Inibidor de anidrase carbônica aumenta o risco de acidose durante a dieta cetogênica

Os inibidores da anidrase carbônica (IACs) são medicamentos usados para tratar diversas condições, como glaucoma, hipertensão intracraniana idiopática, mal de altitude, insuficiência cardíaca congestiva e epilepsia. Entretanto, esses medicamentos podem apresentar contraindicações importantes para quem segue a dieta cetogênica. Isso se deve principalmente ao risco de acidose metabólica, um efeito colateral que pode ser exacerbado no contexto de uma dieta rica em gorduras e com níveis elevados de cetonas no sangue.

Os inibidores da anidrase carbônica (IAC) bloqueiam as enzimas da anidrase carbónica no túbulo contornado proximal, inibindo a reabsorção de bicarbonato de sódio (NaHCO 3 ), o que resulta em diurese e acidose metabólica. Os inibidores da anidrase carbónica também bloqueiam a anidrase carbónica presente nos olhos e células gliais, o que resulta na diminuição do humor aquoso e da produção de LCR, respetivamente. A acetazolamida é o prototipo de IAC.

Imagem por Lecturio. Licença: CC BY-NC-SA 4.0

Por Que Evitar Inibidores da Anidrase Carbônica na Dieta Cetogênica?

Os IACs, como acetazolamida, metazolamida, dorzolamida, brinzolamida e diclorfenamida, promovem a alcalinização urinária ao inibir a reabsorção de bicarbonato no rim. Isso resulta em um aumento da acidez no sangue, ou seja, acidose metabólica. Na dieta cetogênica, os corpos cetônicos naturalmente gerados já tornam o ambiente metabólico mais ácido, o que pode causar:

  • Acidose metabólica severa: Pode levar a sintomas como fadiga extrema, náusea, vômitos e confusão mental.

  • Alteração nos eletrólitos: Os IACs reduzem os níveis de bicarbonato, potássio e sódio no sangue, o que pode agravar os desequilíbrios eletrolíticos comuns na dieta cetogênica.

  • Aumento do risco de cálculos renais: A combinação de alcalinização urinária e aumento na excreção de cálcio pode favorecer a formação de cálculos renais.

Mecanismo de Ação dos IACs

  • Nos rins, os IACs inibem a enzima anidrase carbônica, bloqueando a reabsorção de bicarbonato no túbulo proximal.

  • Isso leva à retenção de bicarbonato na urina, reduzindo os níveis séricos de bicarbonato e provocando acidose metabólica.

  • No contexto ocular, reduzem a produção de humor aquoso, sendo eficazes no tratamento de glaucoma.

Condições Clínicas Relacionadas

Os IACs são indicados para várias condições, incluindo:

  • Glaucoma: Redução da pressão intraocular.

  • Mal de altitude: Prevenção de sintomas de hipóxia em altitudes elevadas.

  • Epilepsia: Controle de crises em casos específicos.

  • Insuficiência cardíaca congestiva: Controle do edema associado.

No entanto, seu uso deve ser evitado ou monitorado com cuidado em pacientes que seguem uma dieta cetogênica devido à maior suscetibilidade à acidose metabólica.

Alternativas aos Inibidores da Anidrase Carbônica

Para pessoas em dieta cetogênica que precisam tratar glaucoma ou outras condições, alternativas menos propensas a causar acidose metabólica podem ser consideradas, como:

  1. Betabloqueadores tópicos (ex.: timolol) para glaucoma.

  2. Análogos de prostaglandinas (ex.: latanoprosta).

  3. Ajustes na dieta e suplementação para corrigir desequilíbrios eletrolíticos e minimizar o impacto metabólico.

Considerações Importantes para Profissionais de Saúde

  1. Monitoramento Regular: Pacientes em dieta cetogênica e usando IACs devem realizar exames regulares de:

    • Bicarbonato sérico.

    • Eletrólitos (sódio, potássio).

    • Função renal e hepática.

  2. Cuidados na Prescrição: Avaliar a necessidade de medicamentos que possam agravar a acidose metabólica e buscar alternativas.

  3. Orientação ao Paciente: Esclarecer sobre os riscos e a importância de informar mudanças na dieta ao profissional responsável.

Embora os inibidores da anidrase carbônica sejam medicamentos eficazes em várias condições, seu uso deve ser cauteloso ou evitado na dieta cetogênica. O risco de acidose metabólica e alterações nos eletrólitos são fatores críticos que tornam necessária uma avaliação cuidadosa e o monitoramento contínuo do paciente. Se você toma qualquer remédio, converse com seu médico antes de iniciar qualquer alteração importante de estilo de vida.

Aprenda mais em https://t21.video

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

O Papel do GABA na Saúde Mental: O Impacto da Microbiota Intestinal e a Regulação do Eixo Intestino-Cérebro

O ácido gama-aminobutírico (GABA) é um neurotransmissor inibitório essencial no sistema nervoso central (SNC), responsável por regular a excitabilidade neuronal. Desequilíbrios nos níveis de GABA estão associados a condições neurológicas, como Alzheimer e Parkinson, e a distúrbios psicológicos, incluindo ansiedade, depressão e estresse.

Por muito tempo, acreditou-se que o GABA circulante não poderia influenciar diretamente o cérebro devido à incapacidade de atravessar a barreira hematoencefálica (BHE). No entanto, pesquisas recentes revelaram uma relação significativa entre os níveis de GABA no organismo, a composição da microbiota intestinal e a modulação da saúde mental. Essas descobertas indicam que o GABA pode ser um importante mediador do eixo intestino-cérebro.

A Microbiota Intestinal e o Eixo Intestino-Cérebro

O intestino humano abriga trilhões de microrganismos, formando uma comunidade complexa chamada de microbiota intestinal. Esses micróbios desempenham um papel crucial na produção de metabólitos que impactam a saúde do hospedeiro. Entre os metabólitos mais conhecidos estão:

  • Ácidos graxos de cadeia curta (AGCC)

  • Ácidos biliares

  • Metabólitos de colina

  • Vitaminas

  • Aminoácidos

  • Neurotransmissores, como o GABA.

A comunicação bidirecional entre a microbiota intestinal e o sistema nervoso central, mediada por sinais metabólicos, é conhecida como o eixo cérebro-intestino-microbioma. Esses metabólitos viajam para o cérebro por meio de mecanismos como:

  1. Nervo vago – Transporta sinais diretamente do intestino ao cérebro.

  2. Barreira hematoencefálica – Após atravessar a barreira intestinal, os metabólitos podem atingir o cérebro e modular funções cerebrais.

Essa interação impacta diversos sistemas do corpo, incluindo o sistema nervoso central, contribuindo para a regulação da saúde mental.

O Papel do GABA na Comunicação Intestino-Cérebro

Estudos recentes demonstraram que alterações na microbiota intestinal podem influenciar os níveis de GABA circulante, que, por sua vez, afetam a função cerebral. Fatores alimentares, como probióticos, prebióticos e alimentos fermentados, estimulam a produção de GABA por microrganismos no intestino. Espécies de Lactobacilos e Bifidobactérias utilizam o GABA como parte de seus processos metabólicos naturais, influenciados por fatores dietéticos específicos.

Fatores Alimentares que Estimulam a Produção de GABA

  • Probióticos: Microrganismos vivos que melhoram a composição da microbiota intestinal e promovem a síntese de GABA.

  • Prebióticos: Fibras alimentares que alimentam as bactérias benéficas do intestino.

  • Alimentos fermentados: Produtos como iogurte, kefir, kimchi e missô contêm microrganismos que produzem GABA naturalmente.

  • Enzimas microbianas: Facilitam a produção de GABA a partir de precursores alimentares.

Esses fatores alimentares ajudam a modular a microbiota intestinal, que, por sua vez, libera GABA e outros metabólitos que atravessam a barreira intestinal, influenciam os níveis cerebrais e melhoram a saúde mental.

Impacto do GABA na Saúde Mental

Pesquisas apontam que o GABA produzido pela microbiota intestinal pode estar associado a melhorias em condições como:

  • Ansiedade

  • Depressão

  • Estresse

  • Epilepsia

  • Transtorno do Espectro Autista (TEA)

  • Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH)

Além disso, novas descobertas indicam o papel da homocarnosina, um peptídeo cerebral que atua como mediador a jusante do GABA, regulando funções cerebrais e reforçando a importância desse neurotransmissor no eixo intestino-cérebro.

Deficiências de homocarnosina são associadas a doenças como Alzheimer e epilepsia. Medicamentos antiepiléticos, como gabapentina e vigabatrina, têm demonstrado aumentar os níveis de GABA e homocarnosina, melhorando a função cerebral.

Metabolismo do GABA

O GABA foi descoberto no cérebro em 1950 e é amplamente reconhecido como um neurotransmissor essencial. No entanto, evidências indicam que sua função vai além do SNC, com implicações em diversos tecidos periféricos, como:

  • Pâncreas: Alta concentração de GABA, com evidências de que seu sistema está envolvido na proteção do órgão e na regulação do metabolismo da insulina.

  • Outros tecidos: Incluem intestino, coração, pulmões, ovários e rins, onde a concentração de GABA é relativamente baixa em comparação ao cérebro.

Síntese do GABA

O GABA é produzido por humanos, plantas e bactérias, a partir do glutamato, por meio da enzima descarboxilase do ácido glutâmico (GAD), que requer piridoxal-5'-fosfato (PLP), uma forma ativa da vitamina B6, como cofator.

Características da GAD:

  • Em humanos, as isoformas GAD65 e GAD67 são reguladas pelos genes GAD1 e GAD2 e atuam no cérebro e no pâncreas.

  • Em plantas, a GAD é ativada por estresses abióticos (hipóxia, calor, frio) ou bióticos (infecções e ferimentos).

  • Em bactérias, a GAD é expressa durante o crescimento estacionário ou sob estresse osmótico, como resposta adaptativa.

Degradação do GABA

O GABA é degradado pela enzima GABA-transaminase (GABA-T), que o converte em semialdeído succínico (SSA), posteriormente oxidado para succinato, um intermediário do ciclo do ácido tricarboxílico (TCA).

Funções da GABA-T:

  • No cérebro, atua em células gliais e endoteliais, regulando os níveis de GABA e evitando o excesso de neurotransmissor.

  • Nos órgãos periféricos, como fígado, pâncreas e rins, a GABA-T pode hidrolisar o GABA dietético e controlar sua entrada no cérebro.

Curiosamente, estudos demonstraram que o GABA dietético, mesmo em altas doses, não aumenta significativamente os níveis de GABA no sangue, sugerindo uma hidrolise eficiente no fígado. Mesmo assim, doses baixas de GABA derivado da dieta ou de bactérias intestinais mostram benefícios terapêuticos, representando um paradoxo intrigante que merece mais investigações.

Microrganismos Produtores de GABA no Intestino Humano

Bactérias Intestinais e GABA

Bactérias gastrointestinais como Bacteroides, Bifidobacterium e Lactobacillus têm um papel significativo na produção de GABA devido à presença do gene da glutamato descarboxilase (GAD). Estudos recentes revelaram que:

  • Bacteroides é o gênero mais abundante produtor de GABA na microbiota intestinal, superando Lactobacillus e Bifidobacterium em prevalência.

  • Espécies como Bacteroides fragilis, B. thetaiotaomicron e B. vulgatus foram identificadas como eficazes produtoras de GABA em pH fisiológico do intestino grosso humano.

  • Bifidobacterium adolescentis é reconhecido por sua contribuição significativa ao GABA fecal, com cepas como B. adolescentis PRL2019 produzindo até 9,4 mM de GABA.

Produção de GABA e Saúde Mental

A regulação do metabolismo glutamato-GABA pela microbiota intestinal tem implicações em transtornos de saúde mental. Alterações na composição de Bacteroides e outros microrganismos foram associadas a condições como depressão e ansiedade.

Outras Espécies Produtoras

  • Lactobacillus brevis, L. helveticus e L. plantarum são conhecidos produtores de GABA isolados de fezes humanas e também em alimentos.

  • Lactococcus garvieae exibiu elevada capacidade de produção de GABA em ambientes ácidos, ampliando as possibilidades para o uso de bactérias do ácido láctico (LAB).

Razões para a Produção de GABA

Microrganismos produzem GABA principalmente para sobreviver a condições estressantes, como baixo pH e ambientes anaeróbicos. O sistema GAD ajuda a regular o pH intracelular, promovendo a sobrevivência bacteriana por:

  • Consumo de íons H+ intracelulares durante a descarboxilação do glutamato,

  • Exportação de GABA, que aumenta ligeiramente o pH extracelular.

Esse mecanismo é crucial para a colonização do trato gastrointestinal e a adaptação a ambientes de fermentação.

Microbiota Intestinal e Saúde Mental

O GABA (ácido gama-aminobutírico) desempenha um papel crucial no eixo intestino-cérebro, com impactos significativos na saúde mental e nas funções neurológicas. A microbiota intestinal é uma fonte primária de GABA periférico, e sua produção está fortemente ligada à composição bacteriana no intestino.

  1. Distúrbios Neurológicos

    • Esquizofrenia (SCZ): A disbiose intestinal, caracterizada por alterações em Bacteroides e Streptococcus, está associada ao metabolismo do GABA e do glutamato.

    • Doença de Alzheimer (DA): Níveis elevados de GABA no líquido cefalorraquidiano (LCR) têm sido relacionados a um risco reduzido de DA.

    • Doença de Parkinson (DP): Alterações microbianas intestinais, como aumento de Akkermansia e redução de Lactobacillus, impactam os níveis de GABA nos gânglios da base, afetando os sintomas motores.

  2. Ansiedade, Depressão e Estresse

    • A modulação da microbiota por probióticos (Lactobacillus e Bifidobacterium) pode aumentar os níveis de GABA e aliviar sintomas de ansiedade e depressão.

    • Indivíduos com altos níveis de bactérias consumidoras de GABA, como Pseudomonas, apresentam maior prevalência de sintomas depressivos.

  3. Epilepsia

    • Pacientes epilépticos frequentemente apresentam disbiose e redução de bactérias produtoras de GABA. Dietas cetogênicas têm demonstrado eficácia ao aumentar a relação GABA/glutamato no cérebro.

  4. Transtorno do Espectro Autista (TEA) e TDAH

    • Crianças com TEA frequentemente apresentam uma abundância reduzida de Bifidobacterium e níveis mais baixos de GABA fecal.

    • No TDAH, alterações microbianas em crianças e adultos podem estar relacionadas a mudanças nos níveis de GABA, indicando diferenças no impacto da microbiota dependendo da idade.

Aprenda mais sobre o tema na plataforma https://t21.video

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Efeito da dieta cetogênica no crescimento infantil

A dieta cetogênica (DC) é caracterizada pela redução drástica na ingestão de carboidratos, promovendo uma mudança no metabolismo que favorece a cetogênese, fornecendo uma fonte alternativa de energia ao organismo. Nesse estado, conhecido como "cetose nutricional", os corpos cetônicos (β-hidroxibutirato, acetoacetato e acetona) substituem a glicose como principal fonte de energia.

História e Aplicações Terapêuticas

Tradicionalmente, a DC foi desenvolvida como intervenção terapêutica para crianças com epilepsia refratária, reduzindo significativamente a frequência e gravidade das convulsões. Além disso, estudos têm explorado seu potencial em outras condições, como câncer, obesidade e distúrbios neurológicos e metabólicos. Entre os benefícios relatados para pacientes pediátricos estão:

  • Controle de convulsões;

  • Melhora na sensibilidade à insulina;

  • Auxílio no controle de peso.

Variantes da Dieta Cetogênica

Existem diferentes padrões de KD, adaptados às necessidades clínicas específicas, como:

  • DC Clássica;

  • DC com Triglicerídeos de Cadeia Média (MCT);

  • DC MCT Modificada;

  • Dieta Atkins Modificada.

Esses protocolos podem ser baseados em alimentos naturais, fórmulas específicas ou até administrados por dispositivos de nutrição artificial (sonda ou nutrição parenteral).

Desafios e Efeitos Adversos

Embora eficaz, a KD apresenta desafios significativos, especialmente em pacientes pediátricos:

  • Restrição alimentar: pode dificultar a adesão a longo prazo.

  • Efeitos colaterais de curto prazo: náusea, constipação, fadiga, desidratação e desequilíbrios eletrolíticos.

  • Reintrodução de carboidratos: pode desfazer rapidamente os benefícios da cetose.

A longo prazo, as preocupações incluem potenciais impactos no crescimento, saúde óssea e cardiovascular, especialmente em crianças e adolescentes. Pesquisas sobre esses efeitos são limitadas, mas levantam questões sobre aumento de colesterol, triglicerídeos e possíveis distúrbios do crescimento.

Perspectivas e Cuidados Necessários

Apesar das limitações, a DC é uma ferramenta valiosa para tratar epilepsia e outras condições, desde que seja:

  1. Bem planejada;

  2. Acompanhada por profissionais de saúde;

  3. Monitorada quanto a possíveis efeitos adversos.

O uso expandido da DC em pediatria depende de maior compreensão de seus efeitos a longo prazo, especialmente no estado nutricional e no desenvolvimento

Um dos principais objetivos da DC em crianças é promover o crescimento adequado enquanto alivia os sintomas das condições tratadas. No entanto, os estudos mostram resultados variados:

  • Crescimento Linear e Peso:

    • Estudos indicam que crianças em DC podem apresentar diminuição no crescimento linear em longo prazo, enquanto o status de peso pode permanecer inalterado. Por exemplo, Liu et al. identificaram quedas no percentil de peso após 4 meses de dieta, apesar de um aumento na altura absoluta.

    • Em contrapartida, Armeno et al. mostraram que a maioria das crianças em DC atingiu um crescimento adequado e melhorou o estado nutricional após 24 meses de acompanhamento.

  • Fatores de Risco:
    Crianças com condições genéticas específicas, como deficiência de GLUT-1, apresentam maior prevalência de crescimento atrofiado, sugerindo a necessidade de acompanhamento rigoroso. Estudos adicionais são necessários para entender os fatores que impactam o crescimento nessas populações.

  • Recomendações:
    Um monitoramento rigoroso é essencial para assegurar um crescimento saudável, e estratégias personalizadas podem ajudar a mitigar possíveis impactos negativos da dieta. A DC, por sua natureza restritiva, pode levar a deficiências de vitaminas e minerais essenciais:

    • Deficiências Relatadas:

      • Baixos níveis de folato, cálcio, magnésio, selênio e cobre foram identificados em pacientes pediátricos, mesmo após suplementação.

      • Casos de dermatite pelagroidal e neuropatias associadas à deficiência de tiamina foram documentados, reforçando a necessidade de suplementação vitamínica.

    • Efeitos Graves:
      Deficiência de selênio tem sido associada a cardiomiopatia, enquanto baixos níveis de cobre podem levar a neutropenia e anemia.

    • Recomendações:
      Suplementação multivitamínica e monitoramento regular dos níveis de micronutrientes são fundamentais. Uma abordagem personalizada deve ser implementada para prevenir deficiências.

A saúde óssea é outra uma preocupação significativa em crianças submetidas à DC:

  • Perda de Densidade Óssea:
    Estudos de longo prazo mostraram maior incidência de fraturas ósseas e diminuição da densidade mineral óssea. Isso pode ser exacerbado pela acidose induzida pelos corpos cetônicos.

  • Fatores Contribuintes:

    • A redução do bicarbonato sérico e o aumento da relação cálcio-creatinina urinária foram observados, o que pode levar a cálculos renais.

    • Drogas antiepilépticas, frequentemente usadas em conjunto com a DC, também afetam negativamente a saúde óssea ao reduzir a absorção de cálcio e a mineralização óssea.

A DC também pode causar alterações no perfil metabólico e cardiovascular, especialmente em longo prazo:

  • Efeitos Comuns:

    • Hipertrigliceridemia e hipercolesterolemia são frequentemente relatadas, particularmente em pacientes com predisposições genéticas.

    • A desidratação, a hipoglicemia e a acidose metabólica também são efeitos colaterais comuns.

  • Impacto no Sistema Cardiovascular:
    Embora a DC possa aumentar os níveis de LDL em alguns pacientes, não há evidências conclusivas sobre seu impacto a longo prazo na aterosclerose. Monitoramento cuidadoso de biomarcadores lipídicos é recomendado, com ajustes da composição da dieta, conforme necessidade.

Acompanhamento do Crescimento e Composição Corporal

Avaliações Padrão:

  • Indicadores Antropométricos: Peso, altura (ou comprimento da tíbia para crianças com comprometimento neurológico), escores z de IMC, circunferência do braço, circunferência da cintura e dobra cutânea do tríceps, seguindo os gráficos de crescimento da OMS.

  • Métodos Avançados:

    • Bioimpedância (BIA): Útil para avaliar a composição corporal, embora não tenha valores de referência abaixo de 6 anos.

    • Pletismografia de Deslocamento de Ar (BodPod) e DEXA: Alternativas confiáveis para monitoramento longitudinal do estado nutricional.

⚠️ Atenção: A escolha do método deve considerar o nível motor do paciente e a viabilidade da realização dos exames em crianças pequenas.

Administração da DC e Desafios Clínicos

Administração Enteral:

  • Frequentemente utilizada, especialmente em crianças com comprometimento neurológico.

  • Complicações Potenciais:

    • Doenças agudas podem demandar suporte nutricional parenteral.

    • Efeitos colaterais metabólicos: Hipertrigliceridemia e aumento das enzimas hepáticas/pancreáticas.

    • Amostras de sangue lipêmicas podem interferir em resultados laboratoriais.

Consenso Internacional para Lactentes:

  • Protocolos específicos garantem a administração segura de DK em lactentes epilépticos, com foco no controle das crises e prevenção de efeitos metabólicos futuros.

Monitoramento de Micronutrientes

A suplementação personalizada é essencial para evitar deficiências de micronutrientes, que podem ser agravadas pela dieta restritiva. Diretrizes atuais sugerem:

  • Triagem Inicial: Inclui avaliação detalhada de vitaminas e minerais.

  • Monitoramento Regular: Adaptação contínua de protocolos de suplementação com base nas necessidades individuais.

⚠️ Desafios: Deficiências podem persistir mesmo com suplementação adequada, exigindo atenção constante.

Riscos Cardiometabólicos

Monitoramento:

  • Resistência à Insulina: Deve ser avaliada anualmente em pacientes com nutrição enteral ou alto risco cardiometabólico, utilizando ferramentas como HOMA-IR e índice TyG.

  • Dislipidemias: Ajustes na composição da dieta podem ser necessários para reduzir riscos cardiovasculares, com ênfase no aumento de ácidos graxos poliinsaturados.

Prevenção:

  • Protocolo Internacional: Estudos indicam a necessidade de diretrizes padronizadas para avaliar riscos cardiometabólicos, com foco em marcadores lipídicos e glicêmicos.

Saúde Óssea

Pacientes pediátricos em DK podem apresentar:

  • Redução da Densidade Mineral Óssea (DMO): Monitoramento regular por DEXA é recomendado, especialmente em crianças que utilizam medicamentos antiepilépticos.

  • Intervenções Preventivas: Suplementação de cálcio, vitamina D e citrato de potássio pode reduzir riscos de fraturas e cálculos renais.

Atendi uma criança com epilepsia e a família pediu a recomendação de um livro bom sobre dieta cetogênica, com receitas fáceis e variadas. Aqui vai para todo mundo que tiver a mesma dúvida: https://amzn.to/46r8lSO. Precisa de ajuda? Marque aqui sua consulta de nutrição online.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/