A glutationa é um tripeptídeo formado por glutamato, cisteína e glicina, e desempenha um papel crucial como antioxidante, protegendo as células contra o estresse oxidativo, mantendo a função mitocondrial e modulando vários processos celulares.
Como é feita a avaliação de glutationa?
Medição direta de glutationa: A metabolômica permite quantificar os níveis de glutationa reduzida (GSH) e glutationa oxidada (GSSG) no sangue, urina ou outros fluidos biológicos. Esses níveis refletem o estado antioxidante do corpo e podem indicar um desequilíbrio entre as espécies redox.
✅ Vantagens:
Mede diretamente os níveis de glutationa reduzida (GSH) e glutationa oxidada (GSSG) no sangue.
Reflete o estado atual do equilíbrio redox e da capacidade antioxidante do organismo.
Melhor para avaliar estresse oxidativo agudo e reserva funcional de glutationa.
❌ Desvantagens:
A glutationa tem uma meia-vida curta e pode sofrer degradação rápida, o que exige um manuseio rigoroso da amostra.
Pode não refletir a produção e o metabolismo a longo prazo, pois mede um momento específico no tempo.
Perfis de oxidação e redução: A glutationa participa ativamente do processo de oxidação-redução (redox). A avaliação do perfil de oxidação e redução da glutationa ajuda a entender melhor o nível de estresse oxidativo e a saúde celular. Isso pode ser importante para doenças relacionadas ao envelhecimento, doenças cardiovasculares, neurodegenerativas e câncer.
Identificação de biomarcadores associados: A glutationa está intimamente relacionada com vários metabólitos e vias bioquímicas, incluindo aqueles associados ao ciclo do ácido ascórbico, ao metabolismo de ácidos graxos e à produção de energia. A metabolômica permite analisar a rede de interações de metabolitos relacionados, fornecendo uma visão mais completa do impacto do status da glutationa no metabolismo celular. Esses exames parecem avaliar o metabolismo da glutationa por meio da quantificação de metabólitos como glicina, α-hidroxibutírico, α-cetobutírico e ácido piruglutomático.
✅ Vantagens:
Analisa metabólitos como piruglutomato, α-cetobutirato e α-hidroxibutirato, que refletem a produção, reciclagem e degradação da glutationa.
Útil para identificar deficiências nutricionais e necessidades de cofatores (ex.: B3, B6, cisteína).
Reflete a função da glutationa ao longo do tempo, já que os metabólitos acumulam na urina.
❌ Desvantagens:
Não mede diretamente a glutationa disponível no corpo, mas sim os seus produtos metabólicos.
Pode ser influenciado por função renal e variações na hidratação, impactando a excreção urinária.
Interpretação geral do exame acima:
Glicina (precursor da glutationa) está dentro do intervalo de referência, indicando que a disponibilidade desse aminoácido não é um fator limitante na síntese de glutationa.
α-Hidroxibutírico está dentro do intervalo, sugerindo que o metabolismo associado à via da cisteína-glutationa não está excessivamente ativo.
α-Cetobutírico elevado sugere um aumento na degradação da cisteína ou um possível déficit de B3 (niacina), que pode impactar a regeneração da glutationa.
Ácido piruglutomático elevado indica um possível aumento na utilização da via do ciclo da glutationa, podendo sugerir estresse oxidativo ou uma necessidade aumentada de glutationa.
Tratamento
A depender da clínica do paciente podemos pensar em N-acetilcisteína, aminoácidos como glicina, serina, glutamina, selênio, a própria glutationa lipossomal. Além disso, é importante identificar o fator desencadeando do alto uso de glutationa (diabetes, resistência insulínica, doenças cardíacas, doenças autoimunes, infecções virais ou bacterianas, exposição à mofo, inflamações prolongadas (colite, doença de Crohn), metais pesados, exposição a pesticidas e produtos químicos industriais, uso de medicamentos que afetam o fígado (como paracetamol) ou consumo excessivo de álcool.
O próprio processo de envelhecimento também associa-se a danos oxidativos. Mas neste caso, a síntese de glutationa também fica comprometida. Doenças como asma podem aumentar o estresse oxidativo e a demanda por glutationa.
Por fim, existem alguns distúrbios genéticos que afetam a produção, a regeneração ou a função da glutationa, o que pode levar a uma maior demanda ou deficiência desse antioxidante no corpo. Exames genéticos complementares são necessários, quando existe esta suspeita. Abaixo estão alguns desses distúrbios genéticos:
1. Deficiência de Glutationa Redutase (GR)
A glutationa redutase é uma enzima crucial para a regeneração da glutationa após ela ser usada na neutralização de radicais livres. A deficiência dessa enzima pode prejudicar a reciclagem de glutationa, levando a níveis baixos de glutationa celular e a uma maior vulnerabilidade ao estresse oxidativo.
Sintomas: Pode causar fadiga, fraqueza muscular, e em alguns casos, problemas neurológicos devido ao acúmulo de radicais livres.
2. Deficiência de Glutationa S-Transferase (GST)
A glutationa S-transferase é uma enzima envolvida no processo de conjugação da glutationa com toxinas, facilitando sua excreção. A deficiência dessa enzima pode prejudicar a capacidade do organismo de desintoxicar e eliminar substâncias nocivas, o que resulta em uma maior exposição a toxinas.
Sintomas: A deficiência de GST pode ser associada a um aumento da susceptibilidade a doenças hepáticas, câncer e outras condições relacionadas ao acúmulo de toxinas.
3. Deficiência de Enzimas Envolvidas na Síntese de Glutationa (GCLC e GCLM)
O corpo produz glutationa através de uma série de reações bioquímicas, e as enzimas glutationa-cisteína ligase (GCLC) e glutationa-cisteína ligase moduladora (GCLM) são cruciais para a síntese de glutationa. Mutação ou disfunção nessas enzimas pode resultar em níveis baixos de glutationa.
Sintomas: Pode causar uma série de problemas de saúde, como defeitos no metabolismo celular, comprometimento do sistema imunológico, e maior propensão a doenças neurodegenerativas e cardiovasculares.
4. Síndrome de Alport
A síndrome de Alport é um distúrbio genético raro que afeta principalmente os rins, os olhos e os ouvidos. Embora seja mais conhecida por causar problemas renais e auditivos, ela também pode afetar os níveis de glutationa no corpo devido à disfunção renal e ao estresse oxidativo associado.
Sintomas: Perda auditiva, problemas renais e, em alguns casos, catarata e outras complicações oculares. O estresse oxidativo associado a essa condição pode aumentar a necessidade de glutationa.
5. Doenças Mitocondriais
Algumas doenças mitocondriais podem afetar a produção de energia celular e levar ao aumento do estresse oxidativo. Como as mitocôndrias desempenham um papel importante na produção de radicais livres, doenças que afetam essas estruturas podem levar à deficiência de glutationa ou a uma maior necessidade de glutationa para proteger as células dos danos causados por radicais livres.
Exemplo: Doenças como a doença de Leber e síndrome de MELAS (encefalomiopatia mitocondrial, acidose láctica e acidente vascular cerebral) podem aumentar a demanda por glutationa.
6. Hemocromatose Hereditária
A hemocromatose hereditária é uma condição genética que causa acúmulo excessivo de ferro no corpo, o que pode levar a danos celulares devido ao estresse oxidativo. A glutationa ajuda a neutralizar os efeitos do excesso de ferro, e a deficiência dessa substância pode agravar a condição.
Sintomas: Fadiga, dor nas articulações, diabetes, problemas cardíacos e hepáticos. A deficiência de glutationa pode aumentar a gravidade dos danos causados pelo excesso de ferro.
7. Deficiência de G6PD (Glicose-6-Fosfato Desidrogenase)
A deficiência de G6PD é um distúrbio genético comum que afeta a capacidade dos glóbulos vermelhos de regenerar glutationa. A G6PD ajuda a proteger os glóbulos vermelhos contra danos oxidativos, e a deficiência dessa enzima pode levar a episódios de hemólise (destruição dos glóbulos vermelhos) em resposta a certos alimentos, medicamentos ou infecções.
Sintomas: A pessoa com deficiência de G6PD pode sofrer de anemia hemolítica aguda, especialmente quando exposta a fatores que aumentam o estresse oxidativo, como certos medicamentos (exemplo: aspirina, sulfonamidas), alimentos (como fava) ou infecções.
8. Ataxia-Telangiectasia
A ataxia-telangiectasia é uma doença genética rara que afeta o sistema nervoso, o sistema imunológico e aumenta a suscetibilidade a cânceres devido ao comprometimento da reparação do DNA. O estresse oxidativo exacerbado nessa condição pode aumentar a necessidade de glutationa para proteger as células contra danos.
Sintomas: Ataxia (falta de coordenação motora), telangiectasias (dilatação dos vasos sanguíneos), aumento do risco de infecções e cânceres, e problemas neurológicos.
Esses distúrbios genéticos podem afetar diretamente a função ou a produção de glutationa, o que resulta em uma maior necessidade desse antioxidante para proteger as células contra danos. Em muitos casos, o tratamento envolve o manejo do estresse oxidativo e a suplementação de glutationa ou precursores, como a cisteína, para melhorar os níveis desse antioxidante no corpo.