Dieta mediterrânea no tratamento do transtorno obsessivo compulsivo

Tiques, obsessões e compulsões são questões comuns no TOC, uma condição mental grave, mais comum no sexo masculino. O transtorno obsessivo-Compulsivo (TOC), frequentemente está associado a fenômenos sensoriais e comportamentos impulsivos. Foi relatado que esses sintomas clínicos influenciam os comportamentos alimentares, mas a literatura também mostrou que os padrões alimentares ou suplementos dietéticos podem aliviar o espectro clínico, sugerindo a existência de uma associação bidirecional. A adoção de padrões alimentares mais saudáveis reduz tiques e traços obsessivo-compulsivo. Certamente, o tratamento do TOC deve ser multidisciplinar e incluir neuropsiquiatras, psicólogos clínicos e nutricionistas. O aconselhamento nutricional deve ser o mais abrangente possível para promover uma dieta balanceada e informar sobre os efeitos colaterais nutricionais dos medicamentos ou potenciais interações medicamentosas (Briguglio et al., 2019).

A dieta mediterrânea vem sendo testada. Inclui frutas, verduras, cereais integrais, alimentos locais e da estação, que promovem bem estar e longevidade. São benefícios da dieta mediterrânea:

- alto potencial antioxidante e antiinflamatório;

- potencial de regular genes;

- modulação da expressão de microRNAs, que ajudam a melhorar o metabolismo.

Padrão alimentar mediterrâneo

Muitos países são banhados pelo mar mediterrâneo. Cada um deles possui uma culinária específica, com alguns pontos em comum. Plantas nativas de cada região são as fontes mais importante de substâncias bioativas naturais, que beneficiam o perfil lipídico e a função cardiovascular. Ervas, condimentos, frutas diversas, azeite, nozes, castanhas, hortaliças são partes importantes do padrão alimentar mediterrâneo.

A dieta mediterrânea enfatiza o consumo de plantas, vegetais, refogados com cebola, alho e tomate, frutas, grão de bico, amêndoas, avelãs, azeite, azeitona, peixes e frutas do mar, além das ervas e do vinho junto às refeições. Muitos estudos mostram os benefícios deste padrão alimentar e podemos dar uma abrasileirada trocando o grão de bico pelos feijões, as amêndoas e avelãs por castanha de caju e castanha do Pará ou baru. O azeite pode ser trocado pelo abacate. Peixes mais baratos como sardinhas podem ser utilizados. Comer é bom, essencial e também um fenômeno cultural e social. Desfrute da mesa saudável com seus parentes e amigos, sem TV, com tranquilidade. Bom pro corpo e pra mente!

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Variações do gene MTHFR - qual é a diferença entre as mais importantes?

O folato ou vitamina B9 é um nutriente solúvel em água e muito importante para a cognição, saúde do coração, humor, fertilidade e para a formação de blocos de construção do DNA. Também é essencial para as reações de metilação, um processo que usa grupos “metil” (CH3) do folato para regular o metabolismo e para proteger nosso material genético. A transferência de grupos metil para o DNA pode ligar ou desligar genes. É o que estuda a epigenética.

Fontes de folato

Vegetais de folhas escuras e leguminosas são boas fontes de folato. Muitas pessoas consomem poucos alimentos de origem vegetal e podem ter deficiência de vitamina B9. A carência nutricional pode levar a defeitos do tubo neural, como espinha bífida e anencefalia. Em qualquer fase da vida contribui para elevação dos níveis de homocisteína, aumentando o risco de doença de Alzheimer, problemas cardiovasculares (DCV), derrame e / ou trombose.

O mesmo pode acontecer quando a pessoa possui variações genéticas (mutações ou polimorfismos) que comprometem o metabolismo da vitamina B9. O polimorfismo mais comum é o do gene metilenotetrahidrofolato redutase (MTHFR), que dá origem a uma enzima reguladora chave (como mesmo nome - MTHFR) no metabolismo do folato e da homocisteína. A enzima MTHFR catalisa (acelera) a conversão de folato ou tetrahidrofolato do alimento e ácido fólico da medicação em 5-metil tetrahidrofolato, a forma ativa da vitamina B9. Esta forma circula em maior quantidade no sangue, ajuda a manter a homocisteína em níveis mais baixos.

MTHFR participa do ciclo do folato (à direita)

Além das mutações e polimorfismos de MTHFR, existem outras causas para níveis elevados de homocisteína, incluindo deficiência de vitaminas B6, B12 e / ou folato; essas vitaminas são necessárias para o metabolismo da homocisteína.

As duas variações mais comuns do gene MTHFR

Atualmente, um total de 34 mutações raras de MTHFR, bem como um total de 9 variantes comuns (polimorfismos) deste gene são reconhecidos, sendo a C677T (rs1801133) e a A1298C (rs1801131) as mais comuns na população. As variações parecem ser mais prevalentes nos descendentes de populações mediterrâneas do que naqueles de ascendência africana.

Mutações (na área vermelha) e polimorfismos comuns do gene MTHFR (Leclerc, Sibani, & Rozen, 2013).

Mutações (na área vermelha) e polimorfismos comuns do gene MTHFR (Leclerc, Sibani, & Rozen, 2013).

  • Variante 677C → T (A222V) tem sido particularmente notável, uma vez que se tornou reconhecida como a causa genética mais comum de elevação da homocisteína. Esta variação compromete o metabolismo do folato (vitamina B9) e de nutrientes que trabalham na mesma via. A metilação fica prejudicada, assim como o processo de desintoxicação. A variação pode se dar em heterozigose (1 cópia modificada recebida do pai ou mãe) ou homozigose (2 cópias modificadas do gene, recebidas de pai e mãe). Quando a variação é em heterozigose estima-se uma redução na função de MTHFR entre 30 e 40%. Quando a variação é em homozigose uma perda de função entre 60 e 70%.

  • Variante 1298A → C costuma gerar redução na produção de neurotransmissores, o que aumenta o risco de depressão, ansiedade, transtorno de pânico, esquizofrenia, bipolaridade, transtornos de humor, TDAH, dificuldade de aprendizagem, problemas comportamentais, etc.

A variante 677C → T é a mais importante pois está mais perto da região promotora. Em genética, um promotor é uma região do DNA que inicia a transcrição de um determinado gene. Os promotores estão localizados perto do sítio de início da transcrição de genes, na mesma fita e a montante no DNA (para 5' da fita código).

MTHFR-cofactors-inhibitors-e1615509875880.jpg

Existem também as pessoas que possuem simultaneamente as duas variantes, o que compromete ainda mais o metabolismo. A MTHFR também tem o funcionamento comprometido quando há intoxicação por arsênico, chumbo ou consumo excessivo de ácido fólico. Parece contraditório, mas é mesmo isso que acontece pois o ácido fólico não é idêntico ao folato e exige do corpo um grande esforço para metabolização.

O gene MTHFR dá origem ao gene que fará a conversão da B9 na forma inativa para a forma ativa.

Outra variante interessante para estudo é a do gene SLC19A1, localizado no cromossomo 21. Este gene desempenha um papel importante no transporte do folato a uma variedade de células.

Correção metabólica

Pessoas com variações de MTHFR ou outras mutações raras que afetam o metabolismo do folato devem corrigir o metabolismo com suplementos de alta disponibilidade de folato como o Quatrefolic® / (6S)-5-methyltetrahydrofolato (usa glucosamina ao invés de cálcio na fórmula), L-metilfolato, metafolin (L-metilfolato cálcico) ou de média disponibilidade como o ácido folínico (cálcio folinato), quando há reação ao metilfolato (como nervosismo, dores de cabeça ou aceleração dos batimentos cardíacos).

APRENDA A INTERPRETAR EXAMES GENÉTICOS

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Possibilidades de tratamento do diabetes tipo 2

O diabetes é um problema de saúde que cresce em todo o mundo. Contudo, cerca de 79% dos casos estão em países em desenvolvimento. O estilo de vida sedentário, o excesso de peso, o envelhecimento populacional, a vida estressante e a dieta inadequada estão entre os fatores causais desta doença, que caracteriza-se pela elevação das quantidades de açúcar no sangue (hiperglicemia).

A elevação da glicemia aumenta a mortalidade prematura, por complicações que incluem distúrbios vasculares que resultam em problemas renais, problemas cardíacos, aumento do risco de derrame. Além disso, o diabetes reduz a qualidade de vida pois afeta o sistema digestivo, muscular, esquelético, mental etc.

O diabetes tipo 2 é o mais comum

Estima-se que 90 a 95% de todos os casos de diabetes sejam do tipo 2. Outros tipos incluem diabetes tipo 1, diabetes gestacional, diabetes neonatal, secundário a infecções, doenças do pâncreas ou uso de medicamentos. Para o diagnóstico de diabetes são utilizados exames como glicemia em jejum e teste de tolerância oral à glicose.

Glicose em jejum

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Tolerância Oral à glicose

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Exames como insulina em jejum, hemoglobina em jejum e frutosamina são mais utilizados para monitoramento do diabetes.

Tratamento do diabetes tipo 2

O tratamento eficaz do diabetes depende de mudanças no estilo de vida, com adoção de dieta adequada, atividade física, educação, automonitoramento, controle do estresse, redução do estado inflamatório. Muitas vezes são prescritos também medicamentos, mas eles sozinhos não tratam a doença, apenas controlam o nível de açúcar no sangue. CURSO ONLINE - PREVENÇÃO E TRATAMENTO DO DIABETES

Práticas integrativas e complementares em saúde no tratamento do diabetes tipo 2

A prática de yoga é muito útil pois seu conjunto de técnicas ajudam a diminuir o estresse (que desequilibra a glicemia), controla a inflamação, melhora a saúde física e mental.

Outra filosofia nascida na Índia, o Ayurveda traz no livro Charaka Samhita o conceito de Prameha, desordem principalmente de Kapha dosha agravado, que traz sintomas como excesso de urina (doença do trato urinário). Preguiça, consumo excessivo de açúcar, adiposidade excessiva são algumas das causas de Prameha.

O Charaka Samhita descreve 20 tipos de prameha - problemas urinários (10 causadas por Kapha, 6 por Pitta e 4 por Vata). Por isso, a observação da urina, para o Ayurveda, é super importante. Urina doce, turva ou esbranquiçada são características de excesso de Kapha. Kaphaja prameha é mais fácil de curar com mudanças de estilo de vida para apaziguar o dosha agravado. Dica: atividade física é super importante! Condimentos como canela e cardamomo também são maravilhosos. Mais neste curso.

Urina escura, azulada, alaranjada, avermelhada ou sanguinolenta são características do agravamento de Pitta. Reduzir Pitta é então importante. Dormir bem, respirar bem, fazer yin yoga são super importantes. Já gordura ou característica de mel são mais comuns nas alterações do sistema urinária por excesso de Vata. Vataja prameha é mais difícil de curar e o uso de medicação será muito importante.

Jejuns terapêuticos

O jejum intermitente, quando realizado por razões de saúde em pacientes com diabetes mellitus ajuda na perda de peso, na melhoria da sensibilidade à insulina e na redução da necessidade de medicamentos. Boas evidências de estudos científicos mostram que os benefícios do jejum superam os danos potenciais no indivíduo médio. Contudo, pessoas com diabetes precisam ser mais cautelosas para não sofrerem hipoglicemias severas, principalmente quando em uso de medicamentos, que precisarão ser ajustados (GRAJOWER, & HORNE, 2019).

Farmacoterapia

Muitos medicamentos podem ser usados para controle da glicemia e da resistência à insulina. Metformina, tiazolidinediona (pioglitazona e rosiglitazona) e DPP-4 são antidiabéticos orais que raramente causam hipoglicemia. Os Inibidores do cotransportador de sódio-glicose 2 (SGLT-2) também raramente causam hipoglicemia; no entanto, eles podem causar diurese osmótica. Devido a este último efeito, se houver alterações na ingestão de líquidos habitual do paciente durante o dia de jejum, pode ser apropriado pular o uso deste medicamento nos dias em que o paciente faz jejum intermitente para evitar a desidratação e a queda da pressão arterial.

A gliburida, a glimepirida e a glipizida são sulfonilureias de ação prolongada e costumam estar associadas à hipoglicemia durante a ingestão calórica reduzida. Esses medicamentos devem sempre ter suas doses reduzidas se o paciente for fazer jejum para evitar potenciais eventos adversos. Além disso, se o paciente tomar esses medicamentos à noite, a dose tomada na noite anterior à data de jejum também deve ser reduzida ou suspensa por motivos de segurança. Nateglinida e repaglinida são sulfonilureias de curto prazo. A incidência de hipoglicemia com esses medicamentos é menor do que com as sulfonilureias anteriores, mesmo assim o ajuste da dosagem é importante e deve ser conversada com o médico. Por fim, análogos do receptor do peptídeo 1 semelhante ao glucagon (GLP-1) raramente estão associados à hipoglicemia.

AJUSTE DE HIPOGLICEMIANTES (GRAJOWER, & HORNE, 2019)

AJUSTE DE HIPOGLICEMIANTES (GRAJOWER, & HORNE, 2019)

Os inibidores da alfa glicosidase acarbose e miglitol, assim como o sequestrante de ácido biliar colesevelam, inibem a absorção de carboidratos que devem ser suspensos antes de qualquer refeição que não contenha carboidratos. A bromocriptina atua por meio de um mecanismo incerto, mas parece afetar a produção simpática de glicose. O risco de hipoglicemia é baixo com este fármaco, podendo ser continuado durante o jejum intermitente.

AJUSTE DE DOSE DE INSULINA (GRAJOWER, & HORNE, 2019)

AJUSTE DE DOSE DE INSULINA (GRAJOWER, & HORNE, 2019)

O ajuste da insulina é mais complicado e exige a automonitoração com um glicosímetro. Os pacientes em uso de bomba de insulina devem inicialmente reduzir a dose em 10%, com ajustes adicionais baseados em testes frequentes (a cada duas horas). Não é incomum, com um dia inteiro de jejum, encontrar a necessidade de reduzir a insulina basal em até 90% no final do dia de jejum. A insulina prandial ou à hora das refeições (incluindo regular, lispro, glulisina e asparte), não deve ser feita se o paciente estiver em jejum. É importante notar que alguns pacientes desenvolvem sintomas de hipoglicemia, mesmo com uma taxas acima de 70 mg / dL, portanto, cautela é indicada.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/
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