Nutrientes e neurotransmissão

A neurotransmissão é o processo pelo qual os neurônios se comunicam entre si, enviando sinais e coordenando diversas funções no organismo, como controle motor, regulação do humor, aprendizado e memória. Existem dois tipos principais de neurotransmissão: elétrica e química. Ambas são essenciais para o funcionamento adequado do sistema nervoso, mas ocorrem de maneiras distintas.

Neurotransmissão Elétrica

A neurotransmissão elétrica envolve a passagem direta de correntes elétricas de um neurônio para outro através de estruturas chamadas junções comunicantes ou gap junctions (em rosa). Essas junções permitem que os íons fluam rapidamente entre as células, criando uma comunicação quase instantânea. Esse tipo de transmissão é rápido e ocorre principalmente em regiões onde a sincronização precisa ser perfeita, como no controle de funções motoras e nas respostas reflexas.

Apesar de sua velocidade, a neurotransmissão elétrica é menos comum no sistema nervoso humano em comparação com a química. Sua desvantagem está na falta de flexibilidade; como é uma transmissão direta, não permite a modulação ou ajustes finos nos sinais.

Neurotransmissão Química

A neurotransmissão química, por outro lado, é mais complexa e comum. Envolve a liberação de substâncias químicas chamadas neurotransmissores (representados acima como bolinhas amarelas) na fenda sináptica, o espaço entre dois neurônios. Quando um impulso elétrico atinge o final de um neurônio (o terminal pré-sináptico), vesículas contendo neurotransmissores são liberadas. Esses neurotransmissores atravessam a fenda sináptica e se ligam a receptores específicos no neurônio pós-sináptico, desencadeando uma nova resposta elétrica.

Este tipo de comunicação é mais lento do que a transmissão elétrica, mas oferece maior versatilidade. Diferentes neurotransmissores podem provocar respostas variadas (excitatórias ou inibitórias), permitindo que o cérebro regule uma ampla gama de processos com precisão.

Importância dos Nutrientes na Neurotransmissão

O funcionamento ideal da neurotransmissão depende da disponibilidade adequada de certos nutrientes. O cérebro é um órgão metabolicamente ativo, e suas células requerem um suprimento constante de energia, ácidos graxos, vitaminas e minerais para manter a produção e liberação de neurotransmissores.

Entre os nutrientes essenciais, o ômega-3 desempenha um papel crucial. Os ácidos graxos ômega-3, especialmente o DHA (ácido docosa-hexaenoico), são componentes importantes das membranas celulares no cérebro. Eles:

  • Aumentam a fluidez da membrana celular: isso melhora a comunicação entre os neurônios, facilitando a passagem de neurotransmissores.

  • Fazem parte da bainha de mielina, aumentando a velocidade dos sinais elétricos.

  • Modulam a função dos receptores sinápticos, o que melhora a eficiência da neurotransmissão química.

  • Reduzem a inflamação no cérebro, protegendo contra danos que podem afetar o funcionamento das sinapses.

Estudos mostram que níveis adequados de ômega-3 estão associados a uma melhor função cognitiva e a uma menor incidência de distúrbios neuropsiquiátricos, como depressão e demência. Além disso, o DHA é essencial para o desenvolvimento cerebral durante a gestação e a infância, período em que a criação de sinapses é intensa.

Além do ômega-3, outros nutrientes também são fundamentais para a neurotransmissão, como:

- Vitaminas do complexo B (B6, B12 e folato): essenciais na produção de neurotransmissores como a serotonina, dopamina e noradrenalina.

- Magnésio: atua na regulação de neurotransmissores e na função dos receptores sinápticos.

- Zinco: importante na função sináptica e no controle da excitação neuronal.

- Aminoácidos: são os precursores diretos de muitos neurotransmissores (como o triptofano, precursor da serotonina).

Garantir uma dieta rica em nutrientes essenciais é crucial para promover a saúde cerebral, o bom funcionamento do sistema nervoso e a prevenção de transtornos psiquiátricos. Aprenda mais sobre nutrição e cérebro em https://t21.video.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Classificação TIRADS para nódulos na tireoide

A classificação TIRADS (Thyroid Imaging Reporting and Data System) é um sistema utilizado para padronizar a avaliação de nódulos da tireoide através de ultrassonografia. Ela auxilia na avaliação do risco de malignidade de nódulos tireoidianos, guiando a decisão sobre a necessidade de biópsia ou apenas acompanhamento.

São vários os fatores de risco para nódulos na tireoide, incluindo deficiência de iodo, predisposição genética, histórico familiar, exposição a radiação, envelhecimento, inflamação da tireoide por infecção viral ou tireoidite de Hashimoto, adenomas e carcinomas.

A TIRADS se baseia em cinco características ultrassonográficas dos nódulos da tireoide, que são:

1. Composição (cístico, misto, sólido)

2. Ecogenicidade (hiperecogênico, isoecogênico, hipoecogênico)

3. Margens (lisas, irregulares, invasão extra-tireoidiana)

4. Forma (mais largo que alto ou mais alto que largo)

5. Presença de calcificações (microcalcificações, macrocalcificações, etc.)

Cada uma dessas características recebe uma pontuação que determina o risco de malignidade. Com base na pontuação total, o nódulo é classificado de acordo com o sistema TIRADS.

Classificação TIRADS da tireoide

1. TIRADS 1: Normal

- Significado: Ausência de nódulos; a tireoide parece normal.

- Risco de malignidade: 0%

- Recomendação: Nenhuma ação necessária.

2. TIRADS 2: Benigno

- Significado: Nódulos claramente benignos, como cistos simples ou espongiformes.

- Risco de malignidade: 0%

- Recomendação: Nenhuma intervenção adicional necessária, apenas acompanhamento de rotina.

3. TIRADS 3: Provavelmente benigno

- Significado: Nódulos com características de baixa suspeita, como nódulos sólidos com margens regulares e sem características suspeitas.

- Risco de malignidade: 2-5%

- Recomendação: Ultrassom de acompanhamento para observar mudanças no nódulo, sem necessidade imediata de biópsia.

4. TIRADS 4: Suspeito

- Significado: Nódulos com características intermediárias de suspeita (por exemplo, hipoecogenicidade ou margens irregulares), sugerindo possível malignidade.

- Subdivisões:

- TIRADS 4A: Baixa suspeita – risco de malignidade entre 5-10%

- TIRADS 4B: Moderada suspeita – risco de malignidade entre 10-50%

- Recomendação: Avaliar a necessidade de biópsia, dependendo do tamanho e características.

5. TIRADS 5: Altamente suspeito

- Significado: Nódulos com várias características de alta suspeita, como microcalcificações, margens irregulares, forma mais alta que larga, ou invasão de tecidos próximos.

- Risco de malignidade: 50-90%

- Recomendação: Biópsia fortemente recomendada para confirmação diagnóstica.

6. TIRADS 6: Maligno

- Significado: Nódulo com diagnóstico confirmado de malignidade (por exemplo, após biópsia ou cirurgia).

- Risco de malignidade: 100%

- Recomendação: Intervenção terapêutica, geralmente cirurgia ou tratamento oncológico.

Decisões Clínicas Baseadas no TIRADS

A necessidade de biópsia depende da categoria TIRADS e do tamanho do nódulo. Geralmente, a biópsia é recomendada para:

- TIRADS 4 ou 5 com nódulos maiores que 1 cm.

- TIRADS 3 com nódulos maiores que 2,5 cm.

Em caso de dúvidas, consulte o seu médico.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Estrogênio + microbioma: conheça o estroboloma

A função do trato digestivo é essencial para o funcionamento adequado de quase todos os sistemas biológicos do corpo. A conexão entre intestino e sistema endócrino feminino é tão forte que há um termo para descrever o impacto nos níveis de estrogênio: o estroboloma.

O ESTROBOLOMA E O METABOLISMO DO ESTROGÊNIO

Os insights que levaram à compreensão atual do estroboloma datam de 1985, quando foi descoberto que cepas bacterianas específicas podiam produzir uma enzima chamada beta-glucuronidase, que desconjugaria os estrogênios, tornando-os disponíveis para serem reabsorvidos no intestino e de volta à circulação.

Os estrogênios passam por várias etapas para serem metabolizados e excretados pelo corpo. Primeiro, os estrogênios primários (estrona, estradiol e estriol) são hidroxilados pelo CYP 450 no fígado nos metabólitos 2-OH, 4-OH e 16-OH (e outros). Esses metabólitos passam por metabolismo adicional com as ações de metilação, glucuronidação e sulfonação em sua forma conjugada. Nesse ponto, os estrogênios conjugados são "empacotados" e podem então viajar pela bile para os intestinos para excreção.

Estudos de estrogênios injetados e radioativamente marcados em mulheres mostraram que aproximadamente 65% do estradiol injetado, 48% da estrona injetada e 23% do estriol injetado são recuperados na bile (o que significa que caem nos intestinos). No entanto, apenas 10-15% dos estrogênios injetados são encontrados (em suas formas conjugadas) nas fezes, sugerindo que quantidades significativas de estrogênios foram desconjugadas e reabsorvidas no trato intestinal.

Essa observação leva à questão do que acontece com os estrogênios restantes e por quê? A resposta está no estroboloma, a coleção de micróbios no intestino que são capazes de metabolizar e modular a quantidade de estrogênio circulante no corpo. Uma maneira pela qual isso ocorre é por meio da produção de beta-glucuronidase por micróbios no intestino.

BETA-GLUCURONIDASE

A beta-glucuronidase desempenha um papel importante no metabolismo. Além do estrogênio, a beta-glucuronidase também hidrolisa resíduos de aminoácidos de outros compostos, incluindo medicamentos como sulfato de heparina e até mesmo a própria bilirrubina do corpo, permitindo que seja reabsorvida.

Mais de 60 gêneros de micróbios intestinais podem produzir beta-glucuronidase, incluindo gêneros importantes como Lactobacillus, Bifidobacterium, Enterococcus e outros. Também é provável que a conexão microbioma intestinal-hormonal vá além da beta-glucuronidase, com evidências mostrando que a microbiota intestinal pode influenciar o equilíbrio do estrogênio por meio de outras vias enzimáticas.

No trato gastrointestinal humano, os genes mais importantes que codificam a beta-glucuronidase são chamados de genes GUS. Cerca de 112 genes GUS foram identificados e tendem a ser expressos em quatro filos bacterianos principais, incluindo Bacteroidetes, Firmicutes, Verrucomicrobia e Proteobacteria. Níveis clinicamente apropriados de beta-glucuronidase ainda não foram estabelecidos.

O excessso de beta-glucuronidase, especialmente no intestino pode gerar:

  • Recirculação de toxinas e hormônios, como estrogênio, aumentando sintomas da TPM, risco de endometriose, miomas e cânceres hormônio-dependentes, como mama e endométrio.

  • Sobrecarga hepática, com sintomas como fadiga crônica, dores de cabeça, alterações de humor e irritabilidade.

  • Pele e olhos amarelados.

  • Interferência no metabolismo de fármacos.

Já falei do excesso de beta-glucuronidase, causas e tratamentos neste outro texto.

O ESTROBOLOMA E O RISCO DE DOENÇAS

Vimos que, por meio do estroboloma, o microbioma intestinal pode impactar diretamente a carga vitalícia de estrogênio de uma mulher e também pode influenciar diretamente o risco de doença. Pesquisadores têm avaliado o papel do estroboloma em várias condições com influência conhecida do estrogênio, incluindo cânceres responsivos ao estrogênio e endometriose.

Tanto os estrogênios endógenos quanto os exógenos (como os xenoestrogênios) requerem metabolismo e excreção. Se o estroboloma favorece a recirculação do estrogênio e, portanto, uma carga total de estrogênio maior, isso muda o ambiente hormonal das mulheres de uma forma que vai além da estimulação direta dos receptores de estrogênio. O aumento do estrogênio total também pode causar alterações na função do sistema imunológico e pode impactar ainda mais o microbioma intestinal.

O estroboloma também é reconhecido por sua provável importância na proteção da saúde cardiovascular em mulheres na pós-menopausa. Em um estudo publicado em junho de 2022, indivíduos participantes do Hispanic Community Health Study/Study of Latinos (uma população com alto risco cardiometabólico) foram submetidos a sequenciamento metagenômico de shotgun de fezes. Os resultados foram interessantes. O microbioma de mulheres na pós-menopausa parecia mais semelhante ao dos homens do que às mulheres na pré-menopausa e essas alterações no microbioma intestinal foram associadas ao risco cardiometabólico adverso em mulheres na pós-menopausa (Peters et al., 2022).

MELHORANDO O ESTROBOLOMA

Ao coletar o histórico do paciente para preocupações relacionadas a hormônios, a avaliação da função gastrointestinal e possíveis fatores de risco para disbiose devem ser incluídos. Isso inclui o histórico de uso de antibióticos, histórico de obesidade ou diabetes tipo 2 e a tradicional "dieta ocidental" de alimentos com baixo teor de fibras, alto teor de gordura e alto teor de carboidratos (entre muitos outros).

O indican urinário, um novo ácido orgânico incluído em alguns painéis DUTCH, demonstrou ser um marcador confiável para disbiose intestinal. Dados de amostras do teste DUTCH em mulheres na pós-menopausa e em homens mostraram uma associação pequena, mas estatisticamente significativa, entre níveis elevados de indican urinário (sugerindo disbiose) e níveis de estradiol, reforçando a afirmação de que a disbiose intestinal é um fator importante nos níveis de estrogênio circulante.

O indican é o resultado da decomposição do triptofano intestinal, estando normalmente presente em traços na urina. Sua absorção intestinal é maior na presença de obstipação ou aumento da putrefação intestinal. Assim, o indican tem seu nível aumentado em enterites, na obstrução intestinal, no íleo paralítico e nasneoplasias gastrintestinais. O indican também apresenta-se elevado em quadros de decomposição bacteriana de proteínas corpóreas, como septicemias e gangrenas.

Em caso de disbiose, procede-se à modulação intestinal, com uso de prebióticos, probióticos e simbióticos são indicados para equilibrar a atividade da beta-glucuronidase, juntamente com uma dieta rica em fibras, rica em diversos fitonutrientes e alimentos fermentados.

Se beta-glucoronidase nas fezes estiver alta (maior que 2.486U/mL) podemos suplementar cálcio D-glucarato para desativar a enzima. O cálcio-d-glucarato também pode ajudar a bloquear a beta-glucuronidase, reduzindo a desconjugação de estrogênios e apoiando a excreção adequada de metabólitos de estrogênio, e é uma abordagem razoável de suplemento dietético. A dosagem normalmente varia de 500 a 1000 mg por dia.

Ao melhorar o metabolismo do estrogênio com estilo de vida e suplementação, certifique-se de considerar o impacto potencial do estroboloma na recirculação. Somente quando todo o metabolismo do estrogênio e as vias de excreção forem abordados, você poderá restaurar o equilíbrio e a função ideais do estrogênio.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/