Esofagite eosinofílica no autismo

Esofagite eosinofílica é mais comum no TEA. O diagnóstico pode estar camuflado e presente mesmo com IgE negativo. Os sintomas podem ficar muito camuflados.Esofagite eosinofílica é uma doença crônica mediada pelo sistema imunitário do esôfago resultando em inflamação predominante de eosinófilos no esôfago; pode causar sintomas semelhantes a refluxo, disfagia, dor, dificuldade de deglutição e impactação alimentar.

A esofagite eosinofílica está bastante associada às alergias mistas. O diagnóstico é feito por endoscopia com biópsia, um exame invasivo mas que vale a pena se a seletividade alimentar é severa, com choro ou piora mesmo com a terapia alimentar. Alergias são cinco vezes mais frequentes em indivíduos no espectro autista do que em controles. Estima-se que até 52% apresentem sintomas e sinais de alergias, o que contrasta com 10% em relação à população controle.

A associação com os processos alérgicos, alimentares e respiratórios como rinite alérgica e asma tem sido reconhecida. Os infiltrados inflamatórios nas mucosas intestinais e no tecido cerebral podem estar presentes, células mononucleares periféricas produzem menos anticorpos IgA, IgG e IgM, é menor o número de macrófagos e células CD20 + B. Testes cutâneos positivos com alergenos, presença dos marcadores celulares IL-4, IL-5, IL-6, IL-10, IL-12, IL-13, TNF-beta,TNF-alfa e BSA (brain specific autoantibody) são achados em indivíduos no espectro e alérgicos. Pais de crianças com autismo também parece ter mais alergias do que aqueles de crianças sem autismo.

Pacientes no espectro autista com alergia apresentam mais autoanticorpos anti-MBP (myelin basic protein) e antiMAG (myelin associated glycoprotein), do que os sem alergias. Peptídeos microbianos podem reagir com tecidos cerebrais. Vários sensibilizantes alimentares podem ser prejudiciais para autistas, como gliadina, proteínas do leite de vaca e da soja, aumentando a permeabilidade da barreira intestinal e hematoencefálica, o que facilita o processo alérgico (absorção de grandes moléculas), e mudanças de comportamento no autismo.

Alérgenos podem ser responsáveis pela produção de anticorpos contra a proteína do citoesqueleto neuronal, dos neurofilamentos e da proteína básica da mielina. Estes anticorpos interferem na função neuromuscular agravando alterações sensório-motoras.

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Referências: Cardoso, & da Rocha, 2020 - DOI - 10.5935/2236-5117.2021v58a14

Xu et al., 2018 - doi: 10.1001/jamanetworkopen.2018.0279.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Tratamentos naturais para excesso de fungos e candidíase

Fungos (leveduras) estão presentes no organismo de todas as pessoas, incluindo a Cândida. Contudo, em situações de baixa imunidade e disbiose intestinal, alguns microorganismos multiplicam-se excessivamente, causando problemas.

A presença excessiva de fungos no intestino, conhecida como candidíase intestinal ou, incorretamente, como síndrome fúngica, pode manifestar-se de diversas formas. Dizemos que o termo síndrome fúngica é incorreto pois síndromes são questões em que as causas não são facilmente determinadas. Se determinamos que um problema são fungos em excesso não deveríamos chamar síndrome fúngica. De qualquer forma, o termo popularizou-se na internet.

Seguem alguns sintomas relacionados ao excesso de fungos, principalmente Candida albicans. É importante ressaltar que nem todos os sintomas abaixo são exclusivos de excesso de fungos e podem estar relacionados a outros problemas de saúde.

Sintomas comuns:

  • Gastointestinais:

    • Diarreia ou constipação alternada

    • Gases excessivos

    • Inchaço abdominal

    • Náuseas e vômitos

    • Azia

    • Dores de cabeça

    • Sensação de boca amarga

    • Aftas

    • Perda de apetite

  • Outros:

    • Fadiga crônica

    • Alterações de humor (irritabilidade, ansiedade, depressão)

    • Problemas de pele (eczema, psoríase)

    • Infecções frequentes

    • Dificuldade de concentração

    • Desordens do sono

    • Os tratamentos naturais para a síndrome fúngica e infecções por Candida que têm respaldo científico incluem várias intervenções dietéticas e de estilo de vida, probióticos e compostos naturais específicos.

Intervenções Dietéticas e de Estilo de Vida

1. Dieta com Baixo Teor de Açúcar: o açúcar é um importante nutriente para a Candida. Este fungo possui sensores para glicose e transportadores como CaHgt4 e CgSnf3 (Ende et al., 2019). Diabéticos, por exemplo, têm uma maior taxa de crescimento de cândida quando a glicose está alta (Man et al., 2017). Assim, reduzir o consumo de açúcar pode fazer sentido, apesar dos estudos serem controversos. De qualquer forma, quem consome muito açúcar tende a ter uma dieta menos saudável e maior comprometimento imune. Muitos nutrientes são importantes para uma boa imunidade:

2. Dieta com Baixo Teor de Carboidratos: Limitar os carboidratos pode reduzir o crescimento da Candida. Um estudo de caso mostrou que uma paciente de 33 anos diagnosticada com candidíase vulvovaginal entrou em remissão com uma dieta cetogênica, baixíssima em carboidratos (Yar et al., 2022).

3. Evitar Alimentos Processados e reduzir o consumo de álcool: Alimentos processados frequentemente contêm açúcares e aditivos que podem promover o crescimento da Candida. O álcool aumenta a permeabilidade intestinal facilita a translocação de beta-glucanos de fungos para a corrente sanguínea, gerando efeitos sistêmicos (Jawhara, 2023).

4. Aumentar a Ingestão de Fibra: As fibras podem ajudar a regular os níveis de açúcar no sangue e promover bactérias intestinais saudáveis. Prebióticos como frutooligossacarídeos (FOS) atenuam sintomas inflamatórios intestinais e previnem infecções. Além disso, ajudam a aumentar bactérias boas, como bifidobactérias, que competem com a bactérias ruins e fungos (Rousseau et al., 2005).

5. Suplementar probióticos (Andrade et al., 2022)

  • Lactobacillus (rhamnosus LR32, helveticus CBS N116411, plantarum SD5870, acidophilus NCFM, casei L324m, paracasei 28.4, reuteri DSM 17938 e ATCC PTA 5289): Probióticos com eficácia na inibição do crescimento da Candida e na restauração da flora intestinal saudável .

  • Saccharomyces (boulardii, cerevisiae CNCM I-3856): leveduras que competem com a Candida e ajudam a restaurar a saúde intestinal.

  • Streptococcus salivarius K12: reduz o curso da doença

6. Vírus que competem com os biofilmes bacterianos - falo sobre o tema neste vídeo:

7. Correção de carências nutricionais

A deficiência de nutrientes como vitamina D, vitamina E, selênio e ômega-3 associa-se a piores resultados durante o tratamento dos fungos. Estes nutrientes impactam o metabolismo de carboidratos, a qualidade da membrana intestinal, o nível inflamatório global e o modulam o estresse oxidativo.

8. Compostos Naturais

  • Alho (Allium sativum): O alho tem propriedades antifúngicas bem documentadas. Estudos mostraram que extratos de alho podem inibir o crescimento de Candida albicans. O alho fresco contém alicina, um composto rico em enxofre que reduz biofilmes produzidos pela cândida (Shuford et al., 2005).

  • Óleo de Coco: O óleo de coco contém ácido caprílico e ácido láurico, que têm propriedades antifúngicas e podem ajudar a reduzir as populações de Candida (Ogbolu et al., 2007).

  • Óleo de Melaleuca (Tea Tree Oil): O óleo de melaleuca na concentração mínima de 0,25% demonstrou ter atividade antifúngica contra espécies de Candida quando usado topicamente (Hammer, Carson, & Riley, 1998).

  • Óleo de Orégano: O óleo de orégano contém carvacrol e timol, compostos com propriedades antifúngicas fortes contra a Candida e seus biofilmes (Hacioglu, Oyardi, & Kirinti, 2021).

  • Berberina: Encontrada em plantas como a goldenseal (hidraste) e a barberry (bérberis), a berberina tem propriedades antifúngicas e pode inibir o crescimento da Candida e reduzir seu biofilme (da Silva et al., 2016).

  • Ácido Caprílico: Este ácido graxo, encontrado no óleo de coco, tem propriedades antifúngicas que podem ajudar a reduzir os níveis de Candida .

  • Extrato de Folha de Oliveira: Contém oleuropeína, que tem propriedades antifúngicas, antivirais e antibacterianas (Nataša Zorić et al., 2016).

Vários outros compostos possuem atividade antifúngica (Jawhara, 2023)

Estes tratamentos naturais podem contribuir para o gerenciamento de infecções por Candida. Aprenda mais no curso de modulação da microbiota intestinal ou marque aqui sua consulta de nutrição.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

As origens do microbioma humano no TEA

Durante muitos anos, os cientistas presumiram que o intestino do feto em desenvolvimento era estéril, o que significa que não continha micróbios. No entanto, há evidências de pesquisas utilizando modelos de camundongos de que o líquido amniótico que envolve o feto em crescimento contém algumas espécies microbianas. Estas podem ser detectados no primeiro cocô do recém-nascido, o mecônio. Na lista estão Firmicutes, principalmente bactérias produtoras de ácido láctico.

O modo como um bebê nasce também afeta o microbioma inicial. A primeira grande onda de colonização microbiana ocorre durante o nascimento, quando os micróbios do canal do parto e da vagina são passados para o bebê. Quando os bebês nascem por cesariana, a sua microbiota é mais semelhante à da pele da mãe. Existem algumas evidências de que isto está ligado ao desenvolvimento de eczema, asma e doença celíaca mais tarde na vida.

Micróbios que auxiliam na digestão do leite, como Bifidobacterium e algumas bactérias do ácido lático, dominam o microbioma durante os primeiros meses após o nascimento. Há uma clara diferença entre os indivíduos que receberam leite materno e aqueles que receberam leite em pó. O próprio leite materno demonstrou ser uma fonte rica em micróbios benéficos e moléculas com propriedades antiinflamatórias.

Uma vez introduzida uma dieta sólida, as espécies microbianas que povoam o intestino mudam significativamente. Bifidobacterium é substituído por Bacteroides e Firmicutes, pois são necessários para ajudar na quebra de carboidratos mais complexos e na produção de vitaminas.

Quando as crianças atingem a idade de 3 anos, o seu microbioma está totalmente estabelecido e pensa-se que permanecerá relativamente estável durante toda a vida. Bacteroides e Firmicutes dominam a microbiota de crianças que cresceram em países altamente desenvolvidos ou regiões dentro de países. Em contraste, Prevotella estão em no topo da lista em crianças de regiões menos desenvolvidas. O tipo de colonização pode afetar a imunidade e a saúde ao longo da vida.

As doenças alérgicas que se desenvolvem durante a infância, como eczema, asma e alergias, têm sido associadas à baixa diversidade bacteriana, particularmente à baixa abundância de Bifidobacterium e a níveis mais elevados de fungos, como a Candida. Em um estudo com indivíduos autistas (TEA), demonstrou-se que a taxa de colonização por cândida é alta (Lovene et al., 2017).

Foi observada Candida spp. em 57,5% dos TEA e 0% no grupo controle sem diagnóstico de TEA. A identificação da forma agressiva (apresentação de pseudo-hifas) de Candida spp. ao microscópio óptico significa que a adesão à mucosa intestinal é facilitada. A disbiose parece sustentada pela redução de Lactobacillus spp. e diminuição do número de Clostridium spp.

Inflamação intestinal leve (aumento de calprotectina) e permeabilidade intestinal aumentada foram demonstradas juntamente com a presença de sintomas gastrointestinais. A permeabilidade foi avaliada pelo teste não invasivo de lactulose/manitol. Administra-se por via oral 5g de lactulose e 2g de manitol e observa-se a taxa de recuperação pela urina. Valores normais são lactulose/manitol < 0,030 na urina. Valores maiores são indicativos de hiperpermeabilidade intestinal.

Correlação linear significativa foi encontrada entre gravidade dos sintomas de autismo (pontuação CARs), níveis de calprotectina e presença de Clostridium spp. Além disso, os sintomas gastrointestinais, como constipação e/ou diarreia, correlacionaram-se com o aumento da permeabilidade à lactulose. Os presentes dados fornecem base racional para uma possível intervenção terapêutica específica na restauração da homeostase intestinal em indíviduos no espectro do autismo.

Outros estudos mostram que alterações na diversidade microbiana no intestino de crianças aumenta o risco de alergias alimentares. Moléculas neuronais e hormonais produzidas no intestino transmitem mensagens ao cérebro. Se a comunicação ao longo deste eixo intestino-cérebro for perturbada, devido a uma alteração na microbiota, o cérebro pode ser afetado.

Camundongos fêmeas, que foram alimentados com uma dieta estilo fast food, produziram descendentes com comportamentos semelhantes aos observados nos transtornos do espectro do autismo (TEA). Pesquisas recentes apontam para um possível mecanismo. Níveis elevados de Ruminococcus em porcos jovens foram indicativos de níveis séricos de cortisol e concentrações mais baixas do neurotransmissor n-acetilaspartato (NAA). Níveis anormais de NAA já foram associados ao TEA.

Mas a influência do nosso microbioma não termina na infância. Há evidências crescentes que ligam a nossa flora intestinal a doenças na vida adulta. A síndrome da fadiga crônica (SFC) está nesta lista.

Para melhorar a saúde intestinal é importante aumentarmos o consumo de fibras. Elas previnem a constipação, modulam a microbiota, têm um impacto positivo nos distúrbios gastrointestinais, incluindo redução do risco de:

  • úlcera colorretal

  • hérnias de hiato

  • doença do refluxo gastroesofágico

  • doença diverticular

  • hemorróidas

  • diabetes

  • doenças do coração

  • obesidade

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/