Envelhecimento aumenta danos metabólicos e o risco de transtornos mentais

O envelhecimento afeta o metabolismo de diversas formas, levando a um declínio na eficiência energética, aumento do estresse oxidativo, resistência à insulina e inflamação crônica. Esses fatores contribuem para o surgimento de doenças como diabetes tipo 2, obesidade, doenças cardiovasculares e neurodegenerativas.

Principais mecanismos pelos quais o envelhecimento impacta o metabolismo

1. Disfunção Mitocondrial e Redução da Produção Energética

As mitocôndrias são as "usinas de energia" da célula, e seu funcionamento se deteriora com o tempo:

  • Redução da biogênese mitocondrial → Ocorre uma menor produção de novas mitocôndrias devido à diminuição da atividade do PGC-1α (regulador da biogênese mitocondrial).

  • Danos ao DNA mitocondrial (mtDNA) → A exposição ao estresse oxidativo pode causar mutações no mtDNA, reduzindo a eficiência da produção de ATP.

  • Menor eficiência na cadeia respiratória → A produção de ATP torna-se menos eficiente, aumentando a geração de radicais livres.

🔹 Consequência: Redução da capacidade de gerar energia, fadiga, menor desempenho físico e aumento do risco de doenças metabólicas.

2. Acúmulo de Radicais Livres e Estresse Oxidativo

Com o envelhecimento, há um desequilíbrio entre a produção de radicais livres e a capacidade do organismo de neutralizá-los:

  • A produção excessiva de espécies reativas de oxigênio (ROS) danifica lipídios, proteínas e DNA.

  • A atividade de enzimas antioxidantes como SOD (superóxido dismutase), CAT (catalase) e GPx (glutationa peroxidase) diminui, aumentando o estresse oxidativo.

🔹 Consequência: Maior degradação celular, mutações no DNA, inflamação e desenvolvimento de doenças neurodegenerativas e cardiovasculares.

3. Inflamação Crônica de Baixo Grau ("Inflammaging")

O envelhecimento leva a um estado de inflamação crônica sistêmica sem infecção aparente, conhecido como "inflammaging":

  • Maior produção de citocinas pró-inflamatórias (IL-6, TNF-α, IL-1β).

  • Ativação persistente do NF-κB, um regulador da resposta inflamatória.

  • Disfunção do sistema imunológico inato e adaptativo, aumentando a susceptibilidade a infecções e doenças autoimunes.

🔹 Consequência: Maior risco de resistência à insulina, aterosclerose, sarcopenia e doenças neurodegenerativas como Alzheimer.

4. Resistência à Insulina e Alterações no Metabolismo da Glicose

O envelhecimento compromete a capacidade do corpo de regular a glicose e responder à insulina, levando a:

  • Redução da sensibilidade dos receptores de insulina, especialmente nos músculos e fígado.

  • Aumento da produção hepática de glicose, mesmo em estado alimentado.

  • Acúmulo de gordura visceral, que libera citocinas inflamatórias que pioram a resistência à insulina.

🔹 Consequência: Aumento do risco de diabetes tipo 2, obesidade e síndrome metabólica.

5. Declínio na Autofagia e Acúmulo de Proteínas Mal Dobradas

A autofagia, mecanismo celular de reciclagem e remoção de componentes danificados, diminui com a idade:

  • Menor ativação do AMPK e do gene FOXO3, que regulam a autofagia.

  • Acúmulo de proteínas mal dobradas e organelas disfuncionais.

🔹 Consequência: Maior risco de neurodegeneração, como Alzheimer e Parkinson, além de envelhecimento celular acelerado.

6. Alterações na Regulação Epigenética e Metilação do DNA

O envelhecimento leva a mudanças na expressão gênica por meio de alterações epigenéticas:

  • Hipometilação global do DNA, levando à ativação de genes inflamatórios e ao aumento da instabilidade genômica.

  • Hipermetilação localizada pode silenciar genes protetores contra o envelhecimento.

🔹 Consequência: Disfunção celular progressiva e aumento do risco de câncer e doenças metabólicas.

7. Alterações na Composição da Microbiota Intestinal

A microbiota intestinal muda com a idade, afetando a absorção de nutrientes e a inflamação:

  • Redução da diversidade de bactérias benéficas (ex: Bifidobacterium).

  • Aumento de bactérias pró-inflamatórias, que produzem endotoxinas e ativam a inflamação sistêmica.

🔹 Consequência: Piora da digestão, aumento da inflamação e impacto na saúde metabólica e imunológica.

Alterações metabólicas e transtornos mentais

Os fatores metabólicos associados ao envelhecimento podem aumentar o risco de transtornos mentais como depressão, ansiedade, transtornos neurodegenerativos (Alzheimer, Parkinson) e até esquizofrenia. A conexão entre metabolismo e saúde mental envolve múltiplos mecanismos, incluindo disfunção mitocondrial, inflamação crônica, resistência à insulina e alterações epigenéticas.

1. Disfunção Mitocondrial e Déficit Energético no Cérebro

O cérebro é altamente dependente de energia para manter a função neuronal e a neurotransmissão. Com o envelhecimento, a capacidade das mitocôndrias de gerar ATP diminui, levando a:

  • Redução da produção de ATP → Menos energia para a manutenção da plasticidade sináptica e cognição.

  • Aumento do estresse oxidativo → Danos aos neurônios, contribuindo para depressão e doenças neurodegenerativas.

  • Alteração na neurotransmissão → A baixa produção de energia afeta a síntese de dopamina e serotonina, neurotransmissores essenciais para o humor.

🔹 Consequência: Maior risco de fadiga mental, depressão, ansiedade e neurodegeneração.

2. Inflamação Crônica ("Inflammaging") e Neuroinflamação

A inflamação sistêmica de baixo grau no envelhecimento pode atravessar a barreira hematoencefálica e afetar o cérebro:

  • Aumento de citocinas pró-inflamatórias (IL-6, TNF-α, IL-1β) prejudica a função neuronal e reduz a neurogênese no hipocampo.

  • A ativação crônica da microglia (células imunológicas do cérebro) leva à neuroinflamação, contribuindo para ansiedade, depressão e doenças como Alzheimer.

  • O eixo intestino-cérebro também é afetado, pois bactérias intestinais inflamatórias podem liberar toxinas que alteram a função cerebral.

🔹 Consequência: Inflamação cerebral persistente está associada a depressão resistente ao tratamento, transtornos de ansiedade e declínio cognitivo.

3. Resistência à Insulina e Risco de Doenças Psiquiátricas

A resistência à insulina não afeta apenas o metabolismo periférico, mas também tem impacto direto no cérebro:

  • O cérebro usa glicose como principal fonte de energia, e a resistência à insulina pode causar hipofunção cerebral.

  • Estudos mostram que a resistência à insulina afeta neurotransmissores como serotonina e dopamina, aumentando o risco de transtornos do humor.

  • Pessoas com diabetes tipo 2 e resistência à insulina têm maior incidência de depressão e declínio cognitivo.

🔹 Consequência: Déficits na sinalização da insulina no cérebro estão ligados a depressão, Alzheimer e declínio cognitivo acelerado.

4. Estresse Oxidativo e Neurodegeneração

O estresse oxidativo pode causar danos progressivos ao DNA neuronal, proteínas e lipídios:

  • Aumento da peroxidação lipídica afeta a membrana neuronal, prejudicando a comunicação entre neurônios.

  • Oxidação de proteínas leva à formação de placas beta-amiloides (Alzheimer) e agregados de alfa-sinucleína (Parkinson).

  • A degradação de neurotransmissores por estresse oxidativo pode levar a sintomas de depressão, ansiedade e esquizofrenia.

🔹 Consequência: O aumento do estresse oxidativo pode acelerar o declínio cognitivo e transtornos psiquiátricos.

5. Alterações Epigenéticas e Risco de Depressão e Ansiedade

O envelhecimento leva a mudanças na expressão genética que afetam o cérebro:

  • Hipometilação global do DNA → Ativação de genes inflamatórios que podem aumentar o risco de depressão e ansiedade.

  • Hipermetilação de genes neuroprotetores → Pode reduzir a expressão de genes essenciais para a neuroplasticidade e o equilíbrio emocional.

  • Fatores como dieta, exercício e estresse podem modular essas mudanças epigenéticas, afetando a predisposição a doenças mentais.

🔹 Consequência: A epigenética pode explicar por que algumas pessoas envelhecem com boa saúde mental enquanto outras desenvolvem transtornos psiquiátricos.

6. Disbiose Intestinal e o Eixo Intestino-Cérebro

A microbiota intestinal regula neurotransmissores e a inflamação sistêmica. Com o envelhecimento:

  • A redução de bactérias benéficas (Bifidobacterium, Lactobacillus) está associada a maior risco de depressão e ansiedade.

  • O aumento de bactérias inflamatórias pode elevar a produção de endotoxinas, que ativam a inflamação e afetam a função cerebral.

  • A microbiota influencia a produção de serotonina e GABA, neurotransmissores essenciais para a regulação do humor.

🔹 Consequência: Um intestino inflamado pode contribuir para ansiedade, depressão e declínio cognitivo.

Conclusão

Os processos metabólicos que ocorrem no envelhecimento afetam diretamente o cérebro, aumentando o risco de doenças mentais como depressão, ansiedade, Alzheimer e Parkinson. Estratégias como nutrição adequada, exercício físico, suplementação de cofatores da metilação (B12, folato), antioxidantes e regulação do eixo intestino-cérebro podem ajudar a reduzir esses impactos.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

TOC x TPOC

A principal diferença entre Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) e Transtorno de Personalidade Obsessivo-Compulsiva (TPOC) está na sua natureza, causas e impacto na vida da pessoa.

1. Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC)

  • Tipo: Transtorno de ansiedade. É considerado um transtorno extremamente debilitante, afetando relações, performance na escola e trabalho.

  • Prevalência comum: 2,5 a 4% da população mundial (a faixa é extensa pois muitas pessoas escondem as obsessões, o que torna difícil o diagnóstico em muitas circunstâncias).

  • Etiologia: não é completamente compreendida, tendo relação com genética (SlcA1, Sapap3), infecções na infância (como Streptococcus - PANDAS), possível relação com eventos traumáticos, estresse crônico e ansiedade, estilos parentais, traumatismo craniano, alterações em circuitos cerebrais (Savaheli, & Ahmadiani, 2019)

  • Principais Características: Caracteriza-se por obsessões (pensamentos, impulsos ou medos intrusivos e indesejados) e compulsões (comportamentos repetitivos ou atos mentais) realizados para reduzir a ansiedade.

    • Exemplos:

      • Verificar repetidamente se a porta está trancada ou se o fogão está desligado, por medo de ter esquecido.

      • Lavar as mãos excessivamente, tomar muitos banhos (medo de contaminação).

      • Necessidade intensa de que objetos sejam organizados de maneira perfeita, organizada (obsessão por simetria).

      • Medo excessivo de pecar, blasfemar (obsessões religiosas).

      • Pensamentos intrusivos sobre temas sexuais.

      • Preocupação excessiva com a saúde ou funcionamento do corpo, temendo ter doenças graves.

      • Obsessões relacionadas a números ou superstições, como tocar algo três vezes antes de sair do quarto.

      • Pensamentos intrusivos sobre se machucar ou machucar um ente querido.

  • Consciência: Pessoas com TOC reconhecem que suas obsessões e compulsões são irracionais ou angustiantes. Ou seja, as obsessões são intrusivas, acontecem sem que as pessoas queiram. Não gostam de ter os pensamentos e outras obsessões que aparecem de forma recorrente.

  • Impacto na Vida: O TOC pode ser incapacitante, interferindo nas atividades diárias devido a rituais excessivos. A questão é que se a pessoa está focando nas obsessões, não consegue focar em outras atividades mais importantes e produtivas. Apesar dos comportamentos e ações poderem momentaneamente trazer alívio, eles vão ao longo do tempo reforçando as obsessões, fortalecendo-as. É como coçar a pele e, com isso, a pele coçar cada vez mais. Muitas das obsessões e compulsões são tabus, gerando vergonha e contribuindo para outras questões mentais.

A ansiedade é a co-morbidade mais comum no TOC (Stein et al., 2020)

2. Transtorno de Personalidade Obsessivo-Compulsiva (TPOC)

  • Tipo: Transtorno de personalidade

  • Principais Características: Um padrão persistente de perfeccionismo, necessidade de controle, rigidez e forte apego a regras e ordem. Diferente do TOC, o TPOC não envolve pensamentos intrusivos causadores de ansiedade.

  • Consciência: Pessoas com TPOC acreditam que seu comportamento é correto e veem seu perfeccionismo como uma qualidade, não um problema.

  • Impacto na Vida: Pode causar conflitos interpessoais devido à rigidez extrema, mas nem sempre gera sofrimento pessoal.

  • Exemplos:

    • Obsessão por listas, horários e organização.

    • Dificuldade em delegar tarefas por achar que os outros não farão corretamente.

    • Trabalho excessivo, priorizando a produtividade acima dos relacionamentos.

Principais Diferenças

Pessoas com TOC querem se livrar das compulsões, enquanto pessoas com TPOC acham que sua forma de agir é a correta. Ambos podem coexistir, mas requerem abordagens de tratamento diferentes.

Outros transtornos também podem cursar com compulsividade (Robbins, Vaghi, & Banca, 2019)

Circuitos cerebrais afetados

Os transtornos obsessivo-compulsivo (TOC) e de personalidade obsessivo-compulsiva (TPOC) envolvem diferentes circuitos cerebrais, apesar de terem algumas semelhanças nos sintomas.

1. Circuitos cerebrais afetados no TOC

O TOC está associado a disfunções em circuitos neurais que regulam o controle dos impulsos, a tomada de decisão e a modulação da ansiedade. Os principais circuitos afetados incluem:

🧠 Circuito córtico-estriado-tálamo-cortical (CETC)
Este circuito é essencial para o controle de ações voluntárias e da resposta a estímulos. No TOC, há um hiperfuncionamento desse circuito, levando a pensamentos intrusivos e comportamentos repetitivos. As principais estruturas envolvidas são:

  1. Córtex orbitofrontal (COF) → Hiperativo, gerando preocupações excessivas.

  2. Estriado (núcleo caudado e putâmen) → Falha no controle da transmissão de impulsos.

  3. Tálamo → Envia sinais excessivos ao córtex, reforçando os pensamentos obsessivos. Estão no tálamo o núcleo auditório que interpreta o que ouvimos e coordena outras sensações que chegam ao nosso consciente.

🧠 Sistema límbico

  • O aumento da atividade na amígdala (região associada ao medo) pode contribuir para a ansiedade intensa no TOC.

🧠 Neurotransmissores envolvidos

  • Serotonina: Deficiências na regulação desse neurotransmissor podem contribuir para obsessões e compulsões.

  • Dopamina: Alterações podem estar relacionadas à dificuldade de inibir impulsos.

Alterações nos circuitos cerebrais (Stein et al., 2020)

🍽 Estratégias Nutricionais para TOC

O TOC está associado a um déficit na regulação da serotonina, além do envolvimento do sistema glutamatérgico e do estresse oxidativo. A alimentação pode ajudar a modular esses sistemas.

1️⃣ Aumentar a produção de serotonina

A serotonina é essencial para reduzir obsessões e compulsões. Como seu precursor é o triptofano, é fundamental consumir alimentos ricos nesse aminoácido junto com carboidratos para melhorar a absorção.

Alimentos ricos em triptofano:

  • Banana 🍌

  • Aveia 🌾

  • Cacau 🍫

  • Grão-de-bico e lentilha 🥣

  • Nozes e amêndoas 🌰

  • Peixes gordurosos 🐟

Carboidratos complexos:

  • Batata-doce 🍠

  • Arroz integral 🍚

  • Quinoa

🚫 Evitar dietas muito restritivas em carboidratos (como cetogênica), pois podem reduzir a disponibilidade de triptofano no cérebro.

2️⃣ Reduzir inflamação e estresse oxidativo

Muitos pacientes com TOC apresentam níveis elevados de inflamação, que afetam o funcionamento do córtex orbitofrontal e do estriado.

Fontes de ômega-3:

  • Peixes (salmão, sardinha, atum)

  • Sementes de linhaça e chia

Antioxidantes:

  • Frutas vermelhas 🍓 (morango, amora, mirtilo)

  • Vegetais verdes escuros (espinafre, brócolis) 🥦

3️⃣ Modulação do glutamato

O excesso de glutamato pode agravar o TOC, aumentando a excitação neuronal.

Alimentos ricos em magnésio (ajuda a regular o glutamato):

  • Abacate 🥑

  • Oleaginosas (castanha, amêndoas)

  • Chocolate amargo 🍫

🚫 Evitar excesso de cafeína e álcool, pois podem aumentar a liberação de glutamato e piorar sintomas obsessivos.

2. Circuitos cerebrais afetados no TPOC

O transtorno de personalidade obsessivo-compulsiva (TPOC) envolve padrões rígidos de comportamento, perfeccionismo e necessidade de controle, mas sem as obsessões e compulsões debilitantes do TOC. Os circuitos afetados incluem:

🧠 Circuito pré-frontal-límbico

  • Córtex pré-frontal dorsolateral (CPFDL) → Hiperativo, associado ao pensamento rígido e perfeccionismo.

  • Amígdala → Hipoativa em comparação ao TOC, resultando em menos ansiedade em relação aos comportamentos obsessivos.

🧠 Sistema de recompensa (dopaminérgico)

  • O TPOC pode estar relacionado a um maior envolvimento do sistema dopaminérgico, favorecendo comportamentos rígidos e busca por controle.

💊 Medicação para TOC

A farmacoterapia para TOC foca em aumentar a serotonina e modular o glutamato, reduzindo obsessões e compulsões.

1️⃣ Inibidores da Recaptação de Serotonina (ISRS) → Primeira linha

Os ISRS aumentam a serotonina disponível no cérebro e ajudam a reduzir os pensamentos obsessivos.

Principais ISRS para TOC:

  • Fluoxetina (Prozac) – Dose mais alta necessária do que para depressão.

  • Sertralina (Zoloft) – Boa opção para ansiedade associada.

  • Fluvoxamina (Luvox) – Específico para TOC, melhora sintomas intrusivos.

  • Paroxetina (Paxil) – Pode ajudar no TOC com depressão, mas tem mais efeitos colaterais.

  • Clomipramina (Anafranil) – Antidepressivo tricíclico eficaz no TOC, mas com mais efeitos adversos.

2️⃣ Moduladores do Glutamato → Para casos resistentes

Memantina (Namenda) – Regula o excesso de glutamato, usado como reforço para ISRS.
Lamotrigina (Lamictal) – Ajuda na neuroplasticidade e no controle das compulsões.

3️⃣ Antipsicóticos atípicos → Para TOC grave ou resistente

Risperidona, Aripiprazol, Olanzapina – Reduzem hiperatividade do núcleo caudado quando os ISRS sozinhos não funcionam.

🚫 O que evitar em TOC:

  • Benzodiazepínicos (Rivotril, Alprazolam) – Podem piorar compulsões a longo prazo.

  • Dopaminérgicos (Bupropiona, Anfetaminas) – Podem agravar sintomas obsessivos.

🍽 Estratégias Nutricionais para TPOC

O TPOC está mais ligado à rigidez cognitiva, hiperatividade do córtex pré-frontal e desequilíbrio dopaminérgico. A nutrição pode ajudar a melhorar a flexibilidade mental e reduzir o excesso de controle.

1️⃣ Modulação da dopamina

O excesso de dopamina pode contribuir para comportamentos rígidos e perfeccionistas.

Alimentos que regulam a dopamina:

  • Chá-verde 🍵 (L-teanina, que equilibra a dopamina)

  • Grãos integrais 🌾 (ajudam na produção equilibrada de neurotransmissores)

🚫 Evitar excesso de cafeína (presente no café e energéticos), pois pode estimular ainda mais o córtex pré-frontal.

2️⃣ Redução do estresse oxidativo

O TPOC está relacionado a um maior controle mental e perfeccionismo, o que pode gerar carga de estresse oxidativo.

Alimentos anti-inflamatórios:

  • Chá de camomila ☕ (auxilia na redução do estresse)

  • Vegetais crucíferos 🥦 (brócolis, couve)

  • Cúrcuma (a curcumina pode ajudar na neuroplasticidade)

3️⃣ Melhorar a flexibilidade cognitiva

A rigidez mental pode ser reduzida com estratégias que favorecem a neuroplasticidade.

Fontes de colina e fosfatidilserina (melhoram a função cerebral):

  • Ovo 🥚 (gema)

  • Peixes gordurosos 🐟

  • Abacate 🥑

🚫 Evitar dietas extremamente restritivas (como jejum prolongado), pois podem aumentar a rigidez comportamental.

💊 Medicação para TPOC

O TPOC tem menos estudos farmacológicos porque é um transtorno de personalidade e não responde tão bem à medicação quanto o TOC. Mas, em alguns casos, medicamentos podem ajudar no perfeccionismo excessivo, rigidez cognitiva e ansiedade associada.

1️⃣ ISRS → Quando há ansiedade ou depressão associada

Fluoxetina, Sertralina, Paroxetina – Ajudam a reduzir comportamentos rígidos e pensamentos obsessivos.

2️⃣ Estabilizadores de Humor → Para reduzir rigidez emocional

Lamotrigina – Melhora a flexibilidade cognitiva e ajuda a modular o córtex pré-frontal.
Lítio – Em alguns casos, pode ajudar no controle emocional e reduzir impulsividade.

3️⃣ Antipsicóticos atípicos → Para casos graves de rigidez comportamental

Quetiapina, Aripiprazol – Podem ser usados em doses baixas para reduzir pensamentos excessivamente controladores.

🚫 O que evitar em TPOC:

  • Psicoestimulantes (Ritalina, Venvanse) – Podem piorar a rigidez e obsessividade.

  • Medicamentos dopaminérgicos (Bupropiona) – Podem aumentar o controle excessivo e a inflexibilidade.

🧠 Terapia

A terapia para TOC e TPOC é diferente já que os transtornos têm características distintas. Como vimos:

  • TOC → Envolve obsessões e compulsões angustiantes, com necessidade de reduzir a ansiedade.

  • TPOC → Caracteriza-se por rigidez cognitiva, perfeccionismo e necessidade de controle, mas sem angústia intensa com os próprios comportamentos.

A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) é a abordagem principal para ambos, mas com estratégias específicas para cada transtorno.

Terapia para TOC

O objetivo é reduzir obsessões e compulsões e reconfigurar os circuitos neurais desregulados.

1️⃣ Exposição e Prevenção de Resposta (EPR) – Técnica principal

Como funciona?

  • A pessoa identifica e é exposta ao pensamento ou situação que causa obsessão, mas sem realizar a compulsão.

  • Com o tempo, o cérebro aprende que a ansiedade diminui naturalmente sem precisar da compulsão.

📌 Exemplo: Se o paciente tem obsessão com contaminação e compulsão de lavar as mãos, ele toca em um objeto "sujo" e é impedido de lavar as mãos. Isso reduz a necessidade de repetição ao longo do tempo.

2️⃣ Reestruturação Cognitiva

Foco: Modificar crenças irracionais sobre obsessões.

  • Pacientes com TOC acreditam que seus pensamentos têm grande poder ("Se eu pensar em acidente, ele vai acontecer").

  • A terapia ensina que pensamentos são automáticos e não perigosos.

📌 Exemplo: A pessoa aprende que ter um pensamento agressivo não significa que ela quer agir violentamente.

3️⃣ Terapias complementares

Mindfulness e Aceitação

  • Ajuda a lidar com pensamentos obsessivos sem se engajar neles.
    Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT)

  • Ensina a conviver com a ansiedade sem tentar anulá-la por meio de compulsões.

🚫 O que não funciona bem no TOC?

  • Terapia puramente analítica ou psicodinâmica → Pode reforçar rituais ao invés de eliminá-los.

  • Terapia sem exposição → Apenas conversar sobre os medos sem enfrentar os gatilhos não reduz sintomas.

Terapia para TPOC

O foco é aumentar flexibilidade cognitiva, diminuir perfeccionismo e reduzir a necessidade de controle.

1️⃣ Reestruturação Cognitiva – Técnica principal

Como funciona?

  • O terapeuta desafia crenças rígidas e ajuda o paciente a perceber que perfeição absoluta não é necessária.

  • Exploração de consequências do comportamento rígido no trabalho e nos relacionamentos.

📌 Exemplo: Um paciente que acredita que "se eu não fizer tudo perfeito, serei um fracasso" aprende a substituir essa ideia por "fazer o meu melhor já é suficiente".

2️⃣ Treino de Flexibilidade Cognitiva

Foco: Reduzir a necessidade de controle.

  • Exercícios práticos para tolerar mudanças inesperadas.
    📌 Exemplo: Planejar o dia sem seguir um cronograma rígido ou delegar tarefas sem revisar tudo.

3️⃣ Mindfulness e Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT)

Ajuda a pessoa a aceitar que não pode controlar tudo e que errar faz parte do processo.

4️⃣ Treino de Habilidades Sociais

Importante quando há dificuldades nos relacionamentos devido à inflexibilidade.
📌 Exemplo: Trabalhar escuta ativa e tolerância a opiniões diferentes.

🚫 O que não funciona bem no TPOC?

  • Terapia baseada apenas em insights sem prática → O paciente pode racionalizar tudo, sem mudar comportamentos.

  • Técnicas de exposição como no TOC → Não são necessárias, pois a ansiedade não é o principal problema.

🧠 Estimulação cerebral profunda

No caso de pacientes com sintomas refratários ao tratamento medicamento, psicoterápico e nutricional pode ser sugerida a estimulação cerebral profunda. Essa técnica envolve a implantação de eletrodos que enviam impulsos elétricos para áreas específicas do cérebro, modulando a atividade neural e ajudando a reduzir os sintomas. A ECP pode diminuir significativamente os sintomas do TOC em muitos pacientes, incluindo obsessões (pensamentos intrusivos) e compulsões (comportamentos repetitivos). Em geral, é mais eficaz quando os sintomas são graves e resistentes a outras opções de tratamento.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Genômica e metabolômica na saúde infantil

As ciências ômicas são áreas da biologia que estudam de forma abrangente e integrada grandes conjuntos de dados biológicos — como genes, proteínas, metabólitos, etc. Elas incluem:

  • Genômica (estudo do genoma)

  • Transcriptômica (estudo dos RNAs)

  • Proteômica (estudo das proteínas)

  • Metabolômica (estudo dos metabólitos)

  • Entre outras

A genômica estuda todo o material genético (DNA) de um organismo. Na saúde infantil, ela tem diversas aplicações importantes:

  • Diagnóstico precoce de doenças genéticas: Identificação de mutações que causam doenças hereditárias raras, que muitas vezes se manifestam na infância.

  • Medicina personalizada: A partir do perfil genético da criança, é possível ajustar tratamentos para doenças como câncer infantil, doenças metabólicas, e outras condições.

  • Triagem neonatal: Uso do sequenciamento genético para detectar doenças antes dos sintomas aparecerem, facilitando intervenções rápidas.

  • Estudo do desenvolvimento: Entender como variações genéticas influenciam o crescimento e o desenvolvimento infantil.

A metabolômica é o estudo abrangente dos metabólitos em um organismo, permitindo a análise das vias metabólicas e sua relação com a saúde e doenças. Metabólitos são pequenas moléculas resultantes do mestabolismo. Em crianças, a metabolômica tem sido aplicada em diversas áreas da saúde, incluindo:

1. Diagnóstico de Doenças Metabólicas

A análise metabolômica auxilia na identificação de erros inatos do metabolismo, como fenilcetonúria, acidemias orgânicas e doenças mitocondriais, possibilitando um diagnóstico precoce e intervenções mais eficazes. De fato, a triagem neonatal é a aplicação mais amplamente utilizada da metabolômica.

Erros inatos do metabolismo são distúrbios congênitos do metabolismo que podem levar a deficiências mentais e físicas graves, principalmente se não forem detectados e tratados precocemente.

Existem mais de 530 erros inatos conhecidos e a maioria se enquadra em 13 categorias amplas:

  1. metabolismo de carboidratos,

  2. metabolismo de aminoácidos,

  3. metabolismo do ciclo da ureia,

  4. metabolismo de ácidos orgânicos,

  5. oxidação de ácidos graxos,

  6. metabolismo de porfirinas,

  7. metabolismo de nucleotídeos,

  8. metabolismo de esteroides,

  9. função mitocondrial,

  10. função peroxissomal,

  11. armazenamento lisossomal,

  12. metabolismo de lipídios,

  13. armazenamento de metais.

Em muitos casos, esses EIMs são caracterizados pela produção de metabólitos anormais (frequentemente tóxicos) (como PKU) ou pela ausência de produção de metabólitos normais. Entretanto, um pequeno número de EIMs é caracterizado pela compartimentação anormal de metabólitos normais (como doenças de armazenamento lisossomal).

Mutações no gene da fenilalanina hidroxilase impedem a conversão de fenilalanina em tirosina, levando ao acúmulo de fenilalanina e outros ácidos aromáticos no cérebro. A fenilalanina é bastante tóxica para o cérebro em desenvolvimento e, se a PKU não for detectada e tratada precocemente (com uma dieta pobre em fenilalanina), ocorrerão danos cerebrais (Wishart, 2019).

2. Nutrição e Desenvolvimento Infantil

O estudo dos metabólitos pode ajudar a entender o impacto da alimentação infantil, do leite materno e de fórmulas infantis no desenvolvimento metabólico. Além disso, pode identificar biomarcadores de desnutrição ou obesidade infantil.

3. Microbiota Intestinal e Saúde Infantil

A metabolômica auxilia na análise da interação entre a microbiota intestinal e o metabolismo infantil, podendo revelar predisposições a doenças inflamatórias, alergias e distúrbios gastrointestinais.

4. Doenças Neurológicas e Psiquiátricas

Alterações nos perfis metabólicos podem estar associadas a transtornos como autismo, TDAH e epilepsia, ajudando na compreensão da fisiopatologia e no desenvolvimento de novas abordagens terapêuticas.

5. Medicina Personalizada e Prevenção

A análise metabolômica em crianças pode permitir intervenções personalizadas para manejo de transtornos ou mesmo prevenção do desenvolvimento de doenças crônicas na vida adulta, como diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/