A evolução da ciência da nutrição

O sucesso do Projeto Genoma Humano e o avanço das ferramentas da biologia molecular marcaram o início de uma nova era na medicina personalizada e na nutrição de precisão. Com a decodificação do genoma humano, a indústria farmacêutica passou a vislumbrar a possibilidade de desenvolver medicamentos personalizados, adaptados à constituição genética de cada indivíduo. Paralelamente, a indústria alimentícia começou a explorar o potencial dos compostos bioativos presentes nos alimentos para promover saúde e prevenir doenças com base nos perfis genéticos dos consumidores.

Essa nova era, conhecida como nutrição molecular, se estrutura na compreensão das complexas interações entre nutrientes e o genoma humano. Nesse contexto, destacam-se dois campos emergentes: a nutrigenômica e a nutrigenética. A nutrigenômica investiga como os nutrientes e compostos bioativos modulam a expressão dos genes, influenciando processos celulares e metabólicos. Já a nutrigenética estuda como as variações genéticas individuais (como polimorfismos de nucleotídeo único – SNPs) afetam a resposta do organismo a diferentes nutrientes, dietas ou componentes alimentares específicos.

Ambas as abordagens apontam para um futuro onde as recomendações nutricionais poderão ser customizadas de forma precisa, visando otimizar a saúde individual com base no perfil genético. No entanto, essa perspectiva promissora traz consigo desafios significativos. O principal deles é equilibrar o enfoque individualizado com as estratégias de saúde pública, que tradicionalmente se baseiam em diretrizes generalistas voltadas a populações amplas.

A transição da ciência para a prática já está acontecendo, com maior:

  1. Validação dos dados científicos, garantindo consistência, reprodutibilidade e relevância clínica.

  2. Educação dos profissionais de saúde, especialmente nutricionistas, para que possam interpretar e aplicar esse conhecimento de maneira ética e eficaz.

  3. Comunicação mais clara com pacientes, evitando interpretações errôneas ou promessas infundadas.

  4. Estabelecimento de marcos regulatórios e bioéticos, assegurando que as práticas de nutrigenômica e nutrigenética respeitem os direitos individuais, a privacidade genética e os princípios de equidade no acesso a essas inovações.

Embora a nutrição molecular represente um divisor de águas na ciência nutricional, sua implementação exige uma abordagem integrada, ética e crítica.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Avaliação do estado nutricional de vitamina B6

Vitamina B6 é um termo genérico, que se refere a seis compostos interconversíveis, que compartilham uma estrutura 2-metil-3-hidroxipiridina com substituintes variáveis ​​nas posições C4 e C5, ou seja, piridoxina (PN), piridoxamina (PM), piridoxal (PL), e seus derivados fosforilados piridoxina 5'-fosfato (PNP), piridoxamina 5'-fosfato (PMP) e piridoxal 5'-fosfato (PLP).

PLP é a forma de coenzima da vitamina B6 que serve como cofator em mais de 160 funções diferentes. A maioria das enzimas dependentes de PLP está envolvida na biossíntese e degradação de aminoácidos, com papel importante no metabolismo de neurotransmissores, como dopamina, serotonina, glicina, glutamato e ácido γ-aminobutírico (GABA). O catabolismo do aminoácido triptofano pela via da quinurenina envolve várias reações dependentes de PLP que produzem compostos neuroativos e imunomoduladores .

As medidas do status B6 são categorizadas como biomarcadores diretos e biomarcadores funcionais. Os biomarcadores diretos medem a vitaminas B6 no plasma / soro, urina e eritrócitos e, entre esses, o piridoxal 5-fosfato (PLP) plasmático é o mais comumente usado. Biomarcador é “uma característica que pode ser objetivamente medida e avaliada como um indicador de processos biológicos normais, processos patogênicos ou respostas farmacológicas a uma intervenção terapêutica”. O biomarcador nutricional permite a avaliação do estado nutricional refletindo a ingestão de alimentos, uso de suplementos, biodisponibilidade, metabolismo e excreção.

Os biomarcadores funcionais incluem a atividade da B6 como cofator enzimático, por exemplo, nas atividades de transaminase eritrocitária e, mais recentemente, níveis plasmáticos de metabólitos envolvidos em reações dependentes de PLP, como a via da quinurenina, metabolismo de um carbono, transulfuração (cistationina) e descarboxilação de glicina (serina e glicina).

O status da vitamina B6 é melhor avaliado pelo uso de uma combinação de biomarcadores devido à influência de fatores de confusão potenciais, como inflamação, atividade da fosfatase alcalina, albumina sérica baixa, função renal e fosfato inorgânico (Ueland et al., 2015).

Outro teste que pode ser feito é o do gene NBPF3 (rs4654748). Pessoas com a variação C/T ou CC tem maior risco de apresentarem redução de vitamina B6 no sangue do que pessoas TT (Tanaka et al., 2009). Polimorfismos podem comprometer a formação de células vermelhas, de anticorpos, de neurotransmissores, a manutenção de níveis normais de açúcares no sangue.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/