Muitas pessoas pensam que se querem engravidar devem adotar uma dieta saudável por 3 meses antes da primeira tentativa. Mas a verdade é que as mulheres já nascem com seus óvulos e estes vão acumulando marcas epigenéticas por toda a vida.
O que é epigenética?
Epigenética é o estudo de como as marcas transitórias no genoma humano afetam o potencial de expressão de genes. Vários mecanismos epigenéticos podem afetar a expressão genética, incluindo modificações (acetilação e metilação) de proteínas histonas e metilação do DNA.
A metilação do DNA é gerada pela adição direta de um grupo metil (-CH3) a uma base de DNA, ocorrendo mais frequentemente em citosinas adjacentes a resíduos de guanina. Quando isso ocorre dentro da região promotora de um gene, está tradicionalmente associado ao silenciamento do gene através do recrutamento de repressores e da inibição de fatores de transcrição. No entanto, em alguns contextos, mostra-se que a metilação do DNA ativa a expressão.
Ambiente influencia alterações epigenéticas
A depender das toxinas ambientais, traumas e dieta adotada ao longo da vida, os oócitos podem ter mais ou menos mitocôndrias, mais ou menos vesículas de gordura acumulada. Assim, cuidar da saúde a vida toda é importante para óvulos saudáveis ao engravidar (Lane et al., 2014).
Muitas das marcas epigenéticas são apagadas no momento da concepção, mas nem todas e, a depender da qualidade do óvulo o risco de doenças futuras, na criança que nem foi concebida, aumentam. Marcas epigenéticas podem influenciar o risco de diabetes, obesidade, hipertensão, transtornos do neurodesenvolvimento e até transtornos mentais (Jakovcevski, & Akbarian, 2012; Guintivano, & Kaminsky, 2016; Schiele et al., 2020; Lapehn, & Paquette, 2022; Yuan et al., 2023; Cánepa,& Berardino, 2024).
A placenta é um importante regulador do ambiente fetal, com funções no transporte de nutrientes, sinalização endócrina, troca de oxigênio e resíduos. Liga-se ao feto por meio do cordão umbilical, que se ramifica em árvores vilosas que trocam oxigênio, nutrientes, resíduos e sinais endócrinos entre o feto e a placenta.
Um mecanismo epigenético que afeta bastante a placenta é a liberação de microRNAs (miRNAs). Os microRNAs são um subtipo de pequenos RNAs não codificantes que se ligam ao RNA mensageiro alvo e regulam a expressão causando desestabilização, impedindo o início da tradução ou induzindo desadenilação e decaimento.
Os microRNAs são expressos na placenta e estão envolvidos na sinalização fetal e materna através da secreção na circulação materna dentro de vesículas extracelulares conhecidas como exossomos. Os RNAs longos (lncRNAs) são menos estudados, mas podem regular a expressão gênica ligando-se a regiões promotoras de genes alvo ou remodelando a cromatina.
Tabagismo, contato com metais pesados, álcool, ftalatos dos plásticos, fenóis, poluentes orgânicos persistentes (POPs), a própria poluição do ar, estressores psicossociais são todos fatores que podem alterar os processos epigenéticos, gerar danos oxidativos ao DNA, aumentar o risco de mutações genéticas espontâneas e influenciar o risco de doenças e transtornos mentais.
Nutrição e regulação epigenética
A nutrição desempenha um papel fundamental na regulação epigenética, influenciando o desenvolvimento fetal e a saúde futura do concepto. Durante a gestação, a dieta da mãe pode alterar a epigenética do feto, modulando a expressão de genes importantes para o neurodesenvolvimento. Foi demonstradol, por exemplo, que a suplementação materna de folato e vitamina D antes e durante a gestação reduz significativamente a taxa de autismo entre os filhos. Outros nutrientes fundamentais. na gestação são B6, B12, colina, zinco, ômega-3 e polifenóis.