Psiquiatria nutricional

Transtornos mentais podem ser entendidos como padrões psicológicos marcados por sofrimento ou comprometimento clinicamente significativo, refletindo disfunções psicobiológicas subjacentes (Borrego-Ruiz, Borrego, 2025).

Estima-se que 970 milhões de indivíduos em todo o mundo vivam com um transtorno de saúde mental, com sintomas frequentemente surgindo na infância, adolescência ou início da idade adulta e, muitas vezes, persistindo ao longo da vida, prejudicando o funcionamento e a qualidade de vida. A prevalência de transtornos mentais aumenta com a idade, especialmente em condições relacionadas ao humor.

As estratégias clínicas tipicamente aplicadas para o tratamento de transtornos mentais incluem farmacoterapias e psicoterapias, que demonstraram benefícios gerais modestos, mas frequentemente com tamanhos de efeito pequenos e heterogeneidade significativa entre os diferentes transtornos mentais.

O processo de descoberta de medicamentos para tratar transtornos de saúde mental também enfrenta desafios significativos, incluindo altas taxas de falha, longos tempos de desenvolvimento e desalinhamento com os sistemas diagnósticos atuais, destacando ainda mais as dificuldades no desenvolvimento de tratamentos mais eficazes.

Existem muitos efeitos adversos associados aos medicamentos psicotrópicos, incluindo benzodiazepínicos, antidepressivos e antipsicóticos incluindo aumento do risco de dislipidemia, metabolismo alterado da glicose, sintomas extrapiramidais, síndrome metabólica, ganho de peso, diabetes tipo 2, disfunção sexual, bem como doenças respiratórias e cardiovasculares.

A depressão, por exemplo, não é associada apenas à mudanças mentais (humor, pensamentos), mas também a questões biológicas (alterações imunes e metabólicas). Além da psicoterapia e farmacoterapia, tratamentos que englobam estratégias antiinflamatórias e de melhorias no metabolismo são mais eficientes. Neste sentido nasceu a ciência da psiquiatria nutricional ou nutrição aplicada à psiquiatria.

Esta disciplina abrange o estudo de intervenções dietéticas e nutricionais para a prevenção ou tratamento de transtornos mentais. Vários componentes dietéticos influenciam a expressão de genes, podem ter efeito antioxidante e antiinflamatório, na melhoria da integridade mitocondrial e no reforço imunológico. Além de fornecem proteção contra diversas condições relacionadas à saúde, incluindo câncer, obesidade, diabetes tipo 2, infecções microbianas, doenças cardiovasculares, gastrointestinais e neurodegenerativas, têm impacto na saúde mental e no neurodesenvolvimento.

O cérebro eficiente depende de muitos nutrientes - aminoácidos (p. ex., triptofano, tirosina, fenilalanina e metionina), vitaminas (p. ex., B6, B12 e folato), minerais (p. ex., zinco, magnésio, cobre, ferro, selênio e lítio), fibras (ou seja, por meio da secreção de ácidos graxos de cadeia curta pelo microbioma intestinal) e ácidos graxos ômega-3 (p. ex., ácidos linolênico, eicosapentaenoico e docosahexaenoico).

O desenvolvimento e a funcionalidade do cérebro dependem da disponibilidade de nutrientes essenciais, o que torna razoável inferir que os padrões alimentares podem influenciar a atividade cerebral. Isso estabelece a dieta como um fator modificável para abordar o desempenho cognitivo, o humor e problemas de saúde mental.

Além disso, neurotransmissores, neuropeptídeos, hormônios intestinais endógenos e o microbioma intestinal são diretamente impactados pela composição nutricional específica da dieta. Nesse contexto, o microbioma intestinal desempenha um papel fundamental na manutenção da integridade funcional e estrutural do sistema gastrointestinal. Certos componentes da dieta podem alterar o microbioma intestinal, levando ao comprometimento da barreira intestinal contra toxinas, metabólitos microbianos e patógenos, bem como a alterações na absorção de nutrientes, ao início de inflamação crônica e à subsequente ativação de vias neurais que influenciam diretamente a funcionalidade do sistema nervoso central por meio do eixo intestino-cérebro.

Esta área ainda está em estágios iniciais e novos estudos que incorporem a avaliação de biomarcadores como níveis de citocinas inflamatórias, deficiências nutricionais, perfis genômicos, análise da composição do microbioma, insights sobre padrões alimentares e necessidades nutricionais individuais, bem como indicadores que reflitam a interação entre terapias tradicionais e fatores dietéticos são importantes para uma maior compreensão sobre como a nutrição pode atuar na prevenção e tratamento de transtornos mentais.

Além disso, embora as intervenções dietéticas possam ser uma estratégia de suporte valiosa, elas não são curativas para doenças mentais graves e devem sempre ser consideradas como parte de um plano de tratamento abrangente que inclua outras abordagens que tenham sido mais amplamente validadas. Aprenda mais em https://t21.video.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Intolerância à histamina e SIBO

A histamina e a SIBO (Supercrescimento Bacteriano do Intestino Delgado) estão bastante interligadas, e muitos sintomas de um podem se sobrepor ao outro — o que às vezes confunde diagnósticos. Vamos destrinchar:

🧫 O que é SIBO?

SIBO (Small Intestinal Bacterial Overgrowth) é o crescimento anormal de bactérias no intestino delgado, onde normalmente existe uma população bacteriana bem menor do que no intestino grosso.

Causas comuns:

  • Motilidade intestinal lenta (ex: síndrome do intestino irritável, diabetes)

  • Uso prolongado de inibidores de ácido (como omeprazol)

  • Cirurgias intestinais

  • Doenças que afetam o trato gastrointestinal (como esclerodermia)

Sintomas:

  • Distensão abdominal

  • Gases em excesso

  • Diarreia ou constipação

  • Dores abdominais

  • Má absorção de nutrientes

🌡️ O que é Histamina?

A histamina é uma amina biogênica produzida pelo corpo (especialmente por mastócitos e basófilos) e também está presente em muitos alimentos. Ela tem funções em:

  • Resposta imune (inflamação e alergias)

  • Secreção gástrica

  • Regulação do sono e do apetite

🤯 A Relação entre Histamina e SIBO

  1. Produção bacteriana de histamina:

    • Algumas bactérias que crescem em excesso no intestino delgado em casos de SIBO (como certas cepas de Lactobacillus, Enterobacteriaceae, Clostridia) podem produzir histamina.

    • Isso pode levar a um quadro de intolerância à histamina ou sintomas semelhantes a uma reação alérgica, mesmo sem exposição a alérgenos.

  2. Déficit de DAO (Diaminooxidase):

    • DAO é a enzima responsável por degradar a histamina no intestino.

    • SIBO pode inibir a produção ou função da DAO, levando a um acúmulo de histamina.

  3. Sintomas comuns:

    • Dor de cabeça

    • Inchaço abdominal

    • Urticária, coceira

    • Pressão baixa

    • Náuseas

    • Palpitações

    • Intolerância a alimentos ricos em histamina (vinho, queijos curados, embutidos, peixe em conserva, etc.)

✅ Manejo possível:

  • Tratar o SIBO: com antibióticos (rifaximina, metronidazol), dieta específica (como a low-FODMAP ou dieta específica para SIBO), probióticos selecionados.

  • Dieta com baixa histamina: para reduzir sintomas durante o tratamento.

  • Suplementação de DAO: em alguns casos.

  • Evitar alimentos fermentados e ricos em histamina.

  • Tratar causas subjacentes (como motilidade alterada).

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Infecção intestinal, autoimunidade, diarreia e SIBO

Após infecção por certas bactérias patogênicas (como Campylobacter jejuni, E. coli, Salmonella) toxinas são produzidas (como CdtB). O sistema imune reconhece a toxina como inimiga e cria anticorpos para combatê-la.

Este artigo investigou a presença de anticorpos anti-CdtB e também de anticorpos anti-vinculina em diferentes subtipos da síndrome do intestino irritável (SII), nomeadamente SII com diarreia (SII-D), SII mista (SII-M) e SII com obstipação (SII-C).​

A vinculina é uma proteína presente nas células do intestino (e de outros tecidos), responsável por manter a estrutura e ligação entre células — tipo uma "cola" entre elas.

Às vezes, os anticorpos criados contra a toxina CdtB confundem a vinculina como alvo (isso é chamado de mimetismo molecular). Como resultado o corpo começa a atacar a própria vinculina (reação autoimune leva) levando a aumento da hiperpermeabilidade intestinal.

O estudo analisou amostras de plasma de 2.375 pacientes com SII-D (diarreia), 25 com SII-M (misto), 30 com SII-C (constipado) e 43 indivíduos saudáveis. Os níveis de anticorpos anti-CdtB e anti-vinculina foram mais elevados nos pacientes com SII-D e mais baixos nos indivíduos saudáveis e com SII-C.

A vinculina, aquela proteína “cola” das células, também participa na estrutura e função dos neurônios entéricos (aqueles que controlam os movimentos do intestino). Quando o corpo produz anticorpos anti-vinculina, pode haver dano ou disfunção na motilidade intestinal — ou seja, o intestino se move mais devagar do que deveria.

A principal defesa natural contra o SIBO é o movimento peristáltico (as contrações que "varrem" o intestino). Se essa “vassoura” está quebrada (por causa de autoanticorpos como anti-vinculina), as bactérias que deveriam ficar no cólon podem subir para o intestino delgado, causando supercrescimento bacteriano → SIBO.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/