SIBO no autismo e TDAH (transtornos do neurodesenvolvimento)

O supercrescimento bacteriano do intestino delgado (SIBO) é caracterizado por um aumento anormal de bactérias no intestino delgado, o que pode levar a problemas gastrointestinais e potencialmente afetar a saúde neurológica e mental. Há uma ligação sugerida entre SIBO e transtornos psiquiátricos e do neurodesenvolvimento, incluindo autismo e TDAH, embora os mecanismos exatos permaneçam obscuros [1].

Um estudo teve como objetivo avaliar a prevalência de SIBO em crianças com transtornos do espectro autista (TEA) usando testes respiratórios de hidrogênio. Ele descobriu que crianças com TEA tinham uma prevalência maior de SIBO em comparação com crianças típicas, sugerindo uma ligação potencial entre SIBO e autismo [2].

Outro estudo destacou a importância do SIBO em doenças gastrointestinais e observou sua prevalência em crianças com dor abdominal, o que pode ser relevante para crianças com autismo, dada a ocorrência comum de sintomas gastrointestinais nessa população [3].

Embora não haja um estudo direto ligando SIBO diretamente ao TDAH, a associação entre microbiota intestinal e TDAH foi explorada. Uma revisão sistemática encontrou resultados altamente heterogêneos em relação à composição da microbiota intestinal em indivíduos com TDAH, indicando que a relação permanece obscura [4].

Outro estudo encontrou diversidade reduzida da alfa diversidade em pacientes jovens com TDAH, sugerindo uma ligação potencial entre a microbiota intestinal e a patogênese do TDAH [5].

Tanto o TDAH quanto o autismo são associados a composições distintas da microbiota intestinal. Um estudo descobriu que crianças com TDAH e TEA compartilhavam perfis semelhantes de microbiota intestinal, diferindo de controles não afetados. Isso sugere uma ruptura da barreira intestinal e desregulação imunológica nessas populações [6].

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Distúrbios gastrointestinais no autismo são mais estudados

Os distúrbios gastrointestinais funcionais que são comuns no autismo podem derivar de mutações genéticas previamente ligadas a sintomas comportamentais no transtorno do espectro do autismo (TEA).

Alterações na composição da microbiota e a presença de um intestino permeável causado por função de barreira epitelial prejudicada contribuem para alterações na estrutura e função do SNC relevantes para os fenótipos neurológicos. Na última década, acumularam-se evidências que sugerem que o comprometimento do eixo intestino-cérebro mediado pela microbiota também contribui para a patogênese do TEA e de outros distúrbios.

Mais de 90% dos 62 genes de risco de autismo de maior classificação no banco de dados SFARI são expressos em tecidos cerebrais e gastrointestinais, de acordo com o banco de dados GTEx de tecido genotípico, sugerindo que eles afetam mutuamente o cérebro e o intestino.

Todos os genes SFARI listados no TEA são expressos em células da crista neural murina e células derivadas da crista neural entérica que dão origem a neurônios periféricos e entéricos e glia, e ao intestino fetal (dados não publicados). A expressão de tantos genes associados ao TEA no trato gastrointestinal, incluindo o sistema nervoso entérico (SNE), bem como regiões cerebrais desde os estágios embrionário até o adulto, sugere que essas proteínas podem desempenhar um papel fundamental no desenvolvimento do sistema periférico e do SNC.

Há grande heterogeneidade clínica no TEA, múltiplas causas genéticas subjacentes, fatores ambientais e disbiose que levam a diferentes manifestações de desenvolvimento; mas a consciência das queixas gastrointestinais no TEA parece estar aumentando. Avaliar a disfunção gastrointestinal é um desafio, uma vez que sintomas como dor, desconforto, azia ou náusea são difíceis de avaliar e interpretar devido a dificuldades de comunicação e alteração na percepção da dor. A avaliação precisa é muito importante, exames de microbiota, genética e metabolômica ajudam muito. Precisa de ajuda? Marque aqui sua consulta de nutrição online.

Referências

1) B Bogielski et al. Association between small intestine bacterial overgrowth and psychiatric disorders. Frontiers in endocrinology (2024). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/39497810/

2) L Wang et al. Hydrogen breath test to detect small intestinal bacterial overgrowth: a prevalence case-control study in autism. European child & adolescent psychiatry (2017). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/28799094/

3) K Siniewicz-Luzeńczyk et al. Small intestinal bacterial overgrowth syndrome in children. Przeglad gastroenterologiczny (2015). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/25960812/

4) C Bundgaard-Nielsen et al. Gut microbiota profiles of autism spectrum disorder and attention deficit/hyperactivity disorder: A systematic literature review. Gut microbes (2020). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32329656/

5) A Prehn-Kristensen et al. Reduced microbiome alpha diversity in young patients with ADHD. PloS one (2018). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/30001426/

6) C Bundgaard-Nielsen et al. Children and adolescents with attention deficit hyperactivity disorder and autism spectrum disorder share distinct microbiota compositions. Gut microbes (2023). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/37199526/

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Aleitamento materno é um dos fatores de proteção no TEA

O que acontece antes, durante e após a gravidez influenciam o cérebro da criança. O tipo de parto influencia a microbiota e o neurodesenvolvimento. O aleitamento materno também tem um impacto importante.

O leite materno não é apenas um alimento, mas um poderoso modulador do desenvolvimento infantil. Ele contém bioativos que influenciam a microbiota intestinal e programam a cognição e o comportamento da criança! ✨👶

A imagem abaixo ilustra o papel do leite materno no chamado "Lactocrine Programming", que afeta o desenvolvimento cerebral e o comportamento do bebê a curto e longo prazo.

📌 O que influencia esse processo?

➡️ Fatores maternos: Genes, idade, dieta, saúde mental, estilo de vida e até a forma de parto.

➡️ Fatores infantis: Idade gestacional, sexo e temperamento do bebê.

➡️ Bioativos não nutricionais: Componentes do leite materno que regulam a microbiota, o sistema imunológico e os neurotransmissores.

Na imagem a seguir vemos os componentes do leite – como hormônios, oligossacarídeos do leite humano (HMOs), células maternas e fatores imunológicos – que interagem com a microbiota intestinal e influenciam o cérebro do bebê. Isto tudo apoia:

✔️ Cognição e aprendizado 🧠📚
✔️ Crescimento neuronal e desenvolvimento do SNC 🧬
✔️ Memória e linguagem 🗣️
✔️ Comportamento social e emocional 💛

Essa sinergia entre nutrientes, microbiota intestinal e fatores bioativos do leite materno reforça a importância da amamentação na formação de um cérebro saudável!

💬 Você sabia que o leite materno tem esse impacto? Lembro que a alimentação da mãe tem um impacto direto na composição do leite materno e, consequentemente, no desenvolvimento do bebê. O leite materno é sempre nutricionalmente rico, mas uma alimentação equilibrada melhora sua composição e potencializa os efeitos para o bebê. Não dá para esquecer fontes de ômega-3, por exemplo.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Disruptores endócrinos e SIBO

Os disruptores endócrinos (DEs) são substâncias químicas que interferem no funcionamento do sistema hormonal. Eles podem mimetizar, bloquear ou alterar a produção, transporte e eliminação de hormônios, causando efeitos adversos na saúde, especialmente no desenvolvimento fetal, crescimento, metabolismo e reprodução.

Esses compostos estão presentes em plásticos, pesticidas, cosméticos, alimentos e até na água que bebemos. A persistência dos disruptores endócrinos no organismo depende da estrutura química da substância e da capacidade do corpo de metabolizá-la e eliminá-la. Estudos mostravam que substâncias dos plásticos eram eliminadas em dias, mas estudos recentes mostram acúmulo no intestino e até no cérebro.

Disruptores endócrinos e SIBO

Toxinas ambientais com efeitos estrogênicos (xenoestrógenos) podem influenciar o crescimento excessivo de bactérias no intestino delgado (SIBO) e a proliferação de microfilárias por meio de vários mecanismos:

  1. Desregulação da Microbiota Intestinal:

    • Toxinas estrogênicas, como bisfenol A (BPA), ftalatos e pesticidas, podem alterar a composição da microbiota intestinal, levando à disbiose.

    • Mudanças na flora intestinal podem favorecer o crescimento excessivo de bactérias no intestino delgado, contribuindo para o SIBO.

  2. Redução da Motilidade Intestinal:

    • Os estrogênios influenciam a motilidade gastrointestinal, afetando vias de serotonina e o sistema nervoso entérico.

    • Xenoestrógenos podem reduzir o trânsito intestinal, criando um ambiente propício para o crescimento excessivo de bactérias.

  3. Modulação do Sistema Imunológico:

    • Toxinas estrogênicas podem alterar as respostas imunológicas, enfraquecendo as defesas contra patógenos, incluindo bactérias e infecções parasitárias, como microfilárias.

    • Elas podem suprimir a função imunológica, permitindo a proliferação de infecções oportunistas e vermes parasitas.

  4. Aumento da Permeabilidade Intestinal ("Leaky Gut"):

    • Alguns disruptores endócrinos (EDCs) comprometem a integridade da barreira intestinal, aumentando sua permeabilidade.

    • Isso pode facilitar a translocação de bactérias e agravar os sintomas do SIBO.

  5. Influência Hormonal nas Infecções Parasitárias:

    • As microfilárias (fase larval dos vermes filariais) podem prosperar em condições onde a sinalização estrogênica afeta a regulação imunológica.

    • Alguns parasitas filariais demonstram respostas específicas aos hormônios do hospedeiro, potencialmente impactando sua sobrevivência e reprodução.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/