A acrilamida é um produto químico usado em indústrias como papel e celulose, construção, fundição, perfuração de petróleo, têxtil, cosméticos, processamento de alimentos, plásticos, mineração e indústrias agrícolas. É usado na fabricação de papel, corantes e plásticos, e no tratamento de água potável e efluentes. Pode ser encontrada em pequenas quantidades em produtos de consumo, incluindo embalagens de alimentos e alguns adesivos. Também está presente na fumaça do cigarro. Pode ainda formar-se naturalmente a partir de reações químicas em certos tipos de alimentos ricos em amido, após o cozimento em altas temperaturas.
Com base em estudos em animais de laboratório, a Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer, o Programa Nacional de Toxicologia e a Agência de Proteção Ambiental, todos nos Estados Unidos, classificam a acrilamida como um provável composto cancerígeno. Estudos em humanos são raros mas espera-se que mais informações surjam em breve.
De qualquer forma, em 2016, o FDA dos EUA (equivalente da ANVISA, no Brasil) emitiu orientações para ajudar a indústria de alimentos a reduzir a quantidade de acrilamida em certos alimentos. Além disso, recomenda-se um baixo consumo de alimentos ultraprocessados como torradas prontas empacotadas, batatas fritas, bolos, biscoitos e cereais matinais, pois são os alimentos com maior teor de acrilamida. Evitar também frituras em casa e alimentos deixados em muito alta temperatura.
A acrilamida também parece aumentar o risco de diabetes
Estudos mostram que a acrilamida inflama, reduz a diferenciação adipocitária e obesidade em camundongos (Lee & Pyo, 2019). O excesso de peso é um dos principais fatores de risco para diabetes. Com o consumo de acrilamida o estresse oxidativo é aumentado, o que aumenta o risco de degeneração celular, neurotoxicidade, genotoxicidade, hepatotoxicidade, disfunção mitocondrial (Kunnel et al., 2019).
As mitocôndrias são as usinas energéticas das células. Quando há disfunção mitocondrial, há maior acúmulo de gordura e toxinas, o que compromete a capacidade da insulina ligar-se aos receptores na membrana das células. Este processo contribui para a resistência à insulina. Para melhoria da função mitocondrial alguns suplementos podem ser prescritos por nutricionista, incluindo pirroloquinolina quinona (PQQ), coenzima Q10 e carnitiina. Para redução do estresse oxidativo o nutricionista poderá trabalhar com compostos como NAC, eugenol, crisina, rutina, quercetina, alicina e resveratrol.
A acrilamida também pode ser mais prejudicial para quem já é diabético. Em estudo publicado em 2018 a acrilamida (50 mg/Kg) foi administrada diariamente por via intraperitoneal a ratos normais e diabéticos durante 2 semanas. Seu impacto foi avaliado por histopatologia, western blot e análises bioquímicas. Os níveis séricos de alanina aminotransferase (enzima do fígado), nitrogênio da uréia no sangue, ácido úrico, creatinina e desidrogenase de lactato em ratos diabéticos tratados com acrilamida foram maiores do que em ratos não diabéticos tratados com acrilamida. Além disso, lesões no tecido hepático e renal induzidas pela acrilamida foram mais graves em ratos diabéticos do que em ratos normais. A maior toxicidade da acrilamida para ratos diabéticos pode ser causada pela superexpressão da monooxigenase do CYP2E1, resultando potencialmente na formação metabólica da glicidamida mais reativa (Karimani et al., 2018).