Intervenções dietéticas que melhoram a saúde, reduzem ansiedade e depressão

Seu cérebro e intestino são conectados por um sistema de comunicação bidirecional chamado eixo intestino-cérebro. O trato gastrointestinal não é apenas um longo tubo através do qual os alimentos são digeridos. Ele tem seu próprio sistema nervoso complexo chamado sistema nervoso entérico (SNE), também conhecido como "segundo cérebro".

O eixo intestino-cérebro conecta o SNE e o sistema nervoso central (SNC), permitindo que seu intestino se comunique com o cérebro e vice-versa. Esta conexão acontece por 3 vias principais:

  • Via do nervo vago: produtos químicos produzidos por bactérias intestinais podem enviar sinais ao seu cérebro através do nervo vago, que vai do cólon ao cérebro.

  • Via neuroendócrina: algumas bactérias intestinais produzem um aminoácido chamado triptofano, um importante bloco de construção para neurotransmissores como a serotonina, que influenciam o humor.

  • Via imunorreguladora: bactérias intestinais interagem com o sistema imunológico do seu corpo se comunicando com células imunológicas.

Pesquisas mostram que pessoas com depressão têm micróbios intestinais diferentes de pessoas sem depressão. Um estudo observacional de 2019 descobriu que pessoas com depressão tinham níveis reduzidos de Coprococcus e Dialister, em comparação com pessoas que relataram uma qualidade de vida mais alta. Aqueles com depressão também tinham bactérias associadas à doença de Crohn.

Outro estudo encontrou níveis mais baixos das bactérias Bifidobacterium e Lactobacillus em pessoas com depressão, em comparação com aquelas sem este diagnóstico.

Para investigar a influência do microbioma intestinal na depressão, os pesquisadores também analisaram se os transplantes de microbiota fecal (TMF) podem afetar a saúde mental.

Uma revisão sistemática que analisou o efeito do TMF nos sintomas de condições de saúde mental — como depressão — observou que o TMF de doadores sem uma condição de saúde mental para alguém que vive com uma condição de saúde mental aliviou os sintomas. O inverso também acontece. O TMF de indivíduos com condições mentais para indivíduos saudáveis pode induzir sintomas dos primeiros.

Os especialistas ainda estão tentando descobrir como o microbioma intestinal afeta a depressão, mas uma teoria principal envolve o mensageiro serotonina. Este neurotransmissor ajuda a regular o humor e promove sentimentos de felicidade. Pesquisas mostram que o microbioma intestinal pode influenciar os níveis de serotonina, que os cientistas há muito associam à depressão.

Seguir dietas específicas pode até reduzir o risco de desenvolver depressão. Uma revisão sistemática de 2018 concluiu que pessoas que seguiram a dieta mediterrânea tiveram um risco 33% menor de depressão do que pessoas que não seguiram.

Um estudo separado examinou se a dieta poderia melhorar os sintomas da depressão. O estudo SMILES foi um estudo de controle randomizado de 12 semanas de pessoas com transtorno depressivo maior. Foi a primeira pesquisa a testar a eficácia de um programa dietético no tratamento da depressão diagnosticada clinicamente, em comparação com o suporte social, reconhecimente benéfico neste caso.

Os participantes do estudo eram todos adultos com depressão moderada a grave e foram divididos em dois grupos e aleatoriamente designados para sessões de consultoria nutricional personalizadas ou aconselhamento de apoio social.

  • Grupo 1: Suporte dietetético (33 participantes) - receberam recomendações dietéticas personalizadas com base na dieta mediterrânea modificada (ModiMedDiet), em consultas regulares com nutricionista.

  • Grupo 2: Suporte social (34 participantes) - seguiram um protocolo com reuniões regulares de socialização com profissionais treinados para discutir temas como esportes, músicas, jogos.

No final do estudo de 12 semanas, 32% do grupo de dieta foram considerados em remissão total da depressão, em comparação com apenas 8% no grupo de aconselhamento. O estudo também descobriu que quanto mais os participantes melhoravam sua dieta, mais sua depressão melhorava.

Aqueles no grupo de dieta aumentaram seu consumo de frutas e vegetais, grãos integrais, nozes e sementes, peixes e gorduras saudáveis, enquanto reduziram sua ingestão de alimentos processados ​​— padrões alimentares alinhados com a dieta mediterrânea.

Embora este tenha sido outro estudo de pequena escala — e alguns dos participantes em cada grupo estavam tomando antidepressivos durante o estudo — os resultados são promissores. Eles fornecem um ponto de partida valioso para evidências sobre como a dieta pode ajudar com a depressão e o papel do eixo intestino-cérebro.

Seguindo a mesma linha, no estudo HELFIMED (2017) foi realizada com 152 adultos que relataram sentirem-se deprimidos (18 a 65 anos). Metade frequentou grupos de apoio social e a outra metade participou de intervenção dietética com suplementação de ômega-3, oficinas de educação nutricional, aulas de culinária, cestas de alimentos, receitas e vídeos demonstrativos sobre preparo dos alimentos adequados para um cérebro saudável. As recomendações dietéticas eram baseadas na dieta mediterrânea.

Após 3 meses, o grupo que passou pela intervenção apresentou redução dos sintomas de depressão e melhoria da qualidade de vida relacionada à saúde mental, em relação ao grupo de apoio social (Parletta et al., 2017).

Uma outra intervenção é a Dieta Mind, um padrão mais baseado em plantas, com menor ingestão de proteínas de origem animal e gorduras saturadas. A dieta dá destaque para 10 alimentos que beneficiam o cérebro: vegetais verde escuros, brássicas, frutas vermelhas, leguminosas, grãos integrais, aves, peixes ricos em ômega-3, oleaginosas, azeite de oliva e vinho. Restringe carne vermelha, manteiga, margarina, embutidos, frituras, doces e alimentos prontos e rápidos (fast food). Estudos apontam efeitos benéficos na redução da depressão, ansiedade (Barkhordari et al., 2022; Torabynasab et al., 2023) e cognição (Kheirouri, & Alizadeh, 2022).

Em mulheres obesas a dieta mind, seguida por 3 meses melhoru memória, atenção, mostrando que este padrão alimentar, associado a restrição calórica modesta é capaz de reverter os efeitos destrutivos cerebrais gerados pela inflamação na obesidade (Arjmand et al., 2022).

Com base nestes achados, artigo de 2017 publicado no periódico Nutritional Neuroscience descreveu cinco recomendações alimentares para prevenir a depressão com base em evidências atuais:

  • seguir padrões alimentares "tradicionais" como as dietas mediterrânea, norueguesa ou japonesa;

  • aumentar sua ingestão de frutas, vegetais, legumes, cereais integrais, nozes e sementes;

  • aumentar sua ingestão de alimentos ricos em ácidos graxos poli-insaturados ômega-3;

  • substituir alimentos não saudáveis ​​por alimentos nutritivos e saudáveis;

  • limitar sua ingestão de alimentos processados, fast food, produtos assados ​​comercialmente e doces.

Os autores do estudo enfatizaram que essas recomendações não são imutáveis ​​e podem mudar se as evidências científicas evoluírem. O que liga estas dietas é que são ricas em fibras e polifenóis, que melhoram a qualidade da microbiota intestinal. Uma pesquisa publicada em 2021 identificou 15 bactérias intestinais "boas" que estão associadas à boa saúde. Eles também encontraram 15 bactérias "ruins" que são indicadores de saúde precária. Bactérias boas também melhoram a saúde mental. Falei deste tema neste outro texto.

Estes estudos fazem parte de uma nova área de pesquisa denominada psiquiatria nutricional ou nutrição aplicada à psiquiatria. Sou professora de cursos de pós-graduação nesta área e, precisando de ajuda, marque aqui sua consulta de nutrição online.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Prevenção do Alzheimer

A doença de Alzheimer (DA) é responsável por aproximadamente dois terços de todos os casos de demência na velhice, afetando até 20% dos indivíduos com mais de 80 anos.

A prevenção primária é importante. Quanto maior o nível educacional e atividade cognitiva ao longo da vida melhor e menor é a chance de desenvolvimento da doença. Outros fatores são importantes como manutenção de níveis saudáveis de peso, homocisteína, glicose, pressão arterial. A prevenção da depressão, estresse, diabetes, hipertensão e traumatismos encefálicos é muito importante para a manutenção de um cérebro saudável.

Outros fatores que contam são atividade física para prevenção de sarcopenia, abstenção de cigarro, sono adequado, tratamento de doenças cardiovasculares e da fibrilação atrial e consumo de antioxidantes, como vitamina C, além da manutenção de uma microbiota saudável.

Revisão sistemática e meta-análise publicada em 2020 identificaram um total de 21 sugestões baseadas em evidências que podem ser usadas em práticas ao longo da vida para prevenir a DA. A tabela abaixo traz estas sugestões.

A combinação de múltiplas recomendações é provavelmente a melhor abordagem para retardar o início da DA. Estas sugestões baseadas em evidências devem ser particularmente observadas por indivíduos de alto risco (por exemplo, pessoas com APOEε4, uma pontuação poligênica alta, histórico familiar de demência ou evidência positiva para amiloide). Marque sua consulta de nutrição de precisão para avaliarmos seus exames de sangue e genéticos.

É importante destacar que a neurobiologia da DA começa pelo menos 15 anos antes do aparecimento dos sintomas. Ferramentas como PET-SCAN estão disponíveis para caracterizar a neuropatologia em qualquer estágio. Se estiver com problemas de memória procure um neurologista.

Aprenda mais em https://t21.video

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

O que é microbiota comensal?

O termo microbiota comensal se refere ao conjunto de microrganismos, principalmente bactérias, que habitam nosso corpo em uma relação de comensalismo. Isso significa que esses micróbios coexistem conosco de forma mutuamente benéfica ou neutra, sem causar danos ao nosso organismo.

Qual a importância da microbiota comensal?

A microbiota comensal desempenha um papel fundamental em diversos processos biológicos, incluindo:

  • Digestão: Auxilia na digestão de alimentos que nosso organismo não consegue digerir por si só.

  • Proteção: Forma uma barreira protetora contra a colonização por microrganismos patogênicos, ou seja, aqueles que causam doenças.

  • Sistema imunológico: Estimula e modula o sistema imunológico, ajudando a proteger o corpo contra infecções.

  • Produção de vitaminas: Algumas bactérias da microbiota produzem vitaminas essenciais para o nosso organismo, como a vitamina K.

Onde encontramos a microbiota comensal?

A microbiota comensal está presente em diversas partes do corpo, como:

  • Intestino: É onde se encontra a maior concentração de bactérias, formando a microbiota intestinal.

  • Pele: A pele abriga uma variedade de microrganismos que ajudam a proteger contra a invasão de patógenos.

  • Boca: A cavidade bucal também possui sua própria microbiota, que pode influenciar a saúde bucal.

  • Vagina: A microbiota vaginal varia ao longo da vida da mulher e desempenha um papel importante na saúde reprodutiva.

Fatores que influenciam a microbiota comensal:

  • Alimentação: A dieta é um dos principais fatores que influenciam a composição da microbiota.

  • Uso de medicamentos: Várias drogas, incluindo anticoncepcionais, antiinflamatórios, antidepressivos e antibióticos podem gerar disbiose (desequilíbrio) da microbiota intestinal.

  • Idade: A composição da microbiota muda ao longo da vida, desde o nascimento até a velhice.

  • Doenças: Algumas doenças, como as doenças inflamatórias intestinais, estresse, depressão e outras podem alterar a microbiota.

  • Estresse crônico: Leva à liberação de hormônios como o cortisol, que podem alterar a permeabilidade intestinal e a composição da microbiota. Também promove um estado inflamatório crônico no organismo, o que pode afetar negativamente a diversidade e a função da microbiota intestinal. Fora isso, sob estresse, muitas pessoas tendem a adotar hábitos alimentares menos saudáveis, ricos em alimentos processados e pobres em fibras, o que pode desequilibrar a microbiota.

Quais as consequências da disbiose intestinal?

A redução de microorganismos comensais e aumento de patobiontes gera:

    • Problemas Digestivos: Diarreia, constipação, inchaço abdominal e síndrome do intestino irritável são alguns dos sintomas comuns associados a alterações na microbiota intestinal causadas pelo estresse.

    • Doenças Inflamatórias Intestinais: O desequilíbrio da microbiota pode contribuir para o desenvolvimento de doenças como a doença de Crohn e a colite ulcerativa.

    • Aumento da Permeabilidade Intestinal: O estresse pode aumentar a permeabilidade da parede intestinal, permitindo que substâncias tóxicas e patógenos entrem na corrente sanguínea, desencadeando processos inflamatórios sistêmicos e aumentando o risco de doenças autoimunes.

    • Alterações de humor e depressão: Nosso intestino e cérebro estão em constante comunicação através do chamado eixo intestino-cérebro. Essa comunicação bidirecional ocorre através de diversas vias, incluindo o sistema nervoso, o sistema endócrino e o sistema imunológico. A microbiota intestinal, por sua vez, desempenha um papel crucial nessa comunicação, influenciando a produção de neurotransmissores, hormônios e moléculas inflamatórias que podem afetar o humor, o comportamento e as funções cognitivas.

Como reverter esses efeitos?

    • Gerenciamento do Estresse: Práticas como meditação, yoga, mindfulness e terapia podem ajudar a reduzir os níveis de cortisol e promover o relaxamento.

    • Alimentação Saudável: Uma dieta rica em fibras, frutas, legumes e alimentos fermentados pode ajudar a restaurar o equilíbrio da microbiota intestinal.

    • Probióticos e Prebióticos: O consumo de probióticos (bactérias benéficas) e prebióticos (alimento para as bactérias benéficas) pode auxiliar na reposição da microbiota.

    • Sono Adequado: O sono é fundamental para a saúde em geral e para a regulação da microbiota intestinal.

    • Exercício Físico: A atividade física regular pode ajudar a reduzir o estresse e melhorar a saúde intestinal.

É importante ressaltar que o que funciona para uma pessoa pode não funcionar para outra. Marque sua consulta de nutrição para conversarmos sobre o seu caso.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/