Estresse e doenças neurodegenerativas

A imagem do artigo "Crosstalk between Oxidative Stress and Inflammation Caused by Noise and Air Pollution—Implications for Neurodegenerative Diseases" mostra como o estresse causado por ruídos ambientais (ocupacionais, rodoviários, ferroviários, aeronáuticos) pode levar a processos de neuroinflamação, estresse oxidativo e neurodegeneração.

Ruídos altos (da rua, de aeronaves, no trabalho ou mesmo atividades de lazer podem gerar estresse por duas vias:

  • Via direta (alta intensidade sonora) → pode causar:

    • Perda auditiva

    • Distúrbios do sono

  • Via indireta (baixa intensidade sonora) → causa:

    • Irritação

    • Dificuldades de comunicação

    • Distúrbios do sono

    • Impacto cognitivo

Corpo e cérebro estão interligados. Estruturas como ínsula, córtex pré-frontal medial (mPFC), hipotálamo, amígdala, hipocampo no cérebro e adrenal são afetadas.

Ativação do eixo HPA e Sistema Nervoso Central

Em situação de estresse o CRH (hormônio liberador de corticotropina) é liberado pelo hipotálamo, ativando a hipófise, que libera hormônio adrenocorticotrófico (ACTH). O ACTH estimula as glândulas adrenais a produzirem:

  • Catecolaminas (adrenalina, noradrenalina) – resposta do sistema nervoso simpático

  • Glicocorticoides (cortisol) – resposta endócrina

Inflamação e estresse oxidativo

As catecolaminas e glicocorticoides, especialmente em estresse crônico, causam ativação do NF-κB (fator de transcrição pró-inflamatório) e liberação de citocinas inflamatórias (TNF-α, IL-6, IL-1β). Isso leva a:

  • Neuroinflamação

  • Estresse oxidativo

  • Degeneração neuronal (risco aumentado de doenças neurodegenerativas como Alzheimer e Parkinson)

Ciclo vicioso

O estresse crônico gera resistência ao cortisol, uma resposta inflamatória exacerbada e mais dano neuronal. Ou seja, cuidar dos níveis de estresse é muito importante para envelhecermos com um cérebro saudável. Faça yoga, durma bem e reduza a carga de trabalho. Além disso, evite sons altos!

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Por que no Parkinson a L-DOPA é usada com a carbidopa?

A L-DOPA (levodopa) é o tratamento mais eficaz e amplamente utilizado para a Doença de Parkinson — um distúrbio neurodegenerativo caracterizado pela perda progressiva de neurônios dopaminérgicos na substância negra do cérebro.

Por que a L-DOPA é usada no Parkinson?

O Parkinson causa uma redução drástica na dopamina cerebral, especialmente nas vias motoras (via nigroestriatal). A dopamina não atravessa a barreira hematoencefálica, então não pode ser administrada diretamente.

A L-DOPA é o precursor imediato da dopamina e consegue atravessar a barreira hematoencefálica. No cérebro, a L-DOPA é convertida em dopamina pela enzima dopa-descarboxilase, restaurando os níveis desse neurotransmissor.

Efeitos da L-DOPA:

  • Melhora os sintomas motores: rigidez, bradicinesia (lentidão), tremores, instabilidade postural.

  • Alivia o comprometimento funcional e melhora a qualidade de vida nos estágios iniciais e intermediários da doença.

Formas de administração:

A L-DOPA é sempre administrada com um inibidor da dopa-descarboxilase periférica (como carbidopa ou benserazida) para:

  • Evitar sua conversão em dopamina fora do cérebro

  • Reduzir efeitos colaterais periféricos (náuseas, vômitos, hipotensão)

  • Aumentar a quantidade que chega ao cérebro

Ex: Sinemet (L-DOPA + Carbidopa), Prolopa (L-DOPA + Benserazida)

Problemas com o uso prolongado:

  • Flutuações motoras ("efeito liga-desliga"): os sintomas voltam entre as doses.

  • Discinesias: movimentos involuntários anormais, causados por excesso de dopamina em certas regiões.

  • Redução da resposta ao longo dos anos: tolerância ou progressão da perda neuronal.

Por isso, muitas vezes os médicos iniciam o tratamento com agonistas dopaminérgicos ou combinam diferentes classes de fármacos para adiar o uso exclusivo da L-DOPA ou potencializar seus efeitos.

Tratamentos para Parkinson

Estratégias terapêuticas:

  • Em pacientes jovens: muitas vezes começa-se com agonistas dopaminérgicos para postergar o uso da L-DOPA.

  • Em pacientes idosos ou com sintomas mais intensos: L-DOPA é geralmente a escolha inicial.

  • Com o tempo, são feitas combinações personalizadas entre essas classes para melhorar o controle dos sintomas e minimizar os efeitos colaterais.

Linha do tempo do tratamento do Parkinson

Estágio Inicial (diagnóstico recente, sintomas leves)

  • Objetivo: Controlar sintomas com o menor risco de efeitos colaterais a longo prazo, sem administração de L-DOPA para postergar discinesias.

  • Tratamento comum:

    • Agonistas dopaminérgicos (ex: pramipexol, ropinirol)

    • Ou inibidores da MAO-B (ex: rasagilina) em casos muito leves

Estágio Moderado (sintomas mais evidentes, início de impacto funcional)

  • Objetivo: Melhorar o controle motor, manter a qualidade de vida.

  • Tratamento comum:

    • L-DOPA + carbidopa/benserazida

    • Pode-se manter agonistas dopaminérgicos em associação

    • Adição de inibidores da COMT para prolongar o efeito da L-DOPA

  • Efeitos colaterais: náusea, hipotensão, sonolência

Estágio Avançado (anos após o início, flutuações motoras)

  • Problemas comuns:

    • Flutuações motoras ("liga-desliga")

    • Discinesias (movimentos involuntários)

  • Estratégias de ajuste:

    • Fracionar a dose de L-DOPA (mais vezes ao dia)

    • Adicionar amantadina para reduzir discinesias

    • Otimizar dose de agonistas dopaminérgicos ou COMT/MAO-B

    • Considerar formulações de liberação controlada (L-DOPA XR, patch de rotigotina)

Estágio Muito Avançado (resistência a medicamentos orais, complicações graves)

  • Opções terapêuticas mais intensivas:

    • Infusão contínua de L-DOPA intestinal (Duodopa)

    • Estimulação cerebral profunda (DBS): implante cirúrgico que modula circuitos motores

    • Suporte multidisciplinar (fisioterapia, fono, nutrição, psicologia)

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Seu filho come terra? Conheça as causas nutricionais da picamalácia

Picamalácia é um um transtorno alimentar caracterizado pelo desejo compulsivo e persistente de ingerir substâncias não alimentares, como barro, terra, gelo, sabão, cabelo, giz, entre outros.

O termo "malácia" vem do grego malakos, que significa "macio" ou "amolecido". Já "pica" vem do latim, nome de um pássaro (a pega, ou "pica-pica") conhecido por comer de tudo.

Assim, picamalácia pode ser interpretada como o impulso de consumir substâncias macias ou que amolecem facilmente, como gelo, terra úmida, amido de milho cru, argila, sabão ou giz.

Possíveis causas:

As causas da pica (e suas variantes como a pica malácia) não são completamente compreendidas, mas podem incluir deficiências nutricionais, como:

  • Ferro (ferropenia): muito comum, especialmente associada à compulsão por gelo (pagofagia).

  • Zinco

  • Cálcio

  • Outros minerais essenciais.

Condições médicas associadas:

  • Anemia (especialmente ferropriva)

  • Anemia na gravidez

  • Doenças intestinais com má absorção

Fatores psicológicos e neurológicos:

  • Transtornos do espectro autista (TEA)

  • Transtorno obsessivo-compulsivo (TOC)

  • Déficit cognitivo

  • Estresse e negligência emocional

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/