Para 1 em cada 100 pessoas, até traços mínimos de glúten podem causar fortes dores abdominais, inflamação intestinal e sérios riscos à saúde. Estamos falando da doença celíaca, uma condição autoimune crônica desencadeada pelo glúten – proteína presente no trigo, centeio e cevada.
Um estudo liderado por cientistas da Universidade McMaster (Canadá) revelou que as células do revestimento intestinal não são apenas vítimas da inflamação, mas agentes ativos no desencadeamento da resposta imune contra o glúten (Rahmani et al., 2024).
Pessoas com os genes HLA-DQ2.5 ou HLA-DQ8 têm maior predisposição à doença, mas a presença dos genes não é suficiente: o glúten precisa ser processado por enzimas intestinais e apresentado ao sistema imune para iniciar o ataque autoimune.
As células epiteliais do intestino podem:
Apresentar pedaços do glúten (antígenos) às células do sistema imune (células T CD4+) por meio da molécula MHC Classe II, que é uma espécie de “placa” onde elas exibem essas informações.
Isso ativa as células T, que são importantes para a defesa do corpo, mas que na doença celíaca atacam o próprio intestino, causando inflamação e danos.
Então, ao contrário do que se pensava antes, as células do revestimento intestinal não são só uma barreira física, mas também atuam como “mensageiras” que podem disparar a reação imunológica ao reconhecer o glúten.
A única “cura” hoje para a doença celíaca é evitar completamente o glúten. Quando o paciente não sabe que tem a doença ou não adere à dieta, a inflamação contínua gera complicações como osteoporose, infertilidade, câncer intestinal, distúrbios neurológicos, zumbido nos ouvidos.
Pesquisas indicam, por exemplo, uma possível ligação entre doença celíaca e perda auditiva neurossensorial, além de associação com a doença de Ménière – que também causa zumbido. Embora as evidências ainda sejam preliminares, pessoas com doença celíaca ou sensibilidade ao glúten podem apresentar sintomas auditivos e devem procurar avaliação médica.