Fontes de energia para o coração

Sob condições fisiológicas o coração utiliza de forma flexível uma variedade de substratos, incluindo cetonas, aminoácidos e lactato, com base na disponibilidade para gerar grandes quantidades de adenosina trifosfato (ATP).

Hipertensão, estenose da válvula aórtica, regurgitação da válvula mitral e isquemia são exemplos de situações que reduzem a flexibilidade metabólica do coração, com diminuição da oxidação de ácidos graxos e energia total. Isto pode contribuir para o desenvolvimento de cardiomiócitos e hipertrofia cardíaca e insuficiência cardíaca com disfunção sistólica e/ou diastólica.

(A) Utilização de substrato para produção de energia no coração. (B) Uso de β-hidroxibutirato (β-OHB) na cardiopatia (Nakamura, & Sadoshima, 2019).

Uma estratégia para compensar a perda da flexibilidade metabólica é o uso de corpos cetônicos. Os corpos cetônicos compreendem três moléculas solúveis em água, β-hidroxibutirato, acetoacetato (AcAc) e acetona. Estas moléculas s são produzidas predominantemente no fígado durante: (1) a ingestão de uma dieta pobre em carboidratos e rica em gordura (cetogênica), (2) jejum, (3) exercício prolongado, (4) diabetes descompensada, (5) insuficiência cardíaca.

PAPEL DOS CORPOS CETÔNICOS NO CORAÇÃO

Os corpos cetônicos (especialmente β-OHB) desempenham papéis fundamentais em vários processos celulares sob condições fisiológicas. No coração, são catabolizados em acetil-CoA na mitocôndria, que entra no ciclo do ácido tricarboxílico (TCA) e produz ATP via fosforilação oxidativa. Também atuam como molécula sinalizadora, através da modificação da cromatina com acetilação da lisina (modificação pós-traducional da proteína), modulação da inflamação e estresse oxidativo e regulação do sistema nervoso simpático via receptores acoplados à proteína G quando os carboidratos são abundantes.

A insuficiência cardíaca está associada à resistência à insulina, acompanhada de aumento da lipólise no tecido adiposo, que em parte contribui para o aumento dos níveis plasmáticos de corpos cetônicos. Pacientes com insuficiência cardíaca exibem aumento da expressão de proteínas relacionadas à cetólise, acompanhado por um aumento na oxidação de corpos cetônicos no coração.

Um aumento do suprimento de β-OHB aumenta a produção geral de ATP por meio de aumentos no corpo cetônico e na oxidação da glicose sem melhorar o trabalho cardíaco e a eficiência nos corações com falha e controle.

Os corpos cetônicos fornecem energia para o músculo cardíaco, atuam como um anti-inflamatório, suprimindo a ativação da formação do inflamassoma NLRP314 e um inibidor endógeno da histona deacetilase de classe I.

O CORAÇÃO É UM GRANDE CONSUMIDOR DE ENERGIA

Numa célula típica, uma molécula de ATP é consumida dentro de um minuto após sua formação. A quantidade de ATP no organismo é limitada a 100g, porém a renovação é alta.

Um ser humano em repouso consome 40 kg de ATP por dia (1,6kg por hora ou 27g por hora). Quando o coração é mais demandado, como durante a atividade física, o consumo de ATP pode aumentar para até 500g por minuto, dependendo da intensidade. As fontes de ATP durante o exercício são:

- ATP estocado;

- Reciclagem do ADP pela creatina;

- Glicólise anaeróbia (queima de glicose sem O2)

- Glicólise aeróbia (queima de glicose ou gordura com a presença de oxigênio)

Lembrando que a forma ativa do ATP é um complexo 1:1 com magnésio ou manganês. Ou seja, deficiências nutricionais destes minerais também interferem no funcionamento do organismo. ATP só liga-se na bomba de sódio de potássio se tiver magnésio ou manganês. Outro suplemento usado para melhorar a quantidade de energia no músculo cardíaco é a D-ribose.

Por fim, podemos pensar na suplementação da creatina, muito interessante para aumentar a performance esportiva mas também em condições em que se observa creatina baixa, como: autismo, esclerose múltipla, traumatismo craniano, vários tipos de tumores, doenças neuromusculares, cardiopatias, síndrome pós-covid, infecção crônica pelo vírus HIV.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Glúten, de Zumbido nos ouvidos à Doença Celíaca

Para 1 em cada 100 pessoas, até traços mínimos de glúten podem causar fortes dores abdominais, inflamação intestinal e sérios riscos à saúde. Estamos falando da doença celíaca, uma condição autoimune crônica desencadeada pelo glúten – proteína presente no trigo, centeio e cevada.

Um estudo liderado por cientistas da Universidade McMaster (Canadá) revelou que as células do revestimento intestinal não são apenas vítimas da inflamação, mas agentes ativos no desencadeamento da resposta imune contra o glúten (Rahmani et al., 2024).

Pessoas com os genes HLA-DQ2.5 ou HLA-DQ8 têm maior predisposição à doença, mas a presença dos genes não é suficiente: o glúten precisa ser processado por enzimas intestinais e apresentado ao sistema imune para iniciar o ataque autoimune.

As células epiteliais do intestino podem:

  • Apresentar pedaços do glúten (antígenos) às células do sistema imune (células T CD4+) por meio da molécula MHC Classe II, que é uma espécie de “placa” onde elas exibem essas informações.

  • Isso ativa as células T, que são importantes para a defesa do corpo, mas que na doença celíaca atacam o próprio intestino, causando inflamação e danos.

Então, ao contrário do que se pensava antes, as células do revestimento intestinal não são só uma barreira física, mas também atuam como “mensageiras” que podem disparar a reação imunológica ao reconhecer o glúten.

A única “cura” hoje para a doença celíaca é evitar completamente o glúten. Quando o paciente não sabe que tem a doença ou não adere à dieta, a inflamação contínua gera complicações como osteoporose, infertilidade, câncer intestinal, distúrbios neurológicos, zumbido nos ouvidos.

Pesquisas indicam, por exemplo, uma possível ligação entre doença celíaca e perda auditiva neurossensorial, além de associação com a doença de Ménière – que também causa zumbido. Embora as evidências ainda sejam preliminares, pessoas com doença celíaca ou sensibilidade ao glúten podem apresentar sintomas auditivos e devem procurar avaliação médica.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

REGULAÇÃO DO METABOLISMO PELA TIREOIDE

Fadiga crônica é uma das queixas mais comuns em meu consultório. Rotinas desequilibradas (muito trabalho, excesso de tempo em redes sociais, pouco exercício, má alimentação) contribuem para o quadro. Além disso, muitas pessoas sofrem com uma tireoide hipofuncionante. Outros sintomas da queda na produção de hormônios da tireoide incluem pele seca, queda e cabelo quebradiço, ligeiro aumento de peso, intolerância ao frio, irritabilidade, esquecimento, depressão, irregularidades menstruais e mesmo infertilidade.

Os hormônios tireoidianos T3 e T4 têm um impacto quase global. O fígado, por exemplo, é fundamental, transformando T4 em T3 (Noakes et al., 2023).

Disruptores endócrinos (cloro, bromo, flúor, ácido perfluorooctanoico das panelas antiaderentes) podem fazer a tireoide funcionar pior, assim como carência de vitamina A, ferro, zinco, selênio e iodo.

Meça a temperatura axilar com um termômetro de mercúrio por 5 dias e depois faça a média. A aferição deve ser feita todo dia ao acordar. Se a média foi abaixo de 36,5 a sua tireoide pode estar desregulada. Afinal, os hormônios dessa glândula são os principais responsáveis pelo controle da temperatura basal.

Se for este o caso procure um endócrino para avaliar melhor. Valores ideais nos exames:

  • TSH: 1,0 a 2,5 mIU/L (produzido no cérebro pela glândula pituitária)

  • T3 total: 120 a 160 ng/dL (T3 é 4 vezes mais ativo que T4).

  • T3 livre: 3,0 a 4,0 ng/dL

  • T3 reverso (sem função): 0,1 a 0,25 ng/mL (tem menos de 1% da atividade de T4)

  • T4 livre: 1,0 a 1,4 mUI/L (forma inativa)

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/