Dieta de exclusão não melhora sintomas do TDAH

Alimentos podem desencadear sintomas de Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH). Portanto, uma dieta de eliminação (DE) pode ser um tratamento eficaz para crianças com TDAH. No entanto, estudos anteriores foram criticados pela natureza do grupo controle, potenciais fatores de confusão que explicam os efeitos observados, cegamento insatisfatório, riscos potenciais de deficiências nutricionais e efetividade a longo prazo e custo-efetividade desconhecidas.

Para abordar essas questões, uma nova pesquisa foi lançada por Bosch e colaboradores (2020). Um total de N = 162 crianças (5 a 12 anos) com TDAH foram randomizadas para dieta de eliminação ou uma dieta padrão saudável. Um braço comparador incluindo N = 60 crianças sendo tratadas exclusivamente com tratamento usual (medicação).

O estudo de dois braços foi realizado em dois centros de psiquiatria juvenil na Holanda, com randomização dentro de cada centro participante. A medida de desfecho primário é a resposta ao tratamento definida como uma redução ≥ 30% em uma escala de classificação DSM-5 para TDAH (SWAN) e/ou em uma escala de classificação de desregulação emocional (SDQ: perfil de desregulação).

A ideia é a avaliação após 5 semanas de tratamento dietético, após as quais os participantes continuam a dieta ou não. As medidas de desfecho secundário incluem o Cronograma Observacional de Diagnóstico de Comportamento Disruptivo (DB-DOS), avaliações de pais e professores sobre sintomas comórbidos, avaliação cognitiva (por exemplo, funções executivas), funcionamento escolar, medidas físicas (por exemplo, peso), atividade motora, padrão de sono, consumo de alimentos, qualidade nutricional da dieta, adesão, bem-estar parental, uso de recursos de saúde e custo-efetividade.

As avaliações ocorrem no início do estudo (T0), após cinco semanas (T1), quatro meses (T2), oito meses (T3) e 12 meses de tratamento (T4). As avaliações de T0, T1 e T4 ocorrem em um dos centros psiquiátricos. As avaliações de T2 e T3 consistem no preenchimento de questionários online apenas pelos pais.

Os resultados do estudo foram publicados no JCPP Advances (Huberts-Bosch et al., 2024). A dieta de eliminação consistiu em uma fase inicial de 5 semanas, durante a qual alimentos potencialmente alergênicos (como leite, ovos, trigo, peixe, soja, amendoim e nozes) foram eliminados da dieta. Posteriormente, houve uma fase de reintrodução gradual desses alimentos ao longo de até 12 meses, monitorando a possível recorrência dos sintomas de TDAH.

A dieta foi comparada com as duas estratégias:

  • Dieta Saudável (DS): Baseada nas diretrizes alimentares holandesas de 2015, esta dieta visava equilibrar a ingestão de nutrientes, promovendo o consumo de alimentos saudáveis e limitando o consumo de alimentos processados e açúcares.

  • Tratamento Usual (TU): Incluiu intervenções padrão para TDAH, como medicação, psicoeducação e terapia comportamental.

Resultados

Após 5 semanas, 34% das crianças no grupo exclusão e 51% no grupo controle mostraram uma resposta parcial ou completa ao tratamento. No grupo TU, 56% dos participantes responderam favoravelmente. A adesão às dietas foi alta em ambos os grupos dietéticos (>88%).

Melhorias pequenas a moderadas na saúde física (pressão arterial, frequência cardíaca e queixas somáticas) foram observadas nos grupos de exclusão e DS, enquanto o grupo TU apresentou piora nesses aspectos.

Crianças mais jovens e com maior gravidade dos sintomas iniciais tiveram melhor resposta ao tratamento. Além disso, níveis mais baixos de qualidade de vida dos pais e maior estresse parental no início do estudo previram uma pior resposta às intervenções dietéticas.

O estudo concluiu que a dieta de eliminação não foi superior à dieta saudável na redução dos sintomas de TDAH em crianças. Os resultados sugerem que, para a maioria das crianças, os sintomas de TDAH não estão enraizados em alergias ou sensibilidades alimentares. Portanto, uma dieta saudável estruturada pode ser uma alternativa viável e menos restritiva para o manejo do TDAH.

Aprenda mais em Nutrição e TDAH.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Nutrição no tremor essencial

O tremor essencial (TE) é um distúrbio neurológico que causa tremores involuntários e rítmicos, geralmente nas mãos, mas também pode afetar a cabeça, voz e outras partes do corpo. A nutrição por si só não cura o TE, mas uma alimentação adequada pode ajudar a minimizar os sintomas, melhorar a saúde neurológica e reduzir fatores que podem piorar o tremor.

Recomendações nutricionais para o tremor essencial:

1. Reduzir cafeína e estimulantes

  • Evite: Café, chá preto/verde, refrigerantes com cafeína, energéticos.

  • Motivo: A cafeína estimula o sistema nervoso central e pode intensificar os tremores.

2. Limitar álcool

  • Nota: Embora o álcool possa temporariamente aliviar o tremor, seu uso frequente não é recomendado e pode piorar o quadro com o tempo.

3. Evitar alimentos ultraprocessados e ricos em açúcar

  • Excesso de açúcar pode causar picos glicêmicos e flutuações de energia, o que pode agravar os tremores.

4. Consumir alimentos ricos em antioxidantes

  • Exemplos: Frutas vermelhas, vegetais verde-escuros, nozes, sementes, azeite de oliva.

  • Motivo: O estresse oxidativo pode contribuir para a degeneração neurológica.

5. Aumentar a ingestão de magnésio, vitamina B6 e B12

  • Fontes de magnésio: Espinafre, abacate, banana, amêndoas.

  • Fontes de B6 e B12: Carnes magras, ovos, leite, peixes, grãos integrais.

  • Importância: Esses nutrientes auxiliam na função neuromuscular e saúde do sistema nervoso.

6. Ômega-3

  • Fontes: Peixes gordurosos (salmão, sardinha), linhaça, chia.

  • Motivo: Tem ação anti-inflamatória e neuroprotetora.

7. Hidratação

  • Manter boa hidratação ajuda na função geral do organismo e pode evitar agravamento dos sintomas por desidratação.

Suplementação

  • Em alguns casos, pode-se considerar suplementar vitaminas do complexo B, magnésio ou ômega-3, mas sempre com orientação médica ou nutricional. Falo sobre o tema no vídeo:

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Principais componentes moleculares do relógico circadiano

Entenda como funcionam os principais componentes moleculares do relógio circadiano — CLOCK, BMAL1, E-box, PER e CRY — que regulam os ritmos de 24 horas no corpo por meio de um sistema de feedback transcricional e translacional (um ciclo de ativação e inibição de genes e proteínas).

1. CLOCK e BMAL1 – Os ativadores do relógio

  • O que são: CLOCK (Circadian Locomotor Output Cycles Kaput) e BMAL1 (Brain and Muscle ARNT-Like 1) são fatores de transcrição, ou seja, proteínas que se ligam ao DNA para ativar a expressão de outros genes, como aqueles envolvidos na glicogênese e gliconeogênese.

  • Função: Eles formam um complexo heterodimérico (CLOCK:BMAL1) que se liga a sequências específicas no DNA chamadas E-boxes para ativar a transcrição de genes do relógio, principalmente PER e CRY.

  • Momento do dia: Esse complexo é mais ativo durante o dia, estimulando a produção de proteínas que irão, mais tarde, desligá-lo — fechando o ciclo. Além dos genes de relógio, centenas de outros genes têm expressão circadiana, dependendo do tecido. Incluem:

Os genes da tabela acima, ativados por CLOCK:BMA1, não têm função direta no relógio. São genes-alvo de saída (outputs) que sintonizam processos fisiológicos com o ciclo de 24h. Voltando à regulação da expressão gênica:

2. E-box – A chave de ativação no DNA

  • O que é: A E-box (do nome enhancer box) é uma sequência específica de DNA (geralmente "CACGTG") encontrada nos promotores de genes-alvo.

  • Função: É onde o complexo CLOCK:BMAL1 se liga para iniciar a transcrição de genes como Per (Period) e Cry (Cryptochrome).

  • Importância: Sem a E-box, o ciclo circadiano molecular não funcionaria, pois é o ponto inicial para a produção das proteínas PER e CRY.

3. PER e CRY – Os inibidores do relógio

  • O que são:

    • PER (Period) e CRY (Cryptochrome) são proteínas codificadas pelos genes ativados por CLOCK:BMAL1.

  • Função:

    • À medida que as proteínas PER e CRY são produzidas, elas se acumulam no citoplasma e formam complexos entre si.

    • Após um tempo, migram para o núcleo e inibem a atividade do complexo CLOCK:BMAL1, interrompendo a transcrição de seus próprios genes.

  • Momento do dia: Eles se acumulam à noite e atingem o pico quando reprimem a transcrição no final da noite, reiniciando o ciclo. Alguns genes, como os envolvidos na degradação e limpeza, expressam-se mais à noite. Distúrbios do sono, como a insônia, podem desregular profundamente a expressão de genes controlados pelo relógio circadiano, especialmente no fígado e em outros relógios periféricos.

Resumo do Ciclo Circadiano Molecular:

  1. Manhã/início do dia:

    • CLOCK:BMAL1 se ligam à E-box e ativam os genes Per e Cry, especialmente durante o dia.

    • PER e CRY começam a ser produzidos, mas ainda não estão ativos no núcleo.

  2. Tarde/noite:

    • PER e CRY se acumulam, formam complexos e entram no núcleo.

  3. Noite/final da madrugada:

    • o dímero PER:CRY liga-se às proteínas CLOCK:BMAL1. Esta interação proteína-proteína resulta em mudanças conformacionais ou bloqueio físico, afetando a capacidade do complexo de recrutar coativadores necessários para transcrição.

    • PER e CRY começam a ser degradados, permitindo que CLOCK:BMAL1 volte a funcionar no próximo ciclo.

Por que isso é importante?

Esse ciclo molecular mantém a precisão do ritmo circadiano. Ele está presente em quase todas as células do corpo e regula:

  • Ciclo sono-vigília

  • Temperatura corporal

  • Produção hormonal

  • Metabolismo

  • Comportamento

Qualquer desregulação nesse sistema (por mutações, luz artificial, alimentação irregular, etc.) pode gerar uma dessincronização entre o relógio central (no núcleo supraquiasmático - SCN) e os relógios periféricos (como o do fígado). Isso resulta em desalinhamento temporal e aumenta o risco de inflamação crônica de baixo grau, resistência insulínica, ganho de peso, aumento de cortisol, modificação da regulação epigenéitca.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/