • Fibras prebióticas: aveia, banana verde, linhaça, alho, cebola, aspargos

5. Manter hidratação e atividade física

  • A boa circulação depende também de sangue fluido e movimento corporal.

Essas estratégias não substituem o tratamento médico, mas complementam e ajudam a melhorar o estado geral, sobretudo em deficiências adquiridas.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Metabolismo da glicose no TDAH

Pesquisas emergentes revelam uma relação complexa entre a dinâmica da glicose cerebral e a manifestação do transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). A dependência do cérebro da glicose como sua principal fonte de energia interage com a regulação de neurotransmissores, déficits de energia cortical e desequilíbrios neuroquímicos observados no TDAH.

As principais descobertas indicam que interrupções no metabolismo da glicose prejudicam a sinalização de dopamina e norepinefrina, comprometem o fornecimento de energia mediado por astrócitos aos neurônios e exacerbam os sintomas centrais de desatenção e impulsividade. Estudos de neuroimagem e bioquímicos demonstram utilização reduzida de glicose em cérebros com TDAH, particularmente em regiões que controlam a função executiva e a regulação emocional (Todd, & Botteron, 2001).

Essas irregularidades metabólicas podem ser decorrentes de resistência à insulina, disfunção dos astrócitos ou fatores genéticos que afetam o transporte de glicose. Estratégias terapêuticas que visam a disponibilidade estável de glicose — como modificações dietéticas, insulina intranasal e agonistas de GLP-1 — mostram-se promissoras na mitigação dos sintomas de TDAH, restaurando o equilíbrio neuroquímico e otimizando a distribuição de energia em circuitos neurais críticos.

Principais Conclusões de estudos recentes

  • Redução do Metabolismo de Glicose: Estudos de neuroimagem e bioquímicos mostram que indivíduos com TDAH apresentam menor utilização de glicose em áreas cerebrais responsáveis por funções executivas e regulação emocional, como o córtex pré-frontal.

  • Impacto nos Neurotransmissores: A diminuição no metabolismo da glicose compromete a sinalização de dopamina e norepinefrina, neurotransmissores essenciais para atenção e controle de impulsos.

  • Papel dos Astrócitos: Os astrócitos, células gliais que fornecem energia aos neurônios, podem ter sua função prejudicada em casos de TDAH, afetando a disponibilidade de energia para a atividade neuronal (Nagai et al., 2019).

Implicações Terapêuticas

  • Estabilização da Glicose Cerebral: Intervenções que visam estabilizar os níveis de glicose no cérebro, como modificações na dieta e uso de agonistas do GLP-1 deveriam ser investigadas no TDAH (Gejl et al., 2013, Li et al., 2024).

  • Insulina Intranasal: Uma hipótese é de que a administração de insulina por via intranasal e outros medicamentos que melhoram a sensibilidade à insulina poderia melhorar a função executiva e a atenção em indivíduos com TDAH, possivelmente ao otimizar o metabolismo da glicose cerebral (Meyer, 2024).

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/