A venlafaxina e a desvenlafaxina são medicamentos antidepressivos semelhantes que pertencem à classe dos inibidores da recaptação de serotonina e noradrenalina (IRSN), mas têm algumas diferenças importantes em sua ação e perfil de efeitos.
Composição e Metabolismo
Venlafaxina: Antidepressivo usado para tratar depressão, transtorno de ansiedade generalizada (TAG), transtorno de pânico e fobia social. É o fármaco original, e o corpo a metaboliza principalmente no fígado para produzir seu metabólito ativo, que é a desvenlafaxina.
Mecanismo de ação: Inibidor da recaptação de serotonina e noradrenalina (IRSN), aumentando os níveis desses neurotransmissores no cérebro, o que ajuda a melhorar o humor e a reduzir sintomas de ansiedade.
Doses: geralmente começa com 37,5 a 75 mg ao dia, podendo ser aumentada até 225 mg/dia, conforme a resposta e tolerância do paciente.
Possíveis efeitos colaterais: Náuseas, boca seca, insônia, sudorese, tontura, aumento da pressão arterial em doses mais altas, redução do apetite, síndrome de descontinuação (sintomas de abstinência ao interromper bruscamente).
Desvenlafaxina: É o metabólito ativo da venlafaxina. Ao ser administrada diretamente nessa forma, não precisa ser metabolizada para se tornar o composto ativo, o que permite uma ação mais direta em alguns pacientes.
É o metabólito ativo da venlafaxina e também atua como um IRSN, inibindo a recaptação de serotonina e noradrenalina. Pode oferecer um efeito mais equilibrado entre esses neurotransmissores.
Doses: A dose inicial típica é de 50 mg a 75 ao dia, podendo ser ajustada conforme necessário, mas geralmente não se ultrapassa 100 a 150 mg/dia. O incremento de doses acorre, em geral, após 2 semanas, caso seja necessário.
Possíveis efeitos colaterais: Similares aos da venlafaxina – boca seca, insônia, aumento da pressão arterial, náuseas, sudorese, fadiga e possível síndrome de descontinuação.
Infelizmente, cerca de 1/3 dos pacientes não respondem a estes medicamentos, seja isoladamente, sejam em combinação. A teoria metabólica dos transtornos mentais sugere que muitos casos de depressão e outros problemas psiquiátricos estão associados a disfunções metabólicas, especialmente a um desequilíbrio energético celular que afeta a função dos neurônios e outras células cerebrais.
Segundo a teoria metabólica, a depressão pode estar relacionada a problemas na produção e utilização de energia nas células cerebrais, particularmente nas mitocôndrias, as "usinas" de energia das células. Quando as mitocôndrias não funcionam corretamente, o cérebro pode sofrer com baixa energia celular, o que afeta o humor e a função cognitiva.
Os antidepressivos convencionais, como os inibidores da recaptação de serotonina e noradrenalina, focam nos neurotransmissores e não na melhoria da função mitocondrial ou no metabolismo energético. Se a raiz da depressão estiver mais relacionada a problemas metabólicos do que ao desequilíbrio de neurotransmissores, esses medicamentos podem não ser eficazes.
O que fazer quando a medicação não funciona?
Tratar a inflamação e combater o estresse oxidativo: A inflamação crônica e o estresse oxidativo são fatores que afetam o metabolismo celular e estão frequentemente associados à depressão. Esse estresse oxidativo pode danificar as células cerebrais e as mitocôndrias, comprometendo ainda mais a produção de energia.
Os antidepressivos tradicionais não foram desenvolvidos para tratar a inflamação ou o estresse oxidativo. Dessa forma, em pacientes cujas causas subjacentes de depressão estejam ligadas a esses fatores, a resposta aos antidepressivos pode ser limitada ou ausente. Muitas vezes estas medicações são combinadas com anticonvulsivantes pois possuem um efeito antiinflamatório.
Tratar a Resistência insulínica cerebral: Problemas como a resistência à insulina e o metabolismo da glicose, observados na síndrome metabólica e no diabetes tipo 2, têm sido associados a uma maior prevalência de transtornos depressivos. O cérebro depende muito da glicose para funcionar corretamente, e a resistência à insulina pode prejudicar o uso eficiente dessa glicose pelas células cerebrais.
Antidepressivos convencionais não tratam diretamente a resistência à insulina nem melhoram a metabolização de glicose no cérebro. Se a depressão do paciente estiver relacionada a problemas como a resistência à insulina, é menos provável que esses medicamentos resultem em melhorias significativas.
Diversidade Genética e Metabólica entre Pacientes: As variabilidades genéticas que afetam o metabolismo energético e o funcionamento das mitocôndrias também desempenham um papel. Certos pacientes têm variações genéticas que alteram o metabolismo de fármacos, a sensibilidade à insulina e o funcionamento das mitocôndrias. Essas diferenças genéticas fazem com que a mesma medicação antidepressiva possa ser eficaz para algumas pessoas, mas ineficaz ou até prejudicial para outras. A teoria metabólica sugere que, para esses pacientes, estratégias terapêuticas que foquem em melhorar o metabolismo celular poderiam ter mais sucesso.
Necessidade de Intervenções Terapêuticas Metabólicas
Com base na teoria metabólica, intervenções que melhorem a função mitocondrial e reduzam a inflamação podem ter um papel importante no tratamento de transtornos mentais. Pacientes que já testaram 3 medicações ou mais sem melhorias substanciais são aconselhados a incluir mudanças na dieta, como protocolos cetogênicos, exercícios físicos que estimulam a biogênese mitocondrial, suplementos que suportam a função energética e mitocondrial (como coenzima Q10, vitaminas B e antioxidantes).
Atenção: estes tratamentos nem sempre excluem a necessidade de medicação. Não faça desmames sem informar seu médico. Tanto a venlafaxina quanto a desvenlafaxina podem causar síndrome de descontinuação se forem interrompidos de forma abrupta. Este efeito é maior com a venlafaxina, pois seu metabolismo mais complexo pode fazer com que os níveis no sangue flutuem mais caso a dose não seja reduzida gradualmente.