Efeitos benéficos da terapia metabólica cetogênica na doença renal policística

A doença renal policística autossômica dominante (DRPAD) resulta de mutações nos genes PKD1 ou PKD2. A feta entre 1:400-1:1000 indivíduos em todo o mundo, tornando-a a principal doença monogênica com risco de vida. A necessidade de diálise e transplante renal é a norma para a maioria dos indivíduos com DRPAD. Tolvaptan, um antagonista do receptor de vasopressina V2, é atualmente a única terapia farmacológica aprovada para DRPAD. No entanto, Tolvaptan não interrompe a progressão da doença, tem efeitos adversos e toxicidades significativos, e seu alto custo limita a disponibilidade para pacientes em todo o mundo, tornando terapias eficazes, seguras e econômicas para DRPAD urgentemente necessárias.

Recentemente, a ADPKD ganhou reconhecimento como um distúrbio metabólico em que as células do cisto se tornam altamente dependentes de glicose e glicólise para atender às suas necessidades de energia. A atividade glicolítica aumentada acompanha a estrutura e função mitocondrial prejudicadas, levando à oxidação defeituosa de ácidos graxos, semelhante ao efeito Warburg das células cancerígenas. Para abordar isso, a inibição farmacológica da glicólise e abordagens para melhorar a função mitocondrial mostraram eficácia em estudos pré-clínicos na alteração da progressão da doença. Os agonistas do receptor ativado por proliferador de peroxissoma (PPAR) rosiglitazona e fenofibrato, o ativador Nrf2 sulforafano, e o ativador da proteína quinase ativada por AMP (AMPK) metformina retardam a progressão da doença em vários modelos animais.

O ativador Nrf2 bardoxolona concluiu um ensaio clínico de fase 2 para ADPKD, mas o ensaio de fase 3 foi encerrado precocemente pelo fabricante devido à eficácia insuficiente na prevenção de doença renal em estágio terminal em outro ensaio de fase 3 usando o mesmo medicamento, deixando em aberto a questão se a ativação Nrf2 é uma estratégia eficaz em ADPKD. O otimismo para utilizar a reprogramação metabólica direcionada é alto e sugere que opções mais conservadoras e econômicas, como a terapia metabólica cetogênica (TMC), podem ser uma estratégia eficaz para o tratamento da ADPKD.

A TMC inclui restrição calórica, alimentação com restrição de tempo (TRF), jejum prolongado e uma dieta cetogênica, todas as quais melhoram a progressão da doença em vários modelos animais de PKD. Além disso, a suplementação com a cetona primária produzida durante a cetose, β-hidroxibutirato (BHB), imitou os efeitos benéficos da cetose nutricional. Em estudo retrospectivo de série de casos de 131 indivíduos com ADPKD que auto-relataram ter realizado TMC por uma duração média de 6 meses sugeriu efeitos benéficos sobre sobrepeso/obesidade, redução do IMC, melhoria na dor e outros sintomas relacionados à ADPKD, juntamente com melhora significativa autorrelatada tanto da hipertensão quanto da eGFR.

Da mesma forma, um programa de intervenção TMC de 3 meses, acompanhado por nutricionista, criado especificamente para ADPKD combina uma abordagem de estilo de vida cetogênico focada em plantas, com uma redução de estressores renais e um novo alimento medicinal contendo β-hidroxibutirato (BHB) exógeno e citrato alcalino. Essa abordagem e experiência contínua com mais de 150 indivíduos que concluíram o programa sugerem que a intervenção melhora a hipertensão e a dor renal e pode afetar beneficamente a função renal. Além disso, um ensaio piloto randomizado e controlado de 3 meses (KETO-ADPKD) com 66 pacientes com ADPKD comparando a ingestão periódica de água jejum vs. dieta cetogênica vs. nenhuma mudança alimentar confirmou a segurança e a viabilidade, e encontrou uma redução significativa na gordura corporal e uma melhora significativa na eGFR (com base tanto na creatinina quanto na cistatina C).

O tamanho do efeito encontrado com TMC no ensaio KETO-ADPKD supera em muito qualquer tamanho de efeito relatado anteriormente com outros tratamentos, já que nenhum outro ensaio já demonstrou melhora na função renal ou uma diminuição no volume renal total. Todos esses dados sugerem um benefício modificador da doença do uso de TMC para terapia de PKD, mas serão necessários ensaios clínicos adicionais para verificar a eficácia a longo prazo.

Em contraste com intervenções dietéticas restritivas, métodos alternativos para atingir os objetivos do TMC, como suplementação de cetonas exógenas / BHB e jejuns, são interessantes, pois não exigem nenhuma mudança nas escolhas alimentares e podem levar ao aumento da adesão. O jejum intermitente parece seguro para quase todos quando implementado adequadamente.

Em estudo publicado em 2024 ratos juvenis com doença renal crônica foram tratados com jejum intermitente e BHB exógeno. Neste estudo, comparamos a alimentação com restrição de tempo e os regimes de jejum periódico de 48 horas em ratos Cy/+ jovens e adultos. Ambos os regimes de jejum previnem potentemente a progressão da doença juvenil e revertem parcialmente a doença renal crônica em roedores adultos. Para explorar o mecanismo do jejum, foi administrado β-hidroxibutirato (BHB) a ratos Cy/+ e modelos de camundongos ortólogos de PKD (Pkd1RC/RC, Pkd1-Ksp:Cre). O BHB imitou os efeitos do jejum nesses modelos independentemente do estereoisômero, sugerindo que os efeitos do BHB são em grande parte devidos às suas funções de sinalização. Essas descobertas implicam o uso de terapia metabólica cetogênica e suplementação de BHB como potenciais modificadores da doença renal crônica.

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Consulta de nutrição online

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Magro com colesterol alto?

Paciente jovem, magro, chegou ao consultório após diagnóstico de doença inflamatória intestinal. Universitário, morando longe da família. Antes do diagnóstico adotava uma dieta a base de carboidratos processados (macarrão instantâneo, nuggets, pizza, chocolates, bolos…). Após o diagnóstico testou uma variedade de dietas e percebeu que os sintomas da doença cessavam com a dieta com baixo teor de carboidratos, com carnes, ovos e uma variedade de vegetais de baixo índice glicêmico. Um estudo de caso foi publicado por Tóth e colaboradores (2016) mostrando os benefícios de dieta similar para paciente de 14 anos com doença de Crohn.

Contudo, meu paciente desenvolveu dislipidemia com a dieta cetogênica. Pacientes magros com LDL-c alto e as características de perfil de colesterol descritas abaixo são chamados Lean Mass Hyper Responders (LMHRs). O termo, traduzido livremente para Hiper-respondedores de Massa Magra, refere-se a um grupo específico de indivíduos com baixo percentual de gordura corporal que exibem uma resposta única a dietas pobres em carboidratos ou cetogênicas, desenvolvendo (Norwitz et al., 2021):

  • LDL alto: LDL significa lipoproteína de baixa densidade e é frequentemente considerada o colesterol "ruim". Muitos destes pacientes apresental LDL-c ≥200 mg/dL (quando geralmente considera-se ideal ≤ 100).

  • HDL alto: HDL significa lipoproteína de alta densidade e é frequentemente considerada o colesterol "bom". Hiper-respondedores frequentemente apresentam HDL ≥80 mg/dL (acima de 60 mg/dL é considerado excelente).

  • Triglicerídeos baixos: Os triglicerídeos são outro tipo de gordura encontrada no sangue. Hiper-respondedores de massa magra apresentam valores ≤70 mg/dL (é arriscado quando estes valores encontram-se ≥ 150 mg/dL).

O LDL-c tão alto é incomum e pode ser preocupante para alguns com aumento do acúmulo de placas de gordura nos vasos (Budoff et al., 2024). No entanto, é importante observar que os LMHRs são geralmente indivíduos magros e metabolicamente saudáveis e respondem de forma diferente, sem evidência de dano cardíaco .

Os mecanismos exatos por trás dos LMHRs ainda estão sendo pesquisados, mas uma teoria principal é o Modelo de Energia Lipídica (LEM). Este modelo sugere que quando os indivíduos em uma dieta pobre em carboidratos esgotam suas reservas de glicogênio, seus corpos podem depender mais da gordura como combustível. Isso pode levar a um aumento nas partículas de LDL, o que pode elevar os níveis de colesterol LDL.

É uma preocupação?

Embora o colesterol LDL alto seja frequentemente associado a um risco aumentado de doenças cardíacas, a situação para os LMHRs é mais complexa. Muitos estudos mostraram que os LMHRs têm um perfil lipídico favorável no geral, com colesterol HDL alto e triglicerídeos baixos compensando o LDL elevado.

A baixa proporção de triglicerídeos (TG) para colesterol HDL, um marcador de boa saúde metabólica, previu maiores aumentos de colesterol LDL. Esses dados sugerem que, em contraste com o padrão típico de dislipidemia, uma maior elevação do colesterol LDL em uma dieta restrita em carboidratos tende a ocorrer no contexto de risco cardiometabólico baixo. Mesmo assim, em uma série de casos publicada por Norwitz e colaboradores (2022b), a reintrodução moderada de carboidratos produziu uma diminuição acentuada no colesterol LDL.

No caso do meu paciente, uma das metas é o controle da doença inflamatória intestinal. Assim, mantivemos a dieta escolhida, com um acompanhamento dos marcadores cardiometabólicos e de saúde intestinal. Cada caso é um caso.

É crucial consultar um profissional de saúde para avaliar seus fatores de risco individuais e determinar o melhor curso de ação. Hiper-respondedores de massa magra não necessitam sempre usar medicamentos para redução de colesterol, como estatinas. Converse com seu cardiologista. Na minha consulta de nutrição vou te ajudar a entender seu perfil lipídico, discutir quaisquer preocupações e fornecer orientação personalizada.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Efeitos antiagregantes dos polifenois

A agregação e deposição de α-sinucleína (αS) são as principais características patológicas da doença de Parkinson, demência com corpos de Lewy, atrofia de múltiplos sistemas e outras α-sinucleinopatias. A propagação da αS no cérebro desempenha um papel fundamental no início e na progressão destas doenças.

Os oligômeros αS são espécies neurotóxicas e críticas na patogênese das α-sinucleinopatias. Uma forma de impedir a agregação é com a ingestão adequada de compostos fenólicos e tratamento da disbiose intestinal.

Miricetina, curcumina, ácido rosmarínico, ácido ferúlico, antocianinas e catequinas (como EGCG) são alguns dos compostos fenólicos antioxidantes, capazes de neutralizar radicais livres, ligar-se a metais pesados e inibir a agregação de αS.

Os polifenóis também possuem efeito prebiótico alimentando bactérias intestinais benéficas, o que reduz a inflamação e a neuroinflamação, melhora a imunidade e promove saúde metabólcia. Por sua vez, a microbiota intestinal saudável converte ativamente polifenóis alimentares em ácidos fenólicos, alguns dos quais são biodisponíveis, aumentando a resiliência a distúrbios neurológicos.

Os polifenóis presentes nos alimentos são geralmente conjugados com açúcares ou ácidos orgânicos, ou estão presentes como oligômeros não conjugados, como taninos condensados. Uma pequena quantidade da ingestão de polifenóis (cerca de 5–10%) pode ser absorvida no intestino delgado. Polifenóis mais complexos, especialmente oligoméricos e estruturas poliméricas, como taninos condensados ​​ou hidrolisáveis, chegam ao cólon quase inalterados, onde são metabolizados pela microbiota intestinal junto com conjugados excretados no lúmen intestinal através da bile. O resultado é a geração de compostos menos complexos e mais disponíveis para a absorção.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/