Síndrome de Down, TDAH e neuroinflamação

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O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é uma condição neurodesenvolvimental persistente. Pode vir sozinha ou associada à outras condições como autismo, alterações de humor, depressão, ansiedade, síndrome de Tourette e transtorno bipolar. O TDAH é caracterizado por traços de desatenção, impulsividade, hiperatividade que dificultam a realização de tarefas o dia a dia.

Crianças com síndrome de Down também podem ter TDAH. Mas isso não quer dizer que toda criança desatenta, ou impulsiva ou hiperativa tenha o transtorno. A criança pode, por exemplo, agitar-se mais se estiver tentando comunicar-se sem sucesso. Pode ficar mais desatenta se tiver carências nutricionais ou mais impulsiva se estiver com dor ou alguma doença. Por isso, o acompanhamento médico é tão importante.

Problemas que podem se confundir com o TDAH

Alteração na capacidade de enxergar ou ouvir

Para que uma criança consiga prestar atenção precisa estar te enxergando e ouvindo. Porém, alterações visuais e auditivas são muito comuns na síndrome de Down. Infecções de ouvido também são bastante frequentes na infância e devem ser tratadas o mais rapidamente possível.

Problemas gastrointestinais

A doença celíaca é bastante comum na síndrome de Down. Se não tratada altera a absorção de nutrientes, causa dor abdominal, alteração do apetite, inflamação e inquietação. Toda criança com SD deve ser rastreada para doença celíaca antes dos 3 anos, dosando anticorpos para glúten e/ou fazendo exames genéticos.

Problemas na tireóide

Pelo menos 30% das pessoas com síndrome de Down desenvolvem alterações na tireóide. Uma glândula que não funciona pode deixar a criança mais apática e menos focada. No caso da produção excessiva de hormônios os sintomas serão agitação e inquietação.

Alterações do sono

Insônia e apneia interferem no descanso e reparo do cérebro. Crianças que dormem mal ficarão mais agitadas, chorosas e difíceis de acalmar. Pessoas de qualquer idade com hipotireoidismo não tratado terão mais dificuldade para focar e aprender novas informações.

Deficiência de ferro

Este mineral é essencial para o transporte de oxigênio à todas as células. Crianças anêmicas são menos concentradas e apresentam mais dificuldades escolares.

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Pessoas com SD são… pessoas

Antes da síndrome vem a pessoa e qualquer indivíduo poderia ter TDAH. Uma pessoa com SD também. Existem muitas hipóteses para o TDAH e estas passam pela genética, pela epigenética, pela mielinização insuficiente, pela neuroinflamação.

Estudos mostram uma associação positiva entre o TDAH e o aumento de citocinas séricas inflamatórias. Tudo parece começar na barriga da mãe. A exposição pré-natal à inflamação está associada a alterações no desenvolvimento cerebral da prole, incluindo reduções no volume de substância cinzenta cortical e no volume de certas áreas corticais - paralelamente às observações associadas ao TDAH. Alterações nos sistemas de neurotransmissores, incluindo os sistemas dopaminérgicos, serotoninérgicos e glutamatérgicos, são observadas nas populações de TDAH. A mãe pode passar por processos inflamatórios devido à infecções, exposição à poluição ou cigarro, presença de obesidade ou carências nutricionais, devido à má alimentação ou suplementação adequado. Tais fatores afetam a epigenética, a forma como genes expressam-se para produzir neurotransmissores como dopamina, serotonina e norepinefrina.

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Em estudos com camundongos, a prole nascida de mães injetadas com lipopolissacarídeos bacterianos (LPS) é mais inflamada, mais hiperativa e impulsiva, menos atenta e menos capaz de memorizar e aprender. A disbiose intestinal é comum em mulheres inflamadas, obesas ou que tem uma dieta restrita ou pobre em fibras. Por isso, o ideal é que toda mulher faça acompanhamento nutricional antes e durante a gestação. Para as crianças com síndrome de Down e TDAH são indicados tratamentos medicamentosos, comportamentais e nutricionais.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

A importância das vitaminas do complexo B para o cérebro de pessoas com Síndrome de Down

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Aos 70 anos, uma em cada cinco pessoas sofrem de alguma dificuldade cognitiva. Em cinco anos metade destas progridem para demência e morte. Não existe um tratamento eficaz para a doença de Alzheimer, nem na população típica nem nas pessoas com Síndrome de Down.  Por isto, quanto mais cedo começam as medidas preventivas melhor.

Pacientes com Alzheimer costumam apresentar altos níveis de homocisteína circulantes no plasma. Concentrações de homocisteína acima de 14μmol/L) podem dobrar o risco de demência. Para baixar os níveis de homocisteína no sangue é importante limitar a ingestão de carnes pois são ricas em metionina, a qual pode ser metabolizada em homocisteína. Também é importante ingerir mais frutas e vegetais (especialmente os de folhas verdes pois são ricos em vitamina B9 - folato). O folato também pode ser encontrado nos feijões e gema dos ovos.

O corpo utiliza as vitaminas B9, B12 e B6 para desintoxicar a homocisteína. A suplementação destas vitaminas na dosagem e com forma farmacêutica adequada retarda a taxa de atrofia cerebral e reduz o comprometimento cognitivo, como mostrado em estudos de neuroimagem estrutural. A suplementação deve ser crônica, por anos, para que o efeito seja conseguido. Por isto o acompanhamento médico e nutricional é fundamental.

Pessoas com dietas mais ricas em plantas em geral possuem os níveis de homocisteína 20% menores do que pessoas que consomem mais carnes e alimentos industrializados, contanto que o aporte de B9, B12 e B6 seja adequado. Converse com seu nutricionista acerca da necessidade de suplementação.

Epigenética na Síndrome de Down

Muitas vitaminas exercem efeitos na forma como os genes são expressos. Além das vitaminas do complexo B, as vitaminas A, C, D, E e K também influenciam a metilação do DNA, a acetilação de histonas e a expressão de microRNAs (Huang, Xu & Lau, 2018). Deficiências nutricionais aumentam o risco de doenças neurodegenerativas e Alzheimer. Existem evidências de que têm um impacto também negativo na aprendizagem e memória de pessoas com síndrome de Down (Dekker, De Deyn, & Rots, 2014)

Novas abordagens inovadoras para a modificação na expressão de genes vêm sendo examinadas e no novo grupo de estudo em Epigenética da síndrome de Down vamos discutir o papel dos nutrientes e fitoquímicos na proteção do DNA e suporte cognitivo.

Como a deficiência de complexo B impacta o sistema nervoso de todas as pessoas?

  • B1: fadiga, apatia, falhas na memória de curto prazo, irritabilidade

  • B3: irritabilidade, fraqueza, confusão mental

  • B5: irritabilidade, fadiga, apatia, desmielinização

  • B6: distúrbios de humor, depressão, ansiedade

  • B9: depressão, insônia, alterações cognitivas, apatia, fadiga, ansiedade

  • B12: fadiga, fraqueza, depressão, problemas de memória, desorientação

Como o complexo B é fundamental para a produção de energia (ATP), todas as células sofrem no caso de má nutrição. Sintomas como fadiga, cansaço, desmotivação, baixa tolerância à atividade física tornam-se frequentes.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Periodontite na síndrome de Down

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Pessoas com deficiências intelectuais e de desenvolvimento estão entre os grupos mais desfavorecidos entre os pacientes odontológicos. Possuem maior prevalência de cáries não tratadas e doença periodontal do que a população em geral e podem apresentar taxas mais altas de obesidade, perda de dentes e doenças crônicas orais e sistêmicas. As escolhas alimentares podem afetar a saúde bucal e podem desempenhar um papel importante na saúde geral destes pacientes (Ahmed, Ramakrishnan & Victor, 2018; Ziegler & Spivack, 2018).


No lado direito da imagem abaixo você vê os fatores que prejudicam a doença periodontal, incluindo disbiose do biofilme, respostas inflamatórias gengivais e periodontais descontroladas, estresse psicológico paralelo à liberação elevada de cortisol e dietas não saudáveis caracterizadas por alto consumo de carboidratos. A doença periodontal afeta negativamente a saúde do tecido oral e é um fator de risco no carcinoma oral, induz a senescência celular em células saudáveis, promove inflamação sistêmica e é um fator de risco em doenças inflamatórias crônicas, incluindo doença inflamatória intestinal (DII), doença cardiovascular, condições autoimunes, e doença de Alzheimer.

À esquerda aparecem os fatores que promovem a saúde periodontal, incluindo a homeostase do biofilme supra e subgengival, imunidade homeostática nos tecidos gengivais e periodontais, constituintes alimentares saudáveis e ausência de doença inflamatória crônica em locais distantes. Tecidos periodontais saudáveis, por sua vez, reduzem o risco de câncer oral e afetam bidirecionalmente a saúde sistêmica, de modo que o risco de doença inflamatória crônica é reduzido.

Alimentos mais ricos em carboidratos e baixa escovação associam-se a mais problemas periodontais. Além disso, deficiências nutricionais em pessoas com síndrome de Down podem produzir alterações na cavidade oral:

• a baixa ingestão de cálcio e baixos níveis de cálcio no plasma total estão associados ao risco aumentado de doença periodontal. O cálcio é importante para a formação dos dentes. O esmalte dentário tem 99% de hidroxiapatita, substância formada por cálcio e fosfato.

• a vitamina A é importante para a produção e manutenção da pele e das mucosas. Sua deficiência prejudica o tecido de sustentação dos dentes.

• a vitamina C é fundamental para a formação do colágeno e preservação da saúde periodontal. A deficiência aumenta o risco de gengivite, escorbuto e perdas ósseas e dentárias.

• a vitamina D é fundamental para a absorção de cálcio e fósforo no trato gastrintestinal. Sua deficiência causa raquitismo, reabsorção óssea, atraso no desenvolvimento dentário e hipoplasia do esmalte.

• a vitamina K é fundamental para a síntese de fatores de coagulação. Sua carência aumenta o risco de sangramentos e hemorragias da gengiva.

EPIGENÉTICA DA PERIODONTITE

O termo epigenética refere-se a mecanismos que explicam a expressão genética. Por exemplo, herdei um gene que aumenta o risco de doença cardiovascular. Será que terei um ataque cardíaco? Isto depende parcialmente da expressão do gene e existem vários fatores que alteram o comportamento do DNA ao longo da vida.

Doenças crônicas, como a periodontite, dependem de uma série de fatores como a capacidade de resposta do corpo à inflamação, a microbiota, o funcionamento do sistema imune e assim por diante. Sabemos que patógenos presentes na boca como as bactérias Porphymonas gingivalis (P. gingivalis) e Fusobacterium nucleatum (F. nucleatum) podem induzir a acetilação de histonas, reduzir a ativação da enzima DNMT1 (que é importante para a metilação do DNA), ativar ou desregular o funcionamento de receptores responsáveis pelo reconhecimento de microorganismos ruins. A desregulação genética acaba aumentando o risco de periodontite. A dieta, a inflamação e alterações da microbiota estão entre os principais fatores a induzir alterações epigenéticas (Larsson, 2017).

Dica: chá não é só para beber, mas também para fazer enxaguatório bucal, especialmente gengibre, malva, cravo, calêndula, sálvia, alecrim e verde. A placa dentária é um biofilme de microrganismos patogênicos que se apresenta naturalmente na superfície exposta do dente. É o principal fator etiológico associado à cáries, periodontite e gengivite. O enxague bucal com chás podem ser eficientes na destruição da bactéria patogênica Streptococcus mutans, contribuindo na modulação do microbioma oral.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/