Avaliação metabolômica do estado nutricional de vitaminas do complexo B

Os exames metabolômicos apresentados abaixo analisam marcadores relacionados a vitaminas do complexo B. Não medem diretamente as vitaminas no sangue, mas sim os produtos intermediários do metabolismo que indicam como essas vitaminas estão funcionando no corpo.
Se um metabólito se acumula, isso sugere que a enzima responsável por metabolizá-lo está inativa ou comprometida, geralmente devido à falta de seu cofator vitamínico correspondente.

B-Complex (B1, B2, B3, B5, Ácido Lipóico)

  • Branched Chain Alpha-Keto Organic Acids: <DL

    • Ácidos ceto são associados ao metabolismo dos aminoácidos de cadeia ramificada, que requerem várias vitaminas do complexo B.

    • Dentro da normalidade (< 28.3 nmol/mg de creatinina).

  • α-Ketoglutaric Acid (Ácido α-Cetoglutárico): 19.2 nmol/mg de creatinina

  • Pyruvic Acid (Ácido Pirúvico): 52.5 nmol/mg de creatinina (Elevado)

    • Relacionado à glicólise e ao metabolismo energético.

    • Está acima do valor de referência (< 47.2 nmol/mg de creatinina). Sugere que há dificuldade na conversão do piruvato em Acetil-CoA, um processo que exige vitaminas B1, B2, B3 e B5. Ou seja, a elevação pode indicar um possível déficit nas vitaminas do complexo B (B1, B2, B3, B5) ou disfunção na via do metabolismo energético.

Vitamina B12

  • Methylmalonic Acid (Ácido Metilmalônico): 8.0 nmol/mg de creatinina

    • Indicador altamente sensível para deficiência de B12.

    • Se elevado, sugere deficiência de B12, pois essa vitamina é essencial para a conversão do ácido metilmalônico em succinil-CoA.

    • Dentro da faixa normal (2.7 - 25.9 nmol/mg de creatinina): sem sinais de deficiência de vitamina B12.

Folate (Ácido Fólico)

  • Formiminoglutamic Acid (Ácido Formiminoglutâmico): <DL (abaixo do limite de detecção)

    • Dentro do esperado, já que o valor de referência é < 0.4 nmol/mg de creatinina.

    • Nenhuma indicação de deficiência de folato.

Vitamina B6

  • Pyridoxic Acid (Ácido Piridóxico): <DL (abaixo do limite de detecção)

    • O ácido piridóxico é um metabólito da degradação de vitamina B6.

    • Se muito elevado, pode indicar excesso de B6.

    • Se baixo, não necessariamente representa deficiência, pois pode ser rapidamente metabolizado.

    • Está dentro da faixa normal, pois o valor de referência é < 111.9 nmol/mg de creatinina. Indica ausência de excesso de vitamina B6, mas não necessariamente deficiência.

  • Xanthurenic Acid (Ácido Xanturênico): 3.3 nmol/mg de creatinina

    • Relacionado ao metabolismo do triptofano e da B6

    • Se elevado, sugere deficiência de B6, pois a conversão normal desse metabólito depende da piridoxia

    • Neste exame está dentro da faixa de referência (< 9.5 nmol/mg de creatinina): sem sinais de deficiência de vitamina B6.

Biotina

  • β-Hydroxyisovaleric Acid (Ácido β-Hidroxiisovalérico): 107.8 nmol/mg de creatinina

    • Relacionado ao metabolismo da leucina e à função da metilcrotonil-CoA carboxilase, que depende de biotina.

    • Se elevado, pode indicar deficiência de biotina, pois o corpo não estaria processando adequadamente os ácidos orgânicos.

    • Dentro da faixa normal (25.1 - 223.4 nmol/mg de creatinina): sem sinais de deficiência de biotina.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Avaliação do status de glutationa

A glutationa é um tripeptídeo formado por glutamato, cisteína e glicina, e desempenha um papel crucial como antioxidante, protegendo as células contra o estresse oxidativo, mantendo a função mitocondrial e modulando vários processos celulares.

Como é feita a avaliação de glutationa?

  1. Medição direta de glutationa: A metabolômica permite quantificar os níveis de glutationa reduzida (GSH) e glutationa oxidada (GSSG) no sangue, urina ou outros fluidos biológicos. Esses níveis refletem o estado antioxidante do corpo e podem indicar um desequilíbrio entre as espécies redox.

    Vantagens:

    • Mede diretamente os níveis de glutationa reduzida (GSH) e glutationa oxidada (GSSG) no sangue.

    • Reflete o estado atual do equilíbrio redox e da capacidade antioxidante do organismo.

    • Melhor para avaliar estresse oxidativo agudo e reserva funcional de glutationa.

    Desvantagens:

    • A glutationa tem uma meia-vida curta e pode sofrer degradação rápida, o que exige um manuseio rigoroso da amostra.

    • Pode não refletir a produção e o metabolismo a longo prazo, pois mede um momento específico no tempo.

  2. Perfis de oxidação e redução: A glutationa participa ativamente do processo de oxidação-redução (redox). A avaliação do perfil de oxidação e redução da glutationa ajuda a entender melhor o nível de estresse oxidativo e a saúde celular. Isso pode ser importante para doenças relacionadas ao envelhecimento, doenças cardiovasculares, neurodegenerativas e câncer.

  3. Identificação de biomarcadores associados: A glutationa está intimamente relacionada com vários metabólitos e vias bioquímicas, incluindo aqueles associados ao ciclo do ácido ascórbico, ao metabolismo de ácidos graxos e à produção de energia. A metabolômica permite analisar a rede de interações de metabolitos relacionados, fornecendo uma visão mais completa do impacto do status da glutationa no metabolismo celular. Esses exames parecem avaliar o metabolismo da glutationa por meio da quantificação de metabólitos como glicina, α-hidroxibutírico, α-cetobutírico e ácido piruglutomático.

    Vantagens:

    • Analisa metabólitos como piruglutomato, α-cetobutirato e α-hidroxibutirato, que refletem a produção, reciclagem e degradação da glutationa.

    • Útil para identificar deficiências nutricionais e necessidades de cofatores (ex.: B3, B6, cisteína).

    • Reflete a função da glutationa ao longo do tempo, já que os metabólitos acumulam na urina.

    Desvantagens:

    • Não mede diretamente a glutationa disponível no corpo, mas sim os seus produtos metabólicos.

    • Pode ser influenciado por função renal e variações na hidratação, impactando a excreção urinária.

Interpretação geral do exame acima:

  1. Glicina (precursor da glutationa) está dentro do intervalo de referência, indicando que a disponibilidade desse aminoácido não é um fator limitante na síntese de glutationa.

  2. α-Hidroxibutírico está dentro do intervalo, sugerindo que o metabolismo associado à via da cisteína-glutationa não está excessivamente ativo.

  3. α-Cetobutírico elevado sugere um aumento na degradação da cisteína ou um possível déficit de B3 (niacina), que pode impactar a regeneração da glutationa.

  4. Ácido piruglutomático elevado indica um possível aumento na utilização da via do ciclo da glutationa, podendo sugerir estresse oxidativo ou uma necessidade aumentada de glutationa.

Tratamento

A depender da clínica do paciente podemos pensar em N-acetilcisteína, aminoácidos como glicina, serina, glutamina, selênio, a própria glutationa lipossomal. Além disso, é importante identificar o fator desencadeando do alto uso de glutationa (diabetes, resistência insulínica, doenças cardíacas, doenças autoimunes, infecções virais ou bacterianas, exposição à mofo, inflamações prolongadas (colite, doença de Crohn), metais pesados, exposição a pesticidas e produtos químicos industriais, uso de medicamentos que afetam o fígado (como paracetamol) ou consumo excessivo de álcool.

O próprio processo de envelhecimento também associa-se a danos oxidativos. Mas neste caso, a síntese de glutationa também fica comprometida. Doenças como asma podem aumentar o estresse oxidativo e a demanda por glutationa.

Por fim, existem alguns distúrbios genéticos que afetam a produção, a regeneração ou a função da glutationa, o que pode levar a uma maior demanda ou deficiência desse antioxidante no corpo. Exames genéticos complementares são necessários, quando existe esta suspeita. Abaixo estão alguns desses distúrbios genéticos:

1. Deficiência de Glutationa Redutase (GR)

  • A glutationa redutase é uma enzima crucial para a regeneração da glutationa após ela ser usada na neutralização de radicais livres. A deficiência dessa enzima pode prejudicar a reciclagem de glutationa, levando a níveis baixos de glutationa celular e a uma maior vulnerabilidade ao estresse oxidativo.

  • Sintomas: Pode causar fadiga, fraqueza muscular, e em alguns casos, problemas neurológicos devido ao acúmulo de radicais livres.

2. Deficiência de Glutationa S-Transferase (GST)

  • A glutationa S-transferase é uma enzima envolvida no processo de conjugação da glutationa com toxinas, facilitando sua excreção. A deficiência dessa enzima pode prejudicar a capacidade do organismo de desintoxicar e eliminar substâncias nocivas, o que resulta em uma maior exposição a toxinas.

  • Sintomas: A deficiência de GST pode ser associada a um aumento da susceptibilidade a doenças hepáticas, câncer e outras condições relacionadas ao acúmulo de toxinas.

3. Deficiência de Enzimas Envolvidas na Síntese de Glutationa (GCLC e GCLM)

  • O corpo produz glutationa através de uma série de reações bioquímicas, e as enzimas glutationa-cisteína ligase (GCLC) e glutationa-cisteína ligase moduladora (GCLM) são cruciais para a síntese de glutationa. Mutação ou disfunção nessas enzimas pode resultar em níveis baixos de glutationa.

  • Sintomas: Pode causar uma série de problemas de saúde, como defeitos no metabolismo celular, comprometimento do sistema imunológico, e maior propensão a doenças neurodegenerativas e cardiovasculares.

4. Síndrome de Alport

  • A síndrome de Alport é um distúrbio genético raro que afeta principalmente os rins, os olhos e os ouvidos. Embora seja mais conhecida por causar problemas renais e auditivos, ela também pode afetar os níveis de glutationa no corpo devido à disfunção renal e ao estresse oxidativo associado.

  • Sintomas: Perda auditiva, problemas renais e, em alguns casos, catarata e outras complicações oculares. O estresse oxidativo associado a essa condição pode aumentar a necessidade de glutationa.

5. Doenças Mitocondriais

  • Algumas doenças mitocondriais podem afetar a produção de energia celular e levar ao aumento do estresse oxidativo. Como as mitocôndrias desempenham um papel importante na produção de radicais livres, doenças que afetam essas estruturas podem levar à deficiência de glutationa ou a uma maior necessidade de glutationa para proteger as células dos danos causados por radicais livres.

  • Exemplo: Doenças como a doença de Leber e síndrome de MELAS (encefalomiopatia mitocondrial, acidose láctica e acidente vascular cerebral) podem aumentar a demanda por glutationa.

6. Hemocromatose Hereditária

  • A hemocromatose hereditária é uma condição genética que causa acúmulo excessivo de ferro no corpo, o que pode levar a danos celulares devido ao estresse oxidativo. A glutationa ajuda a neutralizar os efeitos do excesso de ferro, e a deficiência dessa substância pode agravar a condição.

  • Sintomas: Fadiga, dor nas articulações, diabetes, problemas cardíacos e hepáticos. A deficiência de glutationa pode aumentar a gravidade dos danos causados pelo excesso de ferro.

7. Deficiência de G6PD (Glicose-6-Fosfato Desidrogenase)

  • A deficiência de G6PD é um distúrbio genético comum que afeta a capacidade dos glóbulos vermelhos de regenerar glutationa. A G6PD ajuda a proteger os glóbulos vermelhos contra danos oxidativos, e a deficiência dessa enzima pode levar a episódios de hemólise (destruição dos glóbulos vermelhos) em resposta a certos alimentos, medicamentos ou infecções.

  • Sintomas: A pessoa com deficiência de G6PD pode sofrer de anemia hemolítica aguda, especialmente quando exposta a fatores que aumentam o estresse oxidativo, como certos medicamentos (exemplo: aspirina, sulfonamidas), alimentos (como fava) ou infecções.

8. Ataxia-Telangiectasia

  • A ataxia-telangiectasia é uma doença genética rara que afeta o sistema nervoso, o sistema imunológico e aumenta a suscetibilidade a cânceres devido ao comprometimento da reparação do DNA. O estresse oxidativo exacerbado nessa condição pode aumentar a necessidade de glutationa para proteger as células contra danos.

  • Sintomas: Ataxia (falta de coordenação motora), telangiectasias (dilatação dos vasos sanguíneos), aumento do risco de infecções e cânceres, e problemas neurológicos.

Esses distúrbios genéticos podem afetar diretamente a função ou a produção de glutationa, o que resulta em uma maior necessidade desse antioxidante para proteger as células contra danos. Em muitos casos, o tratamento envolve o manejo do estresse oxidativo e a suplementação de glutationa ou precursores, como a cisteína, para melhorar os níveis desse antioxidante no corpo.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/