A beta-caseomorfina-7 (BCM-7) é um peptídeo opioide derivado da digestão da beta-caseína A1, uma proteína presente no leite de vacas de algumas raças, como Holstein. Há interesse científico no seu impacto no eixo intestino-cérebro, pois pode afetar tanto o trato gastrointestinal quanto o sistema nervoso central.
Beta-caseomorfina-7 e o eixo intestino-cérebro
O eixo intestino-cérebro é a comunicação bidirecional entre o intestino e o cérebro, mediada por hormônios, neurotransmissores, o sistema nervoso entérico e a microbiota intestinal. A BCM-7 pode influenciar esse eixo de diferentes formas:
Má digestão
A β-casomorfina 7 (BCM7) no lúmen não é bem digerida pela enzima dipeptidil-peptidase-4 (DDP4) e atinge a corrente sanguínea devido a alterações na integridade do epitélio intestinal.
Impacto na permeabilidade intestinal ("leaky gut")
A BCM-7 pode aumentar a permeabilidade intestinal, permitindo que mais substâncias passem para a corrente sanguínea. Isso pode influenciar processos inflamatórios e afetar o cérebro. Uma permeabilidade intestinal alterada está ligada a doenças neurológicas e inflamatórias.
As claudinas 2, 10 e 15 (CLDN2, CLDN10 e CLDN15) estão mais abertas após consumo de leite A1. Estas proteínas desempenham um papel na estrutura e função das junções de oclusão (tight junctions) entre as células do epitélio intestinal. Quando ficam mais abertas (mais porosas) a permeabilidade intestinal aumenta.
Efeito opioide no sistema nervoso
Com o aumento da permeabilidade a BCM-7 pode cair na corrente sanguínea e atravessar a barreira hematoencefálica, ligando-se a receptores opioides no cérebro. Isso pode estar associado a efeitos neurológicos, como alteração do humor e do comportamento.
Há estudos que sugerem uma relação entre BCM-7 e distúrbios neurológicos, como autismo e esquizofrenia, embora os dados ainda sejam inconclusivos. Também pode ocorrer deterioração da mielinização.
Efeito pró-inflamatório
A BCM-7 pode desencadear uma resposta inflamatória no intestino, ativando o sistema imunológico e potencialmente influenciando processos neuroinflamatórios e neurotóxicos.
Algumas crianças com autismo podem ter maior permeabilidade intestinal ("leaky gut"), o que permitiria uma maior absorção de BCM-7.
Leite A1 vs. Leite A2
Devido a preocupações sobre os efeitos da BCM-7, tem crescido o interesse pelo leite A2, que contém apenas beta-caseína A2 e não gera BCM-7 durante a digestão. Algumas pesquisas indicam que o leite A2 (proveniente de vacas que produzem apenas beta-caseína A2, como a raça Jersey e Guernsey), assim como leite de cabra ou ovelha (que não contém beta-caseína A1) podem ser melhor tolerados por pessoas com desconforto digestivo relacionado ao consumo de leite. Outras alternativas são os leites vegetais (amêndoa, coco, aveia, etc.).
Muco e rinite sempre são alergia à leite?
Muco, rinite e dermatite são sintomas inespecíficos. Sozinhos, não diagnosticam alergia à proteína do leite (APLV). Entre os sinais que podem levantar suspeita estão:
1️⃣ Sintomas respiratórios, como rinite;
2️⃣ Sintomas gastrointestinais, como muco nas fezes, cólicas ou constipação;
3️⃣ Infecções respiratórias recorrentes;
4️⃣ Exames de sangue com IgE sérica específica;
5️⃣ Dermatite.
⚠️ Mas atenção: nem todo muco, rinite ou dermatite é APLV.
Outras causas comuns incluem:
Rinite alérgica, sinusite ou asma;
Infecções virais respiratórias recorrentes;
Refluxo gastroesofágico ou intolerâncias alimentares;
Dermatite atópica, de contato ou infecções de pele;
Imunodeficiências leves ou polipose nasal.
Transformar suspeita em diagnóstico sem critérios claros traz riscos:
❌ Desnutrição pela retirada do leite de crianças que não tem um bom consumo de outros alimentos;
❌ Perda de confiança da família quando a criança não melhora.
Evitar esse erro exige raciocínio clínico baseado em evidências: ouvir a história completa, analisar exames com criticidade, correlacionar sintomas e entender se o quadro é IgE mediado ou não (APLV é IgE-mediada e sintomas são imediatos, entre minutos a 2 horas). Testes cutâneos (prick test), marcadores inflamatórios plasmáticos e até exames genéticos podem ajudar no diagnóstico correto. Fale com um bom profissional, consulte o pediatra.
E se for preciso tirar o leite? Em geral é feito um teste de exclusão (2 a 4 semanas) com reintrodução controlada (provocação oral) para fechar de vez o diagnóstico. Ajustes da dieta são importantes para evitar desnutrição calórica, proteica ou deficiências de micronutrientes. Marque sua consulta de nutrição para os ajustes necessários.
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