Desacoplamento da cadeia transportadora de elétrons no autismo

"Respiratory chain uncoupling" (desacoplamento da cadeia respiratória) refere-se a um processo no qual a cadeia respiratória mitocondrial — a série de reações bioquímicas que normalmente geram ATP (a principal molécula de energia da célula) usando oxigênio — é "desacoplada", ou seja, não gera ATP de maneira eficiente. Em vez de ser usada para gerar ATP, a energia da cadeia respiratória é dissipada como calor.

Como funciona a cadeia respiratória?

A cadeia respiratória é composta por uma série de proteínas localizadas na membrana interna da mitocôndria, que transferem elétrons ao longo de uma cadeia (complexos I a V na imagem abaixo).

Esse processo cria um gradiente de prótons (H+) através da membrana mitocondrial interna. Os prótons são bombeados de um lado a outro da membrana por estes complexos. O gradiente gerado é utilizado pela ATP sintase (complexo V) para produzir o ATP, que as células usam como energia.

O que é o desacoplamento?

O desacoplamento ocorre quando essa transferência de elétrons é dissociada da produção de ATP, geralmente por ação de proteínas chamadas desacopladoras (como as proteínas desacopladoras 1, 2 e 3 - UCPs), ou outros fatores. Como resultado, a energia que seria usada para produzir ATP é liberada sob a forma de calor, em vez de ser convertida em energia útil.

Relação com o autismo

A relação entre o desacoplamento da cadeia respiratória e o autismo é uma área de pesquisa em desenvolvimento. Um dos maiores pesquisadores nesta área é o Dr. Richard Frye. Algumas evidências sugerem que disfunções mitocondriais podem estar associadas a certos tipos de autismo, incluindo casos de autismo idiopático. Algumas teorias consideram que:

  • O estresse oxidativo e a disfunção mitocondrial podem afetar o funcionamento cerebral e estar ligados a condições neurológicas, como o autismo. A disfunção mitocondrial é mais comum no TEA.

  • Se a cadeia respiratória for desacoplada em áreas específicas do cérebro, pode haver déficits energéticos nas células nervosas, o que poderia afetar o desenvolvimento cerebral e o comportamento.

  • O desacoplamento mitocondrial pode contribuir para alterações no metabolismo celular, prejudicando a comunicação entre os neurônios e resultando em sintomas típicos do autismo, como dificuldades de interação social, comunicação, comportamentos repetitivos, alterações musculares e digestivas.

Embora essa teoria seja interessante, mais estudos são necessários para entender completamente como a disfunção mitocondrial e o desacoplamento podem influenciar o desenvolvimento do autismo. O mecanismo exato do que isto acontece não é claro. Possíveis razões incluem alterações genéticos, estresse oxidativo, inflamação, déficit energético neuronal, desregulação do cálcio celular nos neurônios, alterações na plasticidade neuronal, influências ambientais (infecções, exposição a toxinas, falta de nutrientes).

Podemos analisar a função mitocondrial a partir de exames metabolômicos e tentar corrigir as questões observadas com nutrientes como coenzima Q10, ácido alfa lipóico, carnitina, complexo B, magnésio, antioxidantes, ômega-3). Falo mais sobre este tema nos cursos:

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

O que é agrarianismo?

Agrarianismo é uma ideologia e filosofia política que enfatiza a importância da agricultura e da vida rural como base para uma sociedade equilibrada, justa e sustentável. Essa visão valoriza os pequenos agricultores, a posse descentralizada da terra e a conexão entre as pessoas e a natureza.

Principais Características do Agrarianismo

  1. Valorização da Agricultura – Defende a vida rural e o trabalho agrícola como fundamentais para a sociedade.

  2. Distribuição da Terra – Geralmente apoia uma distribuição mais equitativa da terra, evitando grandes latifúndios.

  3. Simplicidade e Autossuficiência – Promove uma vida mais simples e autônoma, baseada no trabalho no campo.

  4. Crítica à Industrialização Excessiva – Enxerga o crescimento descontrolado da indústria e das cidades como ameaças à qualidade de vida e à moralidade social.

  5. Sustentabilidade e Preservação Ambiental – Muitas vezes está associado a práticas agrícolas sustentáveis e ecológicas.

O agrarianismo foi defendido por figuras como Thomas Jefferson, nos Estados Unidos, e teve influência em diversos movimentos de reforma agrária ao longo da história. No Brasil, ele aparece em discussões sobre reforma agrária e na defesa da agricultura familiar.

Esta filosofia sugere que o regional e o tradicional contêm bens que não podem ser replicados por pessoas focadas em aquisição ou instituições guiadas por algum ideal de humanidade abstrata. Nesse sentido, se opõe aos defensores do crescimento e da globalização. Apesar de seus ideais positivos, enfrenta diversas críticas.

Críticas ao agrarianismo

1. Romantização da Vida Rural

O agrarianismo idealiza a vida no campo como mais simples e moralmente superior, ignorando os desafios reais, como o isolamento, a pobreza e a falta de infraestrutura. Muitas sociedades agrárias historicamente enfrentaram baixos níveis de educação, saúde precária e difícil acesso a serviços básicos.

2. Ineficiência Econômica

Economias baseadas na agricultura de pequena escala podem ter menor produtividade em comparação com modelos industriais e tecnológicos. A ênfase na agricultura pode limitar o desenvolvimento de setores essenciais, como indústria e tecnologia.

3. Resistência ao Progresso Tecnológico

Alguns defensores do agrarianismo veem a industrialização e a urbanização como ameaças, o que pode levar a uma rejeição de inovações tecnológicas que aumentam a eficiência agrícola. A dependência exclusiva da agricultura pode deixar a economia vulnerável a fatores climáticos e oscilações de mercado.

4. Dificuldade de Sustentabilidade em Larga Escala

Em sociedades modernas e populosas, a produção agrícola artesanal pode não ser suficiente para alimentar grandes populações. Modelos econômicos mistos, que combinam agricultura com tecnologia e indústria, costumam ser mais eficientes e sustentáveis.

5. Desafios Sociais e Políticos

Reformas agrárias inspiradas no agrarianismo nem sempre resultam em sucesso. Algumas experiências de redistribuição de terra falharam devido à falta de apoio técnico, infraestrutura ou mercados para escoar a produção. Países que tentaram implementar sistemas puramente agrários, como algumas experiências socialistas no século XX, enfrentaram crises econômicas severas.

A alternativa capitalista, com suas potenciais vantagens em termos de eficiência e inovação, também apresenta falhas, como a concentração da renda, a exploração do meio ambiente, as crises econômicas e falhas de mercado (market failures). Uma falha de mercado ocorre quando a economia de livre mercado não consegue alocar recursos de forma eficiente, causando prejuízos sociais e econômicos.

Principais Tipos de Falhas de Mercado

🔹 Externalidades – Quando uma transação afeta terceiros sem compensação (exemplo: poluição gerada por uma fábrica que prejudica a população).
🔹 Bens Públicos – O mercado não fornece adequadamente bens que todos podem usar (exemplo: segurança pública, iluminação pública).
🔹 Monopólios e Poder de Mercado – Empresas dominantes podem abusar do poder e cobrar preços excessivos.
🔹 Assimetria de Informação – Quando uma parte da negociação tem mais informações que a outra (exemplo: empresas vendendo produtos com defeitos ocultos).

O capitalismo gera mais crescimento econômico e inovação do que o agrarianismo, mas as falhas de mercado mostram que ele não é perfeito e precisa de regulamentações para minimizar desigualdades e danos ambientais.

Conciliando agrarianismo e capitalismo

Conciliar agrarianismo e capitalismo é desafiador, pois o primeiro valoriza uma economia baseada na agricultura e na vida rural, enquanto o segundo enfatiza mercados livres, inovação e crescimento econômico. No entanto, é possível encontrar um equilíbrio entre ambos.

Uma abordagem viável é combinar elementos do agrarianismo com o capitalismo, criando políticas que incentivem a agricultura sustentável dentro de um sistema de mercado eficiente.

Entre as possíveis formas de conciliação destacam-se:

Agricultura Sustentável e Tecnologia

Investimentos em agrotecnologia, como agricultura de precisão, biotecnologia e inteligência artificial, para aumentar a produtividade sem destruir o meio ambiente. Uso de práticas regenerativas para manter a fertilidade do solo e reduzir a dependência de agroquímicos.

Empreendedorismo no Setor Rural

Criação de startups agrícolas que usem tecnologia para melhorar a produção e distribuição. Incentivo às cooperativas agrícolas, onde pequenos produtores se unem para competir no mercado sem depender de grandes corporações.

Valorização do Mercado Local e Produção Familiar

Estímulo ao consumo de produtos locais e orgânicos, criando mercados diretos entre produtores e consumidores. Incentivo às políticas de comércio justo, garantindo que pequenos agricultores recebam preços adequados por seus produtos.

Reforma Agrária Equilibrada e Propriedade Privada

Implementação de modelos de incentivo à produção agrícola sem excluir a propriedade privada. Apoio a créditos e financiamento acessíveis para pequenos e médios produtores.

Sustentabilidade e Responsabilidade Social

Criação de incentivos fiscais para empresas que adotem práticas sustentáveis na produção agrícola. Regulamentação do uso da terra para evitar exploração predatória e garantir a preservação ambiental.

O agrarianismo não precisa ser incompatível com o capitalismo. Quando combinado com tecnologia, sustentabilidade e políticas inteligentes, é possível ter um setor agrícola forte dentro de um modelo capitalista, garantindo produção eficiente e qualidade de vida para trabalhadores rurais.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Vitamina B9 e autismo

Uma meta-análise envolvendo 4.459 casos de TEA e 1.225.835 controles descobriu que a suplementação materna de folato durante a gravidez reduziu significativamente o risco de TEA na prole, particularmente em populações ocidentais (OR=0,817, IC de 95%: 0,671-0,996, P=0,045) [1].

Outra meta-análise de 10 estudos com 23 subestudos (9.795 casos de TEA) relatou que a suplementação de ácido fólico durante o início da gravidez foi associada a um menor risco de TEA na prole (OR 0,57, IC de 95% 0,41-0,78) [2].

Um Ensaios clínicos aleatorizado controlado avaliou a eficácia da suplementação oral de ácido folínico em crianças com TEA. Ele encontrou melhorias significativas nos sintomas do autismo, particularmente em crianças com altos títulos de autoanticorpos do receptor de folato [3].

Já o Japan Environment and Children's Study, um estudo prospectivo de coorte de nascimentos em todo o país, não encontrou associação significativa entre suplementação pré-natal de ácido fólico e TEA em filhos de 3 anos de idade [4].

Um estudo sobre subtipos de folato no sangue do cordão umbilical indicou que concentrações mais altas de ácido fólico não metabolizado (UMFA) no sangue do cordão umbilical estavam associadas a um risco maior de TEA em crianças negras (aORquartil4: 9,85; IC de 95%: 2,53, 38,31) [5].

O estudo CHARGE descobriu que a ingestão materna de ácido fólico durante o primeiro mês de gravidez estava associada à redução do risco de TEA (OR ajustado: 0,62; IC de 95%: 0,42, 0,92) [6].

Outro estudo descobriu que o uso materno de vitaminas pré-natais durante o segundo trimestre estava associado a menores chances de pontuações clinicamente elevadas na Escala de Responsividade Social em crianças [7].

Mecanismos e fatores genéticos

Autoanticorpos do receptor de folato:

Alta prevalência de autoanticorpos do receptor de folato sérico foi observada em crianças com TEA, sugerindo potenciais defeitos na absorção de ácido fólico [8].

Influências genéticas:

Polimorfismos do gene MTHFR influenciaram significativamente o risco de TEA, indicando que diferenças genéticas no metabolismo do folato poderiam explicar algumas inconsistências nas descobertas [9].

Resumo

A suplementação materna de folato durante a gravidez parece ter um papel protetor contra TEA na prole, particularmente quando tomada no início da gravidez e em doses adequadas.

Apesar de alguns estudos não mostrarem associação, outros destacam a importância do momento, dosagem e fatores genéticos no metabolismo do folato.

A presença de autoanticorpos do receptor de folato e polimorfismos genéticos pode modular a relação entre a suplementação de folato e o risco de TEA.

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Referências

1) XF Yu et al. [Association between maternal folate supplementation during pregnancy and the risk of autism spectrum disorder in the offspring: a Meta analysis]. Zhongguo dang dai er ke za zhi = Chinese journal of contemporary pediatrics (2017). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/28302198/

2) X Liu et al. Prenatal Folic Acid Supplements and Offspring's Autism Spectrum Disorder: A Meta-analysis and Meta-regression. Journal of autism and developmental disorders (2021). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/33743119/

3) PK Panda et al. Efficacy of oral folinic acid supplementation in children with autism spectrum disorder: a randomized double-blind, placebo-controlled trial. European journal of pediatrics (2024). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/39243316/

4) H Nishigori et al. Prenatal folic acid supplementation and autism spectrum disorder in 3-year-old offspring: the Japan environment and children's study. The journal of maternal-fetal & neonatal medicine : the official journal of the European Association of Perinatal Medicine, the Federation of Asia and Oceania Perinatal Societies, the International Society of Perinatal Obstetricians (2021). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/34856862/

5) R Raghavan et al. A prospective birth cohort study on cord blood folate subtypes and risk of autism spectrum disorder. The American journal of clinical nutrition (2020). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32844208/

6) RJ Schmidt et al. Maternal periconceptional folic acid intake and risk of autism spectrum disorders and developmental delay in the CHARGE (CHildhood Autism Risks from Genetics and Environment) case-control study. The American journal of clinical nutrition (2012). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/22648721/

7) JM Braun et al. Brief report: are autistic-behaviors in children related to prenatal vitamin use and maternal whole blood folate concentrations?. Journal of autism and developmental disorders (2014). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/24710813/

8) J Zhou et al. High prevalence of serum folate receptor autoantibodies in children with autism spectrum disorders. Biomarkers : biochemical indicators of exposure, response, and susceptibility to chemicals (2018). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/29578363/

9) B Hoxha et al. Folic Acid and Autism: A Systematic Review of the Current State of Knowledge. Cells (2021). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/34440744/

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/