Instabilidade genômica e epigenômica no autismo

Quando o gameta masculino e o gameta feminino juntam-se, a informação genética dos pais precisa ser passada para a prole corretamente. A estabilidade do genoma é uma característica de todo organismo justamente para preservar e transmitir fielmente o material genético de geração em geração ou de uma célula somática para outra. Isto inclui uma replicação livre de erros de material genético (DNA ou RNA) e a reparação de erros de replicação ou de DNA/RNA danificado.

Em contraste, a instabilidade do genoma abrange uma vasta gama de alterações do DNA, com maior taxa de danos e mutações associadas. Indivíduos autistas com mais instabilidade genômicas apresentam mais mutações que podem se manifestar como anormalidades cromossômicas, translocações, grandes inserções ou deleções de bases nitrogenadas.

A instabilidade epigenômica refere-se às respostas alteradas na regulação da expressão gênica em resposta às flutuações no ambiente. O termo programação epigenética refere-se às mudanças moleculares reversíveis que ocorrem no DNA, RNA ou em histonas, proteínas que regulam a expressão dos genes. Esta programação não modifica a sequência de bases do DNA.

A programação epigenética da cromatina começa logo após a síntese do DNA. Alterações subsequentes podem ocorrer em resposta a uma variedade de fatores normais ou patológicos, além de alterações ambientais, como disponibilidade de nutrientes, exposição à toxinas ou estresse.

Regiões mais frágeis do genoma são mais propícias à instabilidade genômica e epigenômica. Por exemplo, pessoas com transtorno do espectro autista (TEA) parecem mais vulneráveis geneticamente a novas mutações (mutações de novo) de determinados genes. Uma das hipóteses é que indivíduos com TEA estão menos protegidas e, portanto, mais sujeitas a sofrerem mutações ao entrarem em contato com toxinas ambientais.

Quando as mutações acontecem nos gametas maternos ou paternos ou nos estágios iniciais da embriogênese, a criança apresentará mutações que não estão presentes nos pais. As mutações podem ser transmitidas aos descendentes na geração subsequente.

A prole também pode adquirir mutações em estágios posteriores de desenvolvimento, resultando em mosaicismo somático. Gene(s) impactado(s) por esses processos podem levar ao desenvolvimento e funcionamento neural aberrantes, contribuindo para o aparecimento do TEA.

O autismo está associado à instabilidade epigenômica, que é regulada tanto pelo índice de metilação global (LINE-1) quanto pelo comprimento dos telômeros. Estudo publicado em 2023 mostrou uma diminuição significativa da metilação de RTL e LINE-1 em casos autistas em relação aos controles (P < 0,001), servindo como biomarcadores para o TEA.

A hipometilação está ligada à redução no comprimento dos telômeros. Esta diminuição relaciona-se com alguns comportamentos típicos do autismo, além de sintomas sensoriais, mas não com a severidade dos casos (Salem, & Ashaat, 2023).

Cursos online para aprender mais:

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Para que serve a metilação do DNA?

A metilação do DNA é o fator epigenético mais bem caracterizado que controla a expressão de genes. O termo programação epigenética refere-se às mudanças moleculares reversíveis que ocorrem no DNA, RNA ou em histonas, proteínas que regulam a expressão dos genes.

Esta programação não modifica a sequência de bases do DNA. Inicia-se logo após a síntese do DNA. Por exemplo, você tem o mesmo material genético no pâncreas, no fígado, no neurônio e no couro cabeludo. Contudo, alguns genes expressam-se apenas no fígado, produzindo enzimas que contribuirão para eliminação de toxinas. Mas fígado não produz cabelo, que é produzido apenas no couro cabeludo.

Já neurônios produzem neurotransmissores e não insulina. Este hormônio, que ajuda a controlar as taxas de açúcar no sangue, é produzido apenas no pâncreas.

Sistemas do corpo humano

Como as células especializam-se tanto se possuem o mesmo DNA?

Isto acontece pois existem mecanismos epigenéticos que mantém alguns genes silenciados e outros genes disponíveis para transcrição. Um destes processos regulatórios é justamente a metilação do DNA. Alterações nos processos epigenéticos podem ocorrer em resposta a uma variedade de fatores normais ou patológicos, além de alterações ambientais, como disponibilidade de nutrientes, exposição à toxinas ou estresse.

Como ocorre a metilação?

A metilação nada mais é do que a união de um grupo metil (CH3) a alguma molécula. No caso do DNA de vertebrados, 4-8% de todas as citosinas e 70% das citosinas dentro da sequência dinucleotídica 5'CpG3' são metiladas.

Os sítios CpG ou sítios CG são regiões de DNA onde um nucleotídeo citosina é seguido por um nucleotídeo guanina na sequência linear de bases ao longo de sua direção 5' → 3'. Os locais CpG ocorrem com alta frequência em regiões genômicas chamadas ilhas CpG (ou ilhas CG). A letra p de CpG representa o fosfato de ligação.

As citosinas em dinucleotídeos CpG podem ser metiladas para formar 5-metilcitosinas. As enzimas que adicionam um grupo metil são chamadas de DNA metiltransferases. Em mamíferos, 70% a 80% das citosinas CpG são metiladas. A metilação da citosina dentro de um gene pode alterar sua expressão, um mecanismo que faz parte de um campo maior da ciência que estuda a regulação genética, chamado epigenética. As citosinas metiladas frequentemente sofrem mutação em timinas.

Em contraste, 70% das citosinas nas sequências dinucleotídicas 5'CpG3' dentro das regiões promotoras dos genes ativos não são metiladas. Existem aproximadamente 29.000 "ilhas CpG" (regiões ricas em 5'CpGs3') na sequência do genoma humano. O estado de metilação de metade destas ilhas regula a expressão do mRNA.

As enzimas DNA metiltransferase (DNMT) são responsáveis pela metilação de sequências CpG, com a taxa de metilação determinada pela disponibilidade de DNMTs e sua afinidade relativa por um determinado local CpG no DNA e outros co-fatores.

DNMTs adicionam grupos metil (CH3) às citosinas em sequências de dinucleotídeos (Smith, Bolton, & Nguyen, 2010)

Normalmente, a metilação do DNA está associada ao silenciamento irreversível da expressão gênica. A metilação parcial do DNA promotor marca genes que podem se tornar não metilados e expressos, permitindo a readaptação a um micro ou macro ambiente em mudança (por exemplo, estação do ano, condições ecológicas, hábitos nutricionais e demandas de diferentes períodos de desenvolvimento).

A transcrição pode ser inibida por proteínas que se ligam direta ou indiretamente ao DNA metilado (como MeCP2, MBD1, MBD2, MBD3 e MBD4). Outra família de repressores, todos contendo zinco, consiste na proteína Kaiso (que se liga a CGCGs) e as proteínas ZBTB4 e ZBTB38.

Tanto metilar pouco quanto metilar demais pode gerar consequências negativas ao organismo, como problemas de formação da espinha bífida, maior incidência de transtornos do neurodesenvolvimento ou certos tipos de câncer.

Aprenda mais no curso de genômica visual, com Andreia Torres

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Dieta cetogênica e saúde mental

A comercialização de antidepressivos e estabilizadores de humor cresce a cada ano no Brasil. Dados do Conselho Federal de Farmácia apontam que a venda desses medicamentos cresceu cerca de 58% entre os anos de 2017 e 2021. Genética, abuso, traumas, solidão, divórcio são alguns dos fatores associados à depressão.

Infelizmente, o tratamento falha em número gigante de pessoas. De acordo com o Dr. Christopher Palmer, autor do livro Brain Energy, isto acontece porque o metabolismo glicolítico cerebral também está comumente alterado e, sem uma dieta com restrição de carboidratos, não é possível restaurar completamente o cérebro.

As dietas restritas em carboidratos são indicadas para pacientes que estão acima do peso e as dietas cetogênicas são indicadas para aqueles que estão magros ou em fase de crescimento. Estas terapias forçam o corpo a usar a gordura como fonte de energia e o fígado a produzir corpos cetônicos, que serão usados pelos neurônios como fonte de energia.

Exames de imagem como o PET-SCAN mostram alterações no metabolismo glicolítico cerebral em um grande número de pacientes com transtorno de ansiedade, depressão, transtorno bipolar, esquizofrenia, autismo e Alzheimer. Muitos pacientes possuem menor expressão de transportadores de glicose (GLUT-1 e GLUT-3 no cérebro) dificultando o uso de carboidrato como fonte de energia.

Fora isso, é comum que pacientes com doenças psiquiátricas também apresentem síndrome metabólica, aumento de gordura corporal, especialmente na região abdominal, hipertensão, resistência insulínica periférica, que, ao longo do tempo, agravam as questões cognitivas. Dietas restritas em carboidratos ajudam a tratar todas estas condições.

Se quais mudanças dietéticas fazem mais sentido para você e o ajudamos a fazer as escolhas comportamentais e alimentares necessárias. Sua condição ou sintomas podem não precisar de uma dieta cetogênica. Se for esse o caso, exploremos outras opções nutricionais ou formas de alimentação que o ajudarão a se sentir melhor.

As mudanças na dieta têm o poder de melhorar os desequilíbrios dos neurotransmissores, a energia e o funcionamento do cérebro e até mesmo ajudar o cérebro a se curar e fazer novas conexões. Esses tipos de mudanças na dieta foram vistos para melhorar os sintomas da doença de Alzheimer, depressão, TEPT, transtorno bipolar, esquizofrenia e transtornos de ansiedade.

Existe já muito suporte na literatura científica para o uso de dietas restritas em carboidratos para o tratamento de uma variedade de condições metabólicas, de neurodesenvolvimento, neurológicas e psiquiátricas. Na plataforma https://t21.video discuto mais sobre estes temas.

Claro, caso precise de ajuda, marque aqui sua consulta online.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/