TDAH, consumo de açúcar e suplementação de fosfatidilserina

O transtorno de déficit de atenção / hiperatividade (TDAH) é um distúrbio neurocomportamental relativamente comum, tanto em crianças, quanto em adultos. Em crianças e adolescentes, o TDAH é mais comumente diagnosticado em homens. Contudo, evidências sugerem que um grande número de meninas estejam subdiagnosticadas, por serem mais desatentas mas não tão hiperativas. Sintomas de desatenção, embora prejudiquem a criança, são provavelmente menos incômodos para pais e professores.

O TDAH está associado a uma ampla gama de deficiências funcionais e resultados negativos, como dificuldades educacionais e ocupacionais, problemas com relacionamentos familiares e sociais e uso problemático de substâncias. Quando o TDAH permanece não reconhecido, levando a um diagnóstico tardio ou perdido, as opções de tratamento adequadas são perdidas e os resultados em longo prazo podem ser mais adversos, já que resultados piores tendem a ser observados quando o TDAH não é tratado.

O tratamento inclui psicoterapia, uso de medicamentos (como ritalina), atividade física, manejo da ansiedade (com yoga e meditação) e alimentação adequada. Alguns estudos iniciais indicaram que o aumento da ingestão de açúcares adicionados pode ter um papel no TDAH. Nem todas as pessoas que consomem doces torna-se hiperativa. Contudo, existem evidências de que aqueles com TDAH possuem metabolismo alterado de carboidratos (Endreffy et al., 2020).

A suplementação de fosfatidilserina também vem sendo estudada. A fosfatidilserina é um nutriente concentrado na parte interna das membranas das células. Modula a atividade de receptores, enzimas, canais iônicos e moléculas de sinalização. Também torna as membranas mais fluidas e é considerada um dos nutrientes mais importantes para o cérebro, influenciando neurotransmissores como acetilcolina, dopamina, serotonina e norepinefrina. A suplementação de fosfatidilserina parece neutralizar a ativação induzida pelo estresse do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal.

Em um estudo recente crianças e adolescentes de 4 a 14 anos receberam placebo ou 200 mg de fosfatidilserina por 2 meses. Todas tinham o diagnóstico de TDAH e não faziam uso de nenhum medicamento. Após o período do estudo observou-se que as crianças suplementares tiveram melhoria dos sintomas característicos do TDAH (desatenção, impulsividade), apresentaram melhorias nos testes de memória. Outros estudos serão interessantes para determinação das doses mais apropriadas a cada caso (Hirayama et al., 2014). A fosfatidilserina é encontrada em alimentos como cavalinha, sardinha, atum, feijão branco, tainha.

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Ainda não havia para mim ritalina - Gregório Duvivier

A primeira vez que tomei Ritalina eu entendi como é que as pessoas veem o mundo. Entendi que nem todo mundo vai buscar um copo d´água na cozinha e esquece o que foi fazer lá. Entendi que nem todo mundo tem dificuldade de se comunicar por telefone porque tudo o que os olhos veem chama a atenção e fica difícil prestar atenção só no ouvido quando um monte de coisa está acontecendo em frente aos olhos e a ligação termina sem que se tenha a menor ideia do que foi dito. Entendi que as pessoas normais olham pra tela de um computador e tudo o que elas veem é a tela de um computador, e não um portal pra procurar qualquer coisa no Google de dez em dez segundos. Aliás, quem inventou o segundo? Caramba, os sumérios usavam o sistema duodecimal porque contavam cada falange do dedo, excluindo o dedão. E eis que acabo de perder duas horas no fantástico mundo dos sumérios, que inventaram a escrita, as cidades e a cerveja. Benditos sejam os sumérios. Onde é que eu estava?

Confesso que nunca consegui estudar. Ao mesmo tempo sempre gostei de ler. No entanto, só consigo ler aquilo que não deveria estar lendo, como os sumérios, a pronúncia correta de Roraima (ambas são corretas, mas em Roraima se fala Roráima) e qual o analgésico que tem menos efeitos colaterais (dipirona - injustamente proibida fora do Brasil por motivos obscuros que cheiram a boicote da indústria farmacêutica, pronto: mais duas horas perdidas no vale da dipirona). Em toda a minha vida, acho que nunca estudei uma matéria da escola, nem sei ao certo como faz. Nunca consegui abrir um caderno e reler minhas anotações, e um dos motivos pra isso é que nunca fiz anotações, e nem sequer me lembro de ter tido um caderno. Passava as aulas muito ocupado: quando não estava tentando impedir o professor de dar aula, estava olhando pela janela, pensando em outra coisa.

A primeira vez que tomei Ritalina entendi o pessoal que sentava na primeira fila e grudava os olhos no quadro-negro, e assim permanecia até tocar o sino. Esse pessoal excêntrico que não ouvia o cachorro latir na casa ao lado da escola que o lembraria de um cachorro que morreu afogado uns anos antes, logo não sentia uma súbita vontade de chorar sabe-se lá por quê, e não precisaria começar a batucar pra pensar em outra coisa, esse pessoal que não era expulso de sala por estar batucando.

A última vez que tomei Ritalina foi quando percebi que já não consegui mais pensar em nada que eu não quisesse pensar. Foi quando percebi que minha cabeça tinha sido domesticada, e percebi que domar a cabeça é gostoso, mas não domar a cabeça é melhor.

Quando deixei de tomar Ritalina, voltei a pensar nos sumérios, e nos fenícios, no Fluminense, em tudo o que não importa e faz a vida valer a pena. Resumindo: em tudo o que é assunto de crônica. A Ritalina é a morte do cronista, esse diletante profissional.

Do livro Crônicas para ler em qualquer lugar. Ed. Todavia, 2019.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/
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