Durante muitos anos, os cientistas presumiram que o intestino do feto em desenvolvimento era estéril, o que significa que não continha micróbios. No entanto, há evidências de pesquisas utilizando modelos de camundongos de que o líquido amniótico que envolve o feto em crescimento contém algumas espécies microbianas. Estas podem ser detectados no primeiro cocô do recém-nascido, o mecônio. Na lista estão Firmicutes, principalmente bactérias produtoras de ácido láctico.
O modo como um bebê nasce também afeta o microbioma inicial. A primeira grande onda de colonização microbiana ocorre durante o nascimento, quando os micróbios do canal do parto e da vagina são passados para o bebê. Quando os bebês nascem por cesariana, a sua microbiota é mais semelhante à da pele da mãe. Existem algumas evidências de que isto está ligado ao desenvolvimento de eczema, asma e doença celíaca mais tarde na vida.
Micróbios que auxiliam na digestão do leite, como Bifidobacterium e algumas bactérias do ácido lático, dominam o microbioma durante os primeiros meses após o nascimento. Há uma clara diferença entre os indivíduos que receberam leite materno e aqueles que receberam leite em pó. O próprio leite materno demonstrou ser uma fonte rica em micróbios benéficos e moléculas com propriedades antiinflamatórias.
Uma vez introduzida uma dieta sólida, as espécies microbianas que povoam o intestino mudam significativamente. Bifidobacterium é substituído por Bacteroides e Firmicutes, pois são necessários para ajudar na quebra de carboidratos mais complexos e na produção de vitaminas.
Quando as crianças atingem a idade de 3 anos, o seu microbioma está totalmente estabelecido e pensa-se que permanecerá relativamente estável durante toda a vida. Bacteroides e Firmicutes dominam a microbiota de crianças que cresceram em países altamente desenvolvidos ou regiões dentro de países. Em contraste, Prevotella estão em no topo da lista em crianças de regiões menos desenvolvidas. O tipo de colonização pode afetar a imunidade e a saúde ao longo da vida.
As doenças alérgicas que se desenvolvem durante a infância, como eczema, asma e alergias, têm sido associadas à baixa diversidade bacteriana, particularmente à baixa abundância de Bifidobacterium e a níveis mais elevados de fungos, como a Candida. Em um estudo com indivíduos autistas (TEA), demonstrou-se que a taxa de colonização por cândida é alta (Lovene et al., 2017).
Foi observada Candida spp. em 57,5% dos TEA e 0% no grupo controle sem diagnóstico de TEA. A identificação da forma agressiva (apresentação de pseudo-hifas) de Candida spp. ao microscópio óptico significa que a adesão à mucosa intestinal é facilitada. A disbiose parece sustentada pela redução de Lactobacillus spp. e diminuição do número de Clostridium spp.
Inflamação intestinal leve (aumento de calprotectina) e permeabilidade intestinal aumentada foram demonstradas juntamente com a presença de sintomas gastrointestinais. A permeabilidade foi avaliada pelo teste não invasivo de lactulose/manitol. Administra-se por via oral 5g de lactulose e 2g de manitol e observa-se a taxa de recuperação pela urina. Valores normais são lactulose/manitol < 0,030 na urina. Valores maiores são indicativos de hiperpermeabilidade intestinal.
Correlação linear significativa foi encontrada entre gravidade dos sintomas de autismo (pontuação CARs), níveis de calprotectina e presença de Clostridium spp. Além disso, os sintomas gastrointestinais, como constipação e/ou diarreia, correlacionaram-se com o aumento da permeabilidade à lactulose. Os presentes dados fornecem base racional para uma possível intervenção terapêutica específica na restauração da homeostase intestinal em indíviduos no espectro do autismo.
Outros estudos mostram que alterações na diversidade microbiana no intestino de crianças aumenta o risco de alergias alimentares. Moléculas neuronais e hormonais produzidas no intestino transmitem mensagens ao cérebro. Se a comunicação ao longo deste eixo intestino-cérebro for perturbada, devido a uma alteração na microbiota, o cérebro pode ser afetado.
Camundongos fêmeas, que foram alimentados com uma dieta estilo fast food, produziram descendentes com comportamentos semelhantes aos observados nos transtornos do espectro do autismo (TEA). Pesquisas recentes apontam para um possível mecanismo. Níveis elevados de Ruminococcus em porcos jovens foram indicativos de níveis séricos de cortisol e concentrações mais baixas do neurotransmissor n-acetilaspartato (NAA). Níveis anormais de NAA já foram associados ao TEA.
Mas a influência do nosso microbioma não termina na infância. Há evidências crescentes que ligam a nossa flora intestinal a doenças na vida adulta. A síndrome da fadiga crônica (SFC) está nesta lista.
Para melhorar a saúde intestinal é importante aumentarmos o consumo de fibras. Elas previnem a constipação, modulam a microbiota, têm um impacto positivo nos distúrbios gastrointestinais, incluindo redução do risco de:
úlcera colorretal
hérnias de hiato
doença do refluxo gastroesofágico
doença diverticular
hemorróidas
diabetes
doenças do coração
obesidade