Neuroinflamação no TDAH

A neuroinflamação e o estresse oxidativo desempenham um papel na fisiopatologia do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) devido a fatores genéticos e ambientais, desregulação catecolaminérgica e medicamentos usados ​​para tratamento, todos fatores que podem produzir inflamação e estresse oxidativo, o que aumenta os sintomas e, como consequência, leva ao estabelecimento de um círculo vicioso.

A inflamação no cérebro é caracterizada pela ativação de células gliais (oligodendrócitos, astrócitos, microglia e células ependimárias) e pela produção de citocinas, quimiocinas, prostaglandinas, óxido nítrico (NO), espécies reativas de oxigênio (ROS) e infiltração de células imunes, incluindo monócitos/macrófagos, neutrófilos, células dendríticas, células T e células B. As células gliais, principalmente a microglia (células imunes residentes no cérebro), são responsáveis ​​pela manutenção da homeostase após lesão cerebral.

Sintomas aumentados de TDAH foram relatados em pacientes com um ambiente inflamatório descontrolado. Assim, níveis elevados de receptor de interleucina-6 (IL-6R), RANTES (regulado após ativação, expresso e secretado por células T normais) e fator de necrose tumoral-α (TNF-α) em crianças com TDAH foram associados a uma intensidade maior de sintomas como hiperatividade e desatenção. Além disso, os níveis séricos de IL-6 e IL-10 foram significativamente maiores em crianças com TDAH em comparação com controles saudáveis.

A associação entre a desregulação da resposta inflamatória e a fisiopatologia do TDAH é possível como resultado do papel da inflamação na neurogênese, diferenciação e função neuronal. Além disso, a neuroinflamação pode induzir fatores agravantes, como ruptura da barreira hematoencefálica, metabolismo alterado de neurotransmissores, estresse oxidativo e neurodegeneração.

Os mecanismos inflamatórios e a associação da desregulação no TDAH ainda precisam ser totalmente esclarecidos, mas envolvem fatores genéticos e/ou ambientais. Vários estudos relataram uma associação entre o TDAH e o polimorfismo de citocinas, como IL-2, IL-6 e TNF-α. A comorbidade com distúrbios alérgicos e autoimunes, como eczema atópico, rinite alérgica e asma, é outro fator que pode aumentar o risco de TDAH. Em uma meta-análise e um estudo de associação genômica em larga escala (GWAS), associações entre asma e TDAH foram encontradas em crianças e adultos. Além disso, pacientes com TDAH e asma tinham disfunções semelhantes na região cerebral e níveis mais altos de citocinas e IgE em comparação com crianças saudáveis, resultando em alterações nas regiões do cérebro associadas ao controle emocional e comportamental.

Assim como antioxidantes contra inflamação e estresse oxidativo têm sido usados ​​para controlar outros distúrbios, como doença de Alzheimer, doença de Parkinson, doença de Huntington, autismo, esquizofrenia e depressão, a mesma estratégia pode ser útil no TDAH.

Sulforafano exerce atividade anti-inflamatória

O sulforafano (SFN) é encontrado em maiores concentrações em vegetais como couve-flor e brotos de brócolis, e foi demonstrado que é um ativador do fator nuclear eritroide 2 relacionado ao fator 2 (Nrf2). O Nrf2 é um fator de transcrição amplamente reconhecido como um regulador mestre da homeostase redox celular. A regulação é realizada pela ligação do Nrf2 a uma sequência específica de DNA conhecida como elemento de resposta antioxidante (ARE) encontrada nas regiões promotoras de genes que codificam enzimas de desintoxicação, como NADPH quinona oxidorredutase 1 (NQO1), heme oxigenase 1 (HO-1) e glutationa peroxidase 1 (GPx1), entre outras.

O Nrf2 regula enzimas responsáveis ​​pelas sínteses de GSH, como a subunidade catalítica glutamato-cisteína (GCLC) e d subunidade modificadora da glutamato-cisteína ligase (GCLM) e enzimas relacionadas à utilização de GSH, como glutationa S transferase (GST), glutationa peroxidase e glutationa redutase. Assim, sulforafano (SFN) ativa Nrf2 e estimula a transcrição de genes envolvidos na síntese de GSH.

O mecanismo molecular pelo qual o SFN exerce sua função anti-inflamatória é induzindo a ativação da via Nrf2. O Nrf2 leva à inibição das vias inflamatórias clássicas do fator nuclear kappa B (NF-κB), proteína ativadora-1 (AP-1) e proteína quinase ativada por mitógeno (MAPK), resultando na diminuição da expressão dos mediadores inflamatórios (iNOS, COX-2, NO e prostaglandinas) e citocinas pró-inflamatórias (TNF-α, IL-6 e IL-1β). Além disso, a ativação Nrf2/HO-1 aumenta as citocinas anti-inflamatórias (IL-10 e IL-4) [62,63,64,65]. Além disso, o SFN tem um efeito profilático e terapêutico ao inibir tanto a resposta inflamatória quanto a ativação microglial.

NAC e TDAH

A N-acetilcisteína (NAC), um precursor da L-cisteína e do antioxidante glutationa (GSH), é encontrada em plantas, especialmente na cebola. A NAC tem sido usada como terapia adjuvante em muitos transtornos psiquiátricos (por exemplo, doença de Alzheimer, esquizofrenia, autismo, dependência, abuso de substâncias, transtornos obsessivo-compulsivos e de humor, com resultados promissores e sem efeitos colaterais relevantes após sua administração contra a inflamação.

Um estudo derivado de uma lista de verificação de sintomas de escala de autorrelato de TDAH revelou que o NAC reduziu os sintomas de TDAH em pacientes com lúpus eritematoso sistêmico e também inibiu o processo inflamatório autoimune por meio da supressão do alvo mamífero da rapamicina (mTOR) e aumento das células T reguladoras Além disso, foi relatado que o NAC bloqueia a ativação do inflamassoma, bem como a produção de IL-18 e IL-1β [75].

Inflamassoma NLRP3 (Irrera et al., 2020)

Ácidos graxos ômega-3 previnem inflamação

Ácidos graxos ômega-3 (ômega-3 FAs) são ácidos graxos poli-insaturados, cujas fontes primárias estão em peixes oleosos. Eles são componentes de membranas neuronais e têm um papel principal na neurotransmissão, desenvolvimento neuronal e função. Dois dos principais ácidos graxos ômega-3 são o ácido docosahexaenóico (DHA) e o ácido eicosapentaenóico (EPA) e foi demonstrado que a suplementação com ácidos graxos ômega-3 tem efeitos benéficos em vários distúrbios neurodegenerativos e neuropsiquiátricos, como as doenças de Parkinson e Alzheimer, depressão, transtorno bipolar, ansiedade e esquizofrenia.

Esses ácidos graxos ômega-3 também são conhecidos por terem efeitos anti-inflamatórios. Foi demonstrado que o DHA diminuiu a via de sinalização inflamatória, reduz a ativação das células T, a proliferação e promove a polarização em células T reguladoras.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Epigenômica placentária

Muitas pessoas pensam que se querem engravidar devem adotar uma dieta saudável por 3 meses antes da primeira tentativa. Mas a verdade é que as mulheres já nascem com seus óvulos e estes vão acumulando marcas epigenéticas por toda a vida.

O que é epigenética?

Epigenética é o estudo de como as marcas transitórias no genoma humano afetam o potencial de expressão de genes. Vários mecanismos epigenéticos podem afetar a expressão genética, incluindo modificações (acetilação e metilação) de proteínas histonas e metilação do DNA.

A metilação do DNA é gerada pela adição direta de um grupo metil (-CH3) a uma base de DNA, ocorrendo mais frequentemente em citosinas adjacentes a resíduos de guanina. Quando isso ocorre dentro da região promotora de um gene, está tradicionalmente associado ao silenciamento do gene através do recrutamento de repressores e da inibição de fatores de transcrição. No entanto, em alguns contextos, mostra-se que a metilação do DNA ativa a expressão.

Ambiente influencia alterações epigenéticas

A depender das toxinas ambientais, traumas e dieta adotada ao longo da vida, os oócitos podem ter mais ou menos mitocôndrias, mais ou menos vesículas de gordura acumulada. Assim, cuidar da saúde a vida toda é importante para óvulos saudáveis ao engravidar (Lane et al., 2014).

Muitas das marcas epigenéticas são apagadas no momento da concepção, mas nem todas e, a depender da qualidade do óvulo o risco de doenças futuras, na criança que nem foi concebida, aumentam. Marcas epigenéticas podem influenciar o risco de diabetes, obesidade, hipertensão, transtornos do neurodesenvolvimento e até transtornos mentais (Jakovcevski, & Akbarian, 2012; Guintivano, & Kaminsky, 2016; Schiele et al., 2020; Lapehn, & Paquette, 2022; Yuan et al., 2023; Cánepa,& Berardino, 2024).

A placenta é um importante regulador do ambiente fetal, com funções no transporte de nutrientes, sinalização endócrina, troca de oxigênio e resíduos. Liga-se ao feto por meio do cordão umbilical, que se ramifica em árvores vilosas que trocam oxigênio, nutrientes, resíduos e sinais endócrinos entre o feto e a placenta.

Um mecanismo epigenético que afeta bastante a placenta é a liberação de microRNAs (miRNAs). Os microRNAs são um subtipo de pequenos RNAs não codificantes que se ligam ao RNA mensageiro alvo e regulam a expressão causando desestabilização, impedindo o início da tradução ou induzindo desadenilação e decaimento.

Os microRNAs são expressos na placenta e estão envolvidos na sinalização fetal e materna através da secreção na circulação materna dentro de vesículas extracelulares conhecidas como exossomos. Os RNAs longos (lncRNAs) são menos estudados, mas podem regular a expressão gênica ligando-se a regiões promotoras de genes alvo ou remodelando a cromatina.

Tabagismo, contato com metais pesados, álcool, ftalatos dos plásticos, fenóis, poluentes orgânicos persistentes (POPs), a própria poluição do ar, estressores psicossociais são todos fatores que podem alterar os processos epigenéticos, gerar danos oxidativos ao DNA, aumentar o risco de mutações genéticas espontâneas e influenciar o risco de doenças e transtornos mentais.

Alterações antes da gestação, durante e no início do desenvolvimento influenciam o risco de autismo (Pugsley et al., 2021)

Nutrição e regulação epigenética

A nutrição desempenha um papel fundamental na regulação epigenética, influenciando o desenvolvimento fetal e a saúde futura do concepto. Durante a gestação, a dieta da mãe pode alterar a epigenética do feto, modulando a expressão de genes importantes para o neurodesenvolvimento. Foi demonstradol, por exemplo, que a suplementação materna de folato e vitamina D antes e durante a gestação reduz significativamente a taxa de autismo entre os filhos. Outros nutrientes fundamentais. na gestação são B6, B12, colina, zinco, ômega-3 e polifenóis.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Ativação da vitamina D no cérebro

De acordo com o conhecimento atual, a síntese do calcitriol ocorre pela via clássica que começa nas camadas epiteliais do intestino, que absorve colesterol. Este é levado à pele onde este colesterol é transformado em vitamina D (calciferol, forma inativa). Depois a vitamina D passa por rins em fígado onde é transformada em 1,25(OH)2D (calcitriol, forma ativa da vitamina D). O calcitriol ultrapassa a barreira hematoencefálica (BHE) e ativa os receptores de vitamina D (VDR ou PDIA3) em diferentes regiões do cérebro. Agora, modelos animais mostram que o próprio cérebro poderia converter a vitamina D de forma inativa em forma ativa.

Recentemente, a hipótese de aumentar a ação “sistêmica” do calcitriol pela produção local foi ampliada para incluir o sistema nervoso central. No entanto, a única evidência que apoia isso é a expressão das enzimas envolvidas na síntese e no catabolismo do calcitriol por neurônios, células gliais e microglia.

Enzimas envolvidas na síntese de calcitriol são expressas em pericitos, células gliais e neurônios, além do fígado e rim, apontando para o possível papel da produção local na sinalização da vitamina D. Em humanos, o CYP2R1 é o principal responsável pela síntese de calcidiol, mas outras 25-hidroxilases também contribuem, especialmente em níveis aumentados de substrato.

No cérebro, a expressão do CYP2R1 foi demonstrada em pericitos, o que pode desempenhar um papel significativo na regulação da permeabilidade da BHE para metabólitos da vitamina D e sugere a existência de um sistema neurovascular autócrino/parácrino da vitamina D. Além disso, o CYP3A4 também mostra uma expressão específica do tipo de célula e da região no cérebro, que pode ter novos papéis além da depuração do fármaco.

A próxima etapa da ativação da vitamina D3 é catalisada pela 1α-hidroxilase (CYP27B1) na posição C1 de 25-OHD3, resultando em 1,25-di-hidroxi-vitamina D3. A transformação da vitamina D2 de fontes vegetais ocorre de forma semelhante.

É importante notar que a expressão do CYP27B1 foi demonstrada como ocorrendo no cérebro, bem como nas células epiteliais de diferentes órgãos (mama, próstata, olho), placenta, células ósseas, macrófagos, células T e B e várias glândulas endócrinas. No entanto, se a enzima CYP27B1 tem um efeito funcional in vivo em locais fora do rim e da placenta sob condições fisiológicas normais ainda não sabemos.

Em um estudo abrangente, Landel e colaboradores (2018) observaram que não apenas os receptores de vitamina D (VDR e Pdia3) são expressos em diferentes tipos de células cerebrais, mas também os mRNAs das enzimas envolvidas na síntese e metabolismo da vitamina D são altamente expressos. Eles propuseram que células endoteliais e neurônios podem transformar colecalciferol em calcidiol, pois esses tipos de células expressam altamente CYP27A1. Além disso, neurônios e possivelmente microglia podem ser capazes de ativar calcidiol em calcitriol, porque essas células tiveram uma expressão considerável de CYP27B1. Isso também foi confirmado em cérebros humanos fetais e adultos, sugerindo que a produção local de calcitriol pode ser possível.

O metabolismo da vitamina D também inclui transformações inativadoras de cada composto intermediário. A enzima mais importante é a 25-hidroxivitamina D3 24-hidroxilase, ou CYP24A1, responsável pela hidroxilação da cadeia lateral de 25-OHD3 e 1,25-(OH)2D3. Ambas as reações levam ao ácido calcitroico, que é excretado na bile.

O calcitriol regula sua própria biossíntese induzindo a expressão de CYP24A1 no rim. Curiosamente, a expressão de CYP24A1 também foi detectada em neurônios corticais e hipocampais e microglia isolada de cérebros de ratos, mas foi indetectável em astrócitos.

Para resumir, todos os elementos necessários da sinalização da vitamina D foram encontrados no cérebro, então uma funcionalidade autócrina/parácrina poderia teoricamente ser assegurada por precursores, enzimas ativadoras ou inativadoras do calcitriol, mas estudos adicionais são necessários para elucidar se as enzimas CYP2R1, CYP27a1 e Cyp24a1 também são expressas em níveis de proteína, ou se ocorrem eventos pós-traducionais que também poderiam regular a síntese e o catabolismo da vitamina D no cérebro.

O livro de Michael F. Holick, "Vitamina D", é considerado uma referência essencial sobre o tema. Ele oferece informações detalhadas sobre a importância da vitamina D, como obtê-la e como ela pode melhorar a saúde.

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