Efeitos neuroprotetores da curcumina

A curcumina, derivada da cúrcuma (Curcuma longa), tem atraído atenção significativa por seu potencial benefício cognitivo. Suas propriedades antioxidantes, anti-inflamatórias e neuroprotetoras amplamente documentadas sugerem que ela pode influenciar positivamente a saúde cerebral e a cognição. No entanto, se a reputação da curcumina como melhoradora da cognição é justificada ou exagerada depende da robustez dos dados disponíveis.

Evidências de Apoio aos Benefícios Cognitivos da Curcumina

  1. Efeitos Anti-Inflamatórios:

    • A inflamação crônica é um fator-chave no declínio cognitivo e em doenças neurodegenerativas como o Alzheimer. A curcumina reduz citocinas pró-inflamatórias (e.g., TNF-α, IL-1β), ajudando a mitigar a neuroinflamação.

  2. Propriedades Antioxidantes:

    • A curcumina neutraliza os radicais livres e fortalece as defesas antioxidantes ao aumentar enzimas como a superóxido dismutase (SOD). Isso reduz os danos oxidativos, um fator importante no declínio cognitivo relacionado à idade.

  3. Modulação de Amiloide e Tau:

    • A curcumina inibe a agregação de placas de beta-amiloide e reduz a hiperfosforilação de tau, ambos marcadores característicos do Alzheimer. Essas ações podem retardar o declínio cognitivo em doenças neurodegenerativas.

  4. Estimulação da Neurogênese:

    • A curcumina aumenta os níveis do Fator Neurotrófico Derivado do Cérebro (BDNF), que suporta a plasticidade sináptica, a sobrevivência neuronal e os processos de aprendizado e memória.

  5. Evidências de Ensaios Clínicos:

    • Estudos de pequena escala mostraram resultados promissores. Por exemplo:

      • Um ensaio clínico randomizado (RC) de 2018, publicado no American Journal of Geriatric Psychiatry, relatou melhorias significativas na memória e atenção de adultos mais velhos que tomaram formulações bioabsorvíveis de curcumina por 18 meses.

      • Estudos em animais demonstram consistentemente a capacidade da curcumina de melhorar a cognição em modelos de Alzheimer e comprometimento de memória relacionado à idade.

Como melhorar a biodisponibilidade da curcumina?

A baixa absorção, metabolismo rápido e biodisponibilidade limitada da curcumina são desafios persistentes para traduzir seus benefícios para humanos. Formulações avançadas (e.g., nanopartículas, micelas e adjuvantes como a piperina) mostram potencial, mas precisam de validação adicional na suplementação.

Na comida ferver a cúrcuma em água durante 10 minutos aumenta a biodisponibilidade em 12 vezes (Kurien, & Scofield, 2009). A fervura também aumenta a atividade biológica da curcumina (Shen, Jiang, & Ji, 2018). A adição de óleo e pimenta aumenta ainda mais esta disponibilidade.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Curcumina e Alzheimer

A curcumina, um polifenol encontrado na Curcuma longa (cúrcuma), apresenta várias propriedades medicinais, incluindo efeitos antioxidantes, anti-inflamatórios e neuroprotetores. Estudo de 2024 destaca a capacidade da curcumina de restaurar os níveis do Fator Neurotrófico Derivado do Cérebro (BDNF), que frequentemente estão reduzidos na doença de Alzheimer e na depressão. Níveis elevados de BDNF são cruciais para o desenvolvimento e sobrevivência neuronal.

Na verdade, são pelo menos 7 os mecanismos de ação da curcumina no cérebro e os efeitos terapêuticos na doença de Alzheimer, incluindo (Goose et al., 2015; Tang et al., 2017):

  1. Redução do estresse oxidativo:
    A curcumina atua como um potente antioxidante, neutralizando os radicais livres e reduzindo o dano oxidativo que contribui para a neurodegeneração na doença de Alzheimer.

  2. Propriedades anti-inflamatórias:
    A curcumina inibe a ativação de microglia e a liberação de citocinas pró-inflamatórias, como TNF-α, IL-6 e IL-1β, que estão associadas à inflamação crônica no cérebro.

  3. Inibição da agregação de beta-amiloide:
    A curcumina interfere na formação de placas de beta-amiloide, uma característica patológica fundamental da doença de Alzheimer, e pode até promover a desagregação dessas placas.

  4. Redução do acúmulo de proteína Tau:
    A curcumina pode prevenir a hiperfosforilação da proteína Tau, que leva à formação de emaranhados neurofibrilares, outra marca patológica da doença de Alzheimer.

  5. Modulação de níveis de monoaminas:
    A curcumina regula os neurotransmissores, particularmente monoaminas como serotonina, dopamina e noradrenalina, o que pode ter um impacto positivo na função cognitiva e no humor.

  6. Estímulo ao Fator Neurotrófico Derivado do Cérebro (BDNF):
    A curcumina aumenta os níveis de BDNF, uma proteína crucial para a plasticidade sináptica, sobrevivência neuronal e regeneração, que estão reduzidos na doença de Alzheimer.

  7. Redução da neurotoxicidade do alumínio:
    A curcumina possui propriedades quelantes que ajudam a reduzir o impacto neurotóxico de metais como o alumínio, frequentemente associados à progressão da doença.

A curcumina também melhora saúde gastrointestinal, mitocondrial e metabólica (D´Cunha et al., 2019).

Desafios e limitações nos dados atuais

  • Baixa biodisponibilidade: A baixa absorção, o metabolismo rápido e a baixa biodisponibilidade da curcumina têm sido desafios persistentes na tradução de seus benefícios para os humanos. Formulações avançadas (por exemplo, nanopartículas, micelas e adjuvantes como a piperina) são promissoras, mas requerem validação adicional.

  • Resultados clínicos mistos: Alguns ensaios não conseguiram replicar melhorias cognitivas significativas em participantes humanos. A variabilidade nos desenhos de estudo, dosagens e formulações de curcumina complica as comparações diretas.

  • Durações curtas do estudo: Muitos estudos que examinam os efeitos da curcumina na cognição são de curto prazo. Ensaios de longo prazo são necessários para avaliar os benefícios cognitivos sustentados, principalmente em populações envelhecidas.

  • Falta de medidas padronizadas nos estudos.

O Alzheimer é uma doença complexa. O açafrão é um ótimo condimento e a curcumina um ótimo suplemento. Contudo, estratégias mais amplas precisam ser buscadas para bom estado de saúde cerebral por toda a vida.

Mecanismos de ação da curcumina no Alzheimer (Al-Twalah et al., 2024).

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Interações microbianas com a curcumina

A cúrcuma, particularmente seu composto ativo curcumina, é geralmente reconhecida por suas propriedades anti-inflamatórias. No entanto, há circunstâncias em que a cúrcuma pode afetar negativamente o microbioma intestinal:

- Variabilidade individual: a resposta à cúrcuma pode ser altamente personalizada. Um estudo descobriu que, embora a suplementação de curcumina tenha levado a um aumento significativo na diversidade da microbiota intestinal em alguns indivíduos, outros não mostraram a mesma resposta positiva, indicando que algumas pessoas podem experimentar efeitos adversos em seu microbioma [1].

Certos táxons bacterianos podem responder negativamente à cúrcuma. O estudo indicou que enquanto algumas espécies aumentaram em abundância com o tratamento com curcumina, outras, como Blautia spp. e Ruminococcus spp., mostraram abundância relativa reduzida, o que pode indicar uma mudança em direção a uma composição desfavorável do microbioma para alguns indivíduos [1].

- Disbiose: a interação da curcumina com a microbiota intestinal pode nem sempre levar a resultados benéficos. A disbiose, um desequilíbrio no microbioma intestinal, está associada a várias doenças metabólicas. Se a cúrcuma agravar a disbiose existente, ela pode contribuir para a inflamação intestinal em vez de aliviá-la [2].

- Baixa biodisponibilidade: a curcumina tem baixa biodisponibilidade sistêmica, o que significa que, embora possa exercer efeitos benéficos localmente no intestino, também pode levar à produção de metabólitos que podem não ser favoráveis ​​para todos os indivíduos. A transformação da curcumina pela microbiota intestinal pode produzir diferentes metabólitos, alguns dos quais podem impactar negativamente a saúde intestinal [3].

A curcumina é metabolizada pela microbiota intestinal, levando a vários metabólitos. Alguns metabólitos, como etossuximida e xantosina, foram encontrados elevados em camundongos modelo de câncer colorretal (CCR), o que pode sugerir um potencial impacto negativo na saúde intestinal [4].

- Interação com a microbiota intestinal: a curcumina e seus metabólitos podem interagir com a microbiota intestinal, potencialmente levando a efeitos benéficos e adversos. Os metabólitos produzidos pelas bactérias intestinais podem, às vezes, ser mais ativos do que a própria curcumina, o que complica a compreensão de seu impacto geral [5].

Referências:

1) CT Peterson et al. Effects of Turmeric and Curcumin Dietary Supplementation on Human Gut Microbiota: A Double-Blind, Randomized, Placebo-Controlled Pilot Study. Journal of evidence-based integrative medicine (2018). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/30088420/

2) S Servida et al. Curcumin and Gut Microbiota: A Narrative Overview with Focus on Glycemic Control. International journal of molecular sciences (2024). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/39062953/

3) W Zam et al. Gut Microbiota as a Prospective Therapeutic Target for Curcumin: A Review of Mutual Influence. Journal of nutrition and metabolism (2019). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/30647970/

4) W Deng et al. Curcumin suppresses colorectal tumorigenesis through restoreing the gut microbiota and metabolites. BMC cancer (2024). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/39267014/

5) R Pluta et al. Mutual Two-Way Interactions of Curcumin and Gut Microbiota. International journal of molecular sciences (2020). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32033441/

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/