Você já parou para pensar que a sua saliva pode contar muito sobre a sua saúde? Pois é, cientistas vêm descobrindo que esse líquido, que a gente nem dá tanta importância no dia a dia, pode ser uma ferramenta incrível para detectar inflamações crônicas — aquelas que vão se acumulando no corpo ao longo dos anos e abrem caminho para doenças como diabetes, problemas cardíacos e até alguns tipos de câncer. O artigo de Dongiovanni e colegas (2023) mostra que estamos muito perto de transformar a saliva em um substituto para várias análises sanguíneas.
Por que a inflamação crônica importa tanto?
A inflamação é uma reação natural do corpo — ela ajuda a defender contra infecções e reparar tecidos. Mas quando se torna constante e silenciosa, começa a prejudicar em vez de proteger. O problema é que essa inflamação nem sempre dá sinais claros até já ter causado algum estrago. Por isso, identificar marcadores de inflamação cedo é fundamental. E aqui entra a saliva como aliada.
O que a saliva pode revelar?
Assim como o sangue, a saliva carrega várias moléculas que refletem o que está acontecendo no corpo. Entre elas:
Proteínas de fase aguda – aparecem quando o corpo está em estado inflamatório.
Citocinas e quimiocinas – sinalizadores que coordenam a resposta imunológica.
Enzimas pró-inflamatórias – aceleram o processo inflamatório.
Marcadores de estresse oxidativo (como ROS, MDA, 8-OHdG) – sinais de danos causados por radicais livres.
miRNAs – pequenas moléculas que regulam genes e indicam mudanças sutis no corpo.
Lipídios – ligados ao metabolismo e inflamação.
O mais interessante é que muitos desses biomarcadores aparecem tanto no sangue quanto na saliva, o que permite monitorar sem precisar de coleta invasiva.
O que influencia essa inflamação?
A figura acima deixa isso bem claro: fatores como idade, gênero, genética, tabagismo e obesidade podem aumentar a inflamação crônica. Essa inflamação gera biomarcadores no sangue, que acabam chegando também à saliva. Ou seja: a boca funciona como um espelho do que está rolando por dentro.
Como coletar e analisar?
A forma mais usada pelos pesquisadores é a coleta de saliva por “escoamento natural” (sem cotonete, que pode atrapalhar o resultado). Depois, as análises podem ser feitas com técnicas já conhecidas, como ELISA ou testes multiplexados. O desafio hoje é levar isso para o ponto de atendimento: exames rápidos, baratos e confiáveis que possam ser feitos até em casa.
E já tem novidade surgindo: biossensores intraorais, como protetores bucais que medem glicose, sódio ou ácido úrico em tempo real. Imagina monitorar sua saúde sem precisar de agulhas, só com um dispositivo dentro da boca?
Por que isso é revolucionário?
Usar a saliva como ferramenta diagnóstica tem várias vantagens:
Não dói e não precisa de profissionais especializados para coleta.
É barato e pode ser repetido várias vezes.
Permite monitoramento contínuo.
Quando combinamos esses dados salivares com informações de idade, genética e estilo de vida, temos um potencial enorme para diagnósticos mais precoces e medicina personalizada.
saliva está deixando de ser apenas um detalhe do corpo e está se tornando uma “amostra biológica de ouro” para identificar inflamações crônicas de forma simples, barata e não invasiva. No futuro próximo, pode ser comum acompanhar nossa saúde bucal e sistêmica apenas cuspindo num coletor ou usando um sensor intraoral. Vamos ter uma aula sobre interpretação de exames de saliva no curso de metabolômica. Já se inscreveu?