Dieta mediterrânea e melatonina

A dieta mediterrânica (DM) é um padrão nutricional com propriedades de saúde amplamente conhecidas. Tradicionalmente, a DM é consumida em áreas geográficas onde se cultivam azeitonas (Olea europea L.) e uvas (Vitis vinifera L.), e onde se produzem e consomem regularmente azeite e vinho tinto.

Por seus benefícios, a DM foi declarada como parte do património imaterial da humanidade pela UNESCO, mas inclui mais que dieta. É um estilo de vida que inclui hábitos próprios dos países mediterrânicos, como a prática de exercício moderado até idades avançadas, junto com muita socialização.

Em termos de padrão nutricional, a DM é equilibrada em calorias e ingestão de macro e micronutrientes. Como componentes essenciais, a DM inclui cereais integrais, frutas, vegetais, legumes, nozes, iogurte, peixe e carne branca. Minerais, vitaminas e outros compostos bioativos estão incluídos em diferentes alimentos da DM como frutas, vegetais e azeite, entre outros.

Os hábitos alimentares do DM estão correlacionados com uma menor incidência de câncer, doenças cardiovasculares e neurodegenerativas, quando comparados aos padrões alimentares de países mais industrializados.

Do ponto de vista fitoquímico, o DM é rico em fenilpropanoides, isoprenoides e alcaloides, compostos com alta atividade antioxidante. Polifenóis têm sido amplamente estudados em termos das propriedades antioxidantes. Bactérias intestinais convertem estes polifenóis em Urolitina A, composto relacionado à longevidade.

Além disso, estudos observacionais ligam a DM à menor incidência de transtornos como depressão, ansiedade, esquizofrenia, distúrbios alimentares (Madani et al., 2022).

Um outro motivo pelo qual a dieta mediterrânea beneficia a saúde mental é a maior produção de melatonina e melhoria da qualidade do sono. A melatonina é um hormônio que é biossintetizado a partir do aminoácido triptofano.

A síntese de melatonina é regulada pelo ciclo claro/escuro e as enzimas envolvidas no processo são expressas durante a noite, porque a luz inibe sua expressão. Em mamíferos, a melatonina é sintetizada em muitos tecidos e órgãos e apresenta notável versatilidade funcional, exibindo efeitos antioxidantes, oncostáticos, antienvelhecimento e imunomoduladores.

Diferentes alimentos e bebidas da dieta mediterrânea contém fitomelatonina (melatonina das plantas). O azeite de oliva é um subproduto da azeitona que é conhecido mundialmente por suas propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes, enquanto o azeite de oliva virgem é o principal óleo usado na cocção na DM. O processo de refinamento reduz o teor de melatonina no azeite de oliva, embora o azeite de oliva refinado tenha apresentado um teor maior de melatonina do que o óleo de girassol.

O maior teor de melatonina foi detectado em frutas e vegetais, mas a quantidade de melatonina na mesma fruta varia dependendo das condições de colheita, como hora do dia, ano, maturidade e variedade. Uvas roxas, tomates, diferentes tipos de castanhas, incluindo amêndoas, pistaches, nozes também contém fitomelatonina, assim como leguminosas (especialmente lentilhas e brotos) e grãos.

Há evidências que sugerem que as plantas mediterrâneas, que crescem sob alta exposição à luz solar, têm maior conteúdo de melatonina, em comparação com as mesmas espécies que vivem sob menor exposição à luz solar em outros locais. Há ampla evidência em relação aos efeitos da suplementação de melatonina e acredita-se que o consumo periódico de alimentos típicos da DM pode contribuir para o aumento dos níveis de melatonina no sangue e impactar positivamente a qualidade do sono e no status antioxidante geral (Grao-Cruces et al., 2023).

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Polifenóis e saúde intestinal

Polifenóis são os metabólitos secundários mais importantes produzidos por plantas. Além de as defenderem também defendem os seres humanos que adotam uma dieta baseada em plantas, rica em polifenóis. Possuem atividades antioxidantes, anti-inflamatórias, antibacterianas, antiadipogênicas e neuroprotetoras.

No entanto, devido às suas estruturas complicadas e altos pesos moleculares, uma grande proporção de polifenóis dietéticos permanece não absorvida ao longo do trato gastrointestinal, enquanto no intestino grosso eles são biotransformados em metabólitos fenólicos bioativos de baixo peso molecular através da microbiota intestinal residente. Assim, polifenóis dietéticos podem modular a composição de micróbios intestinais e, por sua vez, micróbios intestinais catabolizam polifenóis para liberar metabólitos bioativos.

Uma das moléculas benéficas produzidas pela microbiota a partir dos polifenois é a urolitina A. Escrevi sobre esta molécula ligada à longevidade neste outro artigo.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Urolitina: molécula da longevidade

A urolitina é um composto bioativo que tem atraído atenção por seus potenciais benefícios à saúde. Ela é produzida pela ação da microbiota intestinal a partir de precursores presentes em alimentos ricos em polifenóis, como as elagitaninas e o ácido elágico, encontrados principalmente em frutas como romãs, nozes e frutas vermelhas (framboesas, morangos, amoras, cranberries, goji berries), castanha do Pará, amêndoas, uva roxa, chá verde, avelãs.

Quando ingerimos alimentos ricos em elagitaninas e ácido elágico, esses compostos não são diretamente absorvidos no intestino. Eles precisam ser metabolizados por bactérias específicas no intestino, que os convertem em diferentes formas de urolitina, como a urolitina A, que é a mais estudada e que parece ter efeitos benéficos à saúde. Essa conversão depende da composição da microbiota intestinal, ou seja, nem todas as pessoas conseguem produzir urolitinas da mesma forma, pois isso depende da presença de determinadas espécies bacterianas.

A urolitina A tem sido estudada por seus efeitos na biogênese mitocondrial — o processo pelo qual novas mitocôndrias (as "usinas de energia" das células) são geradas. A urolitina A promove a remoção de mitocôndrias danificadas através de um processo chamado mitofagia, o que pode melhorar a função mitocondrial e retardar processos associados ao envelhecimento celular. Isso sugere potenciais benefícios no combate a doenças relacionadas à idade, como sarcopenia (perda de massa muscular) e doenças neurodegenerativas.

Urolitinas, particularmente a urolitina A, possuem propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes. Isso pode ajudar a reduzir o risco de doenças inflamatórias crônicas, como doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2 e certos tipos de câncer. A inflamação crônica é um fator de risco para muitas doenças, e a regulação da microbiota intestinal, além da produção de urolitinas, pode contribuir para controlar essa inflamação.

Como a produção de urolitinas depende da microbiota intestinal, há uma variabilidade individual significativa na capacidade de gerar esses compostos. Isso significa que, embora algumas pessoas possam obter benefícios de alimentos ricos em elagitaninas, outras podem não metabolizá-los de maneira eficaz se não tiverem as bactérias intestinais apropriadas. Pesquisas estão explorando maneiras de melhorar a saúde intestinal e a produção de urolitinas, como o uso de probióticos ou a modulação da dieta.

Estudos sugerem que a urolitina A pode melhorar a função muscular, especialmente em populações idosas, ajudando a prevenir a perda de massa muscular e melhorar a resistência física.

Pesquisas preliminares indicam que a urolitina A pode ter um efeito protetor sobre o sistema nervoso, reduzindo o risco de doenças neurodegenerativas como o Alzheimer.

Os efeitos antioxidantes e anti-inflamatórios da urolitina também têm sido investigados na prevenção de certos tipos de câncer, especialmente o câncer de cólon, onde o papel da microbiota intestinal é crucial.

Suplementação de urolitina A

Um estudo determinou indivíduos produtores e não produtores de urolitina. Apenas 12% das pessoas analisadas tinham níveis detectáveis de urolitina A. A suplementação de urolitina A (500mg/dia) aumentou os níveis plasmaticos significativamente (em mais de 6 vezes)

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/